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EDUCAÇÃO: SURGIMENTO DE NOVOS CONCEITOS

No documento Livro Ética Hacker e Educação (páginas 31-35)

A invenção do computador pessoal, o surgimento da internet e da web, impulsionaram o

desenvolvimento das tecnologias que vêm assumindo um papel inovador e transformador na sociedade, na qual se desencadeiam mudanças nas formas de comunicação, trabalho, hábito e compreensão do cotidiano, que se refletem nas inovações organizacionais, comerciais e sociais. Surgem, assim, novas realidades e novos horizontes, influenciando nosso modo de vida, difundindo novas concepções de mundo.

Nesse sentido, o ciberespaço, segundo Lèvy (1999, p. 79), torna-se

[...] um novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam este universo.

Já o termo cibercultura representa para o autor um neologismo que especifica “[...] o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço" (LÈVY, 1998, p. 84).

Na educação, a relação com a rede gera novos conceitos e possibilidades. No âmbito do processo de ensino-aprendizagem, a Internet passa a representar um recurso potencial que permite a utilização de meios facilitadores, possibilitando ao usuário a navegação e a exploração de contextos os mais longínquos possíveis apenas com alguns toques nas teclas de uma máquina.

A integração entre os computadores, as novas formas de comunicação e a transferência de dados pela rede vêm propiciando à sociedade, a concretização de diálogos que tornaram o “humano” um ser que interage, independentemente do espaço geográfico e do tempo real linear. Consoante a esta ideia, Belloni (1999) afirma que,

As NTICs oferecem possibilidades inéditas de interação mediatizada (professor/aluno; estudante/estudante) e de interatividade com materiais de boa qualidade e grande variedade. As técnicas de interação mediatizada criadas pelas redes telemáticas (e-mail, listas e grupos de discussão, webs, sites  etc.) apresentam

grandes vantagens, pois permitem combinar a flexibilidade da interação humana (com relação à fixidez dos programas informáticos, por mais interativos que sejam)

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com a independência no tempo e no espaço, sem por isso perder velocidade (BELLONI, 1999, p. 59).

A vertiginosa expansão da rede e a evolução das telecomunicações permitem a interação de pessoas em diferentes regiões geográficas, favorecendo o desenvolvimento de projetos colaborativos. Segundo Silva (2004),

A Internet comporta diversas interfaces. Cada interface reúne um conjunto de elementos de hardware e software  destinados a possibilitar aos internautas trocas,

intervenções, agregações, associações e significações como autoria e co-autoria. Pode integrar várias linguagens (sons, textos, fotografia, vídeo) na tela do computador. A partir de ícones e botões, acionados por cliques do mouse ou de combinação de teclas, janelas de comunicação se abrem possibilitando interatividade usuário-tecnologia, tecnologia-tecnologia e usuário-usuário. Seja na dimensão do "um-um", do "um-todos", seja no universo do "todos-todos". (SILVA, 2004, p. 4).

A inserção do computador e o advento da internet na prática pedagógica abriram um portal à concepção de um novo modo de produzir educação e os educadores não podem ficar alheios a esta realidade cada vez mais presente na atividade profissional. É necessária uma ruptura com o fazer pedagógico “tradicional”, adequando os métodos de ensino e as teorias de trabalho à inovação tecnológica.

Para Abranches (2003), as redes vinculadas à educação representam um diferencial exemplo de uma das variedades de uso da internet pela possibilidade de troca de informações e trabalho colaborativo, que envolve os integrantes com lista de discussão, correio eletrônico, conferências, etc., objetivando a construção de conhecimentos.

Assim, a sociedade percebe a fusão da educação/ sistemas escolares à tecnologia e não pode ignorar a interação do homem com a máquina, perceptível em todas fases da civilização, e de repensar a reorganização da escola e seus processos formativos, buscando-se potencializar a aprendizagem dos alunos, a qualidade no enfoque pedagógico e nas relações com a comunidade.

Neste contexto, o ciberespaço pode favorecer uma prática pedagógica não mais realizada face a face, dando origem a uma nova proposta de educação a distância (EaD), que possibilita o acesso a uma educação sem fronteiras, através de um conjunto variado de meios de informação, capaz de promover a difusão e a construção do conhecimento, buscando viabilizar a formação de pessoas excluídas do processo educacional, independente de lugares geográficos e da exigência de coincidência de horários fixos.

Nesta modalidade de educação, as salas de aulas do ensino presencial mudam de endereços e são transferidas ao ciberespaço com uma nova denominação para este local: ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Este ambiente é um espaço disponibilizado na internet constituído de recursos e ferramentas operacionais (síncronas e assíncronas) onde os professores organizam os conteúdos e as atividades, visando à realização de processos de aprendizagem promovidos pelas interações na plataforma de ensino.

As ferramentas síncronas diferenciam-se das assíncronas pela exigência de funcionamento em tempo real dos integrantes da turma/disciplina num horário fixo previamente marcado para sua utilização na plataforma de ensino: bate- papos (chats). As ferramentas assíncronas independem de um horário fixo para acesso: mural, fórum de discussão, portfólios, wiki, questionários, entre outros,

servem para armazenar hierarquicamente as atividades propostas e respostas solicitadas aos alunos nos módulos das disciplinas.

Para Kenski (2003), é preciso maior reflexão sobre o poder educacional das novas tecnologias no processo de ensino de maneira global, ressaltando que

[...] é fundamental que os espaços educacionais se constituam como lugar de acesso, produção e disseminação da informação, e desse modo não se pode pensar a escola desprovida das tecnologias de comunicação e informação, principalmente do computador e do acesso à Internet. É fundamental que a escola esteja integrada ao universo digital, com infra-estrutura adequada de equipamentos e serviços de qualidade. Entretanto, é preciso ir além. (KENSKI, 2003, p. 73).

Ainda sobre o grande salto nas relações entre educação e tecnologias, Kenski (2005) afirma que pode propiciar a sociedade uma conexão com acesso a informação em qualquer parte do mundo, na qual escapa o tempo linear e o espaço geográfico, entrando em cena a telepresença, os mundos virtuais, o tempo instantâneo, abolição do espaço físico entre outros:

A sala de aula se abre para o restante do mundo e busca novas parcerias e processos para ensinar e aprender... As aulas se deslocam dos horários e espaços rígidos das salas presenciais e começam a criar vida de forma cada vez mais intensiva no ciberespaço. (KENSKI, 2005).

De fato, esta nova EaD, que nasce dos avanços da distância e da tecnologia, não pode ser tratada como um modismo. Ela rompe profundamente com a educação presencial, alterando nossa maneira de perceber e de interagir com o mundo pela forma de pensar, olhar e agir nesta nova realidade.

Trata-se de um fenômeno social que possibilita a democratização de acesso ao ensino, com a adoção de novos paradigmas educacionais visando à formação de indivíduos autônomos, críticos para atuar e intervir no mundo em que vive, quebrando o medo e resistência de posturas irredutíveis relativa ao uso de tecnologias da informação e comunicação.

Finalmente, a educação a distância vem se tornando uma saída para aqueles que não encontram tempo para frequentar a universidade diariamente em busca de melhor qualificação profissional com mecanismos significativos para a capacidade de aprender autônoma e criativamente - uma característica da moderna cidadania nos países desenvolvidos, que pode ser eficaz à universalização da educação formal.

Os resultados do uso da rede e dos trabalhos colaborativos desenvolvidos podem contribuir beneficamente para a sociedade atual, mas, há que se construir uma formação social, humana e até  jurídica que dê conta das especificidades desse contexto, prevendo e possibilitando uma ética da rede.

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REFERÊNCIAS

ABRANCHES, S. Modernidade e formação de professores: a prática dos multiplicadores dos NTEs

do Nordeste e a informática na educação. 2003. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

BELLONI, M. L. Educação a distância. Campinas, SP: Editores Associados, 1999.

CARVALHO, M. S. R. M. de.  A trajetória da internet no Brasil: do surgimento das redes de

computadores à instituição dos mecanismos de governança. 2006. 259 f. Dissertação (Mestrado – Engenharia de Sistemas e Computação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio de Janeiro, 2006.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

HIMANEN, P. A ética dos hackers e o espírito da era da informação. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

200 p.

KENSKI, V. M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003. (Série

Prática pedagógica).

_________. Das salas de aula aos ambientes virtuais de aprendizagem. 2005. Disponível em:

<http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/030tcc5.pdf>. Acesso em: mar.2009.

LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre:

Editora Sulina, 2002.

LÈVY, P. Educação e cibercultura. Revista Educação, Subjetividade & Poder, Porto Alegre, 1998. _________.Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

SILVA, M.  Internet na escola e inclusão. 2004. Disponível em: <http://www-

pbh.gov.br/smed/capeonline/seminario>. Acesso em: set. 2009.

TIJIBOY, A. W. et al. Aprendizagem cooperative em ambientes telemáticos. Informática na Educação:

teoria e prática, Porto, Alegre, v. 1, n. 1, 1998.

Lialda Cavalcanti

Doutoranda em Educação Faculdade de Educação/UNICAMP libeca7@gmail.com

Amarílis Valentim

Mestre pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo avprof@gmail.com

Neusa Andrade

Especialista em Internet e Educação neusagenciaweb@gmail.com

Clayton Messias

Especialista em Educação a Distância pela Escola Superior Aberta do Brasil clayton_messias@hotmail.com

No documento Livro Ética Hacker e Educação (páginas 31-35)

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