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2.5 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA

2.5.2 A busca por elementos que possibilitem guiar ações visando a OE

Alguns pesquisadores afirmam que o empreendedorismo é um

comportamento transitório, sujeito a influências das situações e do ambiente, não sendo possível explicá-lo somente baseado em características pessoais (SHANE; VENKATARAMAN, 2000). Ele também diz respeito a questões culturais, tendo influência do sistema de valores de uma comunidade ou organização e da visão de mundo dos indivíduos (DOLABELA, 1999). Dessa forma, algumas pessoas engajam- se em comportamentos empreendedores respondendo a situações e oportunidades do ambiente, com base em valores e questões culturais.

Dimensão da OE

Elementos das dimensões da Orientação Empreendedora Categorias Elementos AUT O N O M IA

Equipe Líderes com comportamento autônomo. Times de trabalho autônomos.

Coordenar atividades autônomas. Medir e monitorar atividades autônomas. Centralização Centralização da liderança.

Delegação de autoridade. Propriedade da organização. Intraempreende-

dorismo

Pensamento empreendedor deve ser encorajado nas pessoas. Encorajar iniciativas empreendedoras.

Ação

independente

Pensamento e ação independente.

Pensamento criativo e estímulo a novas idéias. Cultura que promova a ação independente.

AG RE S S IV IDADE CO M P E T IT IV A Reação à concorrência

Mover-se em função das ações dos concorrentes. Responder agressivamente às ações dos concorrentes. Empresa muito agressiva e intensamente competitiva.

Tipicamente adota uma postura muito competitiva, desqualificando os competidores.

Competição financeira

Busca posição no mercado à custa de fluxo de caixa ou rentabilidade.

Corta preços para aumentar participação no mercado. Coloca preços abaixo da competição.

Entrar em mercados com preços muito baixos. Competição em

negócios

Postura agressiva para combater tendências da indústria que podem ameaçar a sobrevivência ou posição competitiva.

Copia práticas de negócios ou técnicas de competidores de sucesso. Uso de métodos de competição não convencionais.

Marketing Faz marketing oportuno de novos produtos ou tecnologias.

Gastos agressivos em marketing, qualidade de produtos e serviços, ou capacidade de manufatura.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado às organizações. As diferenças de empreendedorismo entre uma organização e outra podem ser resultado de várias combinações que envolvem fatores individuais, organizacionais e ambientais (LUMPKIN; DESS, 1996). Ou seja, organizações em determinados ambientes, mais ou menos agressivos, podem ter comportamentos distintos em termos de empreendedorismo, os quais dependem do perfil das lideranças que estão à frente da organização, do tipo de estratégia adotada e da estrutura organizacional.

Dessa forma, além do ambiente, o comportamento empreendedor dos indivíduos também pode afetar a ação organizacional, refletindo mais ou menos o empreendedorismo nas organizações (WIKLUND, 1998). Em empresas onde a liderança é mais centralizadora, por exemplo, é possível que o empreendedorismo na organização seja reflexo do comportamento empreendedor do líder.

Assim, como a postura empreendedora é um fenômeno comportamental, ela pode ser gerenciada, e, possivelmente, diferentes organizações requeiram diferentes tipos de forças para estimular o empreendedorismo (MILLER, 1983). Para isso é necessário que haja condições adequadas e que sejam considerados alguns aspectos e elementos e a respectiva forma de trabalhá-los.

Assim, a partir dos elementos subjacentes à orientação empreendedora – neste caso as dimensões e elementos da OE –, comportamentos que refletem esses componentes empreendedores podem ser encorajados (COVIN; SLEVIN, 1991), para facilitar o comportamento empreendedor nas organizações. Para essa tarefa, é necessário conhecer as dimensões e os elementos mais importantes para determinado setor, para determinado contexto, para determinada organização, para então agir no intuito de potencializar, de facilitar, de estimular esse comportamento nas organizações. A busca por consolidar um conjunto de elementos que possibilite guiar ações visando a OE é um passo na direção de contribuir para o desenvolvimento desse comportamento nas organizações.

Posto isso, cabe salientar que os elementos das dimensões da OE são de grande importância para este estudo, uma vez que constituem a principal fonte de informação para a realização da pesquisa, seja para a identificação de tais elementos na prática organizacional, seja para consolidar um conjunto de elementos que possibilitem guiar ações visando a OE nas organizações.

Seguindo o que parece ser consenso entre os pesquisadores, a teoria, abordada nesse capítulo que finda e a prática, que apresenta os resultados no capítulo 5, devem ser fortemente relacionadas, já que uma depende da outra, assim como uma é ponto de partida para a outra. Demo (1997, p. 28) afirma que a teoria precisa da prática para ser real, assim como a prática, da teoria para continuar inovadora: “toda teoria é remodelada pela prática, quando não rejeitada; toda prática é revista, por vezes, refeita na teoria. Nenhuma prática esgota a teoria, nenhuma teoria dá conta de todas as práticas”.

Assim, o que se pretende ao longo do estudo é demonstrar como acontece essa inter-relação entre teoria e prática, para a qual servirá de embasamento a base conceitual de OE, com os elementos e as categorias agregadoras. Mais especificamente, propõe-se identificar como a OE repercute na prática organizacional, e, com isso, consolidar um conjunto de elementos propostos pela literatura. Trata-se, pois, da busca pela confirmação da teoria na prática e da busca por agregar novos elementos à teoria, identificados a partir da prática.

Ao final deste capítulo de abordagem conceitual, que resume grande parte do esforço para a revisão de literatura necessária para a realização do estudo e que conclui com a apresentação da base conceitual de OE, já com elementos em categorias agregadoras propostas nesse estudo, cabe ainda fazer algumas considerações e até mesmo alguns questionamentos.

O primeiro deles decorre do fato de a literatura de base ser praticamente toda estrangeira, a qual tem servido de base para estudos brasileiros na temática. As dimensões retratam certo tipo de comportamento, mas os elementos são mais focados em práticas, em métodos, em estilos de decisão e na ação gerencial. É nesse sentido que fica um primeiro questionamento: será que os elementos da base conceitual repercutem nas organizações brasileiras?

Considerando que a economia brasileira tem sua base econômica em um grande número de micro e pequenas empresas, que, via de regra, tem na condução

o empreendedor que constituiu o negócio, será que a orientação empreendedora da organização tem relação direta com o comportamento do empreendedor em termos de atitudes empreendedoras baseadas nas dimensões da OE, ou seja, na inovatividade, na propensão a risco, na proatividade, na autonomia, no comportamento mais competitivo?

Sendo afirmativa a resposta ao questionamento acima, no caso de organizações de maior porte, onde há mais níveis gerenciais, será que ocorre o mesmo? A OE seria influenciada pela composição dos comportamentos dos diferentes indivíduos que estão à frente da gestão? Ou, ainda, há predominância da liderança central da empresa?

Um dos principais olhares deste estudo é sobre elementos que possibilitem guiar ações visando a OE, de modo a contribuir para o desenvolvimento desse comportamento nas organizações. Nesse sentido fica uma questão: os elementos apontados na base conceitual, caso repercutam nas organizações em menor ou maior intensidade, bastaria identificar formas de potencializá-los para que a orientação empreendedora repercutisse com maior intensidade nas organizações?

Se a resposta a essa última questão for afirmativa, haveria relação com o comportamento do gestor? Ou o grupo teria importante papel para “fazer a orientação empreendedora acontecer” na organização?

E mais, será que todos os elementos da base conceitual, uma vez confirmados na prática, são passíveis de ação para facilitação ou potencialização de tal elemento ou comportamento?

Enfim, outras tantas questões podem ser levantadas a partir do estudo bibliográfico realizado. Não é objetivo deste estudo responder a todas as levantadas, mas pretende-se que algumas delas sejam respondidas ao longo dos capítulos que seguem. As demais servirão para reflexão e respeito, e, quem sabe, para guiar pesquisas futuras nessa área.

* * *

O capítulo a seguir trata do contexto de estudo, fazendo uma breve caracterização da indústria de software.

3 ORGANIZAÇÕES DE SOFTWARE: CONTEXTUALIZANDO O ESTUDO

Esta seção tem por objetivo apresentar o contexto do estudo18: organizações

de software. Na seção 3.1 é apresentado um panorama da indústria de software, contemplando características e peculiaridades das organizações e alguns números de sua representatividade; na seqüência, na seção 3.2, são apresentados dados relativos ao setor no estado do Rio Grande do Sul, foco do estudo. Ao longo do texto são também apontados alguns aspectos mais abrangentes a respeito do setor de TI.