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Antes de selecionar o local para o desenvolvimento desta pesquisa, sentimos a necessidade de buscar informações sobre os serviços disponíveis no Município do Natal/RN, no tocante à violência contra a mulher. Para isso, fez-se foi preciso visualizar os serviços prestados pelo município e sua atuação no combate a esse tipo de violência, buscando na Internet meios para nos aproximarmos dos “supostos” cenários. Em seguida, realizou-se o contato por telefone para agendamento de uma visita aos serviços e posterior seleção do local.

Nos casos de violência contra a mulher, o Município do Natal/RN disponibiliza órgãos competentes para lidar com essa causa, prestando serviços tanto jurídicos quanto psicossociais a essas mulheres. Constam atualmente de duas Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (DEAM), instaladas no bairro do centro e zona norte da cidade, além dos Centros de Assistência Jurídica/Procuradoria de Assistência Judiciária, ONGs (com atendimentos jurídicos, psicológicos e/ou social), os serviços públicos como o Centro de Referência à

Mulher Cidadã (CRMC) e as Casas-Abrigo, um disque-denúncia 180 – Central Nacional de Atendimento à Mulher, e um site oficial de divulgação e discussões sobre violência contra a mulher (NATAL, 2010).

Nesse processo foram visitados os serviços do CRMC e Coletivo Leila Diniz (ONG).

4.1.1 A Importância da Visita in loco

Estar in loco fez com que fossem repensados os cenários para além do “simples local de investigação”. Assim questionamentos foram invitáveis: O que devemos considerar para selecionar o local de pesquisa? Como escolher o local adequado para trabalhar temáticas que envolvem o íntimo dos entrevistados, trazendo questões muitas vezes dolorosas, silenciosas, com forte carga emocional? Tais questionamentos proporcionaram aos pesquisadores a condição de “inversão de papéis”, estar no lugar do outro, num sentido de alteridade. Ou seja, colocando-se como sujeito a ser pesquisado, e, assim, apropriar-se da situação. Levamos em consideração todos os aspectos que envolvem a busca pelo serviço e suas motivações, as condições biopsicossocial e cultural em que o indivíduo se encontra, a acessibilidade, o funcionamento e perfil do serviço, o conforto, o espaço interno e externo, a confidencialidade, a ruptura do estrangeirismo dos pesquisadores no serviço, disponibilidade de sala reservada para desenvolvimento da pesquisa, entre outros.

Dessa forma, considerando a complexidade da temática da violência, as condições biopsíquicas e sociais da mulher que vive/viveu situações como estas, o referencial de busca e direcionamento tomados por elas como tentativa de quebrar o ciclo no âmbito familiar, optamos, após visita in loco, pelo CRMC como cenário de investigação.

O primeiro contato foi realizado em setembro de 2010 por meio de agendamento com a Coordenadora para conhecer o serviço e explicar os propósitos da pesquisa. In loco percebemos que se tratava do cenário adequado para o desenvolvimento da pesquisa. Além de acolhedor, com boa estrutura física, conta também com a atuação de uma equipe multiprofissional, composta por psicólogas, assistentes sociais e advogadas, preparadas para atender sua demanda de forma humanizada e resolutiva, favorecendo apoio psicológico às participantes. Assim

teríamos o aparato psicológico necessário para realização da pesquisa, uma vez que trabalharíamos com a memória das entrevistadas e história de vida, trazendo à tona a volta ao passado e/ou tocando no presente, no agora.

Este era o lugar onde tudo acontecia, onde as portas se abriam para uma nova vida, para dar voz ao grito do silêncio e liberdade das mulheres em situação de violência intrafamiliar. O primeiro passo para a quebra do ciclo. O caminho.

Outro ponto importante na escolha do CRMC como local de investigação foi o ânimo depositado perante sua equipe ao projeto que se iniciava naquela época. Em 22 de fevereiro de 2011 realizamos uma nova visita para reafirmar o compromisso, apresentar o parecer de aprovação do Comitê de Ética, o aceite da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS) e iniciar os trabalhos. Em 25 de fevereiro de 2011 foi realizada uma reunião com a Equipe do CRMC para apresentação dos pesquisadores e propósitos da pesquisa.

4.1.2 O Reconhecimento: Centro de Referência à Mulher Cidadã

O CRMC foi implantado em 8 de março de 2004 pela Prefeitura Municipal do Natal, em parceria com a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, do Governo Federal, além de ser uma data emblemática e internacionalmente aceita como uma dada alusiva e comemorativa aos direitos da mulher no mundo.

É um espaço de acolhimento para atender de forma integral a mulher, desenvolvendo ações de prevenção, assistência e combate à violência, contando com uma rede de instituições e entidades ligadas à questão de gênero na construção e resgate da cidadania. É, hoje, a principal porta de entrada para a mulher em situação de violência doméstica e/ou familiar. Sua demanda mais comum é proveniente das zonas leste e sul da cidade do Natal, com destaque para o bairro de Felipe Camarão.

Uma vez constatados pelo CRMC, ou qualquer órgão responsável por esta causa, mulheres e dependentes que se encontram em situação de risco iminente de morte, onde o convívio com o agressor já não é possível, tampouco seguro, são encaminhados à Casa Abrigo Clara Camarão, Natal/RN. Essa casa de apoio restringe-se aos casos específicos já citados, sendo de caráter sigiloso, e acolhe em suas instalações até 20 mulheres (com seus dependentes menores de 12 anos). É um local onde as usuárias poderão permanecer por um período

determinado até que possam reunir condições necessárias de segurança e retornar ao curso normal de suas vidas. Exemplifica-se que, de janeiro a maio de 2010, a Casa abrigou 61 mulheres que chegaram ao cume máximo da violência (PMN, 2010).

As mulheres assistidas pelo CRMC e pela Casa Abrigo Clara Camarão, serviços desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), contam a seu favor com atendimentos sociais, jurídicos e psicológicos, bem como cursos profissionalizantes em parceria com o Departamento da Mulher (DAM) e Departamento de Qualificação Profissional (DQP).

Todas essas ações visam o resgate da autoestima dessas mulheres agredidas, viabilizando a geração de renda e consequentemente sua autonomia financeira. Favorecendo a interrupção da perpetuação desse ciclo de abusos e maus-tratos em que estão inseridas, especialmente, por dependerem do seu agressor e não disporem de condições financeiras para o sustento familiar, como constatado in loco no reconhecimento e escolha dos cenários da pesquisa.

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