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5 ANALISANDO E DISCUTINDO RESULTADOS: PERCEPÇÕES DOCENTE E

5.1 Refletindo sobre a pluralidade de atividades de ensino

5.1.2 No decorrer do caminho

5.1.2.11 Buscando conhecer fora da escola

Esse encontro parecia ser esperado com ansiedade pela turma e aconteceu em clima descontraído e participativo. Os diálogos foram acontecendo no caminhar pelo parque e registrados ao final do encontro.

A organização do trabalho fora da escola é difícil, principalmente nas condições atuais de trabalho da maioria dos docentes, que dão muitas aulas por dia, geralmente em mais de uma escola. Mas, apesar do sacrifício que esta atividade pode representar, os resultados são compensadores (KRASILCHIK, 2008, p. 132).

Diante disso, pode-se afirmar que realmente foi uma experiência cansativa no aspecto físico, mas revigorante no aspecto mental e emocional, pois despertou mais vontade para continuar buscando alternativas que despertam no aluno o entusiasmo e a efetiva participação. Assim, Krasilchik (2008, p. 133) afirma que “a melhora de relacionamento e do aproveitamento dos alunos em relação à matéria compensa os inconvenientes e o aumento do trabalho que acarretam para os professores”.

A primeira questão que se apresentou diante dos nossos olhos foi sobre a cutia andar livre pelo parque. De forma extrovertida, Bil deu a sua explicação para o fato: ela trabalha como agricultura (sic) espalhando as sementes, por que ela come e

c... (usou um termo vulgar para dizer que ela evacua ou defeca) as sementes por toda a parte. O aluno, provocando risadas na turma, foi correto na ideia de que

esses animais atuam como dispersores de sementes.

É preciso dar aos alunos liberdade de observação e análise que vêem e considerar o tipo de bioexposição na hora da análise e discussão da visita, verificando se conseguem interpretar com clareza o objetivo da bioexposição (KRASILCHIK, 2008, p.133).

Outros destaques dos alunos foram: a beleza das vitórias-régias para Gal, a curiosa tranquilidade de jacarés e jabutis no mesmo recinto para Olga, a justificativa de Lia para uma marreca-cabloca “enfiar o bico atrás onde tem uma glândula de gordura e depois esfregar nas suas penas para lubrificar e facilitar o vôo”. Um fato interessante que se observou foi eles mesmos alertando uns aos outros de que não poderia alimentar os animais, de que não deveria fazer muito barulho para não perturbá-los ou de não caminhar fora das trilhas. Essa postura dos próprios alunos demonstra que “a dimensão afetiva das saídas a campo é cada vez mais valorizada

por causa da aprendizagem não só de conceitos, mas também de valores” (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009, p.146). Ao final da atividade apenas alguns alunos se prontificaram para falar sobre o encontro. Esses registros estão agrupados no Quadro 23.

Quadro 23: Atividade de campo no Museu Emilio Goeldi

Segundo os alunos Segundo a literatura

Esse tipo de aula deveria ter mais.Porque em sala de aula a gente aprende, mas aprende no automático, aqui a gente aprende praticamente tocando (Bia).

Associados a essa possibilidade didática, conceitos de biologia como seres vivos e suas características, adaptações, classificação entre outros podem ser dinamizados se tratados em visita a um ecossistema (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009, p.146).

No que se refere às Ciências Biológicas, a visita aos vários ecossistemas, ambientes e habitats específicos de determinados organismos pode oferecer um contato mais direto com esse conhecimento, além de proporcionar melhor entendimento dos procedimentos utilizados para a compreensão do ambiente natural (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009, p. 144). Deveria ter mais esse tipo de aula, porque estamos

vivenciando o assunto, a gente tem contato com o que o professor fala e vê na prática isso. Por que lá (referindo-se a sala de aula) ele (o professor) só fala, fala, fala, aqui a gente vê como é que funciona e ele explica melhor. Deveria ser estimulado entre os outros professores e as instituições para que esses passeios ocorressem mais (Bil).

Com certeza esse tipo de atividade aumenta a motivação do aluno porque a gente aprende olhando, tocando, sentindo. Lá a gente fica “vegetando” na hora da aula (Bil).

Ninguém presta a atenção quando tá só o professor falando na sala de aula (Gabi).

Fonte: Elaborado pelo autor (2013)

A aprendizagem no automático citada por Bia é provavelmente uma referência à aprendizagem mecânica. Bil usa o termo vivenciando o assunto para novamente fazer uma relação do que os assuntos na teoria tem ligação com a vida dos alunos. Mais uma vez a expressão “o professor fala, fala, fala” é utilizada e ainda é colocado que os alunos ficam “vegetando na aula”, este termo caracteriza uma atitude passiva do aluno como receptor do que o professor está falando.

Muitos professores acreditam que uma aula de campo ou mesmo uma explanação feita além dos limites das paredes da sala seja viável apenas para Ciências ou Geografia, mas se professores de outras disciplinas planejarem eventuais saídas ficarão surpresos de como é possível perceber conteúdos de suas áreas de trabalho nas ruas, natureza ou nas múltiplas relações interpessoais proporcionadas por essas aulas de campo ou excursões. O importante nessas oportunidades é que o aluno aprenda a ver e descobrir o contexto dos fatos percebidos em sala de aula refletindo no cotidiano das coisas e da natureza (ANTUNES, 2002, p. 157).

Concluindo, esse momento ficou ainda um testemunho de Gabi que generaliza que “ninguém presta a atenção quando tá só o professor falando”, alertando que o professor mesmo em uma aula expositiva deve buscar alternativas para que os alunos não percam a sua capacidade de atenção e concentração e acabem ficando como eles mesmos disseram “vegetando” na sala de aula.

As relações de alunos e professores fora do formalismo da sala de aula acabam sofrendo modificações que perduram depois da volta à escola, criando um companheirismo oriundo de uma experiência comum e uma convivência muito agradável e produtiva (KRASILCHIK, 2008, p. 88).

Os obstáculos que podem por qualquer motivo acabar atrapalhando a relação entre professor e alunos, com propostas como a atividade de campo são superados quando se estabelece um relacionamento mútuo de admiração, respeito e responsabilidade ao vivenciarem o conhecimento fora dos muros da escola. Ao final do encontro um comentário de Lia, quando já se estava dialogando sobre outros assuntos, chamou a atenção e merece destaque por revelar o quanto eles vão percebendo, nas atividades utilizadas, uma nova maneira de aprender e ensinar biologia e o quanto isso pode se tornar um fator motivacional para eles:

Poxa, quantas pessoas nunca vieram aqui e quantas vezes nós já viemos aqui, só para passear e nunca observamos que podíamos aprender coisas que estavam na nossa frente quem dera que pudéssemos ir aprender outras coisas e outros lugares também (Lia).

Essa fala da aluna aponta duas direções. Uma que é a falta de acesso de muitas pessoas a um ambiente como o Museu Goeldi e consequentemente também não tem acesso ao conhecimento presente nesse ambiente. Outra que são as oportunidades perdidas por não conseguir enxergar o que hoje a aluna vê com outros olhos: um aprendizado fora dos livros, fora da internet, fora da escola.