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5 ANALISANDO E DISCUTINDO RESULTADOS: PERCEPÇÕES DOCENTE E

5.1 Refletindo sobre a pluralidade de atividades de ensino

5.1.2 No decorrer do caminho

5.1.2.6 Prova: um momento de análise

O resultado do teste agradou tanto o pesquisador quanto os alunos. Alguns alegaram que erraram poucas questões por falta de atenção. Segundo as orientações curriculares para o ensino médio (Brasil, 2008, p. 39-40):

o processo de avaliação visa a julgar como e quanto dos objetivos iniciais definidos no plano de trabalho do professor foram cumpridos. Necessariamente, deve estar estreitamente vinculado aos objetivos de aprendizagem. Além disso, tem a finalidade de revelar fragilidades e lacunas, ponto que necessitam de reparo e modificação por parte do professor.

O processo de avaliação também representa uma grande oportunidade de ensino ao se promover o debate dos conteúdos avaliados, o desenvolvimento de raciocínios sobre as questões e até mesmo o alerta sobre obstáculos tanto para alunos quanto para professores. Por isso é que se percebe em testes, provas, seminários, debates ou outras formas avaliativas como verdadeiros feedbacks para docentes e discentes do processo educativo; “o feedback que o aluno recebe afeta tanto o processo de aprendizagem como a própria motivação” (BORUCHOVITCH;BZUNECK;GUIMARÃES, 2010, p. 29).

A atividade de realização de um teste ou uma prova não estava dentro da proposta inicial, ela foi uma das solicitações dos alunos nos transcorrer das atividades, porém como afirma Thiollent (2011, p. 24), “a atitude do pesquisador deve ser sempre uma atitude de escuta e de elucidação dos vários aspectos da situação, sem imposição unilateral de suas concepções próprias”.

Esse pedido fez entender que eles também valorizam esse instrumento como uma espécie de termômetro da sua aprendizagem. Aproveitando esse momento, estabeleceu-se uma relação de confiança onde os alunos puderam expor suas emoções referentes ao que lhes preocupava nesse momento da vida escolar. Isso pode mostrar como alguns alunos manifestaram emoções negativas e como lidavam com situações de pressão e conflito, expressando sentidos subjetivos voltados ao processo seletivo que se aproximava e como eles lidavam com a subjetividade individual e social da família e do ambiente escolar.

Após a realização, correção e discussão do teste, ficamos, com exceção de Gal e Gabi, espontaneamente conversando em sala de aula sobre diversos assuntos e um deles foi sobre o momento que eles estavam passando com a aproximação do vestibular. A conversa informal mostrou alguns sentidos que os alunos produziram em relação a essa etapa dos estudos, família e escola.

A aluna Bia já era maior de idade e se mostrava uma aluna disciplinada, crítica em suas análises, aparentando ser uma pessoa que se cobra muito. Talvez devido a uma suposta pressão que ela sentia nas relações estabelecidas na família e na da escola. Além do que o curso da sua opção que é medicina, ainda representa um alto status para quem o almeja. Eu tenho que passar no vestibular porque meu irmão passou na Federal e em duas faculdades particulares [...] Todo mundo da minha família diz que eu já passei, os professores olham apontam para mim como aprovação certa e todos os meus amigos já falam que vão se reunir para ouvir o meu nome no rádio e depois ir lá para casa (Bia).

A aluna Olga era maior de idade e já havia repetido o seu primeiro ano do médio, parecia ser a menos motivada do grupo e deixava claro a preocupação que a família tinha em tranquilizá-la, mas que acabava tendo um efeito contrário. Na sala de aula, eu não me destaco, sou só mais uma aluna, tento não chamar a atenção e, além disso, meus pais já disseram para eu não me preocupar, porque eu tenho agora pelos menos que acabar o ensino médio, e ano que vem eu posso fazer cursinho e vestibular de novo (Olga). Esse comentário deixava transparecer uma ideia de que nem a sua própria família confiava na sua competência.

Em relação ao aluno Bil, que também já era maior de idade, indicadores de um caráter ativo e decidido diante das adversidades e um desejo de conquistar logo a sua autonomia social, pois ele afirmava que: eu sou assim, faço o que faço, falo o que falo, sem ter que agradar ninguém. Espero que cada professor faça a sua parte

e eu passe no vestibular, quero logo me formar, trabalhar e não ter mais que depender de ninguém. Essa fala de Bil mostra que expressa o que pensa e toma atitudes de acordo com o que acredita. Ele revelou optar por um curso universitário que não seria do agrado da sua família. Porém esse aluno atribui ao professor um papel principal para a sua aprovação.

Para Lia, que é menor de idade, a passagem do ensino médio para o superior significa um rito de passagem para a vida adulta como podemos verificar na sua fala: Eu quero é passar logo de primeira, porque deve ser muito legal na UFPA, a gente agora pode fazer mais coisas, tem mais responsabilidades, mas não é mais tratado como criança. Nessa fala, observou-se o desejo desse sujeito ser mais valorizado, e de que a vida universitária trará para a aluna, mais direitos e deveres o que provavelmente irá diminuir uma possível superproteção.

No caso das singularidades dos alunos participantes da oficina, identificaram-se sentidos subjetivos que se destacam em suas subjetividades sociais, mas que aparecem também em suas subjetividades individuais. Nesse sentido, foi interessante para mim perceber a subjetividade social do contexto familiar ou escolar, produzindo nos alunos participantes da pesquisa, sentidos subjetivos que revelavam um sensação de desconforto pelas expectativas criadas pelos outros.