14 1 Essa luta diária para ver reconhecidos seus direitos é o que
65 Essas Câmaras têm por finalidade assessorar o (a) decano (a), dando seu parecer em processos, para posterior apreciação pelo Conselho,
as atividades de ensino, pesquisa e extensão , e também para as atividades-meio . Nesse espaço de interação os representantes das carreiras de menor prestigio no
ccs
desenvolvem estratégias de resistência ao poderio médico que podem ser bem sucedidas , dependendo de seus interesses especificas em determinado momento e também dos trunfos diferenciais que lhes são garantidos pela sua posição nos sistemas de relações que se estabelecem entre os diferentes grupos de professores.Quadro 1 - Composi ção do Conselho de Coordenação do CCS/UFRJ
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Decana (*) - Presidente do Conselho
Representantes de unidades e órgãos suplementares (21):
I nsti tuto de Ciências Bi omédicas Escola de Enfermagem Anna Nery Faculdade de Farmáci a
Faculdade de Medicina (*) I nsti tuto de Mi crobiolog i a I nsti tuto d e Nutri ção Faculdade de Odontolog i a I nsti tuto de Biolog i a
Escola de Educação Física e Desportos
I nsti tuto de Biofísica Carl os Chagas Fi lho (*) I nst i tuto de Ginecologia (*)
I nst i tuto de Neurolog i a Deo l i ndo Couto (*) I nsti tuto de Psiquiatria (*)
I nst i tuto de Puericul tura e Pediatria Martagão Gestei ra (*) I nsti tuto de T i si olog i a e Pneumologia (*)
Maternidade-Escola (*)
Hospital Universi tário Clementino Fraga F i lho (*) Hospi tal -Escola São Franci sco de Assi s
Núc l eo de Tecnologia Educaci onal para a Saúde (*) Núc leo de Pesqui sas de Produtos Naturais
Núcl eo de Estudos de Saúde Coletiva (*)
Representantes de categorias docentes (4):
T i tu lares (*) Adjuntos C*)
Assi stentes (biólogo) Auxi l i ares ( farmacêut ica)
Representantes di scentes e de funcionários - sem representação no momento (*) - cargos ocupados por médicos em novembro de 1994
Embora a Escola de Enfermagem tenha de direito uma situação de igualdade com as demais unidades universitárias , isto não se verifica de fato , pois a relativa autonomia politica de cada unidade se materializa conforme uma hierarquia de poder e
prestigio estabelecida entre as diversas
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carreiras universitárias : "nas ciências da saúde estão algumas profissões que eles acham que são menores do que a profissão médica ou do que a profissão de odontólogo, que são as duas mais reconhecidas . . • " (enf . dep . n2 1, p . lO) .
Este depoimento é corroborado pela professora de nutrição : "pra falar com sinceridade . . . há exceções, mas eu sinto que ainda existe aquela situação [ do médico] achar que ainda é o dono da situação, e que o enfermeiro . . . tá mais ligado ao cuidado prático do paciente . . . aquela parte mais acadêmica do professor de enfermagem não está tão valorizada corno merece . . . eu acho que é por tradição . . . " (nut. dep. n2 12, p. 7).
A professora de biologia é mais enfática : "se você conversa aqui no ccs com um profissional da nutrição, da farmácia, da biologia, eu acho que eles entendem um pouquinho mais o que é a profissão [ de enfermeira ] , mas se você vai pra área médica mesmo,
( eles) têm urna visão de (profissão ) auxiliar 11 (bio. dep .
n29, p. 8).
No âmbito do Conselho de Centro, a medicina, ao tratar de manter sua posição no topo da hierarquia e seu poder de enunciar e de classificar, cria um clima de constrangimento para as outras carreiras. A professora de biologia é incisiva : "a medicina tem uma dificuldade muito grande de entender a universalidade da
universidade eu consigo enxergar a educação f isica, a
único padrão de comparação é a medicina . . . tem exceções , [ um professor ] é a grande exceção , mas o padrão é a medicina , o resto é o resto . . . e me dá a sensação que isso não vai mudar nunca ,
nunca " ( bio . dep . n29 , p . 6 ) • Em sua fala , essa professora
reconhece que na luta para fazer reconhecer a sua visão como objetiva , o poder de cada agente depende em grande parte de sua pertença a determinado grupo e à posição que este ocupa na hierarquia do campo .
Na lógica interna desta luta , para ganhar o que se necessita
para atingir as finalidades da unidade (e da universidade) , é
preciso demonstrar primeiro ser merecedor , de acordo com critérios que não são os seus . Assim , o tratamento dado aos assuntos de cada unidade é percebido como claramente desigual : " sempre que havia um processo relacionado à enfermagem ou à nutrição , havia sempre uma exigência . . . esse parecer era mais obj eto de discussão • . . se alguém da nutriçao quisesse sair para um curso no exterior , isso era muito discutido - pra que país
vai , como é a nutrição nesse país? e as situações da
enfermagem também . . . " (enf . dep . n22 , p . 4 } . Uma outra professora de enfermagem confirma este depoimento : ''em várias situações a gente percebe que quando é da enfermagem tem sempre empecilho . . .
eu tive um trabalho com avaliação favorável do CEPG66 , 0
trabalho foi apresentado em Natal , vai ser publicado numa revista
de enfermagem eu preenchia os requisitos e não ganhei a
passagem pra ir ao Congresso . . . mas é só pegar o boletim da universidade e você vai encontrar ( concessão de] passagens ,
_,
169 diárias para todas as áreas . • . ai amplia a nossa discriminação dentro da universidade , a nivel da reitoria, do CCS .. . " (enf . dep.n2 1 , p.3 1 ) .
o alinhamento politico das unidades pode parecer claro; a visão de quem não é professora de enfermagem é a de que: " o maior aliado da enfermagem devia ser a medicina, e não e . . . os aliados da enfermagem são a biologia, a farmácia e a nutrição; a educação fisica, no sentido político , é uma coisa meio amorfa , mas está
aliada à medicina neste momento67 " ( bio.dep.n29 , p . 8 ) . No
entanto , também podem ser constatadas alianças entre frações dos grupos dominados com o grupo dominante.
A participação no Conselho de Centro confere , mesmo aos
representantes das unidades menores, um certo poder de
negociação , que oferece possibilidades de aproximação entre as carreiras , como declara a professora de educação fisica : "enquanto membro do Conselho , a gente tem que relatar processos
e então constantemente a gente é procurado por exemplo ,
porque a gente tá com um processo de afastamento do pais ou um relatório de um determinado curso . . . os professores procuram , vêm conversar , e a gente acaba falando sobre outras coisas . . . eu acho que o meu relacionamento tem sido assim , bastante fácil ... " ( ed.fis.dep . n2 11 , p . ll ) . A obtenção dos recursos necessários ao desenvolvimento do trabalho acadêmico parece então se fazer por urna espécie de condescendência , que não chega a descontentar : "a educação f isica está tentando crescer , deslanchar ... e nesses