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CÓDIGO DE DEFESA DO CONTRIBUINTE DO ESTADO DO CEARÁ: LEI COMPLEMENTAR 130/

2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRIBUINTES E O DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

2.2 OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS CONTRIBUINTES NO BRASIL

2.2.1.5 ESTATUTO DO CONTRIBUINTE

2.2.1.5.8 CÓDIGO DE DEFESA DO CONTRIBUINTE DO ESTADO DO CEARÁ: LEI COMPLEMENTAR 130/

Este estatuto do contribuinte logo de início declara Art. 3º São objetivos deste Código: […]

II – assegurar ao contribuinte uma relação jurídico-tributária que atenda aos princípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva, da equidade na distribuição da carga tributária, da generalidade, da progressividade, da vedação ao confisco, bem como outros princípios explícitos e implícitos consignados na Constituição Federal; […]

Neste estatuto são reforçados os direitos fundamentais, à igualdade (artigo 3.º, inciso II), à legalidade (artigo 3.º, inciso II e artigo 8.º), à ampla defesa e ao devido processo legal (artigo 3.º, inciso III, artigo 4.º, incisos IV, XIV, XV e XIX, artigo 5.º, inciso III), à liberdade de trabalho (artigo 4.º, inciso XVI), ao direito de petição (artigo 4.º, inciso XVII, e artigo 10, inciso X), à supremacia do interesse público ao do particular e a indisponibilidade dos interesses públicos (artigo 8.º), à anterioridade (artigo 9.º, § 2.º), à irretroatividade da lei tributária (artigo 9.º, § 2.º), à proibição de tributo com efeito de confisco (artigo 3.º, inciso II) e à capacidade contributiva (artigo 3.º, inciso II).

Ainda, no artigo 5.º, inciso II, institui a presunção legal relativa dos atos e fatos jurídicos registrados em livros e documentos contábeis ou fiscais, inclusive eletrônicos, quando regularmente escriturados e registrados na forma da legislação de regência.

Instala um Conselho Estadual de Defesa do Contribuinte constituído pela Federação das Associações do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária, pela Federação do Comércio, pela Federação das Indústrias, pela Federação da Agricultura e Pecuária, pela Ordem dos Advogados do Brasil, pelo Conselho Regional de Contabilidade, pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas, pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas, pela Secretaria da Fazenda, pela Procuradoria Geral do Estado, pela Associação dos Auditores e Fiscais do Estado, pelo Sindicato dos Servidores do Grupo TAF, pelo Contencioso Administrativo Tributário do Estado, pelo Conselho de Ética da Secretaria da Fazenda do Estado, pela Auditoria Fiscal da Coordenadoria da Administração Tributária, pela fiscalização de mercadorias em trânsito da Secretaria da Fazenda, pela Coordenadoria de Administração Tributária da Secretaria da Fazenda, e pelo Conselho Regional de Economia do Estado, todos locais.

O conselho tem atribuição de tomar as providências necessárias para observância do estatuto do contribuinte e poder para, apurada violação a ele, representar o infrator perante o Secretário da Fazenda. 2.2.1.2 OS DEVERES FUNDAMENTAIS

Holmes Jr., no início do século XX, já alertava para o fato de que “os impostos são o que pagamos por uma sociedade civilizada”174, é o

174 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, Supreme Court. Arguition 42.

Compania de Tabacos de Filipinas Vs. Collector of Internal Revenue, 275 U.S. 87 (1927).

que pagamos para manter o Estado, instituído pela Constituição da República Federativa do Brasil que em seu preâmbulo declara:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. A manutenção desse Estado Democrático, que para cumprir com sua função, não pode exercer atividade econômica, mas no caso brasileiro, normatizá-la e regulá-la (artigo 174), sua renda provém unicamente de tributos.

Dworkin esclarece que os tributos são o principal mecanismo através do qual o Estado exerce sua função. Deve fazê-lo respeitando a capacidade contributiva, a progressividade, para que cada um possa contribuir dentro da sua possibilidade, lembrando sempre da necessidade do Estado fazer frente aos seus custos, a fim de evitar, desemprego, prover aposentadoria, hospitais, segurança, realizar programas de habitação etc..175

Surge daí o dever fundamental de pagar tributos, nos dizeres de Nabais:

Perguntar por quem suporta os custos do estado social é indagar sobre quem efectivamente arca com os custos por termos um estado social, ou seja, um estado que para além de assegurar os clássicos direitos, liberdades e garantias fundamentais, realiza também um núcleo essencial dos chamados direitos e deveres econômicos, sociais e culturais ou, na versão da União Europeia, assegura o bem conhecido

„modelo social europeu‟. Pois bem, como se afigura óbvio, os custos stricto sensu do estado, isto é, os seus custos financeiros, implicam a existência de um estado fiscal, concretizando-se portanto para os cidadãos no cumprimento do dever fundamental de pagar impostos.176

Afinal, o direito de alguém só tem assento no dever de outro alguém.177 Logo, em contrapartida aos direitos fundamentais dos contribuintes estão os deveres fundamentais dos contribuintes, ambos de acordo com os ditamos constitucionais.

Em síntese, a Constituição Federal configura-se como garantista, com um rol não exaustivo de direitos fundamentais, assim organizados: (i) direitos individuais (artigo 5.º CF); (ii) direitos à nacionalidade (artigo 12 CF); (iii) direitos políticos (artigos 14 a 17 CF); (iv) direitos sociais (artigos 6.º e 193 e seguintes CF); (v) direitos coletivos (artigo 5.º CF); (vi) direitos solidários (artigos 3.º e 225 CF); e (vii) direitos tributários (artigos 150 a 153 CF).

Dentre os direitos tributários estão (i) a estrita legalidade; (ii) a anterioridade; (iii) a irretroatividade da lei tributária; (iv) a tipologia tributária; (v) a proibição de tributo com efeito de confisco; (vi) a capacidade contributiva; (vii) a uniformidade geográfica; (viii) a não discriminação; (ix) a indelegabilidade da competência tributária; e (x) a não-cumulatividade.

O desrespeito a esses direitos fundamentais, assim como a todos os outros, pode ser deduzido em juízo, tanto pela via difusa como pela via concentrada. Para coibir práticas inconstitucionais fora da via judicial, ou seja, na via administrativa, tramita projeto de lei que objetiva instituir um Estatuto do Contribuinte a nível nacional, sendo que várias Unidades Federativas já contam com seus estatutos a nível estatual.

Apesar da massiva positivação de direitos e garantias dos contribuintes, não está claro o respeito aos mesmos. Aliás, é o próprio excesso de positivação que gera desconfiança quanto à ausência de uma consciência sobre os direitos fundamentais dos contribuintes, tornando

176 NABAIS, José Casalta. O dever fundamental de pagar impostos:

contributo para a compreensão constitucional do estado fiscal contemporâneo. Coimbra: Almedina, 2009, p. 270-271.

177 AUSTIN, John. The province of jurisprudence determined (1832).

pertinente a análise sobre a obediência a eles. Assim, passa-se ao estudo do caso da Emenda Constitucional 62/2009 para inspecionar se neste caso tais direitos foram observados.

2.3 O DIREITO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO E OS DIREITOS