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Inicialmente, a histeria foi concebida por Freud (1896/1996) como sendo ocasionada por experiências traumáticas, ou seja, na história do paciente, mais precisamente na tenra infância, ocorreu um fato real e suficientemente traumático para desencadear sintomas histéricos, sendo que tais fatos estavam relacionados à questão sexual. Disse ainda que não é a experiência em si, mas as lembranças dessa experiência que age de maneira traumática.

Entre 1897 e 1905, Freud postulou algumas modificações em sua teoria sobre a histeria. O trauma real foi substituído pelas fantasias inconscientes, e os desvios do Complexo de Édipo foram considerados como núcleo do desenvolvimento das neuroses. O que estaria recalcado na histeria não seria um trauma sexual real, mas seus desejos incestuosos. O que se converte para o corpo não é a sobrecarga afetiva da representação, mas a angústia fantasística.

Para compreender a dinâmica histérica é de sumo interesse focalizar o desenrolar da trama edípica, bem como o tipo de negociação que o sujeito faz em sua relação com o falo. Anteriormente, caracterizou-se o Édipo pela dialética do ser e do ter. O sujeito, em um primeiro momento está identificado com o falo materno. Aceitando a castração simbólica, ele deixa esta posição e se identifica com aquele que supõe tê-lo ou com aquele que supõe não tê-lo.

Diante desse processo, a criança possui algumas opções para enveredar o seu caminhar. Pode optar reconhecer que o pai possui o falo e por esse motivo a mãe o deseja, ou pode pensar, segundo Dor (1991b), que o pai possui o falo porque o privou da mãe. Por este segundo caminho que o histérico irá engajar sua energia,

pois abre uma possibilidade de reivindicar, por direito, algo que pertence à mãe, e conseqüentemente a ele próprio. O histérico se percebe como tendo sido injustamente desprovido do falo, algo que lhe pertence por direito. Reconhecer o pai como possuidor do falo é se perceber como não o tendo definitivamente. Por esta razão Dor (1991b) diz que “os histéricos são uns militantes do ter” (p.67)

De acordo com Dor (1991b), em todo histérico existem queixas primárias referentes a uma reivindicação de amor por parte da mãe. Ele se percebe

Como não tendo sido amado o bastante pelo Outro, como não tendo recebido todas as provas de amor esperadas pela mãe. Esta frustração de amor inscreve- se sempre em referência ao jogo fálico. O histérico investe-se, assim, nesta frustração como um objeto desvalorizado e incompleto, ou seja, como um objeto derrisório para o desejo da mãe face ao que poderia ser, pelo contrário, um objeto completo e ideal, o falo (Dor, 1991b, p.72).

O mecanismo de funcionamento psíquico baseia-se no recalcamento seguido do deslocamento. O histérico recalca todo conteúdo sexual e o desloca para um traço. As relações com o outro são caracterizadas pela disputa, na qual haverá dominador e dominado. O outro sempre será ou muito forte ou muito fraco, ou decepcionante ou supremo. De qualquer forma, sempre será conduzido para a insatisfação. Caracterizam-se por relações que materializam um espelho da relação que ele mantém com o Outro de sua fantasia.

De um lado, percebe-se como o histérico aliena-se psiquicamente em sua relação com o outro delegando seu desejo àquele que supostamente, em seu

imaginário, possui o falo. Seria uma identificação alienante em relação ao desejo do Outro. O histérico sujeita-se ao desejo do Outro. Porém, isso somente ocorre quando o Outro ocupa um lugar privilegiado, um lugar de Senhor, pois supostamente ele sabe o que o histérico desconhece. Em contrapartida, o histérico se desdobra para corresponder aquilo que ele supõe que seu Senhor espera dele.

O histérico transforma-se no defensor incondicional desse Outro, defendendo suas idéias, escolhas, ações. Exclui-se para vangloriá-lo. Dessa forma o histérico confunde o seu desejo com o desejo do outro, como se pegasse carona nesse desejo que crê ser o seu. Torna-se sombra, apropriando-se adesivamente do que é do outro, inclusive dos seus sintomas. No entanto, o histérico espera de seu Senhor a correspondência de todas as suas expectativas. Com isso assegura um pacto com a insatisfação, pois o que espera é a perfeição.

Nesta relação adesiva, para desejar algo o histérico tem que fazer com que o outro deseje. Somente quando o outro se ocupa de seu desejo, desejando-o, é que o histérico autoriza-se a desejar. Ele toma conhecimento de seu desejo a partir do desejo do outro, pois sem isso, o histérico nada quer saber de seu desejo. De acordo com Dor (1991a), expressões como: não desejo nada, nada é interessante, caracterizariam este não saber.

Por outro lado, temos uma identificação em que o histérico se fantasia como sendo o falo do outro. Ao perceber a castração do Outro, uma angústia imensa invade o histérico, e mais do que depressa remodela esta angústia, transformando a si no objeto que falta ao Outro. Em sua fantasia, ele acredita preencher esta falta no Outro, mantendo o mesmo em uma posição frágil e dependente e na qual seu narcisismo é exacerbado. Ser o objeto ideal do outro, ser o falo do outro para se sentir amado, eis a determinação que o histérico irá impor à economia do seu desejo. O histérico sofre

por manter, a qualquer custo, a posição cristalizada de ser o objeto querido e desejado do Outro; de ser o falo do Outro.

Em qualquer das vertentes identificatórias, tentar ser o falo ou alienar-se em quem o possui, as manifestações configuram uma súplica ao olhar do outro, um pedido desesperado que o enxerguem como sendo seu objeto ideal. Neste sentido a sedução entra em jogo, não como função de desejo, mas com a função de ser o falo, perfeito o bastante para suprir todas as faltas do outro. Tentar ser perfeito mascara uma imperfeição que o histérico sente com muita dor. Dessa maneira, vale tudo para mascarar essas faltas: um corpo perfeito, roupas da moda, carros, dinheiro, encenações, etc.

Tanto na alienação ao desejo do outro-senhor, como na crença de ser o falo do outro, configuram-se em uma busca incessante de recusar reconhecer-se em falta. Reconhecer a falta é reconhecer a sua castração e a do outro. Tentar ser o falo é tentar ser perfeito, seja na beleza, na inteligência, na sedução, para que o outro fique fascinado e subjugado.

Isso reflete na identidade do histérico, caracterizando-se sempre como insatisfatória, parcial em relação a uma completude ideal. Por esse motivo o histérico tanto se esforça para obter essa identidade completa e plena, sempre na tentativa de ser o objeto ideal do outro, o que ele sente nunca ter sido.

De acordo com Nasio (1991)

O histérico identifica em outrem o sinal de um poder humilhante que o torna infeliz, ou de uma impotência comovedora de que ele se apieda, mas que é incapaz de remediar. Quer se trate do poder do outro ou da falha

no outro, é sempre a insatisfação que o eu histérico faz questão de encontrar como sua melhor guardiã (p. 16). É uma identificação que alimenta cada vez mais o desejo de insatisfação, visto que prolonga a aceitação de não possuir o falo e de não construir recursos simbólicos para possuí-lo. Sua meta é reivindicá-lo permanentemente.

Duas características centrais se fazem presentes na dinâmica histérica: Medo e recusa ao gozo. Para sustentar suas defesas, o histérico investirá uma grande quantidade de energia no objetivo de mostrar, incessantemente, para si e para os outros que o gozo é ruim e sempre insatisfeito.

O histérico permanecerá em uma posição de espera, ou seja, espera do outro uma resposta que o frustre, não uma satisfação que o complete. Seria uma expectativa que sempre é desapontada, se percebendo uma vítima constantemente insatisfeita. Para isso o histérico não consegue se permitir relacionar com um objeto substituto possível.

O histérico encontra no estado de insatisfação uma muralha que o protegerá dos perigos que constantemente o espreitam. Seria o perigo de viver o gozo, que, fantasisticamente, o faria desestruturar, pulverizar. Dessa forma o histérico ergue essa muralha para evitar qualquer nuança de viver o prazer e o gozo, pois isso representa a morte. O desejo é estar sempre insatisfeito, como se isso lhe garantisse uma distância do medo do gozo, um gozo desestruturante e enlouquecedor. A histérica, de acordo com Guimarães (1986) “se exclui do gozo fálico para preservar o gozo do grande Outro, o gozo impossível, e termina, assim se excluindo duplamente” (p. 127).

De acordo com Khan (1997), seria pouco provável que o histérico procurasse um objeto para ter uma experiência sexual explícita. O desejo sexual é expresso

muito mais através de provocações do que um desejo ou uma necessidade. O histérico manifesta suas necessidades primitivas de cuidado e proteção através dos anseios e desejos sexuais. No entanto, o objeto amado, na maioria das vezes, responde de acordo com o que se mostra, não com o que se encontra encoberto. “É por isso que a experiência sexual constitui com freqüência, para o histérico, uma traição da confiança e uma exploração brutal do potencial sexual” (Khan, 1997, p. 49).

Percebe-se que a sexualidade histérica não é genital. Permanece uma sexualidade infantilizada, o que impede a construção psíquica da definição de seu sexo. A desorganização e a imaturidade da sexualidade histérica constituem o núcleo da fantasia originária dos sintomas histéricos.

Existe uma histericização da realidade, sendo que na lente de seu olhar a realidade é percebida recheada de fantasias sexuais. Seria erotizar o que não remete ao sexual, qualquer que seja a expressão do outro, o mais inofensivo dos estímulos externos. Para Nasio (1991) “um leve sussurro, o roçar banal de um tecido, a menor inflexão de uma voz ou um simples olhar são captados pelo histérico-falo como estímulos sexuais ininterruptamente renovados” (p.60).

Em contrapartida, o histérico pode lidar com os conteúdos sexuais com extrema indiferença. Dessa forma, a realidade acaba por se tornar confusa. O histérico não consegue perceber até onde é real e até onde é fantasia. Criam e fantasiam conflitos, sofrem e após viverem o drama sentem-se sozinhos, excluídos e tristes. Existe a hipererotização do corpo e de todas as relações sociais.

Nasio (1991) “... sofrer segundo o modo histérico é sofrer conscientemente no corpo, ou seja, converter o gozo inconsciente e intolerável num sofrimento corporal” (p.21). Este sofrimento corporal seria caracterizado por uma desordem geral da

sexualidade e pela dor da insatisfação. O mecanismo de conversão que observamos nas manifestações histéricas nos tempos atuais possui um alcance mais global do que as conversões localizadas (distúrbio somático). Observa-se uma conversão global da angústia, ao invés de local.

O que converge para a totalidade do corpo é a angustia de castração, em função da qual a vida psíquica será organizada. Segundo Nasio (1991) “... a lógica da gênese da histeria se resume nisto: o desejo descortina o gozo, o gozo suscita a fantasia, a fantasia contém a angústia e a angústia, por fim, transforma-se em sofrimento.” (p.74)

Um corpo hipererotizado em detrimento de uma genitalidade esvaziada. Um corpo que busca representar o falo, poderoso, sedutor e investido narcisicamente. Em contrapartida, “... o mundo interior do histérico é um cemitério de recusa” (Khan, 1997, p. 59). Observa Birman (1997), que o desejo no histérico encontra-se em recusa, configurado pela indiferença sexual, terror pela excitação e por qualquer emergência de erotismo.

Excitante e rejeitante, eis como o objeto do histérico pode ser definido. É em relação ao objeto de seu desejo que o histérico manifesta seu intenso conflito intrapsíquico. Não existe entrega quando o histérico se relaciona sexualmente, ele está com o outro sem realmente estar, mantendo assim seu desejo insatisfeito.

3.1 - Gozo e Cólera: aproximações

De acordo com Bollas (2000), a perversão é a estrutura que mais freqüentemente é comparada com a histeria. Se analisadas na superficialidade, observa-se que são bem parecidas, pois ambas possuem a sexualidade no âmago do problema. No entanto, em um ponto são extremamente diferentes: existe o

recalcamento dos conteúdos sexuais na histeria, enquanto que na perversão ocorre a atuação.

Rosolato (1990), também distingue algumas diferenças entre a histeria e a perversão. O histérico esforça-se ao máximo para manter seu desejo insatisfeito, a ponto do prazer remeter a repugnância. Ele entra no jogo da sedução, mas sem prazer. Esta dinâmica é oposta ao que ocorre na perversão, pois o seu desejo e o seu prazer estão acima de tudo. O perverso goza, mesmo com a dor. “Se no jogo da sedução e do amor o histérico sucumbe mas sem prazer ... o perverso atinge um certo prazer, apesar de tudo” (Rosolato, 1990, p. 21).

Na histeria a castração é aceita, e a simbolização desta falta toma corpo de uma reivindicação fálica. Quando o histérico desafia é em relação à reivindicação fálica, ou seja, ter ou não ter o falo. Temos o exemplo de quando a histérica desafia o parceiro a lhe provar que ele viveria sem ela, ou a mostrar o que supostamente ele tem. No perverso, o desafio é em relação à lei do pai, ou seja, ser ou não o falo. Prova disso é a forma como ele faz imperar a lei do desejo, pois para ele existe apenas a sua lei.

No histérico, o objeto deve ser dominado a qualquer custo. Muitas vezes apresenta atitudes hostis para assegurar essa posse. No entanto, sem muita demora, o histérico, deparando-se com seus impulsos agressivos esforça-se para agradar ao objeto, como uma reparação. Neste momento manifesta-se um dos traços do histérico: a alienação do seu desejo em detrimento do desejo do outro, ou seja, submete-se a tudo pelo objeto idealizado a fim de conseguir seu perdão. O histérico quer realizar o desejo do outro. O perverso quer realizar o seu desejo, não importando o outro.

Berlinck (1997), analisa um caso clínico em que histeria e perversão caminham juntas. Este autor considera o cuidado que o analista deve possuir ao lidar com estas instâncias estruturais. Muitas vezes, para que uma se expresse, é necessária a presença da outra, seja nos sintomas ou na fantasia.

Estudo do Caso Clínico

1- Dispositivo Clínico e Pesquisa

De acordo com Berlinck (2000), a clínica psicanalítica consiste em uma intensa atividade de pesquisa, na qual psicanalista e paciente engajam juntos neste trabalho. Para Del Volgo (1998), o fundamento da psicanálise é constituir-se em um trabalho de pesquisa realizado com cada paciente. A pesquisa do presente trabalho engloba o atendimento clínico, em consultório particular, de uma paciente adulta. As sessões clínicas realizadas foram reconstruídas de modo a retratarem elementos significativos que mostrem os processos emocionais fundamentais da personalidade da paciente.

O método de análise da pesquisa é o método Psicanalítico. Pelo fato do psiquismo, objeto de estudo da Psicanálise, não ser observável diretamente, o pesquisador em Psicopatologia não recorre ao paradigma positivista, o qual apreende diretamente os fatos na realidade concreta. O Psicanalista necessita ampliar sua reflexão para além do que é observável.

De acordo com Mezan (1998), a análise tem por finalidade a realização de mudanças na organização psíquica do paciente. Todo processo analítico desenvolve- se a partir da relação entre paciente e analista que, segundo Lacan (1998), a “ação psicanalítica se desenvolve na e pela comunicação verbal, isto é, numa apreensão dialética do sentido. Ela supõe, portanto, um sujeito que se manifeste como tal para um outro” (p. 105).

O clínico, e pesquisador, possui como instrumento sua escuta, a partir da qual irá identificar na fala do paciente, no dito e no não dito, a construção do pathos. Os sintomas, atos falhos, sonhos, conteúdos e fenômenos que aparecem na transferência

com o analista, através do discurso do paciente, sinalizam a dimensão subjetiva que está no âmago da constituição do sofrimento psíquico.

A transferência é o fenômeno que se configura na relação analítica, sendo definida por todas as formas pelas quais o paciente vivencia com a pessoa do psicanalista suas relações objetais, representações, fantasias inconscientes, juntamente com as distorções perceptivas, enfim, todos os elementos que constituem seu psiquismo. Freud (1914/1996), postula que as lembranças recalcadas podem ser libertas a partir de sua repetição na transferência com o analista. “Tudo o que acontece na análise é produzido em referência à transferência. A comunicação psicanalítica nutre-se e sustenta-se apenas do que toma por objeto o inconsciente e a transferência, aos quais fica inelutavelmente submetido” (Gori, 1998, p. 57).

Diante de todos os conteúdos manifestos na transferência, o psicanalista possibilita a integração de inconsciente e consciente, imaginário e real, presente e passado, através das interpretações. Em 1937/1996, Freud concebe a interpretação como uma elaboração que o psicanalista deve realizar, pois por meio dela a história infantil e inconsciente do sujeito poderá ser reconstruída.

Para finalizar, temos também a contratransferência enquanto elemento indispensável na análise. Através da transferência, o paciente manifesta na relação seus conteúdos emocionais recalcados. Tais conteúdos ressoam na pessoa do analista de alguma forma. Os sentimentos experienciados pelo analista constituem a contratransferência, sendo que a mesma servirá de orientação para as interpretações e conduta do processo psicanalítico.

2 - Reconstrução do Caso Clínico

(Para preservar a identidade da paciente, obedecendo aos princípios éticos que norteiam o trabalho, muitos dados da reconstrução do caso clínico, apresentados na defesa da dissertação, foram retirados)

A paciente procurou atendimento psicoterapêutico porque existiam muitos conflitos entre ela e o marido, e tal situação prejudicava os filhos. Na primeira entrevista a paciente teve muita dificuldade em iniciar sua fala. Começou, com voz trêmula, dizendo estar um pouco ansiosa; falou que não confiava no marido, que ele a traia, e que queria ter certeza disso. São muitos anos de casamento e namoro. A paciente afirma que sua desconfiança intensificou depois que ela começou a pensar que o marido tinha um caso, há alguns anos atrás.

A infância da paciente foi marcada por duas tragédias: a morte do pai e, posteriormente da mãe.

Em relação a sua mãe, a paciente relata que ela não era carinhosa, não brincava, era nervosa, sem paciência, explosiva e batia nela por mínimas coisas. Diz não ter uma lembrança em que ela está fazendo carinho ou brincando. Era o tempo todo de cara fechada. Segundo a paciente, a mãe se preocupava apenas em arrumar suas coisas.

No que diz respeito ao pai, ela relata ter somente boas lembranças. Ele brincava, a levava para passear, era muito carinhoso. De acordo com a paciente, ele nunca brigou ou a colocou de castigo. Vivia brincando, rindo, conversava com ela e a tratava como uma princesa. A paciente conta que todos da família do pai eram encantados com ela.

A paciente relata que seus pais tinham brigas horrorosas. Eles brigavam porque no tempo livre o pai se dedicava a coisas fora de casa e sua mãe ficava muito

irritada, sendo que eles brigavam sempre. Acha que sua mãe nunca gostou de seu pai. Eram pessoas muito diferentes, e a mãe era muito impetuosa. A paciente diz que esse foi o seu espelho, ou seja, ver os pais tendo brigas horrorosas.

Após um tempo da morte do pai, a mãe da paciente teve um envolvimento com uma pessoa casada. Eles foram amantes durante um tempo, e ele se mudou para a casa da paciente. Ela relata que ele gritava e a colocava de castigo. Disse ainda: “Eu via que minha mãe não gostava, mas não fazia nada para impedir”. Então, a mãe levou a paciente para morar com a avó e continuou morando com o amante. Assim ficou durante muito tempo. “Eu fiquei indignada com minha mãe. Não queria morar com minha avó, queria morar com minha mãe”. Depois de algum tempo, a mãe quis se separar do amante, pois o romance não deu certo. No entanto, ele não aceitava a separação, a perseguia e ameaçava de morte. A mãe separou-se dele e foi morar com a avó. Um dia ele a seguiu e a matou.

A paciente relata o quanto se sentiu traída e abandonada pela mãe. Ela diz: “Minha mãe me abandonou. Ela sabia que se continuasse daquele jeito ela iria ser morta, e deixou isso acontecer. Quando meu pai morreu ficamos só eu e minha mãe na casa. Logo depois ela começou a namorar com aquele homem e ele foi morar com a gente. Ele brigava comigo, me colocava de castigo no quarto, gritava e minha mãe não fazia nada”. Diz ainda: “Eu fui traída pela minha mãe. Ela deixou ser morta. Ela sabia que isso iria acontecer e deixou acontecer. Ela me abandonou”.

Após a morte da mãe, a paciente foi morar com a avó até a adolescência. Sente ter sido um peso para a avó, que dizia a todo o momento que ela era a cruz que ela teria que carregar. Não se sentia reconhecida e considerada. Passava horas e horas em suas fantasias, imaginando uma vida muito diferente da que ela vivia. A paciente fala: “Eu fui criada como um fardo. Minha avó dizia que eu era a cruz que ela teria

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