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P RINCÍPIO DO M UTUALISMO

III.4. C LASSIFICAÇÃO DOS S EGUROS

As várias classificações de seguros apresentadas pela doutrina visam a reunir os diversos seguros em categorias de acordo com as semelhanças que estes guardem entre si. Segundo Caio Mário da Silva Pereira:

“Não obstante a variedade de espécies, predomina em nosso direito positivo o conceito unitário do seguro, segundo o qual há um só contrato que se multiplica em vários ramos ou subespécies, construídos sempre em torno da idéia de dano (patrimonial ou moral), cujo ressarcimento ou compensação o segurado vai buscar, mediante o pagamento de módicas prestações (…), ao contrário do conceito dualista que separa os de

114 V.H.M.FRANCO,Contratos no direito privado: direito civil e empresarial, São Paulo, Editora Revista

natureza ressarcitória (seguros de danos) daquele em que está presente apenas o elemento aleatório (seguro de vida), sem a intenção indenizatória (…) ou visando a uma capitalização (…)”.115

Quanto ao número de segurados, existem os individuais e os coletivos (ou em grupo); quanto à liberdade de contratar, os seguros podem ser facultativos ou obrigatórios116; ser sociais ou privados117: sendo que estes são facultativos e dizem

respeito a pessoas e coisas; já aqueles são obrigatórios, realizados pelo Estado diretamente ou por via de entidades autárquicas e visam à tutela de determinadas classes de pessoas, por exemplo, acidentados no trabalho ou idosos:

“O seguro coletivo ou de grupo é aquele que se faz num só contrato a favor da coletividade (...). Não se trata de seguro sobre a vida de terceiro, pois os segurados são os empregados ou dependentes ou membros da coletividade, e o contraente concluiu o contrato para adimplir dever que lhe foi criado por lei, ou pelo contrato entre ele e os segurados.”118

A despeito das diversas classificações existentes, o enfoque primordial do presente trabalho recai sobre o objeto do contrato de seguro, em outras palavras, do interesse segurável. Nesse diapasão, o Código Civil os apresenta como seguros de dano e seguros de pessoa.

Os seguros de dano têm caráter indenitário, já os de pessoa, sem função indenizatória, podem ser os de vida, acidentes pessoais e de danos pessoas.119

Os seguros de dano são aqueles que visam à cobertura de danos que recaem sobre coisas (por isso, também serem conhecidos como seguros de coisas) resultantes de roubos, acidentes, incêndios, fenômenos da natureza e de todo e qualquer evento danoso. Repise-se que para os seguros desta espécie a indenização não pode resultar em lucro para o segurado, ou seja, o seu valor deve ser o correspondente ao dano; não é permitido mais de um seguro total sobre o mesmo bem sujeito aos mesmos

115 C.M.S.PEREIRA,Instituições de Direito Civil, v. III, 10ª ed., São Paulo, Editora Forense, 2.001, p.

303.

116 Destaque para os enumerados no artigo 20, do Decreto-Lei nº 73/66.

117 Decreto-Lei nº 73/66: “Art. 3º. Consideram-se operações de seguros privados os seguros de coisas,

pessoas, bens, responsabilidades, obrigações, direitos e garantias. Parágrafo único. Ficam excluídos das disposições deste Decreto-lei os seguros do âmbito da Previdência Social, regidos pela legislação especial pertinente.”

118 F.C.PONTES DE MIRANDA,Tratado de Direito Privado, v. 46, p. 15.

riscos; não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada e não declarado pelo segurado, enfim, aplicam-se os dispositivos legais previstos nos artigos 778 a 787 do Código Civil.

Os seguros de pessoa, por sua vez, têm o escopo de garantir a pessoa

humana no que se refere a sua existência e higidez física120, para tanto, regem essa sistemática os artigos 789 a 802 do Código Civil, comumente chamados de seguros de vida.

Sobre o seguro de vida, sempre existiu a controvérsia quanto a sua natureza jurídica, uma vez que muitos lhe negavam o caráter de contrato121. De início, essa espécie de contrato fora condenada, eis que era considerada um jogo sobre a vida

humana, mas já em 1.818 passou a ser admitida na França.122 Atualmente, a problemática foi ultrapassada e o seguro de vida foi introduzido no ordenamento jurídico pátrio e consta em diversos códigos e leis esparsas de vários países:

“Existem no mercado duas modalidades de seguros de vida: o seguro de vida individual e o seguro de vida em grupo. As coberturas abrangem: morte natural, acidental e invalidez permanente total e parcial.”123

Este seguro, eminentemente privado, consiste no contrato segundo o qual o segurador se obriga, em contraprestação ao recebimento do prêmio, a pagar ao próprio segurado ou a terceiro, determinada quantia sob a forma de capital ou de renda, quando da verificação do evento previsto. Apesar de muitos haverem considerado imoral realizar estipulações envolvendo a vida ou morte de uma pessoa, atualmente, o seguro de pessoa é a espécie securitária que ganhou maior utilização124.

A vida, como um bem inestimável, não possui limite de valor a ser pago (que nos seguros de pessoas é chamado de “prestação”) e deve ser aquele previamente constante da apólice. Da mesma forma, não há vedação a contratação de mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores (artigo 789 do Código Civil). O objeto do seguro pode ser a vida tanto do próprio segurado quanto a de

120 S. S. VENOSA,Direito Civil: Contratos em Espécies, v. III, 2ª ed., São Paulo, Atlas, 2.002, p. 376. 121 W.B.MONTEIRO,Curso de direito civil: direito das obrigações, v. 2, p. 362.

122 E.ESPÍNOLA, Dos contratos nominados no Direito Civil Brasileiro, 2ª ed., Rio de Janeiro, Conquista,

1.956, p. 501.

123 C.M.OLIVEIRA,Contrato de seguro, LZN, 2.002, p. 93.

124 C.M.S.PEREIRA,Instituições de Direito Civil, v. III, 10ª ed., São Paulo, Editora Forense, 2.001, p.

um terceiro, desde que provado o interesse do proponente na preservação da vida deste segurado (artigo 790 do Código Civil). O artigo 791 traz a presunção iuris tantum de que há interesse na preservação da vida do cônjuge, dos ascendentes e descendentes do proponente.

Os seguros de pessoas ou de vida costumam ser subdivididos em seguro de vida propriamente dito e seguro de sobrevivência. Neste o segurador se obriga a pagar certa quantia ao segurado, no caso deste alcançar determinada idade ou se estiver vivo a certo tempo; naquele o pagamento da prestação está condicionado a morte do próprio segurado ou do terceiro durante a vigência do contrato. A prestação pode ser um valor fixo ou uma forma de renda a ser entregue ao beneficiário designado.

Não sendo a causa do seguro a garantia de uma obrigação, o estipulante terá liberdade de substituir o beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade (artigo 791 do Código Civil), independente da anuência do beneficiário preterido. Não estando o beneficiário designado na apólice, ou não sendo possível prevalecer a escolha feita, a prestação será paga metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado de acordo com a ordem da vocação hereditária (artigo 792,

caput, do Código Civil). Se ainda assim, não se identificar nenhuma dessas pessoas,

considerar-se-á beneficiário quem quer que prove que com a morte do segurado ficou privado dos meios necessários à sobrevivência (artigo 792, parágrafo único, do Código Civil). Ainda no que diz respeito aos beneficiários o artigo 793 inova ao admitir a instituição de companheiro como beneficiário, desde que o segurado esteja separado judicialmente ou de fato ao tempo do contrato.

No caso dos seguros de vida e nos de acidente de trabalho em que houver a morte do segurado, a prestação devida pela seguradora não está sujeita às dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito (artigo 794 do Código Civil). Assim sendo, o valor pago nestes casos é impenhorável, o que também é previsto pelo Código de Processo Civil, em seu artigo 649, eis que são absolutamente

impenhoráveis: (…); IX – o seguro de vida. Ademais, inadmite-se (sob pena de

nulidade) qualquer transação para o pagamento do capital devido que resulte em sua redução (artigo 795 do Código Civil).

A depender do número de pessoas, o seguro de vida poderá ser individual, quando houver apenas um segurado; ou coletivo ou em grupo, quando a

cobertura abranger várias pessoas. Neste último caso, os segurados podem estar nominalmente referidos na apólice (apólice simples) ou apenas designados como um grupo, podendo os segurados variarem pela simples entrada ou saída desta coletividade (apólice flutuante), nos termos do artigo 801 do Código Civil.

Nas hipóteses de suicídio, em que o evento futuro deixa de ser incerto ou imprevisível, o Código Civil, no artigo 789, dispõe que o beneficiário não terá direito a receber a prestação no caso de suicídio do segurado nos dois primeiros anos de vigência do contrato. A seguradora, contudo, deverá entregar a quantia referente aos prêmios já pagos até a ocorrência do suicídio. Não dão ensejo ao não-pagamento da prestação: o suicídio não premeditado, a recusa de se submeter a tratamentos para manter-se vivo ou a pratica de atividades arriscadas.