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A presente dissertação tem por objetivo principal verificar se o sentimento do investidor apresenta algum impacto estatisticamente significativo sobre as rendibilidades futuras do mercado de capitais português. Para dar resposta a este objetivo, são analisadas várias medidas de sentimento e o seu impacto nas rendibilidades do PSI-20 e, em subconjuntos de empresas financeiras e não financeiras utilizando análises de regressão linear.

Como medidas de sentimento recorreu-se ao índice de confiança do consumidor, ao índice de sentimento económico, ao índice de sentimento da Investor

Intelligence e ao índice de sentimento de Baker & Wurgler (2007). O estudo de

diferentes medidas visa contribuir para o aprofundamento da literatura existente específica para o mercado nacional.

Os resultados obtidos sugerem que o sentimento detém um impacto negativo sobre as rendibilidades futuras de mercado. No caso do ICC verifica-se capacidade explicativa em horizontes de 1 a 3 meses, o ISE e o índice de Baker & Wurgler ( 2007) apresentam capacidade explicativa para todos os horizontes estudados e, o indicador de sentimento da Investor Intelligence apresenta capacidade explicativa apenas quando considerando um horizonte temporal de 6 meses.

A relevância estatística encontrada nas análises com o ICC e com o ISE sugere que o mercado de capitais português seja afeto tanto a variações na confiança dos consumidores, como também dos produtores. Aliás, o facto do impacto do ISE se estender até horizontes temporais de 6 meses, enquanto o impacto do ICC é limitado até horizontes de 3 meses pode ser indicador de que choques no nível de confiança dos produtores, afetem o mercado durante períodos de tempo mais prolongados, em comparação com choques no nível de confiança dos consumidores.

No que respeita à análise do índice de sentimento da Investor Intelligence e do índice de sentimento de Baker & Wurgler (2007), o facto do impacto destes indicadores ser estatisticamente significativo sugere a possibilidade de existir um contágio do mercado norte-americano para o mercado nacional.

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De acordo com os resultados, nota-se que o impacto do índice de sentimento da Investor Intelligence apenas se manifesta quando analisando um horizonte de 6 meses, o que é consistente com os resultados obtidos por Verma & Soydemir (2006). Os autores constatam que o impacto do sentimento americano noutros mercados tende a não ser imediato, sendo uma possível explicação para esse desfasamento a capacidade dos mercados estrangeiros em difundirem informação gerada nos EUA.

No que respeita à análise do índice de sentimento de Baker & Wurgler (2007), verifica-se que o seu impacto sobre as rendibilidades é visível para todos os horizontes temporais considerados. Uma possível explicação para a diferença de timing destes dois indicadores pode advir da diferenciação destas duas medidas, o que é sugerido ao longo deste estudo nas análises de correlação e nas diferenças verificadas na análise da evolução destas variáveis. Outra possível explicação será o facto de o modelo utilizado na análise do indicador de sentimento de Baker & Wurgler (2007) ser ligeiramente diferente do aplicado para as restantes variáveis de sentimento.

Os resultados obtidos apontam ainda que o impacto do sentimento tende a ser superior sobre as rendibilidades do índice de empresas financeiras, em comparação com os resultados obtidos sobre as rendibilidades do PSI-20 e do índice de empresas não financeiras. Contudo, esta diferença pode dever-se ao menor número de empresas que este índice abarca, o que leva a que o tamanho da amostra seja menor. Por outro lado, o índice de empresas não financeiras abarca grande parte das empresas que constituem o PSI-20, pelo que, é possível que assumir que os resultados assumam uma maior similaridade.

De forma geral, os dados obtidos, nesta primeira análise, sugerem que o sentimento do investidor é um factor capaz de influenciar os preços do mercado de capitais português. Ainda assim, os resultados obtidos com as regressões lineares devem ser interpretados com cautela, dado que existe a possibilidade de que os efeitos atribuídos ao sentimento se devam a variáveis omitidas.

Relativamente ao segundo objetivo fundamental desta dissertação, estudar a possibilidade do sentimento afetar as rendibilidades futuras de forma assimétrica consoante o estado da economia utilizaram-se novamente análises de regressão linear

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para responder a este objetivo. Concretamente analisou-se a interação das variáveis de sentimento com o indicador do estado da economia do NBER.

Na análise efetuada com o ISE, de forma geral, a evidência encontrada sugere que para um horizonte temporal de 1 mês o impacto do ISE sobre as rendibilidades do PSI-20 e do índice de empresas não financeiras é apenas relevante durante períodos de contração económica. Para horizontes temporais de 3 e 6 meses o ISE influencie negativamente as rendibilidades futuras de mercado tanto em períodos de expansão como também em períodos de recessão económica, sendo que o impacto é significativamente maior em períodos de recessão.

No que respeita à análise efetuada com o indicador de sentimento da Investor

Intelligence, verifica-se que para um horizonte temporal de 6 meses este indicador

apenas detém capacidade explicativa sobre as rendibilidades do PSI-20 e sobre o índice de empresas não financeiras durante períodos de recessão.

De forma geral, a evidência encontrada nos testes com o ISE e com o indicador da Investor Intelligence apontam para um impacto assimétrico do sentimento, sendo os seus efeitos mais pronunciados durante períodos de recessão. Esses resultados vão de encontro ao estudo de Chen (2011). Os resultados obtidos pelo autor suportam a teoria de que a falta de confiança afeta as rendibilidades de forma mais acentuada em

bear markets, sendo que essa falta de confiança é capaz de conduzir o mercado para

um período bear e aprofundar essa tendência.

Em conclusão, a presente dissertação suporta a hipótese de que o sentimento do investidor é um factor capaz de introduzir risco no mercado de capitais, pelo que o seu potencial impacto não deve ser desconsiderado. Consequentemente, salienta-se a necessidade de continuar a aprofundar o conhecimento nesta temática, em particular para o mercado português.

Limitações

A disponibilidade de dados foi um factor limitador ao presente estudo. Grande parte das variáveis macroeconómicas apenas está disponível com base trimestral, o que é restritivo dado que as medidas de sentimento tendem a ser construídas com

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base mensal. Adicionalmente, não existem, para o mercado nacional, inquéritos diretos aos investigadores. Seria interessante dispor de uma medida que servisse como

proxy do sentimento institucional nacional, de maneira a comparar o seu impacto com

um proxy do sentimento individual. Seria também interessante construir um índice de sentimento similar ao de Baker & Wurgler (2007) para o mercado nacional, mas, uma vez mais, a disponibilidade de dados é um constrangimento.

A utilização de um horizonte temporal relativamente pequeno também pode ser apontado como uma limitação.

Adicionalmente, o presente estudo utiliza duas variáveis construídas para o mercado americano, apesar de ser metodologicamente aceite, o ideal seria utilizar medidas construídas para o mercado português.

Sugestões para futura investigação

Para investigação futura poderia ser pertinente utilizar horizontes temporais mais longos (12 ou até 24 meses), de maneira a confirmar se as suposições sobre os horizontes temporais das medidas analisadas no presente estudo se confirmam. Adicionalmente, sugere-se efetuar uma análise do sentimento a nível transversal, é possível que o sentimento afecte de forma distinta diferentes ativos.

Relativamente à análise do impacto assimétrico do sentimento consoante o ciclo económico, sugere-se uma análise mais complexa em comparação com a que se efetuou no presente estudo, nomeadamente utilizando uma metodologia como a de

Markov-switching. Esta metodologia é utilizada, por exemplo, no estudo de Chen

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