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4. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

4.1 C ONTEXTO DA P ESQUISA

A escola onde foi realizada a intervenção e a pesquisa faz parte da rede municipal de ensino da cidade de São Carlos, localizada no Jardim Bandeirante, região central do município, que atende crianças de quatro meses a três anos. A população atendida é bem diversificada, pertencentes a diversos níveis sociais e formada por crianças negras, mestiças e brancas. A maioria das crianças não mora no bairro, porém frequenta a escola porque os pais trabalham nas mediações ou moram em bairros próximos.

A escola em questão foi inaugurada em 1984, quando as creches ainda eram vinculadas à Secretaria de Assistência Social. Somente em 1999 a instituição passou a ser regida pela Secretaria de Educação e Cultura.

A escolha do local aconteceu pelo fato de a escola já ser considerada referência na inserção do ensino da cultura afro-brasileira nas salas de aula do município e por ter ganhado, em 2008, o prêmio ―Educar para a Igualdade Racial‖, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT), o que facilitou a aceitação do desenvolvimento da pesquisa.

A instituição atende aproximadamente 80 crianças no período integral e 10 crianças no período parcial (manhã ou tarde). Quanto à organização, a fase I atende crianças de zero a um ano; a fase II atende crianças de um a dois anos; e a fase III atende crianças de dois a três anos. Atuam nesta unidade escolar 21 docentes, 1 (uma) diretora, 2 (duas) merendeiras e 2 (duas) auxiliares de serviços gerais. Todo o corpo docente e funcionárias da instituição são mulheres.

Quanto à estrutura física, a escola está dividida em 6 salas de aula, 2 banheiros para funcionárias, 2 banheiros para alunos(as), cozinha, refeitório, brinquedoteca, sala da direção,

sala de televisão, sala das professoras e sala de horário de trabalho para práticas individuais (HTPI). A área externa é bem ampla, gramada, arborizada e possui vários brinquedos (seis balanços, um túnel, um trepa-trepa, um gira-gira e um tanque de areia).

Para a escolha da professora, foi feito um convite, por meio da direção da escola, a todas as docentes da instituição para participarem da pesquisa. Em conversa realizada com a diretora, disse a ela que preferiria realizar o estudo em uma sala na qual a professora não estivesse desenvolvendo projetos que envolvessem as questões étnico-raciais. Uma das professoras aceitou o convite e quis colaborar.

A professora em questão trabalha na Fase III, período da manhã; é formada em Pedagogia e leciona há 16 anos, e desde 2010 atua na escola onde foi desenvolvida a pesquisa. Em 2008, quando a escola ganhou o prêmio, a professora não estava trabalhando nesta instituição (tinha trabalhado dois anos antes e retornou em 2010).

Desde o primeiro momento, a professora colocou-se à disposição para colaborar com a pesquisa, acolhendo-me com muito carinho e atenção, prontificando-se em auxiliar, com o registro de fotos, em todas as atividades desenvolvidas.

Dentre os participantes da pesquisa, estão presentes 10 (dez) crianças de 2 a 3 anos, (pertencentes a uma das três salas de Fase III da escola), a professora responsável pela sala e 3 (três) professores(as) convidados(as). Das 10 (dez) crianças, 3 (três) são meninas (duas negras e uma branca) e 7 (sete) são meninos (um negro e seis brancos); 8 (oito) das dez crianças ficam na escola em período integral (das 07h às 17h) e 2 (duas) ficam apenas no período da manhã (das 07h às 12h).

Em conversa realizada com a professora-colaboradora, ela relatou que, no ano de 2014, ainda não tinha desenvolvido na sala nenhum trabalho que envolvesse as questões étnico-raciais, mas que, devido à comemoração da Semana do Bebê13, ela tinha desenvolvido um projeto sobre identidade, segundo o qual enviou bonecos feitos de cartolina para os pais, com o intuito de eles caracterizarem os bonecos como se fossem seu filho e/ou filha. Todos os pais participaram da atividade e os bonecos foram expostos na sala, juntamente com um cartaz contendo recortes de revistas com crianças de diversas origens.

Nas paredes da escola existiam muitas figuras de bebês de várias cores de pele e texturas de cabelo. No pátio, há um local fixo denominado ―Espaço Griô‖, onde são expostas a história e a origem da palavra Griô, explicando o papel dos ancestrais na vida dos africanos. Devido às festividades juninas, foi feito e exposto no pátio um casal negro ―Maria Bonita e

13 A atividade realizada no município anualmente no mês de junho, na qual acontecem palestras e divulgação de trabalhos sobre a primeira infância, está em sua quarta edição.

Lampião‖.

Ao analisar o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, verifiquei que o documento não estava atualizado e que a última modificação havia sido feita em 2008 (ano em que a escola ganhou o prêmio ―Educar para a Igualdade Racial‖). Verifiquei que o PPP aborda a temática das ―Relações Étnico-Raciais‖: além de descrever o projeto de etnia que ganhou o prêmio do CEERT, consta também, em vários momentos, o respeito à diversidade de seus alunos e alunas. Segundo o PPP,

a relação do professor com as crianças será uma relação de proteção, afeto, amizade e cumplicidade. Ele é um mediador que deve estimular o desenvolvimento físico, afetivo, social e emocional dos educandos,

respeitando as diferenças e procurando enfrentar as relações emocionais das crianças sempre com carinho e compreensão (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2008, p. 12).

Ao se referir sobre a concepção de família:

Concluímos que cada família e suas crianças são portadoras de um amplo repertório que se constitui em material rico e farto para o exercício do diálogo, aprendizagens com as diferenças, a não discriminação e as atitudes não preconceituosas. Essas capacidades são necessárias para o desenvolvimento de uma postura ética nas relações humanas (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2008, p. 18).

Consta ainda que, ―a partir do desenvolvimento deste projeto, a temática da igualdade racial passou a fazer parte do currículo escolar da unidade‖ (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 2008, p. 24).

Pôde-se verificar a preocupação da instituição com o respeito à diversidade de sua comunidade escolar, em especial na relação família-criança; ou seja, percebeu-se a preocupação em estabelecer um diálogo com as famílias para assim não correr o risco de desconsiderar as experiências vivenciadas pelas crianças e seus familiares em outras práticas sociais que ocorrem fora da escola. Além disso, o PPP apresenta o anseio em manter as práticas vivenciadas no projeto ganhador do prêmio ―Educar para Igualdade Racial‖.

Ao planejar as atividades desenvolvidas nesta intervenção e pesquisa busquei, assim como apresentado no PPP da escola, não desconsiderar as experiências prévias das crianças e seus familiares, bem como as atividades que já estavam sendo desenvolvidas pela professora na sala de aula.

cultura afro-brasileira e africana, foram pensados respeitando a faixa etária das crianças, suas particularidades e limitações, procurando, desse modo, garantir que todos participassem espontaneamente.