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C RONOGRAMA DA CRISE

No documento Crise no sistema financeiro internacional (páginas 71-73)

Mar ia Lúcia Labate Mantovanini Pádua Lima

Boa tarde. Agradeço a presença de todos. Temos a honra de rece- ber o Prof. Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e, também, a visita do Prof. Yoshiaki Nakano32, que muito nos orgulha. O debate de hoje é sobre esse momento bastante difícil e preocupante.

Farei uma breve cronologia dessa crise para darmos inicio a esta sessão. Podemos dizer que a atual crise financeira começou no segundo semestre de 2006, quando os preços dos imóveis, que tinham apresentado uma trajetória de alta bastante significativa, inverteram a tendência de alta e começaram a cair.

A primeira falência de uma instituição financeira ligada ao financiamento de imóveis ocorreu em dezembro de 2006. Em feve- reiro de 2007, foram divulgados os primeiros anúncios de prejuízos de instituições financeiras, inclusive do HSBC que, já naquele momento, indicava uma perda expressiva e uma queda da lucrati- vidade muito grande. Em abril de 2007, outra grande instituição que também financiava imóveis nos Estados Unidos foi à falência.

Em junho de 2007, dois grandes Hedges Funds, que tinham em sua composição vários ativos de alguma maneira relacionados a hipotecas, também foram liquidados. Esses dois fundos eram admi- nistrados pelo banco de investimento Bear Sterns que no mesmo mês apresentou uma queda de 30% nos lucros. A quebra desses dois grandes fundos causou um impacto bastante expressivo em alguns bancos de investimento e outros de varejo, como o Merrill Lynch, Goldman Sachs, JP Morgan Chase e CitiGroup.

Em julho de 2007, a maior empresa de financiamento de imó- veis33 dos EUA apresentou uma queda significativa de lucros. Em agosto de 2007, o BNP Paribas suspendeu o resgate de três gran- des fundos de investimentos, por terem, na sua composição, vários ativos de realização muito duvidosa, créditos podres ou ativos tóxi- cos, como passaram a ser chamados. Em setembro desse mesmo

ano, o banco inglês Northern Rock, que era o quinto banco de empréstimos imobiliários do Reino Unido, teve uma grande queda em seus lucros e precisou recorrer ao governo inglês. Nesse mesmo mês, o Federal Reserve passou a praticar uma política monetária expansiva, com efeito de uma redução da taxa de juros, tendo por objetivo compensar perdas e prejuízos das instituições financeiras. Em outubro de 2007, torna-se de conhecimento público a queda expressiva de lucro de dois grandes conglomerados financeiros: CitiGroup e UBS34.

Em fevereiro de 2008, o Credit Suisse teve uma queda de 72% nos lucros, e o Northern Rock Bank sofreu novas perdas muitas expressivas. O episódio relacionado ao Northern ensejou o início de uma corrida bancária na Inglaterra, rapidamente estancada por meio de uma ação imediata do Bank of England que estatizou o Northen Rock Bank .

Em março de 2008, a AIG35, maior seguradora do mundo, anun- ciou pesadas perdas. Essa instituição era responsável pelo seguro de várias carteiras de instituições financeiras que continham créditos podres, não só imobiliários, mas ativos tóxicos em geral. No mesmo mês, o JP Morgan Chase, em uma operação arquitetada pelo Fede- ral Reserve, comprou o Bear Sterns contando, inclusive, com empréstimos do Fed da ordem de US$ 29 bilhões.

Em abril de 2008, o Wachovia, que era o quarto maior banco dos Estados Unidos, anunciou grandes prejuízos. Em maio desse mesmo ano, as duas importantes instituições de credito imobiliá- rio, Fannie Mae e Freddie Mac, apresentaram resultados catastróficos. Cabe dizer que essas duas grandes instituições de financiamento de imóveis tinham o respaldo do Governo Federal americano. Em julho de 2008, houve a quebra de um banco cali- forniano, e também de bancos regionais que não serão citados aqui.

A deterioração da situação das instituições Fannie Mae e do Freddie Mac, que carregavam algo em torno de US$ 5 trilhões em hipotecas, obrigou o Governo Federal dos EUA a realizar uma ope- ração de resgate, comandada pelo Fed, de US$ 200 bilhões para incorporação dessas duas instituições em agosto de 2008.

A partir de setembro de 2008, a cronologia precisa ser diária, dada a rapidez com que a situação se deteriorou. Há um consen- so entre a maioria dos analistas que a falência do Lehman Brothers, C R I S E N O S I S T E M A F I N A N C E I R O I N T E R N AC I O N A L

um grande banco de investimentos americano, em 15 de setembro foi o detonador do colapso geral do sistema financeiro americano e global. Como se sabe diferentemente dos casos anteriores, o Leh- man Brothers não foi socorrido pelas autoridades monetárias americanas e, por essa razão, declarou falência. É preciso acrescen- tar que esse banco de investimento era emissor primário de uma massa imensa de produtos financeiros carregados por instituições nos EUA, na UE e em outros mercados. Por essa razão, a falência do Lehman, justificada pela ortodoxia, arrastou todo o sistema financeiro global para a maior das crises desde 1929.

Imediatamente, o Merrill Lynch, outro grande banco de inves- timentos americano, teve que ser comprado pelo Bank of America para não ter o mesmo destino do Lehman Brothers. No dia 17, a AIG precisou que ser estatizada pelo governo americano; a forma escolhida foi a concessão de um crédito de US$ 85 bilhões em troca de 80% de participação em seu capital.

No dia 18, houve uma megaoperação conjunta dos seis maio- res bancos central para injetar US$ 180 bilhões no mercado. Nesse momento, o secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paul- son, começou a formular um plano de resgate do sistema financeiro americano. No dia 19, ocorreu um pequeno alívio no mercado financeiro internacional em decorrência do anúncio desse plano de resgate do governo americano. As bolsas reagiram positivamente, apresentando uma alta após uma seqüência longa de quedas. No dia 21, esse plano do governo foi enviado ao Congresso americano. Em 22 de setembro – quero lembrar que hoje é dia 30 de setembro – mais um banco inglês apresentou dificuldades muito sérias e foi rapidamente adquirido por outro banco inglês36.

Em relação ao plano de resgate enviado pelo Secretário do Tesouro ao Congresso americano, houve uma reação de clara insa- tisfação por parte dos democratas. O plano, que a princípio, tinha três páginas, recebeu uma série de alterações feitas pelos democra- tas que apresentaram uma contraproposta mais detalhada, com cerca 40 páginas, ainda no dia 22 de setembro.

Em 24 de setembro, o Goldman Sachs e o Morgan Stanley, depois

No documento Crise no sistema financeiro internacional (páginas 71-73)