• Nenhum resultado encontrado

dias, antes da eleição do próximo presidente dos Esta dos Unidos? A transição entre presidentes dificultará ainda mais a

No documento Crise no sistema financeiro internacional (páginas 96-101)

condução dessa crise?

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo

Maria Lúcia [Mantovanini Pádua Lima], Max Webber tinha uma frase em que dizia que na ciência não há lugar para demagogo. Se lhe respondesse que sei, estaria violando esse princípio de Webber. Portanto, eu não sei, não tenho a menor idéia. Mas arrisco dizer o seguinte: Obama ou McCain vão assumir o comando da economia americana em condições muito difíceis; essa crise terá um longo período de desenvolvimento e não vai se extinguir agora com esse pacote de resgate.

Suponhamos que, na próxima quinta-feira,61o Congresso aprove esse pacote de resgate. A partir de então, terá que ser resolvida outra questão que é a da concomitância da necessidade de alavancar e desa- lavancar. Imagino que esses 36 dias que antecedem a eleição não vão melhorar a situação para nenhum dos candidatos. O eleito terá uma difícil missão pela frente e deverá fazer opções complicadas.

Teremos pessoas recomendando: “Capitalizem os bancos. È melhor aumentar a participação do Estado por meio de uma inje- ção direta de capital”. O caminho escolhido pelos japoneses foi tentar salvar os bancos. Na opinião, o único caminho por meio do qual, nesse contexto, se consegue resolver alguma coisa é naciona- lizando os bancos. Como fizeram o México e a Suécia. O único jeito de se restaurar a confiança, é dizer: Agora, o dono do banco é o Esta- do. Com isso, se começa a restabelecer a confiança que é o elemento que foi rompido.

A pergunta que se pode fazer é, dada a gravidade da crise e con- centração do mercado financeiro, é mais fácil estatizar os bancos? Penso que a concentração facilita e muito a estatização porque os bancos que vão sobreviver são bancos múltiplos, universais, como chamo os bancos europeus. São bancos em que vai ser muito mais fácil, não só a estatização, mas também a regulamentação.

Todo mundo esquece que em 1982, na crise da dívida, o Pino- chet estatizou o sistema bancário chileno para poder sobreviver à turbulência. Chile, Suécia, México, todas, experiências bem-suce- didas. Em todos esses casos, houve um período de estatização. Não C R I S E N O S I S T E M A F I N A N C E I R O I N T E R N AC I O N A L

que fique satisfeito com estatizações. Não é isso. A solução por meio de estatização tem relação com a centralidade do sistema financeiro na economia capitalista. O capitalismo não é uma eco- nomia de mercado: o mercado é apenas um instrumento de acumulação privada. O sistema financeiro é despótico. Quando está crescendo, parece que não, mas, depois, na crise, tem de se respei- tar a centralidade. Infelizmente, o capitalismo não funciona sem o sistema de crédito. E o sistema de crédito não funciona se for dei- xado às leis da concorrência, na crise. É preciso controlar e apenas o Estado é capaz de exercer essa função em momentos de crise.

Com isso se restabelece, simultaneamente, a confiança e o capi- tal próprio do banco. O problema, a seguir, é recompor o capital próprio.

Pergunta da audiência

Como irei fazer a última pergunta, gostaria de saber a opinião do prof. [Luiz Gonzaga de Mello] Belluzzo sobre o mercado de capi- tais brasileiro. Dada a importância do capital estrangeiro na economia brasileira, qual seria a alternativa para a indústria brasi- leira não precisar diminuir sua taxa de investimentos frente à maior dificuldade de conseguir crédito, inclusive, em decorrência das per- das na Bolsa de Valores?

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo

Saímos de uma situação, no ano passado, em que ocorreram inú- meros IPOs, todos muito bem-sucedidos e que, simplesmente, com o avançar da crise, perdeu-se essa possibilidade. Não é viável fazer um IPO hoje, e muitos IPOs foram suspensos porque as condições de liquidez do mercado de capitais não permitem que se faça.

O financiamento do investimento no Brasil ficou quase que limitado ao BNDES; a acumulação interna de lucros; e, o financia- mento de curto prazo dos bancos. O BNDES tem problemas como a limitação de recursos, mas o governo está tentando solucionar essa questão com a capitalização adicional do Banco. Os lucros reti- dos dependem do desempenho da economia. Se a economia começar a desacelerar, diminui-se a proporção de lucros retidos. O crédito de curto prazo poderá também sofrer restrições com o agravamento da crise no Brasil. Considero que o elemento-chave

96

C R I S E N O S I S T E M A F I N A N C E I R O I N T E R N AC I O N A L

agora é o governo tentar manter, pelo menos o crédito para o curto prazo. Na verdade, as empresas brasileiras sempre tiveram que usar o crédito de curto prazo, que era renovado, para sustentar seu ritmo de atividade.

Mas, não sei lhe dizer em que medida o crédito interno vai con- trair-se. Haverá contração, o governo precisará reagir rápido.

Para completar o que estava dizendo, caso se deixe que esse pro- cesso se ajuste espontaneamente, ocorrerá um ajuste para baixo. Por isso, é preciso que o Banco Central reaja, reduza o compulsório, por exemplo. Se não for capaz de resolver a restrição de crédito com o compulsório, terá que tomar outras medidas para garantir um nível mínimo de crédito na economia. Por exemplo, contingenciar crédi- to para permitir que a economia continue a funcionar. Caso se perca a oportunidade, o crédito se contrai e quando se perceber, já foi para o buraco. Contingenciar crédito, fazer controle de crédito, tudo virou pecado. Mas, em uma situação como essa, não tem jeito.

Finalmente, em relação à Bolsa de Valores brasileira, é preciso lembrar que quando ocorre uma crise como essa, acontece o fenô- meno da indiferenciação. Todos os agentes buscam a liquidez e não diferenciam mais a empresa que vai ter um resultado muito bom daquela que vai ter um resultado muito ruim. A indiferenciação é terrível, porque não discrimina. Quando se tem a economia fun- cionando é possível diferenciar um ativo mais promissor de um menos promissor.

Na crise, todos perseguem para a liquidez, sem diferenciação. Tanto na ascensão quanto na crise, ou na mania e no pânico, os mercados financeiros se comportam da mesma maneira: não se dife- renciam os ativos. Quando se tem uma crise, muda-se a natureza da percepção. Corre-se para a liquidez e se escapa de qualquer ativo particular. Os ativos particulares em condições normais são sempre passíveis de serem transformados em riqueza monetária, mas, em uma há uma ruptura nesse processo de transformação. Essa transformação passa a ser muito perigosa e difícil. O economista francês Michel Agliettà chama isso de processo de indiferenciação. Mar ia Lúcia Labate Mantovanini Pádua Lima

Em nome da DIREITO GV, gostaria de agradecer imensamente ao Prof. [Luiz Gonzaga de Mello] Belluzzo pela excelente exposição

feita. Gostaria de agradecer também a presença do Prof. [Yoshiaki] Nakano e de todos os que aqui estão. Até o fim do ano, depois dos 36 dias, em que teremos os resultados da eleição nos Estados Uni- dos, provavelmente, faremos mais um encontro e tentaremos analisar o que nos reserva o próximo ano.

Para finalizar, lanço a pergunta mais difícil desta tarde para o Prof. [Luiz Gonzaga de Mello] Belluzzo: quem vai ganhar o Cam- peonato Brasileiro de Futebol deste ano?

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo

A REGULAÇÃO E A CRISE FINANCEIRA

No documento Crise no sistema financeiro internacional (páginas 96-101)