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1. INTRODUÇÃO

5.3 Cadastramento de atingidos e doações

As políticas de cadastramento de atingidos e doações ocorrem por meio da secretaria de desenvolvimento social. É relatado que quando foi acionada a Defesa Civil, essa já se comunica com a secretaria de Desenvolvimento Social e o CRAS responsável pela região atingida. Caso de algum abrigamento, há um comitê de risco no CRAS que entra em ação. Para fazer o cadastramento das pessoas atingidas, a Defesa Civil informa os números de atingidos e inicia o atendimento de quem precisa alimentação, abrigamento e material de limpeza. Esse trabalho no contexto de mitigação dos desastres, de fornecer materiais, já vem de diversas gestões governamentais e assim mantido.

O poder público usualmente opta por uma intersetorialidade, conforme foi citado por todos os gestores e implementadores, assim como, o Plano de Contingência – que tem o intuito de prever as ações e funções diante de sinistros no geral – ou seja, as políticas apresentam uma conexão e dialogo conjunto diante dos desastres.

Cabe ressaltar, que só será beneficiado por essa política de doações e pelo brechó solidário da Fábrica da Cidadania, as pessoas que foram encaminhadas para o CRAS e fizeram um cadastro. Nesse momento em que as pessoas atingidas vão ao CRAS, serão apresentados

seus relatos e dificuldades, sendo assim, feita sua escuta por parte de assistentes sociais ou o comitê de risco. Segundo relato de uma assistente social:

“Com os atingidos preenchemos um cadastro com as demandas, e assim que obtivemos os pedidos, entregamos no CRAS caso a solicitação seja de cesta básica, material de limpeza ou higiene, roupas e calçados. Quanto a móveis, preenchemos os pedidos e encaminhamos apara a Fábrica da Cidadania que faz campanha junto a sociedade civil, solicitando doações. Repassamos outros para as demais secretarias competentes”.

Diante das políticas públicas de doações, é possível perceber mais do que o Poder Público ao longo dos anos, há atores sociais preocupados com a comunidade em questão. Em 2016 foi possível identificar a atuação da associação de moradores na região, que segundo o presidente na época, eram realizadas campanhas de arrecadação de móveis, roupas e alimentos para pessoas atingidas. Além disso, o presidente relatava que:

“Enquanto associação, atendemos mais de mil famílias, mas acredito que 2 a 3 mil famílias foram atingidas direta e indiretamente [...] como associação atendemos cadastrando, realizando sopão, doações de roupas, levamos até o médico, algum atendimento do poder público”.

O entrevistado morava na região, porém, em 2018 acabou se mudando para outra região, assim como em 2017 deixou de ser presidente da associação de moradores da Vila Palmeira. Conforme relatado por pessoas, ele faz falta, diante das suas ações desde 2018 ele representa uma ausência na comunidade.

Outros atingidos e atores sociais comentam que a associação de moradores sempre foi política, e que muitos a desconhecem ou relatam um problema de viés partidário. A polêmica está posta a partir do momento que um indivíduo possui a percepção de que existe um viés partidário, ou de que por isto pode deixar de ser ajudado. E realmente cabe ressaltar nesse contexto a partir de narrativas, foi possível identificar que há uma variedade de atuações, parecendo que o poder público alcança uma parte da região, outra parte era mais afeita à associação de moradores.

Esta última parece que não é conhecida por todos os atingidos, pois, quando a pesquisadora fez referência a ela, é questionada se isso existe, ou até sugerido que seja feito uma. Em outra região, bairro, parece que se sobressaem atores sociais isolados, que fazem o mesmo trabalho da associação e poder público. Cabe ressaltar que a associação de moradores

de forma explícita ou implícita, melhor especificando, os seus integrantes/dirigentes estão vinculados a partidos políticos.

Para o morador da Vila Palmeira:

“Aconteceu uma organização quando tentaram nos retirar, para criar uma cooperativa, porém, os moradores não iam nas reuniões. Tudo ficou pior com essa atual gestão, a antiga ao menos aparecia, mesmo que não ajudava. A prefeitura apareceu no centro da Vila Palmeira, nas margens dessa, não. Eles dão produtos de limpeza e comidas, essa atual gestão, mas não é isso que se espera [...]” Cita-se que na comunidade há um dono do mercado na região, que se apresenta como um ator social constante, que cresceu devido à interação com a comunidade. Ele auxilia para além de desastres, juntando atividade comercial, publicidade e filantropia, por exemplo, quando alguém precisa de uma cadeira de rodas ou ajuda para alguém da família. Assim também nos desastres busca ajudar na retirada de móveis e conseguir doações. Esse ator acabou unindo a sua família para poder auxiliar – aparentemente não está vinculado à tendência política. Nessa região da comunidade as pessoas entre si, tentam ser colaborativas e se auxiliarem, porém, isto é aspecto controvertido, pois, existe também o receio de sair das casas por ocasião da inundação devido ao risco da pilhagem dos poucos bens por outrem.

Conforme morador da Vila Palmeira:

“A ajuda que se tem é pelo CRAS, ajuda parcial, tentam ajudar, mas não conseguem tudo... Estou na casa que uma vizinha que foi embora deixou, o CRAS ajuda com colchão, roupas pela feira da cidadania, porém, moveis não. Mas, eu tenho que ir até o CRAS pedir [...] ninguém mais ajuda. Não percebo nenhuma conscientização sobre o meio ambiente e lixos”.

As políticas de doações e cadastramento estão, de alguma forma, em cada evento, em fase de implementação, porém, são políticas que caracterizam a mitigação e funcionam quando ocorre o desastre e no pós-desastre. É possível identificar alguns pontos de limites para a política pública de cadastramento e doações. Esses são:

Os atingidos tomam conhecimento em meio ao desastre sobre o CRAS por meio dos atores em campo, o que pode ser prejudicial, pois, no meio do caos que é um desastre, o ator precisa lembrar de passar essa informação para todos, porém, em algum momento essa pode falhar. Gerando um limite de conhecimento que o CRAS pode auxiliar nas doações.

Os atingidos precisam ir até o CRAS, esse não se desloca no momento do desastre, gerando um certo limite dos implementadores com o contato no momento em que está ocorrendo o desastre. O que torna um ator “invisível” no momento do desastre para os atingidos, pois, eles reconhecem as atuações no campo em que vivem, já que o CRAS se encontra as

margens da comunidade, em uma parte mais urbanizada do bairro, porém, próximo as escolas da região, que estão concentradas na Rua Montevideo.

O esclarecimento do que de fato é um atingido e quem pode receber doações, além de, deixar claro como essas funcionam. Os atingidos não conseguem ter a percepção de quem é considerado atingido pelo CRAS, o que dificulta a análise dos discursos desses referentes ao Poder Público.

As políticas de cadastramento e doações foram desenvolvidas de forma botom-up, pois, foi identificado pelos implementadores de políticas públicas a necessidade de cadastramento dos atingidos nos últimos anos, para ter uma melhor organização. Assim, essa política acabou sendo implementada por eles, e aderida pelo munícipio a orientação para ida ao CRAS se cadastrar. Além disso, proporciona um controle das necessidades de cada atingido e as zonas de inundações. Porém, como abordado anteriormente, ainda há uma necessidade de melhor comunicação para orientação de utilização dessa política.

Diante das doações, podemos perceber que há atores sociais do mercado, da sociedade civil e o poder público atuando em frente a essa questão. É uma política de mitigação que se fez necessária a partir do momento em que há a perda de bens materiais nas inundações. Assim, podemos perceber uma abordagem multicêntrica, em que não somente o Poder Público e atores relacionados a esse, estão atuando na hora de realizar as políticas de doações. De forma institucional há o Projeto Fabrica da Cidadania, criado em 2011 ele foi feito pela Prefeitura de Novo Hamburgo, através da Secretaria de Desenvolvimento Social. A fim de ajudar a capacitar mulheres em vulnerabilidade social, o projeto oferece cursos de costura, modelagem e customização. Com o tempo as roupas produzidas e doadas pela população começaram a ser direcionadas para essa população que sofria com as inundações, por meio de brechós, que é possível observar em documentações de políticos, que essas ocorrem no território, desde 2012. Porém, atualmente encontra-se no centro da cidade. Mas, segundo o CRAS a população segue beneficiada. A partir disso, podemos observar que foram realizadas avaliações durante a implementação e a necessidade de nova tomada de decisão, ao amparar a população de atingidos por meio desse projeto.