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1. INTRODUÇÃO

3.3 Formação de alternativas

A etapa de formulação de alternativas tem por suposto, o momento de passar pelo estabelecimento de objetivos – quando os políticos e atores envolvidos nos processos

organizam o que esperam como resultados da política pública - e estratégias e as potenciais consequências de cada alternativa de solução para o problema. A capacidade para estabelecer uma definição sobre alternativas se constitui como um instrumento de exercício de poder, especialmente na medida em que se opera uma escolha dos conflitos a encaminhar.

Secchi (2010) diz que os objetivos podem ser estabelecidos de maneira mais frouxa ou de maneira mais concreta, ou seja, algo mais amplo como propor reduzir o desemprego em um município ou desenhar uma política ambiental, ou diminuir 20% a carga de poluentes de um rio ou organizar a coleta seletiva e processos de reciclagem ou inserir empreendimentos que produzam emprego. E que quanto mais concreto for o estabelecimento dos objetivos, mais fácil será verificar a eficácia.

No entanto, sabemos que em muitas ocasiões o estabelecimento de metas é tecnicamente dificultoso, como nos casos em que resultados quantitativos da política pública não conseguem mensurar elementos qualitativos mais importantes. Não obstante, o estabelecimento de objetivos é importante para nortear a construção de alternativas e as posteriores fases [...] (SECCHI, 2010 p. 2).

Para a emergência de alternativas se requer um esforço de inspiração e de imaginar contornos e detalhes práticos da proposta, nos recursos e a forma que essa se torna eficaz. As políticas ambientais dispõem de quatro mecanismos, de acordo como Secchi: induzir comportamento como a premiação; a coerção influenciada pelo apelo e dever moral ou sanções; soluções técnicas; apropriação de informações visando gerar práticas sociais, que muitas vezes incidem de forma indireta.

Assim se procura responder o porquê alguns problemas se tornam mais importantes que outros para um governo, e como uma ideia é inserida para as preocupações dos formuladores de políticas públicas e como essa é constituída (CAPELLA, 2006). A formulação supõe que as condições políticas se tornam propícias como um momento ou janela, permitindo a convergência entre os fluxos de tal forma que as questões ascendam à agenda deliberativa. As soluções procuram por problemas (SOUZA, 2006).

Capella (2006), baseada em Kingdon, apresenta a dinâmica de três fluxos: no primeiro analisa de que forma as questões são reconhecidas como problemas e por que determinados problemas passam a ocupar a agenda governamental, com os mecanismos: indicadores; eventos, crises, símbolos e feedback; no segundo se aventa alternativas e soluções disponíveis ou algumas ideias sobrevivem intactas, outras se contrapõem e cria-se novas propostas; o terceiro fluxo é composto pela dimensão da política, pois, independentemente do

reconhecimento de um problema ou das alternativas disponíveis, segue sua própria dinâmica e regras.

Aqui podemos perceber algumas semelhanças ao ciclo de políticas públicas diante da questão abordada sobre a agenda governamental. Levantamento que Souza (2006), faz para explicar a teoria do autor, que esse possui referências do ciclo de política pública. Em determinadas circunstâncias o reconhecimento de um problema abre a janela, mas, correndo o risco de se fechar a qualquer momento através de uma desarticulação de um dos fluxos (CAPELLA, 2006). Os atores visíveis e invisíveis, a questão dos empreendedores que observam algumas oportunidades para resolução de um problema ou leva-lo até a agenda, assim como o modelo das arenas sociais.

Existiriam três principais mecanismos para chamar a atenção de formuladores de políticas públicas: (a) divulgação de indicadores que desnudam a dimensão do problema; (b) eventos tais como desastres ou repetição continuada do mesmo problema; e (c) feedback, ou informações que mostram as falhas da política atual ou seus resultados medíocres (SOUZA, 2006, p .32).

Esse modelo prevê um processo ou encadeamento: para que uma determinada circunstância ou evento se transforme em um problema a ser considerado, é preciso o desenvolvimento de uma visão de que algo precisa mudar. Porém, pode existir um mecanismo de análise tanto de períodos em que as mudanças se processam de forma lenta, quanto aqueles em que ocorrem mudanças emergenciais na formulação de políticas públicas (CAPELLA, 2006).

As comunidades são espaços importantes para a geração de ideias relativas a soluções e alternativas que podem ser desenvolvidas e adotadas como políticas públicas pelos tomadores de decisão. Muitos participantes apresentam em suas comunidades propostas sobre o que fazer sobre uma determinada questão. Algumas dessas propostas serão consideradas, enquanto outras serão descartadas pelo próprio grupo (CAPELLA, 2015, p. 65).

Devido a multiplicidade de questões políticas, os governos criam subsistemas políticos, delegando as responsabilidades para agentes políticos. Basicamente os subsistemas – compostos de comunidade de especialistas - abordam questões de forma paralela, enquanto os macros sistemas – ocupados pelos líderes governamentais – preocupam-se com questões que já foram percebidas.

As comunidades de políticas são centrais ao modelo de Kingdon, configurando um elemento primordial para a análise política. O autor as caracteriza como um conjunto de especialistas que atuam numa área específica (saúde, educação, habitação,

transporte etc.). Tais especialistas podem fazer parte do governo, como assessores parlamentares, servidores do Poder Executivo ligados a atividades de planejamento, orçamento, ou a áreas funcionais. Da mesma forma, os especialistas podem integrar consultorias, grupos de interesse ou universidades, em organizações estatais ou não (CAPELLA, 2015, p. 64).

Algumas questões têm a possibilidade de sair do subsistema e chegar aos macros sistema, assim, passam a ser contempladas na agenda (CAPELLA, 2006).

Os subsistemas de uma política pública permitem ao sistema político-decisório processar as questões de forma paralela, ou seja, fazendo mudanças a partir da experiência de implementação e de avaliação, e somente em períodos de instabilidade ocorre uma mudança serial mais profunda. Este modelo, segundo os autores, permite entender por que um sistema político pode agir tanto de forma incremental, isto é, mantendo o status quo, como passar por fases de mudanças mais radicais nas políticas públicas (SOUZA, 2006, p. 33).

Os formuladores de políticas acabam por influenciar as instituições que têm autoridade sobre as questões nos subsistemas. Em casos críticos o equilíbrio pode ser tratado com rápidas mudanças, quando uma questão rompe o subsistema e passa a integrar o microssistema, caso como desastres ambientais, e assim, o subsistema passa por mudanças, tendo em vista que líderes governamentais podem levar novas ideias e de novos atores naquele subsistema (SOUZA, 2006).

A avaliação das possíveis soluções para o problema público é uma etapa importante, principalmente para os especialistas, pois, há a comparação das alternativas, a manutenção do estado ideal também é colocada como uma das possíveis opções. E para isso há o suporte de três técnicas, sendo essas projeções “com prognósticos que se baseiam na prospecção de tendências presentes ou historicamente identificadas, a partir de dados apresentados em forma de séries temporais” (SECCHI, 2010, p. 39). Predições que se baseiam na aceitação de teorias, proposições ou analogias, e tentam prever as consequências das diferentes políticas. E com conjecturas que são juízos de valor criados a partir de aspectos intuitivos – que se baseiam no conhecimento dos burocratas de rua ou profissionais que atuam na linha de frente da política pública - ou emocionais dos policymaker (SECCHI, 2010).