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GEST ÃO PEDAGÓGICA NA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL

1.2 A Teoria da Atividade e a Gestão educacional

1.2.2 Cadeia Criativa

4 Na filosofia marxista, conjunto de atividades que visam a transformar o mundo e, particularmente, os meios e as realizações de produção, sobre a qual repousam as estruturas sociais (http://www.dicio.com.br/praxis/). 5 Em seu trabalho, Oliveira (2011) adota o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), de acordo com Magalhães (2009), isto é, uma zona de ação criativa, uma atividade transformadora “prático-critica”, em que colaboração e criticidade são imprescindíveis à possibilidade de criação de “novas trilhas” (desenvolvimento). O foco está na criação de novos significados em que as mediações sociais são ‘pré- requisito’ (instrumento) e ‘produto’ (desenvolvimento). Nesse quadro, produto e instrumento, como mostram os pesquisadores, formam uma unidade dialética, a totalidade “instrumento-e-resultado”.

Cada encontro coletivo, em tese, tem desafios que a coordenadora pedagógica (CP) como gestora precisa administrar. Entre eles, há o de envolver os professores no processo reflexivo, com vistas a rever as práticas de ensino de leitura na escola. A participação responsável de todos implica a exposição de valores e concepções que podem ser distintos e conflitantes.

A gestão desses conflitos requer uma capacidade argumentativa que sustente um diálogo com o grupo, no sentido de construir significados compartilhados do objeto em questão. O conceito de “significados compartilhados”, neste trabalho, está embasado em Engeström (1987). O “reconhecimento da dimensão horizontal chama a atenção para o diálogo como a busca discursiva de significados compartilhados em atividades orientadas ao objeto” (ENGESTRÖM, 1999).

A mediação da coordenadora, nesse contexto, vai exigir uma análise dos pressupostos teóricos expressos por meio da linguagem utilizada pelo grupo. A partir disso, ela poderá conduzir as reflexões de modo que as possíveis contradições sejam explicitadas. A linguagem, nesse processo, tem a importância de materializar os modos de pensar e agir nos discursos, permitindo ao grupo refletir e estabelecer uma relação entre o que se diz e o que se faz na sala de aula. Ao gestor pedagógico, cabe o desafio de estabelecer parcerias produtivas, de modo a envolver todos os professores na produção de significados compartilhados sobre o que se espera do ensino de leitura na escola.

Nesse contexto, a condição de estabelecer parcerias produtivas, adquire especial destaque nos estudos de Liberali (2008). A autora desenvolve o conceito de cadeia criativa que, segundo ela, está atrelado às atividades no contexto escolar. Esse conceito se define pela produção criativa de significados, em processos de formação crítica de educadores (LIBERALI, 2008, p.89).

Nesses processos, a argumentação “age como mediadora da produção de significados compartilhados”, uma vez que desempenha “um papel essencial na restrição e ampliação que compõem o embate entre sentidos”. Na atividade de formação crítica de educadores, “o processo argumentativo permite a manutenção de aspectos essenciais do significado partilhado em outros contextos e expande esse significado no embate entre os vários sentidos que o compõem” (LIBERALI, 2008, p.89-90). Em função disso:

A Cadeia criativa implica em parceiros produzindo significados compartilhados (VYGOTSKY, 1934) em uma atividade. As relações discursivas nessa atividade possibilitam que sentidos sejam produzidos e compartilhados em outras atividades diferentes daquela atividade primeira. Dessa forma, novos significados podem ser criativamente produzidos, mantendo traços dos sentidos compartilhados na primeira atividade (LIBERALI, 2008, p.89).

Liberali (2008), ao discutir o conceito de cadeia criativa, explica a importância da parceria entre os elementos do grupo. Para além do senso comum, essa parceria se realiza na atividade, com o intuito de que, a partir dos significados compartilhados no HC, por meio das discussões entre pares, proporcione-se ao grupo de professores a possibilidade de criar novos significados, por exemplo, sobre o ensino de leitura na sala de aula.

A condução deste trabalho implica comprometer cada participante com objetivos comuns e com valores compartilhados coletivamente na escola. Segundo Motta (2000), isso significa tentar manter setores descentralizados modulares, autônomos e independentes, com interdependência garantida por um mínimo de valores absolutamente compartilhados e por um sistema de comunicação intensiva.

O gestor, nesse caso, fica responsável por buscar a coerência entre os diferentes níveis e, segundo Liberali (2008), relacionar formas de agir já colocadas em prática, ou debatidas por meio da sua transferência para contextos nos quais tais processos parecem não ocorrer de forma independente e isolada; criar a possibilidade de transformação de conceitos, práticas e modos de participação, bem como de ação conjunta; desenvolver, na atividade de ensino-aprendizagem, formas de participação que estejam mais voltadas para os interesses e necessidades de formação de cidadãos com perspectiva crítica.

É importante ressaltar que somente podemos afirmar a existência de uma Cadeia Criativa (CC), se existir o entrelaçamento das atividades de formação e ação de pesquisadores, formadores, gestores, educadores, crianças, pais e comunidade, permitindo que todos os envolvidos vivenciem um processo de transformação crítico-criativa, conforme concebe Liberali (2008).

De acordo com Liberali (2008), as articulações realizadas entre essa diversidade de atividades, intencionalmente planejadas na escola, são imprescindíveis para o surgimento de uma CC, na qual novas práticas sociais se tornam possíveis.

Assim, compõe-se a linha que embasa teoricamente este trabalho, convergindo para o que Bakhtin/Volochinov ([1929]2004) denominam de “atitude responsiva ativa”, na qual os sujeitos, na interação, assumem uma posição discursiva, mediada pela linguagem, em relação aos outros discursos.

Cabe ao gestor, articular as ações de formação de professores de acordo com as demandas de aprendizagem dos alunos e a proposta pedagógica da escola, em consonância com as diretrizes curriculares do sistema municipal de ensino. Ele é o sujeito responsável por orientar, encaminhar e acompanhar as ações que visem superar possíveis dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.