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3. COORDENAÇÃO DA QUALIDADE EM CADEIAS DE PRODUÇÃO

3.1 Cadeia de produção agroalimentar

O conceito de cadeia ou fillière foi concebido pela Escola de Economia Industrial Francesa e se aplica à seqüência de atividades que transformam uma matéria- prima de base em produto pronto ao consumidor final.

Segundo MORVAN apud BATALHA (1997), o conceito de cadeia de produção se dá através de três elementos:

ƒ “A cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico”;

ƒ “A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todas as etapas de transformação, um fluxo de troca, situado de montante à jusante, entre fornecedores e clientes”;

ƒ “A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a valorização dos meios de produção e asseguram a articulação das operações”.

Deste modo, vê-se que uma cadeia de produção pode ser entendida como um encadeamento técnico, econômico ou comercial, entre as etapas de produção. As etapas básicas de uma cadeia de produção agroalimentar são:

ƒ Produção de matérias-primas: representa as empresas que produzem as matérias- primas e as fornecem às empresas que vão processá-las para elaboração do produto final;

ƒ Industrialização: representa as empresas responsáveis pela transformação das matérias-primas em produtos finais;

ƒ Comercialização: representa empresas que estão em contato com o consumidor final da cadeia, e as empresas responsáveis pela distribuição.

A FIGURA 3.1 representa o esquema de uma cadeia de produção agroalimentar genérica.

FIGURA 3.1 – Cadeia de produção agroalimentar

O conceito de cadeia de produção agroalimentar tem relação direta com o conceito de cadeia de suprimentos, visto que está relacionado ao gerenciamento das três etapas de produção anteriormente citadas (ALVES, 1997). O Supply Chain Management, ou gerenciamento de cadeia de suprimentos, teve suas origens na literatura sobre logística. A ênfase inicial estava no fluxo do produto na cadeia, apenas com respeito à logística. Hoje, o conceito de gestão de cadeia evoluiu para adição de valor ao longo do fluxo do produto, desde a matéria-prima até o produto final nas mãos do consumidor.

Ainda existe uma certa confusão entre o conceito de logística e gestão da cadeia de suprimentos. Sendo assim, COOPER (1997) elaborou uma estrutura para o conceito de gestão da cadeia de suprimentos, a fim de sanar o problema e que pode ser considerada como condição necessária para a implementação do gerenciamento em cadeias de produção. A estrutura consiste em três elementos maiores que são: processos de negócios, componentes gerenciais e estrutura da cadeia de suprimentos.

a) Estrutura da cadeia de suprimentos. Estrutura da cadeia de suprimentos é a configuração das firmas dentro da cadeia de suprimentos.

O quanto a cadeia de produção necessita ser gerenciada depende de fatores tais como: complexidade do produto, número de fornecedores avaliáveis e avaliação de matérias-primas. Gerenciar a cadeia implica em escolher um nível apropriado de gerenciamento para cada “link” em particular. Assim, é importante conhecer a cadeia detalhadamente, buscando definir quem são os membros, as dimensões estruturais da rede e os diferentes tipos de processos ligados através da cadeia.

PRODUÇÃO DE MATÉRIAS-

PRIMAS

Os membros da cadeia são todos que se envolvem, desde a origem do produto (matéria-prima) até o produto final para o consumo. No entanto, deve-se distinguir entre membros primários e de suporte. Os membros primários são todas as empresas (ou agentes) que adicionam valor às atividades dos processos de negócios, projetadas para produzir um produto específico para um mercado particular. Já os membros de suporte são empresas que fornecem recursos, conhecimentos ou ativos para os membros primários da cadeia de produção. Um exemplo de membro de suporte para a cadeia de produção agroalimentar é a indústria de equipamentos. A importância em se definir membros primários está na definição dos membros que serão gerenciados na cadeia. Assim, o ponto de origem da cadeia ocorre somente onde existirem membros primários.

Três dimensões estruturais de redes são essenciais para descrever, analisar e gerenciar uma cadeia. A estrutura horizontal refere-se ao número de camadas em uma cadeia. A estrutura vertical refere-se ao número de fornecedores e clientes em cada camada. E a posição horizontal define a posição de cada membro na cadeia.

b) Processos de negócios. Processos de negócios são as atividades que produzem um produto específico de valor para o consumidor. Os processos de negócios chaves na cadeia de produção são: gerenciamento da relação com o cliente, gerenciamento do serviço com o cliente, gerenciamento da demanda, cumprimento dos pedidos, gerenciamento do fluxo de fabricação, processo de aquisição, comercialização e desenvolvimento de produto e processo de feedback.

Os tipos relações de processo de negócios variam conforme o objetivo a que se destina o gerenciamento da cadeia:

- relação - processo gerenciado: a empresa considera importante integrar e gerenciar determinada relação;

- relação - processo monitorado: a empresa considera importante a integração e o gerenciamento entre os membros, mas apenas audita e monitora a relação;

- relação - processo não gerenciado: a empresa não se envolve ativamente ou não é uma relação crítica para utilizar recursos de monitoria. Ela confia nos membros para gerenciar ou os recursos são limitados;

- relação - processo com não membros: são relações existentes com fornecedores para várias outras empresas concorrentes.

c) Componentes gerenciais. Componentes gerenciais são os componentes dos quais os processos de negócios são estruturados e gerenciados. Alguns exemplos de componentes gerenciais que constam na literatura a respeito são o planejamento e controle; estrutura do trabalho; estrutura da organização; estrutura facilitada do fluxo do produto; estrutura facilitada do fluxo de informação; estrutura do produto; métodos de gerenciamento; estrutura de liderança e poder; atitude e controle.

À medida que se adicionam mais componentes gerenciais ou se incrementa o nível de cada componente, há um incremento no nível de integração do elo do processo de negócios .

Segundo BECHTEL & JAYARAN (1997), a evolução do conceito de cadeia pode ser analisada através de cinco “Escolas”. Na Escola da percepção funcional da cadeia (1985 – 1992), a ênfase está no gerenciamento do fluxo de material entre os agentes da cadeia. Na Escola Logística/Ligação (1992 – 1994), a ênfase está na forma como a ligação entre os membros da cadeia pode ser explorada como vantagem competitiva, especialmente na área de logística e transporte. Já a Escola da Informação (1994 – 1995) dá importância ao fluxo de informação (bidirecional) entre os membros da cadeia. Na Escola de Processo ou Integração (1990 – 1995), a ênfase dá-se na integração entre os membros da cadeia, adicionando valor ao consumidor final4. E por último, a Escola do Futuro (1992 – 1997), onde a ênfase está na demanda dirigida, ou seja, é o cliente final que dirige a cadeia.

A gestão da cadeia pressupõe que as empresas devem definir suas estratégias competitivas e funcionais através de seus posicionamentos (tanto fornecedores, como clientes) dentro das cadeias produtivas nas quais se inserem. O supply chain mangement introduz uma importante mudança no paradigma competitivo, à medida que considera que a competição se dá no nível de cadeias produtivas e não apenas no nível de empresas isoladas (PIRES, 2000).

4 A diferença entre a Escola da Ligação e da Integração é que a anterior não incluía o consumidor final na integração da cadeia.

FLEURY & FLEURY (2000) observam que a análise setorial (por setor industrial ou setor de atividades) não permite a identificação de relações entre estratégias e formação de competências, o que seria permitido pela análise das estruturas dos novos arranjos empresariais, como por exemplo, as cadeias produtivas. E ainda, a competência essencial (core capability) de cada agente será determinada a partir da estratégia adotada para a cadeia, buscando a eficiência coletiva.

No contexto do agronegócio, as empresas confrontam-se com mudanças rápidas nos mercados, novas tecnologias, mudanças de gostos e preferências, exigências quanto à qualidade de produto e preço. Sendo assim, as empresas, a fim de serem mais rápidas e flexíveis para responder a essas necessidades, devem incrementar suas competências essenciais e adicionar valor à cadeia, através da busca de parcerias com os agentes envolvidos (BAINES & DAVIES, 1998).

Um objetivo básico do gerenciamento de cadeia produtiva é proporcionar sinergia entre seus agentes, sendo eficiente no atendimento das necessidades do consumidor final, tanto pela redução de custos, diminuindo custos de transação e de produção, como pela agregação de valor ao produto final, criando bens e serviços customizados e desenvolvimento conjunto de competências distintas, em toda a cadeia, com esforços e benefícios mútuos (PIRES, 2000).

Uma nova corrente teórica que aborda o SCM é o estudo dos Netchains. O conceito de Netchain integra os conceitos de Supply Chain Analysis (SCA) e de Network Analysis (NA) (análise de redes), pois foca nas transações verticais, que corresponde ao SCA e nas transações horizontais, que corresponde à NA (LAZZARINI et al., 2001).

Segundo essa nova abordagem, a combinação desses dois tipos de estruturas permite simultaneidade na obtenção de fontes de valor. O gerenciamento da cadeia de suprimentos tem como fontes de valor a otimização das operações de produção, redução dos custos de transação e apropriação dos direitos de propriedade. O gerenciamento de redes de empresas (ou organizações) tem como fontes de valor a estrutura social, aprendizagem e externalidades da rede.

E ainda, segundo os autores LAZZARINI et al. (2001), os tipos de interdependências entre os atores estão relacionados às principais fontes de valor:

• Interdependência agrupada: relação de troca de conhecimento e informação, na qual as fontes de adição de valor são a estrutura social, aprendizagem e externalidades da rede.

• Interdependência seqüencial: relação que envolve alguma forma de input e output entre os agentes. Geralmente os inputs e outputs são produtos.

• Interdependência recíproca: relação que envolve forte dependência entre um agente e outro. Geralmente esta dependência está relacionada ao conhecimento (coespecialização de conhecimento).

Assim, as estruturas enfatizam, além de tipos de fontes de adição de valor, a tipos de interdependências. No caso da estrutura de cadeia, o tipo de interdependência enfatizada é a seqüencial. Já na estrutura de redes, há maior ênfase nos tipos agrupadas e recíprocas.

Os tipos de interdependências também demonstram os mecanismos de coordenação que são necessários para a adição de valores. Assim, tem-se que nas estruturas de cadeia, a interdependência seqüencial requer como mecanismo de coordenação o planejamento entre fornecedores e compradores. Já nas estruturas de redes, tem como principais mecanismos de coordenação a padronização e o ajustamento mútuo, os quais são mecanismos apropriados para tratar com interdependências agrupadas e recíprocas, respectivamente (LAZZARINI et al., 2001).

Assim, o conceito de Netchain integra o conceito de cadeia e rede, pois simultaneamente agrupa todos os tipos de interdependências em adição a fontes de valores e mecanismos de coordenação com elas associados.

Um exemplo de Netchain são as cooperativas. As cooperativas são consideradas macrohierarquias, que são hierarquias que envolvem organizações, as quais juntamente coordenam algumas de suas atividades através de múltiplas camadas. Nesse tipo de configuração, os produtores tem uma relação de interdependência entre eles (agrupada e recíproca) e entre eles e as cooperativas locais (seqüencial) ou seja, interdependência na mesma camada ou entre as camadas, respectivamente. As cooperativas locais, por sua vez, têm uma relação de interdependência seqüencial com a cooperativa regional, ou seja, entre

uma e outra. Assim, verifica-se que existem todos os tipos de interdependências e, portanto, as duas estruturas (cadeia e rede) que tem como conseqüência a formação de uma netchain.

3.2 Coordenação de cadeias de produção agroalimentares sob o enfoque da economia