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CAPÍTULO 3 – OS CONHECIMENTOS SOBRE LAZER PRIVILEGIADOS NO

3.1 Caderno didático “História da Recreação”

Este caderno didático apresenta claramente o entendimento sobre “recreação” adotado pela autora. No tópico intitulado Conceitos de Recreação e Lazer, aponta:

A palavra recreação vem do latim recreatio, que significa recriar, restaurar. Para Vinicius Ricardo Cavallari e Vany Zacharias (Trabalhando com recreação) “... recreação é o fato, momento, ou a circunstância que o indivíduo escolhe espontaneamente e deliberadamente, através do qual ele satisfaz (sacia) seus anseios voltados ao seu lazer.” (CD.01, 2010, p.11).

Recreação é o mesmo que recreio, diversão, divertimento, prazer, lugar onde alguém se recreia, se distrai para aliviar a tensão e o stress do dia a dia, momento de relaxamento, e para Dumazedier (1974) “vem a ser a possibilidade de vivenciar o

lazer, por ser uma atividade capaz de favorecer a sensação de prazer e satisfação plena.” (CD.01, 2010, p.11).

A recreação é definida como uma atividade e está diretamente ligada ao lazer. Ou seja, consiste em uma atividade a ser realizada nos momentos de lazer por vontade do praticante. Ressalta-se que a autora do caderno didático se embasa em Dumazedier para confirmar tal afirmação e que tal atividade é buscada com o intuito de satisfazer o sujeito. Assim, conclui que o lazer por meio da recreação tem o intuito de proporcionar prazer ao indivíduo.

Quanto ao conceito de lazer, a autora expõe:

Antes de estudiosos elegerem uma definição apropriada para o lazer, acreditava-se que lazer era o fato de estar sem fazer nada, era ficar de “papo pro ar”. Com estudos posteriores definiu-se que lazer é um conjunto de atividades às quais podemos nos entregar de livre e espontânea vontade, seja para descansar, para divertir-se, recrear- se e entreter-se, ou ainda, para aumentar seus conhecimentos ou formação desinteressada através de um bom livro, jornal, televisão, internet ou outro meio de extrair informações do seu interesse naquele momento de descontração. (CD.01, 2010, p.11).

A palavra lazer deriva do latim licere, que significa ser lícito. Dessa forma, poderíamos definir lazer, como uma forma de utilizar seu tempo livre dedicando-se a uma atividade que promova prazer e descontração, ou seja que você goste de fazer, o que não significa que seja sempre a mesma atividade podendo variar suas escolhas. (CD.01, 2010, p.12).

Na citação acima, o conceito de lazer adotado vai ao encontro da definição de Joffre Dumazedier, exposta anteriormente neste trabalho. Como descreve o autor, o lazer é definido como um conjunto de ocupações a ser realizada em um tempo livre de obrigações para descontrair-se ou para sua formação desinteressada e de sua vontade e escolha.

Após tais citações, a autora continua:

Christianne Werneck no seu livro “Lazer, Trabalho e Educação” (2000, pag.34) define “o lazer não como um privilégio da classe dominante, mas como um direito de cidadania a ser usufruído igualmente por todos.” O lazer ligado ao TEMPO, “tempo livre”, “desocupado”, “não trabalhado” ou ainda, “liberado”. (CD.01, 2010, p.12).

O parágrafo citado acima merece atenção, pois percebe-se uma desconexão entre a primeira frase, na qual a autora se utiliza de uma citação de Werneck, com a segunda em que

afirma o lazer ligado ao fator tempo, tempo esse livre de obrigações. No livro “Lazer, Trabalho e Educação”, a autora Werneck (2000) trata o lazer relacionando-o ao “tempo livre”

para explicar como se revelou o sentido do termo lazer ao longo dos anos. Na segunda edição desse livro, discorre:

Todavia, a distinção que aparece nas raízes etimológicas das palavras recreação e lazer remete a construções inter-relacionadas com o mundo do trabalho, porém diferenciadas no sentido original com que foram gestadas. Enquanto o lazer diz respeito, primeiramente, às práticas culturais consideradas “lícitas”, sendo depois encaminhado para o estabelecimento de um “tempo livre” reivindicado pelos trabalhadores, a recreação direciona-se para o divertimento, para a ocupação do trabalho produtivo ou escolar. (GOMES, 2008, p.88).

No entanto, frisa-se que a autora questiona a interpretação que justifica a existência do lazer, a partir das características e interesses do trabalho. Segundo suas palavras, “[...] o lazer necessita ser conceituado e ressignificado a partir de outros olhares, e a perspectiva da cultura nos parece ser um importante caminho a partir do qual começa essa mudança”. (GOMES; ELIZALDE, 2012a, p.80).

Pensando o lazer como uma dimensão da cultura e necessidade humana, não concorda-se também que ele é vivenciado somente para descontração no tempo livre e para aliviar o stress e atenção do dia-a-dia como exposto no caderno didático. Nesse sentido, Alves (2008) se posiciona dizendo:

[...] o jogo, a festa, o rito, as atividades de lazer não são apenas distrações, divertimento e entretenimento, com vistas a se recuperar as forças físicas, “recarregar as baterias” e/ou minimizar as mazelas sociais, respondendo, desse modo, satisfatoriamente, num sistema capitalista, como é o nosso, às exigências do trabalho, mercado, capital e sociedade. Essas atividades constituem uma dimensão imprescindível, na formação humana e têm, como nos diz Morin (2002), raízes que mergulham nas profundezas humanas do psiquismo e da afetividade: a magia, o imaginário, o mito, a religião, o jogo, a festa, a despesa, o desperdício, a estética, a poesia. É o paradoxo da riqueza, da prodigalidade, da infelicidade, da felicidade do homo sapiens-demens. (ALVES, 2008, p.53).

Por fim, destaca-se neste caderno didático um “Box de atenção” assim escrito:

“Atenção: Lazer é o mesmo que ócio, folga, descanso, passatempo, divertimento, entretenimento”. Esse recurso serve para chamar a atenção do aluno para um

conteúdo/conceito considerado relevante para a disciplina, mas não condiz com o conceito comentado acima. Além disso, entende-se que ócio não é traduzido como atividade, elemento essencial na compreensão de lazer apresentada no caderno didático.