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Caderno didático “Jogos, brinquedos e brincadeiras”

CAPÍTULO 3 – OS CONHECIMENTOS SOBRE LAZER PRIVILEGIADOS NO

3.2 Caderno didático “Jogos, brinquedos e brincadeiras”

Conforme exposto pela própria autora do caderno didático, essa disciplina é de importância ao profissional do lazer, “pois nela você encontrará um suporte teórico além de

atividades práticas dirigidas a sua atividade profissional” (CD.02, 2011, p.11). O material é

composto por conceitos e tipos de jogos e brincadeiras e sugestões de atividades, além de mostrar um pouco do folclore brasileiro por meio das brincadeiras, danças, brinquedos, provérbios, etc.; aborda os jogos cooperativos e competitivos, jogos eletrônicos e dinâmicas para fins de lazer. Percebe-se, neste caderno, que o grande objetivo é ensinar algumas atividades recreativas aos futuros técnicos em lazer, para que eles possam aplicar em sua vida profissional ao trabalhar neste campo.

A palavra lazer aparece no texto nas seguintes situações: como título da aula 6 (Dinâmicas de grupo como atividade de lazer); para conversar com o estudante (“você, futuro

técnico ou profissional do lazer”); e ao afirmar que “os jogos eletrônicos são uma das maiores fontes de lazer do século XXI” (CD.02, 2011, p.70). Assim, percebe-se que, para a disciplina,

o aluno deve conhecer e saber o conteúdo abordado e como/onde/para quem aplicar cada atividade/jogo apresentado, entendendo que o papel do técnico em lazer é aplicar e monitorar tais atividades.

É interessante também buscar em que contexto a palavra recreação aparece: como palavra chave do caderno didático (1. Brincadeiras. 2. Jogos. 3. Recreação. 4. Folclore – Brasil) e em dois momentos do texto. No primeiro, quando a autora fala sobre a definição e objetivos dos jogos:

No jogo podemos mudar as regras, adaptar o local, o número de participantes e improvisar o material.

Já o desporto é diferente, por apresentar regras conhecidas mundialmente da mesma forma, as quais não podem ser alteradas em campeonatos oficiais. Tudo já é previsto nas regras oficiais que são publicadas pelas federações de cada esporte. Podemos utilizá-lo nas aulas e fazer algumas adaptações apenas como iniciação ou mesmo recreação. Como exemplo podemos citar, entre muitos: futebol, basquetebol, voleibol, handebol além de muitos outros esportes que são considerados oficiais. (CD.02, 2011, p.16).

E no segundo momento, a palavra recreação é mencionada quando aborda sobre “os jogos de outras culturas”:

Sabemos que cada povo tem sua maneira de enxergar o jogo; uns veem o jogo sob o ponto de vista social, outros, educativo, para a saúde ou simplesmente como recreação; alguns jogos são considerados até mesmo como cultura de um determinado povo. Sendo assim, precisamos ter consciência de que os jogos em geral são de grande importância para humanidade, pois fazem com que as pessoas se preocupem de uma forma ou de outra com o objetivo que eles (os jogos) vão levá- las a atingir, em qualquer parte do mundo. (CD.02, 2011, p.59).

A citação acima aborda a recreação ligada ao divertimento, enquanto os jogos assumem como características além da diversão a obrigatoriedade de regras, de regulações de comportamentos e ações possíveis dentro do contexto em que eles se desenvolvem.

Quando se conclui que o objetivo da disciplina e seu conteúdo é mostrar um pouco sobre a história, conceitos e como praticar diversos jogos, brincadeiras, dinâmicas, etc para que o profissional saiba exercer sua função como recreador e/ou monitor de determinadas atividades para um público específico, não é uma crítica à formulação da disciplina e nem é pouco tal função. Para tanto, o profissional precisa ter cuidado e respeito à população que está sendo assistida, adaptar as atividades aos contextos, faixa etária, cultura, etc. A cada vivência/experiência praticada e desenvolvida, mais esse profissional é capaz de reinventar a si mesmo e a sua atuação. França (2010) discorre:

O viver a práxis no tempo de lazer que proporciona ludicidade, prazer, fascínio, alegria, com diferentes ritmos, gestos e mensagens, constitui uma legítima e representativa expressão dos diferentes estados de espírito da vida humana, uma forma de linguagem social que permite proximidades às diferentes classes sociais, sendo possível identificar suas contradições e seus interesses em relação às formas de religiosidade, de trabalhos, de costumes e hábitos. (FRANÇA, 2010, p.121).

Dessas vivências, o profissional incorpora experiências culturais em seu trabalho e amplia sua visão de como é complexa a dimensão do lazer.

Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras são conteúdos igualmente importantes para a formação do profissional em lazer. O jogar e o brincar têm seus próprios códigos, linguagens e temporalidades, mas são conteúdos culturais suscetíveis de identificação com o real. Silva (2006) diz que:

Ao inserir os jogos no universo dos divertimentos e dos lazeres nos reportamos à proposta de Brougère (s/d) ao considerar os recursos utilizados no lazer como manifestações de forte dimensão cultural – portadoras de significações que podem ser (re)significadas – assim, as experiências vividas no jogo, na leitura de um livro ou filme podem, além do prazer mais imediato podem apresentar efeitos educativos vinculados a própria natureza do “objeto”, o que implica, em última análise, a manipulação simbólica das significações que lhes são intrínsecas. (SILVA, 2006, p.61).

Assim, o jogo, no lazer também pode assumir um caráter educativo por meio de suas próprias características, códigos, significados e regras que, muitas vezes, são negociáveis e negociadas. Os seus resultados são imprevisíveis e assumindo o caráter de diversão, o prazer é sempre almejado nas atividades e por isso mesmo, a evasão nos jogos acontece com

frequência, principalmente quando não satisfaz o participante ou passa a ser um estímulo para jogar novamente.

Nesse universo de conteúdos que podem estar envoltos de possibilidades educativas, os jogos, as festas, as danças, as brincadeiras populares e brinquedos destacam-se entre diversos outros. Portanto, tais conteúdos culturais não devem ser desenvolvidos de forma a- crítica e descontextualizados. Sobre o brincar, Werneck e Pinho (2003) explicam:

O brincar significa tempo/espaço de troca, de construção, de organização coletiva e, principalmente, de apropriação e reconstrução da cultura. Desta forma, o brincar pode ser abordado em diferentes perspectivas e desdobrado como dimensão da memória acerca das manifestações folclóricas, jogos populares, brinquedos, brincadeiras, festas e tradições que constituem o acervo social, histórico e cultural de uma comunidade ou grupo social. Entretanto, observamos a predominância da reprodução técnico-operacional de jogos e brincadeiras, classificados como sinônimos de “recreação”, o que não possibilita uma concepção ampliada do brincar, tampouco a reconstrução sensível da nossa realidade. (WERNECK; PINHO, 2003, p.376).

A narrativa das autoras citadas reforça a responsabilidade do profissional do lazer em relação a esses conteúdos, o cuidado ético e estético ao lidar-se com elementos da cultura e atentar para os aspectos educativos de seu trabalho. Igualmente cuidadosa, deve ser a abordagem que o professor da disciplina dará aos conteúdos presentes nesse caderno didático para uma formação condizente à traçada no perfil profissional do curso.

Por fim, como já analisado, o perfil desse profissional não diz respeito apenas a exercer tais práticas abordadas nesse caderno didático, mas representa um dos campos de atuação do técnico em lazer.