• Nenhum resultado encontrado

com rapas

2. Cadernos de escrita

pode ser sempre constante, quase como um ritual, e/ou pode o professor ir alternando e experimentando diferentes modos de ação. Por exemplo, pode haver um tempo diário para os cadernos de escrita e os alunos inscrevem-se, apresentam por ordem de chegada

1 A propósito do uso do caderno de escrita, sugerimos a consulta destas duas referências: Aleixo, C. (2010). Os cadernos de Escrita como mediadores da produção de textos por alunos do 1.º CEB. Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro; Aleixo, C. (2005). A vez e a voz da escrita. Lisboa: Ministério da Educação. Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.

2. Cadernos

de escrita

da inscrição e dentro do tempo disponível. Na sequência desta apresentação, pode ou não haver trabalho de revisão textual. Destacamos, a título de exemplo e para reflexão, as seguintes diferenças relativas à organização e dinâmica estabelecidas em três turmas distintas no trabalho com cadernos de escrita2:

a) Na turma A, os cadernos permaneciam nas pastas dos alunos e estava instituída a obrigatoriedade de apresentação diária. Todos os dias, cada aluno lia, pelo menos, um texto. Após a leitura de todos os alunos, a turma comentava os textos apresentados e seguiam-se os comentários da professora – comentar “todos de uma vez”.

b) Na turma B, os cadernos também estavam a cargo dos alunos e permaneciam nas respetivas pastas. A produção de textos era repetidamente aconselhada pela professora (nos tempos de estudo autónomo e nos momentos finais de dia de aula) e reservava-se meia hora diária para a apresentação dos textos de 5 alunos. A turma comentava os textos, um a um, à medida que iam sendo apresentados – comentar “texto a texto”. c) Na turma C, os cadernos permaneciam na sala e os alunos podiam usá-los durante o

tempo de estudo autónomo (60 a 90 minutos diários) ou noutros tempos disponíveis. Estava reservada meia hora diária para apresentação de textos sem que se determinasse, à partida, quantos alunos o deveriam fazer. A turma comentava após apresentação do(s) texto(s) de cada aluno-autor – comentar “autor após autor”.

3. De acordo com as análises feitas (vide referências em nota de rodapé 2), os cadernos individuais de escrita surgem associados a uma produção significativa de textos e é igualmente percetível que esse uso, por parte dos alunos, parece ser afetado pelas opções didático-pedagógicas dos respetivos professores. Quando atendemos à quantidade de textos produzidos, constatamos que tanto a situação de obrigatoriedade como a de comentário autor após autor parecem conduzir a um aumento na produção total de textos. Já as diferenças em relação à diversidade de espécies de textos parecem indiciar uma vantagem em se comentar cada texto, per se.

4. A diversidade de modos de ação mobilizados pelas professoras contribui também para uma discussão contextualizada com vista à apresentação de linhas orientadoras para a utilização dos cadernos individuais de escrita, enquanto elementos de um dispositivo consistente que permita alternar a prática frequente de produção textual com a resolução de problemas de escrita, através de revisões ampliadas por situações de interação. O que será dito de seguida procurará dar conta de várias possibilidades, implementadas em sala de aula.

2 Pereira, L. Á., Aleixo, C., Cardoso, I., & Graça, L. (2010). The teaching and learning of writing in Portugal: The case of a research group. In C. Bazerman, R. Krut, K. Lunsford, S. McLeod, S. Null, P. M. Rogers & A. Stansell (Eds.), Traditions of Writing Research (pp. 58-70). Oxford, UK: Routledge; Aleixo, C. (2010). Os cadernos de Escrita como mediadores da produção de textos por alunos do 1º CEB. Tese de Doutoramento, Universidade de Aveiro.

Percurso I

1. Num 1.º ano de escolaridade, por exemplo, os alunos poderão planificar a sua intervenção para contar a sua “história” (trabalho a montante dos cadernos de escrita, preparatório e motivador para criar o hábito de os alunos utilizarem um caderno para escrever textos seus), começando por recorrer ao desenho. O registo que fazem através do desenho permite-lhes não só organizar melhor o discurso, mas também integrar progressivamente os elementos e estrutura de um texto narrativo.

2. O professor seleciona as intervenções de dois alunos (vivências, histórias, novidades…) e faz o registo escrito das partes essenciais do que foi comunicado, afixando esse registo na parede da sala, num espaço próprio para que todos possam ver com facilidade. 3. Também pode entregar aos alunos uma grelha para que sejam eles a registar de forma

organizada (desenhando e/ou escrevendo, de acordo com o seu desenvolvimento neste domínio) as “histórias” contadas ou lidas pelos colegas, trabalhando, assim, a compreensão oral e a concentração. A grelha vai alternando, de acordo com as intervenções dos alunos e os tipos e géneros de texto a que correspondem: receitas, relatos, informações sobre animais…

4. Com o apoio dos registos que fizeram, os alunos falam das histórias que ouviram, colocam perguntas sobre aspetos que não perceberam.

5. Estas opções acentuam mais a partilha, a conversa sobre os textos e as vivências pessoais, em dinâmicas que serão motivadoras para os alunos, que encontram, nos colegas e no professor, bons ouvintes dos seus textos.

Percurso II

3

1. Num primeiro momento, seleciona-se um texto dos cadernos de escrita com vista a ser trabalhado coletivamente (revisão e melhoria). O texto poderá ser oferecido por um aluno; escolhido pelo professor após obter o consentimento do aluno pela sua adequação às necessidades de trabalho neste domínio; por outro critério acordado e compreendido pelos alunos. O professor assegura, contudo, que todas as crianças terão as mesmas hipóteses de ver o seu texto trabalhado.

2. Nas primeiras atividades, que implicam alterações no texto original, o professor dialoga com os alunos sobre a pertinência de melhorar um texto. Explicita que esse processo não implica um “julgamento”, mas é um trabalho que qualquer autor tem de fazer. Um trabalho que enriquecerá não só o autor, mas todo o grupo.

3. O texto original é escrito no quadro ou no computador e projetado com apoio do datashow. Por exemplo:

Escrita inicial do aluno, registada pela professora:

Registo escrito feito pela professora, já com alguma intervenção da turma: – Eu fui ao campo no sábado.

4. O professor ou o autor leem o texto para a turma. Numa fase seguinte, o professor e colegas colocam questões ao autor sobre o seu texto. À medida que vão surgindo as questões, o professor faz o registo. Em conjunto, leem as questões colocadas e as respostas dadas pelo autor:

Perguntas ao João e comentários

Paulo – Campo tem um m atrás do p!

[Professora reafirma comentário do Paulo e escreve novamente a frase do João com a palavra corrigida.] Joana – Foste a que campo?

João – Eu fui ao Parque do Alambre, na serra da Arrábida. Daniela – Foste com quem?

João – Eu fui com a minha mãe, o meu pai e o meu irmão. Marta – Que idade tem o teu irmão?

João – O meu irmão tem 4 anos, é mais novo que eu. Carina – Foste de manhã ou de tarde?

Professora – Foste a pé? João – Não, fui no carro. Jaime – A que horas foste?

João – Fui à tarde, logo depois do almoço, e voltei antes do lanche. Rita – O que fizeste lá?

João – Eu joguei à bola com o meu irmão. Professora – Como era o campo?

João – Havia muitos pinheiros e flores amarelas.

Eu fui ao capo no sabado. João

5. Os alunos, em grupo-turma, com o professor, completam o texto com as informações fornecidas e sugestões feitas pelos colegas. O texto é distribuído a todos e colado nos cadernos individuais ou, em alternativa, cada aluno pode copiá-lo. O texto é colocado num livro da turma e/ou publicado no blogue da turma/escola...

A minha ida ao campo

No sábado à tarde eu fui ao Parque do Alambre, na Serra da Arrábida. Fui com os meus pais e o meu irmão mais novo que tem quatro anos.

Saímos de casa logo a seguir ao almoço e não demorámos muito a chegar porque fomos de carro. No campo, eu joguei à bola com o meu irmão. Vi pinheiros, outras árvores e flores amarelas. Quando estava quase na hora de lanchar, voltámos para casa.

Eu gostei muito de ir ao Parque do Alambre.

Texto do João enriquecido pela turma 6. O treino do aperfeiçoamento de textos com produções dos cadernos de escrita pode ir

sendo feito, alternando trabalho de pares, grupos, grupo-turma, bem como os instrumentos de apoio à revisão textual, consoante o nível de ensino, o grau de autonomia dos alunos na escrita... Aqui fica outro exemplo de trabalho realizado4:

4 Ficha de trabalho adaptada de Santana, I. (2007). A Aprendizagem da Escrita. Estudo sobre a revisão cooperada de texto. Porto: Porto Editora.

5 Obviamente que os textos são sempre passíveis de aperfeiçoamento e será difícil dar por terminada uma sequência para isto. Este texto que apresentamos, por exemplo, ainda tem, do ponto de vista gráfico e linguístico, algumas lacunas; contudo, sob pena de prejudicar o desenvolvimento dos trabalhos, é preciso “encerrá-los” num ponto lógico e produtivo para os alunos.

Documentos relacionados