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1. Introdução

2.3. Calorimetria de Combustão em Bomba Estática

2.3.5. Calibração do sistema calorimétrico

A calibração do calorímetro é um procedimento indispensável, que permite determinar o equivalente energético do calorímetro,

𝐸

, isto é, a quantidade de energia necessária para elevar, de uma unidade, a temperatura do calorímetro. O equivalente energético do calorímetro relaciona a quantidade de energia fornecida ao sistema,

𝑄

, com a respetiva variação da temperatura corrigida para condições de adiabaticidade,

∆𝑇

ad, de acordo com a equação (2.19).

𝐸 =

𝑄

∆𝑇

ad (2.19)

O equivalente energético do calorímetro pode ser determinado por calibração química ou elétrica. Na calibração química é efetuada a combustão de uma substância

padrão, cuja energia mássica de combustão foi determinada por um Laboratório de Certificação, ou seja, a energia libertada proveniente da combustão de uma massa de amostra padrão calorimétrico, rigosamente conhecida e a respetiva variação de temperatura provocada, permitem determinar o equivalente energético do calorímetro. Na calibração elétrica, o mesmo parâmetro, é obtido pelo fornecimento de uma quantidade de energia elétrica, rigorosamente conhecida, que se dissipa por efeito de Joule, provocando uma variação de temperatura.

O calorímetro utilizado neste trabalho foi calibrado quimicamente, tendo sido usado o ácido benzóico, pois obedece a todos os requisitos para ser considerado um

padrão termoquímico [29], tais como: elevado grau de pureza, não ser sensível ao ar e à

luz, não ser hidroscópico, ser pouco volátil à temperatura ambiente, ser facilmente comprimido sob forma de pastilha e ser queimado quantitativamente na bomba em atmosfera de oxigénio. Foi utilizado o ácido benzóico (NBS Standard Reference Material

39j), com um valor certificado de energia mássica de combustão, ∆c𝑢(AB) =

−(26434 ± 3)J ∙ g−1[30], para as seguintes condições de bomba:

 reação de combustão realizada numa bomba de volume constante, em oxigénio

à pressão de 3.0 MPa e à temperatura de 298.15 K;

 massas de ácido benzóico,

𝑚

AB, e de água,

𝑚

H2O, inicialmente colocadas no interior da bomba, expressas em gramas, são numericamente iguais ao triplo do volume interno da bomba, expresso em decímetros cúbicos.

Caso as condições experimentais sejam ligeiramente diferentes das estabelecidas anteriormente, o valor certificado da energia mássica de combustão do ácido benzóico pode ser corrigido. Então, a energia mássica de combustão do ácido benzóico para as condições de bomba, ∆c𝑢(AB), é calculada a partir do valor certificado, ∆c𝑢(AB, cert),

aplicando um fator multiplicativo de correção, 𝑓, de acodo com a expressão (2.20).

∆c𝑢(AB) = 𝑓 ∙ ∆c𝑢(AB, cert) (2.20)

O fator 𝑓 é calculado a partir da equação seguinte:

𝑓 = 1 + 10

−6

[200 (𝑝 − 3.0) + 42 (𝑚

AB

𝑉

− 3) + 30 (

𝑚

H2O

𝑉

− 3)

− 45 (𝑇 − 298.15)]

(2.21)

em que

𝑝

é a pressão inicial de oxigénio, em megapascal;

𝑚

AB é a massa de ácido

gramas; V é o volume interno da bomba, em decímetros cúbicos; e

𝑇

é a temperatura absoluta a que a combustão é referida.

O erro máximo de 𝑓 é da ordem de grandeza de 15 × 10-6 [27], para as seguintes

condições experimentais: 2.0 MPa < p < 4.0 MPa, 2 g·dm-3 < 𝑚AB

𝑉

<

4 g·dm

-3, 2 g·dm-3

< 𝑚H2O

𝑉

<

4 g·dm

-3 e 293.15 K < T < 313.15 K.

Durante uma experiência de combustão há variação do conteúdo do calorímetro devido à reação de combustão que transforma reagentes em produtos com diferentes capacidades caloríficas, fazendo com que o valor de 𝐸 varie durante a experiência, assim como de experiência para experiência. Podemos, então, definir dois equivalentes energéticos,

𝐸

i para o estado inicial e

𝐸

f para o estado final.

𝐸

i

= 𝜀

cal

+ 𝜀

i (2.22)

𝐸

f

= 𝜀

cal

+ 𝜀

f (2.23)

εi e εf resultam do somatório das capacidades caloríficas [27] das espécies

presentes nos estados inicial e final, respetivamente, através das expressões (2.24) e (2.25) e

𝜀

cal é o equivalente energético do sistema calorimétrico sem reagentes no

interior da bomba.

𝜀

i

= 𝐶

𝑉

(O

2

) 𝑛

i

(O

2

) + 𝑐

𝑝

(H

2

O, l) 𝑚(H

2

O, l) + 𝐶

𝑉

(H

2

O, g) 𝑛

i

(H

2

O, g)

+ 𝑐

𝑝

(AB) 𝑚(AB) + 𝑐

𝑝

(alg) 𝑚(alg) + 𝑐

𝑝

(Pt) 𝑚

i

(Pt)

(2.24)

𝜀

f

= 𝐶

𝑉

(O

2

) 𝑛

f

(O

2

) + 𝐶

𝑉

(CO

2

, g) 𝑛

f

(CO

2

, g) + 𝐶

𝑉

(H

2

O, g) 𝑛

f

(H

2

O, g)

+ 𝑐

𝑝

(Pt) 𝑚

f

(Pt) + 𝑐

𝑝

(sol) 𝑚(sol)

(2.25) em que

𝐶

𝑉

(O

2

), 𝐶

𝑉

(H

2

O, g) e

𝐶

𝑉

(CO

2

, g)

representam a capacidade calorífica molar, a volume constante, do oxigénio, do vapor de água e do dióxido de carbono, respetivamente;

𝑐

𝑝

(H

2

O, l), 𝑐

𝑝

(AB), 𝑐

𝑝

(alg),

𝑐

𝑝

(Pt) e 𝑐

𝑝

(sol)

representam, respetivamente, a capacidade calorífica mássica, a pressão constante, da água no estado líquido, do ácido benzóico, do fio de algodão, da platina e da solução final;

𝑛

i

(O

2

), 𝑛

f

(O

2

), 𝑛

i

(H

2

O, g),

𝑛

f

(H

2

O, g) e 𝑛

f

(CO

2

, g)

representam, a quantidade inicial de oxigénio, a quantidade final de oxigénio, a quantidade inicial de vapor de água, a quantidade final de vapor de água e a quantidade final de dióxido de carbono, respetivamente;

𝑚(H

2

O, l), 𝑚(AB), 𝑚(alg),

𝑚

i

(Pt), 𝑚

f

(Pt) e 𝑚(sol)

representam, respetivamente, a massa de água líquida, de ácido benzóico, do fio de algodão, a massa inicial e final de platina e a massa da solução da bomba.

Para a determinação do equivalente energético do calorímetro com a bomba vazia,

𝜀

cal, é necessário ter em conta todas as contribuições energéticas provenientes da combustão da amostra de ácido benzóico, das substâncias auxiliares e das reações laterais. A variação da energia interna relativamente ao processo de bomba isotérmico,

∆𝑈PBI, a T = 298.15 K quantifica todas essas contribuições energéticas, de acordo com

a seguinte expressão:

∆𝑈PBI

= ∆𝑈

AB

+ ∆𝑈

alg

+ ∆𝑈

HNO3

+ ∆𝑈

ign

− ∆𝑈

carb (2.26)

onde

∆𝑈

AB representa a variação de energia interna de combustão do ácido benzóico

nas condições de bomba;

∆𝑈

alg corresponde à energia de combustão do fio de algodão de fórmula empírica

CH1.868O0.843, que resulta do produto entre a massa de algodão e o valor da

energia mássica de combustão padrão do algodão,

c

𝑢

o

= −16240 J ∙ g

−1

[27]

;

∆𝑈

HNO3 é energia de formação de uma solução aquosa de ácido nítrico 0.1

mol·dm−3, a partir de

N

2

(g)

,

O

2

(g)

e

H

2

O(l)

, sendo

∆𝑈

mo

(HNO

3

) =

−59.7 kJ ∙ mol

−1 [31]

;

∆𝑈

ign é a energia de ignição calculada por

∆𝑈 = −

1

2

𝐶(𝑉

i 2

− 𝑉

f2

)

, em que

𝐶

é a

capacidade do condensador (1400 µF) e 𝑉i e 𝑉f os valores da diferença de

potencial do condensador, nos instantes inicial e final, respetivamente;

∆𝑈

carb representa a energia de combustão do carbono formado em combustões

incompletas, que resulta do produto entre a massa de carbono e o respetivo valor da energia mássica de combustão,

c

𝑢

o

= −33 kJ ∙ g

−1 [27]

.

Figura 2.8. Ciclo termoquímico para a determinação do equivalente energético.

A determinação do equivalente energético do calorímetro com a bomba vazia,

𝜀

cal,

para as experiências de calibração, baseia-se no ciclo termoquímico da figura 2.8., considerando as relações (2.22) e (2.23), sendo calculado através da equação (2.27).

𝜀

cal

=

−∆𝑈

PBI

+ 𝜀

i

(𝑇

i

− 298.15) + 𝜀

f

(298.15 − 𝑇

f

− ∆𝑇

corr

)

∆𝑇

ad

(2.27)

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