• Nenhum resultado encontrado

1.2. O ABAIXAMENTO DAS MÉDIAS PRETÔNICAS NOS DIALETOS DO

1.2.1. Callou et al (1991)

Callou et al apresentaram, neste trabalho, a delimitação da regra de harmonização vocálica das vogais médias pretônicas no âmbito do Projeto da Norma Urbana Culta do Rio de Janeiro/NURC-RJ. A metodologia utilizada foi a teoria variacionista laboviana.

As variáveis linguísticas consideradas foram tipo de vogal, distância em relação à tonica, tipo de segmento tônico, tipo de pretônica subsequente, tipo de atonicidade, tipo do segmento seguinte e estrutura silábica, tipo de segmento precedente e estrutura silábica, estrutura da palavra e tipo de vogal na palavra base. As variáveis extralinguísticas foram sexo, faixa etária e zona de residência.

As autoras analisaram os dados de 18 informantes, 9 de cada sexo, distribuídos em três faixa etária (25-35; 36-50; 51 em diante), e em três áreas de residência (Zona Norte; Zona Sul; Zona Suburbana). Foram registradas 4.130 ocorrências de </e/> e </o/> na sílaba pretônica de 1.729 itens lexicais, 2133 ocorrências de </e/> e 1.213 de </o/>.

Callou et al verificaram que o abaixamento no dialeto do Rio de Janeiro é pouco significativo, representando apenas 5% das ocorrências, e em casos bem restritos: quando se acrescenta a uma palavra que tenha vogal média baixa tônica os sufixos diminutivos ou superlativos, ou ainda o formador de advérbio -mente; e por harmonização vocálica a uma

vogal tônica baixa. Callou et al identificaram ainda que em vocábulos como d[E]rrubam, fev[E]reiro e H[E]lena, esses casos não se aplicam, e que talvez seja a presença de uma líquida que acarrete o abaixamento.

Callou et al concluíram que a ocorrência de vogais baixas no dialeto carioca seria um indicativo da tendência ao abaixamento das vogais inacentuadas, e, devido ao fato do abaixamento ter sido registrado na fala dos mais velhos, este registro pode ser interpretado, baseado em fatos históricos, como uma manutenção, uma vez que o processo histórico descreve E > e > i.

1.2.2. Bortoni et al (1992)

Em seu trabalho sobre a variação das vogais pretônicas no português de Brasília Bortoni et al (1992) estudaram o comportamento das médias com foco nas variantes de alteamento e abaixamento. O objetivo foi o de examinar o condicionamento das regras a fim de saber se resultava de um fenômeno neogramático ou de implementação de difusão lexical.

Os dados para esse trabalho foram obtidos de 14 informantes, 7 do sexo masculino e 7 do sexo feminino, cujas idades variavam de 11 a 38 anos. Doze informantes nasceram e se criaram no Distrito Federal, um nasceu no Rio de Janeiro e outro em Goiânia. Os informantes foram estratificados levando em conta a profissão e a escolaridade e, agrupados em classe média alta e classe média baixa. Ainda foi controlada a origem dos pais para se observar a possível interferência de características de outros dialetos no tratamento das pretônicas: pais de origem do centro-sul e pelo menos 1 dos pais de origem nordestina.

Os resultados dos dados, em relação ao abaixamento da vogal média /e/, indicaram como ambientes favorecedores da elevação desta vogal: a) presença de vogais baixas orais e nasais em posição contígua; b) presença de consoantes alveolares, velares e labiais em contextos precedentes; Não se confirmou a hipótese, baseada em Bisol (1981), de que as consoantes velares favorecessem a elevação; c) em contextos seguintes: presença de /R/ em posição de travamento silábico e consoantes alveolares e palatais; d) efeito da átona eventual. No que se refere à média posterior /o/, Bortoni-Ricardo et al (1992) detectaram como ambientes favorecedores do abaixamento: a) vogais [a,E,O,~e,~i] em posição seguinte; b) consoantes alveolares e velares; c) sílaba átona eventual.

Nesse estudo, os fatores sociais se mostraram mais significativos para a variante de abaixamento. Para o sexo, os dados revelaram que as mulheres apresentam uma probabilidade ligeiramente superior a dos homens. Quanto à classe social, a classe média baixa, constituída

por migrantes nordestinos, parece estar incorporando a variante aberta, enquanto a classe média alta a usa pouco, o que podem ser indicativos de um processo em andamento, já que os falantes de classe média baixa estariam incorporando a variante abaixada, enquanto, na fala dos informantes de classe média alta a variante abaixada restringe-se praticamente aos casos de acento subtônico.

1.2.3. Celia (2004)

O trabalho de Célia (2004) buscou caracterizar o dialeto capixaba e sua relação com os demais dialetos brasileiros, por meio de um estudo sociolinguístico variacionista realizado a partir da fala de 9 informantes do sexo feminino do município de Nova Venécia – ES, todas com ensino superior e que apresentassem as seguintes condições: ter nascido na cidade (ou ter chegado até os 5 anos de idade); e ter vivido a maior parte de sua vida no local.

O corpus utilizado no estudo compreendeu 2.950 realizações de vogais pretônicas (alteamento de E e O/ abaixamento de E e O), 1714 contextos de </e/> e 1236 contextos de </o/>, analisadas em relação a 8 fatores linguísticos: nasalidade, tipo de tônica, distância, pretônica seguinte, atonicidade, consoante precedente, consoante seguinte, estrutura silábica; e 1 fator extralinguístico: faixa etária (de 25 a 35 anos; de 36 a 55 anos; e de 56 anos em diante).

Os resultados de Celia (2004) mostraram que as vogais médias pretônicas podem variar entre realizações médias, alteadas ou abaixadas, e que tal variação se dá por um processo de assimilação do traço de altura da vogal da sílaba seguinte, independentemente da sua tonicidade. A autora identificou que O abaixamento das médias segue os mesmos padrões do alteamento, ou seja, as sílabas abertas CV, vogais átonas permanentes, e as consoantes palatal e bilabial precedentes e a velar seguinte, favorecem o abaixamento, que tem como principal favorecedor a presença de uma vogal baixa na sílaba seguinte.

Celia (2004) concluiu que o abaixamento identificado na variedade capixaba não é tão escasso quanto no Rio de Janeiro, mas também não é tão frequente quanto na Bahia, e, portanto, o Espírito Santo é uma região de transição, no que diz respeito à realização das vogais médias em posição pretônica.

1.2.4. Araújo (2007)

Araújo, em seu trabalho de cunho variacionista, estudou a fala de 72 informantes, pessoas nascidas em Fortaleza ou que migraram do interior do Ceará para morar nesta cidade

com no máximo cinco anos de idade. Os dados foram extraídos do acervo sonoro do banco de dados do Projeto Norma Oral do Português Popular de Fortaleza – NORPORFOR, cujos objetivos são armazenar e disponibilizar material linguístico representativo do falar popular dos fortalezenses. Este corpus foi estratificado de acordo com o sexo, a faixa etária, a escolaridade e o tipo de registro.

Os resultados mostraram que ocorre o predomínio das variantes baixas, exceto em dois ambientes, diante de vogal média não-nasal e diante de vogal alta. As pretônicas médias e baixas, excetuando-se alguns poucos casos, ocorrem em distribuição complementar: médias- fechadas antes de vogais fechadas e médias-abertas antes de vogais abertas. Os resultados mostraram ainda que a variação das médias pretônicas é condicionada, principalmente, pela variável tipo de vogal tônica, mas que, em geral a pretônica harmoniza-se com a altura da vogal átona seguinte, ou seja, os processos de alteamento, abaixamento e manutenção das pretônicas, tanto da vogal /e/ quanto da vogal /o/, são regidos, primordialmente, pelo princípio de harmonização vocálica, em que a pré-acentuada copia o traço de altura da vogal adjacente, seja ela tônica ou átona.

Araujo (2007) também identificou que, com relação aos fatores linguísticos que as vogais pretônicas, em alguns itens lexicais, realizam-se, categoricamente, alteadas, abaixadas ou preservadas, respectivamente, e, em outros, atuam variavelmente, tanto em contextos favorecedores quanto desfavorecedores das regras de alteamento, abaixamento e manutenção, revelando que tais regras não atingem todo o léxico, isto é, atingem certos itens lexicais, mas não atingem outros que apresentam as mesmas condições de atuação de uma das regras mencionadas. Sobre os fatores extralinguísticos Araújo a faixa etária foi considerada uma variável relevante, pois abaixamento de /e/, ao contrário do que ocorre com a vogal /o/, é influenciado por este fator que evidencia um comportamento inibidor por parte dos mais jovens, contrapondo-se à atuação favorecedora dos mais idosos.

Araújo conclui defendendo que, no falar fortalezense, o que ocorre é um caso de gradação etária, em que o comportamento de cada faixa etária funciona como um padrão que sempre se repete, uma vez identificada que a regra de alçamento coexiste com a manutenção das médias desde os primórdios da língua portuguesa, sendo este o mesmo raciocínio aplicado à regra de abaixamento de /e/.

1.2.5. Silva (2009)

O trabalho de Silva (2009), de cunho variacionista, descreve e analisa a pronúncia das vogais médias pretônicas em Teresina – PI, que apresenta como marca dialetal, segundo a autora, o abaixamento. O corpus foi formado por 5.308 realizações de pretônicas, coletadas a partir de entrevistas com 36 informantes estratificados socialmente por gênero, faixa etária e escolaridade. As variáveis linguísticas estudadas foram: contiguidade, homorganicidade, tonicidade, paradigma, distância da tônica, derivada de tônica e os contextos fonológicos: precedente e seguinte.

Os resultados apresentados por Silva (2009) apontaram que, para o abaixamento, mostraram-se favoráveis as vogais /a,E,O/ em posição contígua, sendo a média fechada posterior favorecedora, também, do abaixamento de /o/. Para contextos precedentes, as consoantes velares e vazio favoreceram o abaixamento de /e/, e as coronais, palatais e vazio favoreceram o de /o/. Já para o contexto seguinte, as palatais e velares favoreceram o abaixamento de /e/ e, as velares, o de /o/.

Quanto aos fatores sociais, o abaixamento é a regra padrão do dialeto, portanto independe de qualquer condicionamento do grau de escolarização, gênero ou faixa etária, e que tais constatações só foram possíveis mediante os cruzamentos efetuados entre a escolarização e a faixa etária. Os resultados destes procedimentos mostraram que o dialeto apresenta uma estabilidade na marca dialetal, não sugerindo nenhuma mudança em sentido contrário.

1.2.6. Rumeu (2012)

O trabalho de Rumeu (2012), com objetivo de seus estudos é depreender os contextos estruturais e sociais favorecedores à aplicação das regras variáveis de abaixamento e alteamento, analisa a variação das médias pretônicas na fala culta de Recife – PE, tomando como base os dados do projeto NURC, extraídos de 6 entrevistas realizadas com homens e mulheres distribuídos em três faixas etárias – 25 a 30 anos, 26 a 55 anos e 56 anos em diante. O corpus apresentou 600 ocorrências, 270 de </e/>, e 279 de </o/>, e mostrou variante de abaixamento como a mais produtiva entre os falantes recifenses – [O] 42% e [E] 44%.

Os resultados de Rumeu (2012) apontaram como favorecedores do abaixamento da vogal média anterior, dentre as variáveis linguísticas selecionadas, a vogal anterior, o timbre do seguimento tônico, o ponto de articulação do segmento precedente à pretônica, e o modo de articulação do seguimento subsequente à pretônica. Destes fatores favorecedores: vogais

baixas e médias, labiais, laterais e vibrantes. Em relação à vogal média posterior, os resultados apresentaram os seguintes grupos de fatores como significantes: timbre do seguimento tônico, modo de articulação do segmento precedente à pretônica. Desses grupos, os fatores favorecedores foram: vogal baixa, grupo consonântico e zero, nasal e fricativas.

Dos fatores sociais, tanto para </e/> quanto para </o/>, os homens mais velhos e as mulheres mais jovens preferem o abaixamento. Com isso o autor afirma não haver tendência, no dialeto recifense, à perda do abaixamento vocálico pretônico, visto ser esta variante a de maior produtividade no dialeto.

Rumeu (2012) conclui, ao analisar os resultados em comparação a outros estudos por citados em sua pesquisa, que o dialeto de Recife – PE, se enquadra na divisão proposta por Nascentes (1953) que caracteriza os falares do Norte – no caso o Nordestino – como os que estão mais propensos a realizar as vogais pretônicas como vogais abertas.

1.2.7. Rezende (2013)

Rezende (2013) trata do fenômeno nas médias pretônicas de Monte Carlos/MG. O trabalho, de abordagem variacionista, analisa um corpus de 6.963 ocorrências, 635 ocorrências com a realização de [ɛ] e 402 com a realização de [O], que correspondem a 13,1% do total de ocorrências, coletadas a partir de 24 entrevistados nascidos na localidade e distribuídos em sexo, faixa etária (15 a 25 anos, 26 a 49 anos, acima de 49 anos) e grau de escolaridade (0 a 11 anos de estudo e com mais de 11 anos de estudo).

Como variáveis linguísticas foram selecionadas: modo de articulação do contexto precedente; ponto de articulação do contexto precedente; modo de articulação do contexto seguinte; ponto de articulação do contexto seguinte; altura da vogal da sílaba tônica; posição articulatória da vogal da sílaba tônica; qualidade da vogal da sílaba tônica; distância da vogal média pretônica com relação à sílaba tônica; distância da vogal média pretônica com relação ao início da palavra; tipo de sílaba da vogal pretônica e item lexical.

Os resultados do estudo apontaram que a variável /o/ é mais propícia do que /e/ ao abaixamento, que é favorecido pela presença de vogais baixas na sílaba tônica. Entre os fatores que favoreceram o abaixamento, o estudo apontou vogais nasais na sílaba tônica, sílabas pretônicas terminadas em consoante, o fator distância zero. Em relação ao modo de articulação seguinte, os resultados mostraram que as consoantes seguintes nasais, líquidas e a tepe favoreceram o abaixamento de /e/, e apenas a consoante tepe mostrou-se significativa para a realização de [O]. Em relação ao contexto precedente, consoantes nasais e a pausa

foram considerados favorecedores do abaixamento de /o/, assim como as consoantes pós- alveolares, as palatais e as labiodentais. Já em relação a /e/, no mesmo contexto, somente as consoantes líquidas favoreceram a realização de [E]. O tipo de sílaba pesada também se constituiu como outro fator favorecedor do abaixamento, tanto de /e/ quanto de /o/.

No que se refere aos fatores sociais, o estudo revelou que os homens utilizam mais o abaixamento e que os informantes acima de 49 anos se mostraram mais propensos a utilizar a regra. Quanto à escolaridade, os resultados mostraram que aqueles que possuem de 0 a 11 anos de escolarização são os que mais favorecerem o abaixamento.

Rezende (2013) afirma que o abaixamento no dialeto de Monte Carlos é motivado por harmonia vocálica por meio do traço [+ aberto 3], utilizando a teoria de fonológica da Geometria de Traços, proposta por Clements (1985, 1989, 1991) e conclui que, embora se possa atribuir o abaixamento à regra da harmonia vocálica, não se pode afirmar que aquele dependa apenas da presença de [E] ou [O] em sílaba tônica, já que nem todos os informantes realizaram o abaixamento em todas as palavras.

1.3. A REALIZAÇÃO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO DIALETO DO

Documentos relacionados