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Em Ética a Nicômacos (2001), Aristóteles dissertou acerca da justiça, das virtudes, dos vícios, do justo-meio e da eudaimonía. Tais critérios interpenetraram-se na edificação de sua construção ética, solidificando um importante e inspirador referencial teórico. Ética a Eudemo, Ética a Nicômaco e Grande ética são livros que compõe o corpus de textos sobre filosofia e Ética de Aristóteles (HÖFFE, 2008).

Aristóteles entende que a ética constitui-se na relação com o outro e compreende a justiça como uma virtude superior, capaz de viabilizar esta inter- relação. Para ele, a justiça é marcada por normas legais, flexibilizadas conforme as condições sociais. A virtude ou a excelência moral não são características naturais do homem, mas conquistas que se dão pela práxis, educação e pelo hábito, cujo fim é a felicidade (SILVEIRA, 2001). O objetivo da ética é delimitar o bem supremo, a eudaimonia – felicidade – viabilizada pela vigência de um bom governo à cidade. Assim, Aristóteles foi preparando a transição para a Política, obra em que discorre acerca do melhor formato de governo, capaz de assegurar esta meta.

As boas e justas ações, investigadas pela ciência política, são concebidas como variadas e não naturais, sendo constituídas pela via das convenções. Tanto a ética como a filosofia política aristotélica ocupam-se com a praxis, Aristóteles busca a intenção prática por via do conceito, argumento e determinação de princípios. Considera a felicidade como o fim de toda a ação humana, a excelência. Seu alcance se dá por meio do exercício da virtude, cujo fim é o bem supremo. Contudo, observam-se divergências incompatíveis com o significado de felicidade. Alguns a relacionam à riqueza, às honrarias e ao prazer; outros, lhe conferem diferentes graus de variância, dependendo da situação posta. A vida de prazer converte-se numa vida de entrega a paixões humanas, própria dos escravos e da grande massa humana, bens que, segundo Aristóteles, facilmente podem ser desapropriados (ARISTÓTELES, 2001). Os bens da vida humana são aqueles que incidem na eudaimonia, da mesma forma, o mais perfeito bem na mais perfeita eudaimonia. A eudaimonia é a atividade da alma segundo a virtude perfeita. Aristóteles entende que a vida

de prazer identifica-se com a vida política e de contemplação (VAZ, 1999). A ligação entre o bem e a eudaimonia recai sobre o tema da liberdade. Aristóteles entende que o critério para avaliar a medida da liberdade presente na praxis é o conhecimento do Bem e o agir conforme este Bem.

Analisando o bem universal, o Estagirita observa que não se configura em uma generalidade universal, pois cada bem encontra-se atrelado a uma ciência. Cada ciência adere a um bem revestido por finalidades – na medicina é a saúde; na estratégia, é a vitória. Destas finalidades, o fim último corresponde ao bem supremo. É no bem supremo, na finalidade última, que se encontra a felicidade. A felicidade deve ser escolhida pelo que é, não por formas de excelência – honrarias, prazer, inteligência. A felicidade auto- suficiente denota o fim visado pelas ações, não cabendo estabelecer correlações ou comparações, pois se assim fosse, não seria auto-suficiente.

Os bens eram divididos em exteriores e da alma ou do corpo. Os bens da alma correspondem aos mais verdadeiros, pois é ela quem ordena as ações e as atividades da alma ao encontro da felicidade. A atividade, conforme a excelência, é a marca da felicidade. Estas ações presentificam-se, no mais elevado grau, nos atributos do belo e do bom. Os bens exteriores, complementares e indispensáveis à felicidade, agem como mediadores das belas ações. Em alguns momentos, estes bens podem ser incorporados pelos amigos, pelas riquezas e pelo poder político; em outros, pela beleza, pelos filhos, pela aparência ou pela condição de nascimento. A felicidade vai se revelando como um híbrido entre a ventura e a excelência (ARISTÓTELES, 2001).

Aristóteles questiona os critérios para a aquisição da felicidade, afastando-os de uma simples relação com a sorte e sugerindo serem fruto de um esforço, próprio do homem, com capacidade para a excelência. Assim, a felicidade converte-se em uma atividade da alma, conforme a excelência. A ciência política, que formata o Estado, participa deste objetivo final, pois compete a ela determinar aos cidadãos quais são as boas ações, trabalhando o caráter e os tornando bons. As atividades por excelência diferem-se das demais, pela permanência e durabilidade. O homem feliz, por sua estabilidade,

sempre suporta dignamente as vicissitudes da vida e jamais pratica ações ignóbeis (ARISTÓTELES, 2001). Silveira (2001) interpreta o estudo da felicidade, desenvolvido por Aristóteles, definindo-a como um fim que é alcançado através da prática das virtudes, na relação entre homem e sociedade, essência que funda a ética.

Aristóteles compreende a ética a partir do éthos - descrito como a ação pertinente ao homem e às estruturas histórico-sociais determinadas - dos costumes, da vida em sociedade, estendendo-se às instituições que dão sustentação aos modos de viver. A partir desta perspectiva, o cidadão torna-se eticamente virtuoso, quando sua conduta corresponde ao proposto pela pólis que, por conter a vida social, transforma-se em espaço privilegiado para o bem supremo (SILVEIRA, 2001). Concebe o homem como um animal dotado de linguagem e razão – logos - assim como de inclinações e paixões (VAZ, 1999). A razão do homem o conduz acertadamente, através da antecipação do bem ao qual se move, a práxis. Esta atitude racional o leva ao encontro da excelência, também lida como virtude (aretê).

Atribuindo a cada homem a responsabilidade por seus atos, Aristóteles (2001) subdivide as ações em voluntárias e involuntárias. Tudo o que for realizado pela via da coerção ou ignorância é contemplado pela involuntariedade; já quando a ação é originária de uma vontade espontânea, compreende-se pela voluntariedade.

Aristóteles (2001) diferencia dois tipos de excelência, aquela caracterizada pelas virtudes intelectuais e as determinadas pelas virtudes morais, ou, como acrescenta Silveira (2001), as virtudes dianoéticas e as

virtudes éticas. Nenhuma destas virtudes é natural, pois aquilo que é natural

não muda com o hábito e, as virtudes são firmadas pelo costume. Assim, analisando os vícios por excesso e por deficiência, Aristóteles (2001) enumera as virtudes, demarcando-as como o meio termo entre dois extremos. O meio termo, ou justo meio, revela uma condição de excelência entre os vícios ou deficiências morais. No entanto, não faz referência a critérios quantitativos, pois visa uma situação intermediária.

As virtudes éticas, foco da análise que se segue, são oriundas do costume. Desta forma, através de ações justas, o sujeito torna-se justo. Observa-se que tais virtudes encontram-se envoltas pelo sentimento e pela conduta.

A excelência moral submete-se à reta razão, que depende de cada indivíduo, por sua singularidade. Logo, as virtudes éticas correspondem aos costumes. Quando há excesso ou vício, inexiste a virtude. Aristóteles discute uma série de virtudes éticas, dissertando acerca das possibilidades de excelência ou deficiência.

Com base na apropriação das virtudes éticas aristotélicas, propõe-se o detalhamento das diferentes disposições morais categorizadas pela excelência moral ou pela deficiência moral. A deficiência moral é caracterizável pelo vício por excelência ou por deficiência, enquanto a excelência moral pela virtude. O resultado do exercício da virtude em sua totalidade é na perspectiva de Aristóteles a justiça, que reflete na forma perfeita de virtude. A justiça se relaciona ao próximo, devendo ser orientada pelo que é vantajoso ao outro, seja ele um governante, um companheiro ou uma comunidade.

O fim é caracterizado pela perfeição do agente pelo conhecimento da natureza e das condições que tornam melhor o seu agir. A práxis se enquadra no objeto de um saber, da Ética, “que expõe a natureza e as condições de seu operar segundo o critério do melhor, da razão” (VAZ, 1999)

Deficiência moral – Vício por excesso Temeridade

É uma característica envolta pelo excesso, própria das “pessoas excessivamente confiantes em relação ao que é temível” (ARISTÓTELES, 2001, p.61). Aristóteles (2001) estabelece uma relação entre os temerários, os jactanciosos e os meros simuladores de coragem. Os temerários, desejosos do

não mantêm uma postura firme frente à sucessão de fatos, a menos que estejam confiantes em si. Se, por um lado, anseiam pelo perigo, quando deparados com o perigo real, recuam. Os temerários convertem-se em jactanciosos e simuladores de coragem, visto que desejam se aproximar dos caracteres referentes à coragem.

Concupiscência

Relaciona-se ao excesso perante aquilo que é prazeroso (ARISTÓTELES, 2001, p.68). Diz respeito àquelas pessoas que se deleitam com sensações que lhes inspiram desejos. Aristóteles (2001, p.66) cita o deleite com o odor dos alimentos ansiados. Neste ciclo de desejos, os concupiscentes, independente do ônus, são conduzidos na direção de suas pretensões, sofrendo frente a frustrações. Ao mesmo tempo, destaca que existem desejos particulares e outros generalizados, como os naturais – comer e beber. Nestes, o desvio possível, para além da moderação, caracteriza-se pelo excesso. Desejosos de tudo o que possa reverter-se em prazer, os concupiscentes sofrem enquanto não o atingem.

Prodigalidade

Esta característica denota pessoas incontinentes, que esbanjam suas posses, arruinando-se (ARISTÓTELES, 2001, p. 71). A prodigalidade se configura no excesso em relação ao uso da riqueza. São chamados de pródigos, também, aqueles que gastam suas posses a favor da própria concupiscência. Logo, são autores de sua falência, fruto das dispendiosas aplicações de seus recursos.

Vulgaridade

É a disposição daquele cuja tendência é evidenciada pelo excesso, permeada pelo exibicionismo. Estas pessoas, focadas nos objetivos, não se preocupam com os gastos, mas com a ostentação viabilizada pelos mesmos.

Pretensão

Conhecidas pela insensatez e pela ignorância, as pessoas com tal disposição moral revelam uma inclinação para pretensões desproporcionais, ultrapassando suas reais possibilidades. No entanto, mesmo ambicionando grandes aquisições e inclinadas ao excesso, suas aspirações não superam as de uma pessoa magnânima. Tais pessoas são exibicionistas, desejam que sua prosperidade seja avistada e reconhecida por todos.

Irascibilidade

São pessoas que se encolerizam facilmente, sendo consideradas insensatas. Distintas situações podem ser palco para esta deficiência, marcada pelo excesso. “As pessoas irascíveis se encolerizam rapidamente com as pessoas erradas, e mais que o razoável, mas sua cólera cessa prontamente” (ARISTÓTELES, 2001, p.83).

Jactância

É a marca das pessoas que se dirigem ao alcance da glória e do reconhecimento. Revelam-se sempre desejosas de mais notoriedade e glória. Assim, se já a possuem, desejam mais (ARISTÓTELES, 2001, p.86).

Bufão vulgar

As pessoas dotadas desta deficiência moral “desejam, independente da qualidade de suas palavras, despertar o riso” (ARISTÓTELES, 2001, p.87). Desta forma, revelam-se inconvenientes. Não contendo o desejo de gracejar e de provocar risos, valem-se de si ou dos outros.

Amizade por interesse

As pessoas com disposição para a amizade por interesse não possuem uma afeição natural para o amor em relação ao outro, já que tal afinidade é motivada apenas pelo proveito que o outro poderá lhe proporcionar. Estas pessoas amam em função do retorno decorrente desta relação, e não pela pessoa que está no elo desta relação. Tais amizades são ocasionais e mantidas pelo benefício do resultado, sendo então edificadas sobre uma base frágil, facilmente desfeita, bastando um rompimento entre os interesses, correlacionando-se, portanto, com a prática utilitarista. Da mesma forma que as pessoas mudam, os interesses também são reformulados, o que reafirma a fragilidade destas estruturas de amizade. A duração da amizade interesseira depende daquilo que cada um dos envolvidos recebe, pressupondo que estes não são tão amigos quanto aqueles movidos pelo prazer, pois quando o interesse acaba, a amizade também finda. Na amizade por interesse, a pessoa não necessita ser boa para vivenciá-la, pode ser má, pois o que está em jogo é o proveito recíproco. Este tipo de amizade é característico dos mercenários. As queixas, recriminações e desentendimentos fazem-se vistas com maior freqüência neste tipo de amizade, pois os benefícios nem sempre são recíprocos. Como exemplo, Aristóteles (2001, p.169) cita o caso daquele que sempre deseja maiores vantagens e acredita estar recebendo menos que o devido, suscitando divergências. Quando esta situação configura-se, observa- se uma situação de superioridade de um dos envolvidos (ARISTÓTELES, 2001, p.171). A amizade por interesses pode fundamentar-se em aspectos morais ou legais. Enquanto o tipo legal é baseado em condições pré- determinadas, como normas e códigos a serem respeitados; o tipo moral não

determina regras, no entanto, cada uma das partes deseja obter vantagem em relação à outra.

Ganância

Esta é uma disposição das pessoas más, aquelas que não podem exercer a amizade perfeita. Sempre desejando obter para si um proveito além do condigno, criticam o próximo, interpondo-se em seu caminho. Incoerentemente, coagem o outro a agir conforme o justo, sem que, no entanto, predisponham-se à justiça. “Reservam a si, sempre a maior parte das riquezas; honrarias e os prazeres do corpo” (ARISTÓTELES, 2001, p.183), estando na maioria das vezes entregues a suas paixões – elemento irracional da alma. Tais atitudes correspondem àquelas que podem ser esperadas de uma pessoa ególatra.

Deficiência moral – Vício por deficiência Covardia

Esta disposição, motivada pelo sofrimento (ARISTÓTELES, 2001, p.68), configura-se em um temor excessivo a diversas situações, de forma inapropriada. Esta disposição denota-se junto àquelas pessoas notadamente temerosas, deficientes dos caracteres pertinentes à coragem, anteriormente descritos. Temendo tudo, o covarde configura-se como um homem sem esperanças.

Insensibilidade

Difícil de encontrar pessoas isentas de sensibilidade. Esta deficiência moral caracteriza-se pela indiferença frente a conquistas ou derrotas, demonstrando a ausência de desejos prazerosos.

Avareza

Segundo Aristóteles (2001), tal disposição moral é incurável, pois se encontra notadamente atrelada à natureza humana. A avareza caracteriza-se pela inclinação do homem em acumular riquezas e por sua dificuldade em desprender-se de suas posses. Tais posições podem aparecer combinadas ou individualizadas.

Mesquinhez

A mesquinhez se caracteriza por uma disposição reprovável da alma. Aquele que se comporta conforme seus desígnios é tendencionado à redução de custos insignificantes, determinando a falta e comprometendo o bom resultado final da proposta (ARISTÓTELES, 2001, p.78). O mesquinho acredita estar sempre gastando além daquilo que era previsto. Faz, portanto, inúmeros cálculos para que possa controlar suas despesas. No entanto, lamenta todos seus gastos.

Pusilânime

Característica que determina as pessoas que aspiram aquém de suas potencialidades ou, ainda, desenvolvem comparações nas quais se subjugam frente ao magnânimo. As pessoas pusilânimes desconsideram seu potencial para aquilo que lhe é digno, privando-se do que lhe pode ser favorável, fato que faz inferir um desconhecimento de si. Denotam retração frente a “ações e propósitos nobilitantes por se julgarem indignas deles, privando-se até dos bens materiais” (ARISTÓTLES, 2001, p.82).

Apatia

Característica determinada pela falta, própria das pessoas que não se encolerizam. Confere-se a estas pessoas uma inexistência da sensibilidade, uma vez que não se impõem, nem mesmo sofrem frente a uma ofensa e, por não se encolerizarem, supõe-se uma incapacidade para se defenderem.

Falsa modéstia

Característica das pessoas que minimizam suas qualidades, pretendendo o reconhecimento e o apreço do outro (ARISTÓTELES, 2001, p.86).

Enfadonho

São pessoas com dificuldade em conviver socialmente, manifestando-se constantemente insatisfeitas. “Não conseguem fazer gracejo e não suportam aqueles que o fazem” (ARISTÓTELES, 2001, p.87).

Amizade por prazer

A amizade baseada no prazer é mantida pela sensação que o outro possibilita. Assim, o mesmo raciocínio aplicado à amizade por interesse mantém-se na amizade por prazer. Aristóteles (2001, p.155) exemplifica, ilustrando que aqueles que amam por prazer, comprazem-se na sensação agradável com que são agraciados. Logo, não é pelo caráter que se gosta de uma pessoa espirituosa, mas por aquilo que ela propicia. Da mesma forma que a amizade por interesses, a amizade sustentada pelo prazer também é frágil e, sabendo-se que as pessoas transformam-se com o tempo, podem deixar de ser úteis e também de ser agradáveis, rompendo o sentimento. Tais amizades são notadamente vivenciadas por jovens, pois agem sob a força das emoções,

direcionando-se aquilo que lhes proporciona prazer, caracterizando sua efemeridade. Este tipo de amizade revela semelhança com a amizade perfeita, pois pessoas boas também são agradáveis e generosas. Contudo, como na amizade por interesses, a amizade por prazer pode se dar entre diferentes combinações de sujeitos – pessoa boa-pessoa boa; pessoa boa-pessoa má; pessoa má-pessoa má – pois seu valor encontra-se no resultado almejado.

Ególatra

Diz-se daquele que ama mais a si que os outros. Tais pessoas costumam conduzir suas ações conforme aquilo que lhe é nobilitante, buscando melhor satisfazer seu lado dominante, rendendo-se a ele. (ARISTÓTELES, 2001, p. 184).

Excelência moral – Virtude Coragem

É compreendida como o meio termo entre a covardia e a temeridade. O homem porta-se de maneira corajosa em diferentes circunstâncias. O homem corajoso é habilitado a temer aquilo que se encontra além da resistência humana. No entanto, reage apoiado na razão, que lhe assegura a honra, um dos fins da excelência moral. Tendo uma disposição para a esperança, revela- se confiante. Uma morte decorrente de situações nas quais o perigo é eminente, como em uma guerra, adquire um caráter nobilitante. O homem corajoso pode temer e enfrentar determinadas ocorrências. No entanto, suas inclinações são guiadas pela razão e em conformidade com a disposição moral correspondente. Assim, nos momentos que antecedem uma ação, revelam tranqüilidade e no momento da ação, excitação (ARISTÓTELES, 2001, p.61).

Moderação

Esta virtude caracteriza-se pelo meio termo daquilo que tangencia os prazeres do corpo. A visão e a audição não correspondem aos prazeres do corpo; o mesmo ocorre com o odor, quando casualmente apresentado. A pessoa que age conforme esta disposição moral é capaz de abdicar daquilo que lhe é agradável, convivendo com sua falta.

Liberalidade

A pessoa liberal é aquela que gasta conforme suas verdadeiras posses, sem exceder, cumprindo com objetivos moderados. Tais pessoas dispõem de valores certos, sem que isso lhes incite sofrimento, sendo marcadas pela excelência moral, uma vez a observância para com o justo meio. A pessoa liberal não atribui uma superestima à riqueza. Aristóteles (2001, p.72) ressalta que o homem liberal não deseja ser rico. Age, então, generosamente para com suas posses, fazendo ofertas coerentes, direcionando-as a quem merece e no momento propício. A liberalidade se configura na excelência moral cuja disposição encontra-se no meio termo entre o dar e o obter.

Magnificência

Apesar de semelhante à liberalidade, relaciona-se àquilo que corresponde aos gastos. Esta disposição relaciona-se a um “dispêndio consentâneo com seus objetivos em grande escala” (ARISTÓTELES, 2001, p. 75). O magnificente investe grandes valores em objetos que visam resultados equiparados ao que foi dispendido. Assim, o título de magnificente é atribuído a quem possui grandes bens e seus investimentos são proporcionais e compatíveis. Uma pessoa com poucos recursos não contempla os requisitos para a magnificência, visto não possuir recursos para grandes feitos.

Magnanimidade

As pessoas magnânimas aspiram grandes conquistas e atributos. Tais pretensões encontram-se na medida de suas potencialidades, demarcando a excelência moral e o meio termo justo em relação ao pretensioso e ao pusilânime (ARISTÓTELES, 2001, p.78).

Amabilidade

“É o estado intermediário em relação à cólera” (ARISTÓTELES, 2001, p.83). Aqueles que são naturalmente agradáveis, isentos de intenções futuras, são amáveis. No entanto, as pessoas amáveis podem se encolerizar justamente, quando, orientadas pela razão, pois se revelam dignas de louvor.

Sinceridade

Característica dotada de excelência moral. As pessoas sinceras o são com suas ações e com suas palavras. No entanto, podem divergir de uma verdade, no sentido de atenuá-la, compatibilizando-a com a conveniência (ARISTÓTELES, 2001, p.86).

Espirituosidade

As pessoas espirituosas são aquelas que gracejam com bom gosto, denotam presença de espírito, fazendo verbalizações pertinentes e oportunas.

Amizade perfeita

A amizade é descrita por Aristóteles (2001) como uma das formas de excelência moral. A disposição amistosa revela-se na mais autêntica forma de

justiça, portanto, caracteriza-se por sua notabilidade. A amizade aplica-se a pessoas, pois requer a reciprocidade de afeição, ou a boa vontade recíproca, estando imune a calúnias. A amizade perfeita se estabelece entre pessoas boas e semelhantes; elas são igualmente agradáveis e úteis, desejam o bem uma da outra irrestritamente pelo que são, ao mesmo tempo em que se beneficiam mutuamente, firmando uma relação duradoura e sincera. Em tais amizades, inexistem queixas e desentendimentos, pois predomina o desejo de fazer o bem um ao outro. Aristóteles (2001) supõe que a amizade é uma disposição de caráter e, quando fundada nela, é duradoura. Mas para que esta se confirme, requer-se tempo e intimidade, elementos que proporcionam a

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