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Terminado o 3.º ciclo, que opções estão ao dispor dos alunos? Existe uma panóplia de opções, o difícil pode ser escolher. Claro que a oferta está dependente da instituição. Mas de um modo geral têm ao seu dispor os clássicos cursos Científico-Humanísticos e cursos profissionais e os menos comuns cursos de aprendizagem, cursos tecnológicos, curso artístico especializado em regime integrado, cursos vocacionais e cursos de educa- ção e formação.

Ao longo da última década, verificou-se que os jovens continuavam a optar maiori- tariamente pela frequência dos cursos Científico-Humanísticos, oferta educativa vocaci- onada para o prosseguimento de estudos de nível superior. No ano letivo 2017/2018, con- cluíram o ensino secundário 78 901 jovens: 47 312 em Cursos Científico-Humanísticos, 26 931 em Cursos profissionais, 2010 em Cursos de aprendizagem, 1154 em Cursos tec- nológicos, 734 em Artístico especializado em regime integrado, 515 em Cursos vocacio- nais e 245 em Cursos de educação e formação (Estado da Educação, 2018: 53). Dentro destes cursos existe uma miríade de opções. Para o ensino profissional, por exemplo, no ano letivo 2016/2017, no Continente contabilizavam-se 2849 ofertas (Estado da Educa- ção, 2017: 120).

Os cursos Científico-Humanísticos constituem uma oferta educativa vocacionada para o prosseguimento de estudos de nível superior universitário ou politécnico. Têm a duração de 3 anos letivos (10.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade) e conferem diploma de conclusão do ensino secundário, bem como o nível 3 no âmbito do Quadro Nacional de Qualificações (QNQ). Os cursos Científico-Humanísticos têm quatro tipologias: Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas, Línguas e Humanidades e Artes Visuais. Os planos de estudo integram uma componente de formação geral, comum aos quatro cursos, e uma componente de formação específica consistente com o domínio do respetivo curso (DGE, 2018).

Dado o propósito do curso, questionei os alunos se pretendiam ou não prosseguir estudos e qual a área, se o ensino secundário não fosse obrigatório se estes estariam ou não interessados em prosseguir estudos, neste caso para o Ensino Secundário.

Esta última questão poderá parecer trivial, mas quando iniciei os estudos, o meu objetivo era unicamente concluir o 9.º ano. Aliás, a escolaridade obrigatória até ao 12.º ano só aconteceu em 2009, quando eu já estava muito próximo de terminar o meu ciclo de estudos. Durante esse período nunca ponderei em prosseguir estudos, não era tema à mesa de jantar, nunca foi, como nunca foram as roupas de marca, os telemóveis, os com- putadores, as viagens de finalistas. Não foram porque sabia perfeitamente que os meus pais não tinham possibilidades para tal. Na minha família subsistem vários membros da minha geração que não conseguiram concluir o 3.º ciclo e, percentualmente, o número de pessoas que frequentou o ensino superior ronda aproximadamente o 1%, não mais do que

isso. Aliás, pensando no geral, por que razão é que o ensino continua a ser obrigatório? Porque continuam a existir famílias que desprezam a influência da escola e não lhe atri- buem qualquer utilidade.

Gráfico 1 – Número de alunos matriculados nos cursos Científico-Humanísticos, por curso. Por- tugal.

Fonte: DGEEC, 2018 Fonte: CNE

Gráfico 2 – Percentagem de alunos matriculados nos cursos Científico-Humanísticos, por curso e NUTS I e II (2016/2017)

Como é possível concluir, as Línguas e Humanidades encontram-se em segundo lu- gar nas escolhas dos alunos. Se olharmos para Portugal como um todo, (28%, gráfico 2), mas se observarmos por região, as regiões autónomas destacam-se, quer na Região Au- tónoma dos Açores, quer na Região Autónoma da Madeira onde a escolha recai em 40% e 34%, respetivamente. O que é bastante curioso tendo em conta a desvalorização das humanidades "all over the world, programs in arts and the humanities, at all levels, are being cut away, in favor of the cultivation of the technical" (NUSSBAUM, 2010: 23).

Em primeiro lugar, com uma diferença muito substancial, estão as Ciências e Tec- nologias (52%, gráfico 2). Porém, desde o ano letivo 2013/14, é possível verificar um aumento percentual de alunos que optam pela via das Línguas e Humanidades e pelas Ciências Socioeconómicas e uma redução dos que escolhem Artes Visuais. Portanto, pela lógica de muitos, este pode ser um sinal evidente de que há mais pessoas a tentar escapar da Matemática. Este aumento pode ser circunstancial, mas espero que não seja apenas fogo de vista, e que o curso nunca receba a herança de Teodorico da Relíquia, uns óculos “para ver o resto de longe” (QUEIROZ, 1984: 262).

Para compreender se essa informação poderá fazer ou não algum sentido, pedi aos alunos que estão inseridos no nosso estudo empírico para indicarem quais foram as razões que os levaram a eleger este curso e, num segundo momento, pedi-lhes para nos assina- larem quais foram as suas notas finais no final do 3.º ciclo a todas as disciplinas.

Apesar de, na segunda parte, dedicar-me à análise quantitativa de dados onde se pode aferir o sucesso ou insucesso escolar, não nos devemos esquecer que são apenas números. O dia a dia na escola, as experiências e aprendizagens vividas pelos alunos são muito mais do que uma nota na pauta exposta no final do ano, depois de ser discutida em Con- selho de Turma. Às vezes, a sociedade parece esquecer-se do tempo que os alunos passam nas escolas. E a influência da mesma, que marca de forma profunda a vida de todos eles. Há quem diga, de forma curiosa, que este é o trabalho deles, que não precisam de se preocupar com mais nada, porque não precisam de trabalhar. A questão é que frequentar a escola é efetivamente um trabalho, mas um trabalho não remunerado.

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