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O currículo é o reflexo da política educativa, das necessidades do país, das limi- tações socioeconómicas do meio e da metodologia científica de cada disciplina. É inegá- vel que faz a ponte entre o que se pretende que se ensine e a prática letiva, ou seja, aquilo que os alunos devem aprender e interiorizar, daí a sua importância como instrumento de controlo social.

No caso dos cursos Científico-Humanísticos, há quatro disciplinas que são trans- versais, no âmbito da formação geral: o Português, a Filosofia, Língua Estrangeira (Ale- mão, Espanhol, Francês ou Inglês) e a Educação Física. O que varia é a formação especí- fica: no caso do curso de Línguas e Humanidades a disciplina trienal é a História A. No 10.º e 11.º anos, os alunos têm ainda de optar por duas disciplinas: a Geografia A, o Latim A, uma Língua Estrangeira I, II, III, a Literatura Portuguesa e a Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS). Enquanto no 12.º ano necessitam de escolher duas disciplinas e têm as seguintes opções: a Filosofia A, a Geografia C, o Latim B, as Línguas Estran- geiras I, II ou III, a Literatura de Língua Portuguesa, a Psicologia B, Sociologia, a Antro- pologia, as Aplicações Informáticas B, a Ciência Política, os Clássicos da Literatura, o Direito, a Economia C e o Grego. No entanto, as opções estão dependentes do projeto educativo da escola.

O XXI Governo Constitucional considerou que os documentos curriculares, apli- cados ao longo das últimas três décadas, careciam de articulação entre si. Neste quadro, tornou-se premente uma reorganização curricular, em convergência com o Perfil dos Alu- nos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA). Dessa articulação resultaram as Aprendi- zagens Essenciais (AE) que correspondem a um tronco comum de conhecimentos a ad- quirir, identificados como os conteúdos de conhecimento disciplinar estruturado (Despa- cho n.º 6944-A/2018).

No caso particular da História, as Aprendizagens Essenciais aproximam-se muito dos objetivos propostos pelo programa de 1991. "Todo o documento gira em torno de Princípios, da Visão e de Valores, campos fulcrais para a exploração de competências que não devem, nem podem estar associadas a áreas disciplinares específicas, pois é função

de todos os campos disciplinares educar para que o aluno seja um “animal social” (COSTA, 2019: 45).

O Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória foi inspirado na obra de Edgar Morin, várias vezes citada ao longo deste trabalho, Sete saberes para a Educação.

O Perfil dos Alunos aponta para uma educação escolar em que os alunos desta geração global constroem e sedimentam uma cultura científica e artística de base humanista. Para tal, mobi- lizam valores e competências que lhes permitem intervir na vida e na História dos indivíduos e das sociedades, tomar decisões livres e fundamentadas sobre questões naturais, sociais e éticas, e dispor de uma capacidade de participação cívica, ativa, consciente e responsável (PA, 2017: 10).

Todas as disciplinas procuraram adaptar-se a este novo modelo, com um perfil mais humanista. Edgar Morin dizia que “é importante integrar na educação do futuro a contribuição inestimável das humanidades, não somente a Filosofia e a História, mas tam- bém a literatura, a poesia, as artes" (2000: 48).

Seguem-se algumas das aprendizagens essenciais das disciplinas opcionais que os alunos que optem pelo curso de Línguas e Humanidades podem ter acesso.

O Latim A e o Latim B podem desempenhar um papel fundamental na formação do cidadão de hoje e do futuro, pois graças à sua especificidade põe em contacto os alunos com um conjunto de valores humanos que são permanentes. Contribuiu também para uma competência comunicativa fundamentada, que se reflete em várias áreas do saber, das línguas às ciências, "tem repercussões em todas as atividades do aluno, escolares e extra- escolares, preparando um cidadão ativo, conhecedor e linguisticamente competente" (AE, Latim A, 2018: 2), enquanto o latim B "contribui [...], para a consolidação de um perfil informado, humanista e criativo, para o desenvolvimento do pensamento crítico que se pretende" (AE, Latim B, 2018: 2).

A Psicologia B visa o desenvolvimento das competências necessárias a um melhor conhecimento de si próprio e da relação com os outros e com o mundo (AE, Psicologia, 2018: 1).

Em Sociologia, "o conhecimento de fenómenos de natureza diversa e, muitas ve- zes contraditórios, que coexistem nas sociedades contemporâneas como a globaliza-

ção/aculturação, a (re)afirmação das identidades culturais, a constante mudança e a incer- teza, nas sociedades onde persistem desigualdades sociais e formas de discriminação" (AE, Sociologia, 2018: 2).

A Aplicações Informáticas B articula conceitos de programação com os diferentes tipos de media, tendo como objetivo a sua integração e aplicação no desenvolvimento de projetos multimédia (AE, Aplicações Informáticas, 2018: 1).

"[A] Geografia [A] é a disciplina científica que se distingue e caracteriza pelo pensamento espacial, que pode ser definido como o conjunto de competências associadas ao conhecimento do território, à utilização de ferramentas de representação de informação sobre factos e processos numa base espacial, promovendo uma visão multiescalar e inte- rescalar." (AE, Geografia A, 2018: 1). A Geografia C "aborda as transformações do mundo que acentuam a mutabilidade, a imprevisibilidade e a mobilidade, parâmetros de- finidores da nossa existência social. Neste contexto, as migrações, os grandes blocos eco- nómicos, as alianças geoestratégicas e a sua variabilidade, o esforço da comunidade in- ternacional e dos seus diversos agentes para tornar a Terra um planeta mais sustentável e melhorar a vida quotidiana dos povos" (AE, Geografia C, 2018: 2).

Com o Grego, "o aluno contacta, (...), não só com uma língua nova, que enriquece as suas competências na língua materna, mas também tem oportunidade de conhecer e investigar a explicação para a língua e a cultura atuais. Esta disciplina contribui, portanto, para a formação de cidadãos mais cultos, mais conhecedores, atentos ao património e à relação entre o presente e o passado" (AE, Grego, 2018 :2).

A Literatura Portuguesa tem como finalidades "o fortalecimento dos hábitos de leitura de obras de reconhecido mérito da Literatura Portuguesa, a promoção da leitura autónoma e crítica, a formação de leitores com critérios de apreciação literária consisten- tes, a reflexão acerca do papel de cada indivíduo como cidadão integrado numa determi- nada comunidade mas que se relaciona de modo construtivo com outras pessoas de outras culturas, através do contacto com tradições literárias diferentes da portuguesa, o desen- volvimento da criatividade, através da sensibilização estética e artística" (AE, Literatura Portuguesa, 2018: 1-2).

A Matemática Aplicada às Ciências Sociais procura desenvolver a capacidade de formular e resolver problemas matematicamente, de situações reais e de desenvolver a capacidade de comunicação de ideias matemáticas. Pretende-se "com esta disciplina os alunos desenvolvam capacidades de intervenção social pela compreensão e discussão de sistemas e instâncias de decisão, participando desse modo na formação para uma cidada- nia ativa e participativa" (AE, MACS, 2018: 2).

Na Antropologia, entre outras coisas, "estudam-se as sociedades contemporâneas na sua pluralidade. É dado enfoque: à construção social dos sentidos e das emoções; às linguagens do corpo; à construção da noção de etnia e identidade, desigualdades, demo- cracia e cidadania, formas de poder, controlo, vigilância, turismo e património cultural, memória social, hegemonia e contra hegemonia" (AE, Antropologia, 2018: 2).

Clássicos da Literatura permite ao aluno um conhecimento do património literário europeu, aprofundando hábitos de leitura. São "ainda finalidades desta disciplina o de- senvolvimento de valores pessoais e interpessoais de natureza sociocultural e a promoção da educação para a cidadania, pelo contacto com tradições literárias diferentes da portu- guesa." (AE, Clássicos da Literatura, 2018: 1).

Apresentadas as disciplinas opcionais que compõem o curso de Línguas e Huma- nidades, avançaremos agora para o ensino da História. Num mundo tão competitivo, qual é a importância ou a utilidade da História para os alunos? Segundo o Professor Luís Al- berto Alves, “a sua utilidade vê-se na falta que faz àqueles que não entenderam que até o útil tem que ser belo e a beleza do presente tem os parâmetros da compreensão do passado (2009: 20).

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