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Anexo 2 Projeto de roteiro-guia aprovado para a Oficina de Lagoa Santa 708 Anexo 3 Livros-Brinquedo de mercado Acervo Pessoal.

1. CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

1.2 Caminhos de Pesquisa

Nesta fase tratamos de situar Um livro pode ser tudo e nada: especificidades da

linguagem do livro-brinquedo em suas variadas instâncias, abordando desde as principais motivações e justificativas de pertinência para a escolha, definição do corpus de análise e questionamentos que estruturam a problematização e objetivos de estudo, até uma definição

de percurso metodológico e de procedimentos de pesquisa-ação no Alfalendo 2010,6 a fim de

estabelecer trânsito por conceitos-chave que se mantêm em correspondência com os recortes fundamentais nesta pesquisa.

Um livro pode ser tudo e nada tem por propósito colocar em evidência a problematização

do lugar da categoria livro-brinquedo, seu status de objeto seriado e seus possíveis usos utilitários pedagógicos no que concerne ao acesso à linguagem e à apropriação de sentidos por crianças em fase inicial de contato com jogos de linguagem e linguagem literária.

A pesquisa se relaciona a acessos interativos, sensoriais, práticos e sociais, autônomos e mediados, de alcance a textos visuais, verbais e performáticos, expressivos em linguagem lúdica. No processo de análise documental – dos livros – alguns pressupostos acompanham a

pesquisa e na conclusão estarão sujeitos à confirmação ou à sua negação:

6 Sempre que for mencionado na tese Alfalendo o ano de observação é 2010 e a referência são os projetos do Núcleo de

Alfabetização e Letramento (NAL), coordenado pela professora Magda Soares em parceria com a Secretaria Municipal de

Educação, em Lagoa Santa. O Núcleo realizou, no segundo semestre de 2010, a Exposição Alfalendo: Viajando com asas de papel. A exposição apresentou as produções literárias da rede municipal de ensino, resultantes do trabalho do Núcleo com as professoras. Um dos estandes se chamou “livro-brinquedo” e todos os outros seis estandes eram de livros lúdicos-interativos. O Núcleo reúne semanalmente mediadores de cada uma das 19 escolas municipais da região para discussões e aprofundamento de metodologias educacionais, além de promover o incentivo à revitalização constante das bibliotecas escolares.

• Os livros-brinquedo são interativos, experimentais, sensoriais e multimodais.

• Três características fundamentais acompanham o livro-brinquedo: estímulo à leitura

experimental, interativa e autônoma.

• Há lugar para o livro-brinquedo na educação infantil.

Além disso, no desenvolvimento dos capítulos surgem reflexões específicas:

• Como usar saberes em movimento para refletir apropriações de leitura e brincadeiras

lúdicas pedagógicas?

• Ler brincando pode ser visto como um exercício de formação discursiva e de letramento

mesmo quando anterior à alfabetização?

• Quando o livro-brinquedo é só brinquedo?

• Qual a procedência majoritária dos livros-brinquedo analisados?

Imersos no universo da literatura infantil contemporânea, a pesquisa também investiga a

potencialidade da linguagem multimodal, a partir da análise de 50 livros-brinquedo de mercado (10 mantidos no miolo da tese e os demais anexos), selecionados em acervo pessoal, 10 livros-brinquedo

premiados pela FNLIJ, e 10 criações editoriais escolares de exercício pedagógico, planejadas para o Alfalendo 2010, em meio à experiência, o convívio, a seleção de textos e formatos, e o resultado de produção cultural7 das professoras do Núcleo, após encontros que reuniram inicialmente 20

professoras de 19 escolas municipais, se ampliaram e repercutiram na apropriação de sala de aula.8

A pesquisa transita pelos campos da educação, linguagem e comunicação para tentar alcançar noções de anterioridade e interdependência que nos ajudam a compreender o potencial de ganho de espaço e de adesão dos denominados livro-brinquedo.

Os livros premiados pela FNLIJ e citados no corpus da tese, classificados na categoria livro-brinquedo a partir dos anos 90 pela Fundação,9 são especialmente relevantes no estudo de conteúdo porque expressam um padrão e uma demanda, levantam características específicas na

7 Produção cultural no Alfalendo 2010: interação com textos, produção de textos e de ilustrações, registro num formato, exer- cícios de coerência textual, escrita coletiva, reelaboração da escrita, ampliação de repertório, elaboração narrativa engajada a um gênero de escolha, produção de um livro, divulgação dos textos na Exposição.

8 Para a amostra não parecer viciada por escolhas de livros-brinquedo selecionados pela pesquisadora, mas sim representativa, é que optou-se pela observação e análise dos livros legitimados pelo Alfalendo 2010 e premiados pela FNLIJ, instituição de

respaldo nacional, filiada ao IBBY.

9 Por ocasião da banca de qualificação, o contato com o professor Luis Helmeister Camargo, doutor em Teoria e História Literária, revelou que desde os anos 80 a Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil – publicação do Departamento de Biblio- tecas Infanto-Juvenis da Secretaria de Cultura da Prefeitura do município de São Paulo – faz menção ao gênero livro-brinquedo.

produção literária endereçada a pequenos leitores nacionais e representam – como amostra – parte de uma tendência mundial, ampla e dinâmica, em torno da função do livro infantil, bem cultural de transmissão, estimulante ao aprendizado lúdico.

Pelo fato da produção do livro-brinquedo ser recente em larga escala no País, até mes- mo os livros inscritos10 na seleção da FNLIJ poderiam nos ajudar a perceber como se cria um conceito, se definem e se apuram suas características, indicando os caminhos de uma noção em

construção e que, de certa forma, tem gerado uma corrida por aprimoramento nas editoras que pretendem atender o público infantil. Mas esses dados não estavam disponíveis para consulta.

Cabe ainda ressaltar para a tese a importância do conceito de literariedade, de Jonathan Culler, ainda que tal pesquisador de ponta,11 em seus estudos sobre literatura, não tenha chegado

a analisar o livro-brinquedo do século XXI.

Prévia dos capítulos

As principais fases de apresentação e indagação que alimentam os capítulos, em trajetória de pesquisa, estão descritas a seguir.

• No capítulo I, “Construção do objeto de pesquisa”, são comentados os pressupostos e objetivos que levaram à análise específica do suporte editorial livro-brinquedo. Apresenta-se

o corpus da pesquisa, mencionam-se aspectos de pertinência da pesquisa e apresentam-se os métodos, procedimentos, referências de fundamentação e critérios de análise.

• No Capítulo II, intitulado “Livro-brinquedo. Muito prazer, welcome, willkommen, bienvenue, mucho gusto”, trata-se do conceito e sua especificidade, das denominações sob influência internacional – portas de entrada de sentido –, do estatuto de um objeto

moderno serializado, da importância da imagem para a formação do pensamento e de

nomes e obras que influenciaram a arte-criação de livros-brinquedo contemporâneos. Reflete-se a persuasão na expressão visual. O livro-brinquedo é apresentado neste capí-

tulo de modo não isolado, mas interdependente no cenário de criação literária comercial e publicitária. É elaborada uma observação transversal e pontualmente retrospectiva

10 Por ocasião desta pesquisa a FNLIJ não revelou títulos, autorias e editoras dos livros inscritos e não premiados na categoria livro-brinquedo.

11 Jonathan Culler é atualmente professor de crítica literária na Universidade de Cornell. Ganhador de vários prêmios, é conside- rado um dos mais importantes críticos literários da atualidade. Até os anos 70, o campo da crítica literária estava tomado pelo estruturalismo e análise do texto em si. Culler é um dos mais eminentes representantes, a partir dos anos 80, da teoria descons- trutivista, a qual analisa o texto sob o ponto de vista do leitor e/ou considerando as reações que advém da relação com a leitura.

para nos fazer entender, inclusive, origens de denominações que hoje surgem, chama- tivas, em capas de livros-brinquedo – tais como movable book, step inside, livros flap,

volvelles etc. Tais denominações internacionais de referência nos ajudam a entender o

livro-brinquedo como um processo.

• O Capítulo III, “A linguagem veio para brincar”, reflete funções para o brincar,

desenvolve o conceito de multimodalidade e apresenta os livros de pesquisa segundo

algumas perspectivas principais: (1) observação do tratamento dado à linguagem pe-

los modos de apresentação12 e chamamento do suporte livro-brinquedo; (2) observação das temáticas; (3) observação das formas de escrita(verbal, não-verbal, mista); (4) observação dos modos de produção de sentido, considerando o livro-brinquedo vazio de brincadeiras e o livro como suporte para brincadeiras imaginárias; (5) observação do formato, resistência das obras e acessibilidade em seu conectivo ler-brincando, e (6) observação de perspectivas verificáveis de apropriação pedagógica. As observações

têm alcance a comentários de uso modelares, seriados e variáveis, via apresentação de contribuições e defasagens inferidas, adequações e inadequações das obras selecionadas.

O Capítulo III indica “Contribuições e defasagens do livro-brinquedo” (observação

focal de 10 obras de mercado dentre as 50 analisadas); a “Legitimação do livro-brinquedo pela FNLIJ” (observação de 10 obras); e “Apropriações pedagógicas do livro-brinquedo no Alfalendo 2010” (observação de 10 obras).

• Segundo o sumário, no item 3.5 aborda-se um panorama ilustrado e descritivo do

livro-brinquedo hodierno, fenômeno editorial mercadológico, de demanda nacional e internacional, circulante em livrarias e eventos literários voltados à infância. No item