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Partindo do pressuposto de que o lúdico deve ser acessível a todas as crianças em fase escolar, esta foi a primeira categoria eleita para análise. Nesta pesquisa, o ludismo esteve presente na composição das obras selecionadas, na

natureza do texto das mesmas e também nos roteiros de leitura, incluindo as atividades pedagógicas planejadas e implementadas na escola com os alunos.

Nas obras infantis selecionadas, já descritas no tópico 3.3, é possível afirmar que os títulos promovem de forma lúdica, a reflexão humana, repercutindo em cada aluno, emoções como: o encantamento, o medo, o imaginário e tantas outras, de acordo com o entendimento, as vivências e experiências de cada sujeito.

Nesse contexto, e olhando para a aplicação, descrita no tópico 4.1, a obra Quem tem medo de monstro?, de Ruth Rocha, apresenta o ludismo a partir da visualidade, ou seja, na presença de imagens engraçadas e divertidas dos personagens, apontados pelos alunos. Como exemplo, traz-se a apreensão inicial das crianças diante do “bandido terrível”, apresentado no texto, considerado um ser muito “temível pela sua voz de trovão”, mas que apesar disso, tinha “medo de bicho papão”. A situação inicial do texto repercute no aluno, possibilitando a demonstração de suas emoções, através de olhares apreensivos e reflexivos, assim como na fala de A4 que expressa sorrindo:

- Esse bandido é engraçado, tem medo de bicho papão! O desfecho divertido, possibilitado pelo viés lúdico, permite o alívio, o riso, a descontração e o desejo por outros versos do livro. Da mesma forma, o ludismo presente na sonoridade das palavras rimadas, oportuniza a introdução da leitura e da escrita, que são objetivos do 1º ano do Ensino Fundamental. Assim, os roteiros de leitura, planejados, ludicamente, permitem maior envolvimento por parte dos alunos, conforme abordaremos mais tarde.

Na aplicação, descrita no tópico 4.2, Parlendas para brincar, de Josca Ailine Baroukh e Lucila Silva de Almeida, destaca-se o universo lúdico que as rimas e ritmos propõem. O texto é um caminho e desafio, escolhido pela pesquisadora, para oportunizar às crianças a alfabetização e letramento literários.

Inicialmente, na quadrinha “Você diz que sabe muito”, os alunos puderam expressar-se corporalmente, brincando e criando gestos que facilitavam a memorização da mesma. Os movimentos criados para o primeiro enunciado da quadrinha: “você diz que sabe muito, lagartixa sabe mais”, foi proposto pelo grupo de alunos, com o uso das mãos, num movimento que lembra a mistura entre estar apreensivo e um dedo indicando a razão. No outro segmento da quadrinha: “ela sobe na parede, coisa que você não faz”, A8 propõe o uso da mão para ser a lagartixa e o movimento de abaixar-se e subir com os dedos. O “não faz” (verso final

da parlenda), foi, coletivamente, combinado com o movimento do dedo usual de negação, utilizado usualmente na comunicação gestual das pessoas. A partir daí, as crianças solicitavam, sempre que possível a dramatização de cada parlenda evidenciando assim que toda aprendizagem perpassa pelo corpo, a partir das brincadeiras surgidas ou propostas.

Em outra atividade desta mesma obra, utilizando o jogo verbal “Tem picolé, seu José”, os alunos brincaram em sala de aula com picolés de papel, confeccionados previamente pela professora. O objetivo da atividade era brincar com os picolés, a fim de formar conjuntos de imagens associadas às rimas de cada verso. Portanto, os alunos teriam que ler ou identificar os pares de picolés. Verificou- se que este foi um momento marcado pela ludicidade, no qual todos brincavam, auxiliando uns aos outros, independentemente de seu nível de escrita e leitura. A13 propõe que sejam misturados todos os picolés e expressou que “desta forma, a brincadeira seria mais legal”. Na fase inicial de escolarização, entende-se que não é necessário explicar para os alunos que eles precisam aprender a ler e escrever, pela relevância dessas habilidades em suas vidas futuras. O que precisam de fato é vivenciar pelo ludismo os desafios propostos e assim irem aprendendendo..

A gratuidade presente no decorrer da aplicação fica mais evidente na obra Parlendas para Brincar. Como exemplo, as parlendas e quadrinhas trazidas de casa, como tarefa sugerida pelos alunos, transformando a oralidade passada de geração (pais e familiares), pelas brincadeiras e, posteriormente, em leitura e escrita. Este é o sentido da gratuidade - aprender na “graça” da atividade, sem perceber o sentido ou a intencionalidade ali contida.

Para Beatriz Carvalho e Renata Bueno, autoras de Misturichos, descrita no tópico 4.4, a união “improvável” de cada bicho é lúdica e proporciona diversos olhares. A atividade de saber os nomes dos animais que compunham o novo misturicho trouxe o ludismo associado à reflexão sobre o sistema de escrita alfabética, o que demonstra heterogeneidade de conhecimentos, ou seja, os alunos podem ter conhecimentos muito distintos sobre o texto lido, entretanto, em grupos, juntos, na realização da atividade proposta, as crianças conseguiram identificar e até criar novos misturichos.

Socializar esses conhecimentos, em diferentes formas de expressão, (oral, plástico e escrito), torna a aprendizagem significativa, principalmente nas situações de registro escrito. Nesse sentido, cada aluno apresentou o seu misturicho para a

professora e demais colegas, de forma lúdica e não apenas pensando na aquisição da escrita. Ludicamente, as atividades têm sentido para os alunos, não comparecem como exercícios estanques, repetitivos, em que muitas vezes as crianças nem compreendem o significado do que foi proposto. Associar o lúdico à aprendizagem visa a contemplar características da infância, a fase em que as crianças brincam, se divertem, ouvem histórias e simbolizam, imaginando o mundo do faz de conta, muito real para elas.

Na obra Coco Louco, de Gustavo Luiz e Mig, descrita no tópico 4.3, os alunos “brincaram” de trilha. Nessa atividade, o brincar está associado ao aprender, pois a atividade poderia ser apenas de registro - ler a obra e responder as questões propostas. Ao fazer a trilha e proporcionar a brincadeira aos alunos, verificou-se a diversão e aprendizagem de forma gratuita, sem se dar conta do quanto aprenderam brincando.

Ao refletir sobre a ludicidade na prática pedagógica e olhar para a experiência realizada em sala, entende-se que a vivência e a convivência no meio lúdico possibilitam o aprendizado. Não se pode atribuir a ludicidade a solução para os problemas educacionais, mas pode ser um caminho a ser trilhado, principalmente no que tange à alfabetização e letramento.

Cabe, então, ao professor planejar as aulas com este propósito lúdico e refletir sobre a sua prática, procurando tornar a aprendizagem significativa, que leva a segunda categoria de análise identificada.