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À beira do negro poço debruço-me, nada alcanço decerto perdi os olhos que tinha quando criança.

Carlos Drumond de Andrade

Considerando os objetivos desta pesquisa que é saber qual a concepção das professoras sobre o brincar na educação infantil, e assim entender se a criança da Educação Infantil realmente brinca, a pesquisa caracteriza-se como uma investigação qualitativa de caráter explicativo. Lüdke e André (2014) apontam que as pesquisas na área de educação têm utilizado com bastante ênfase às metodologias qualitativas, e ainda destaca que tais metodologias enfatizam mais o processo do que o produto de uma pesquisa.

Para as autoras, o estudo qualitativo “é o que se desenvolve numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem um plano aberto e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada” (LUDKE E ANDRÉ, 2014, p.20).

Lüdke e André (2014, p. 13) explicam que o material obtido em pesquisa qualitativa “é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimentos; inclui transcrições de entrevistas e de depoimentos, fotografias, desenhos e extratos de vários tipos de documentos.”

Complementando este pensamento Gil (2006, p. 44) diz que a pesquisa descritiva é geralmente etapa prévia para a pesquisa explicativa e esta “têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos”, nesse caso, a opção para a realização deste estudo deu-se pela possibilidade que essa perspectiva traz, de entender o que as professoras pensam sobre o brincar no contexto da Educação Infantil.

E para entender como acontece o brincar na Educação Infantil, a pesquisa tem a pretensão de debater e refletir sobre as concepções das professoras quanto ao brincar, e para isto, optei em realizar a coleta de dados para este estudo, no Centro de Educação Infantil Municipal “Lugar de Criança” situado no município de São Mateus, e assim investigar como é tratado o brincar dentro da instituição.

O instrumento utilizado para coleta de dados foi entrevista semi estruturada, onde as professoras tiveram possibilidade de manifestar através da fala, a compreensão que as mesmas têm do tema tratado.

Durante as entrevistas as professoras se mostraram bem a vontade, apesar de algumas vezes se manifestarem incomodadas, preocupadas se saberiam responder aos questionamentos que seriam propostos. Ao esclarecer sobre o que seria tratado, elas relaxavam um pouco mais, ainda assim, em alguns momentos durante as entrevistas percebe-se a dificuldade de nomear, de identificar o brincar no seu cotidiano.

Foi estabelecido um roteiro, no entanto foi possibilitado às professoras falar de maneira livre sobre suas concepções, sem a necessidade de apenas responder aos questionamentos. A partir de algumas respostas, foi possível o levantamento de novos questionamentos, tornando mais rico o material para as analises futura.

Ludke e André (2014) apontam que através da entrevista cria-se uma relação de interação entre o pesquisador e o pesquisado, especialmente quando se trata de entrevista semi estruturada, como é o caso do instrumento utilizado nesta pesquisa. Gil (2006, p.117) pontua que a entrevista “é uma forma de interação social, é uma forma de diálogo assimétrico.”

Conforme apontam os autores citados, a entrevista proporciona uma fluidez nas informações, de forma natural e autêntica, e ainda segundo Ludke e André (2014, p. 39),

a grande vantagem da entrevista sobre as outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, [...] pode permitir o tratamento de assuntos de natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de natureza complexa e de escolhas nitidamente individuais, [...] pode permitir o aprofundamento de pontos levantados por outras técnicas de coleta de alcance mais superficial, [...] e pode atingir informantes que não poderiam ser atingidos por outros meios de investigação.

Nessa perspectiva, é possível identificar a proposta desta pesquisa nos itens acima descritos pelas autoras, já que a liberdade do percurso fez com que as informações desejadas se tornassem mais eficaz.

muitos autores consideram a entrevista como a técnica por excelência na investigação social, atribuindo-lhe valor semelhante ao tubo de ensaio na Química e ao microscópio na Microbiologia. Por sua flexibilidade é adotada como técnica fundamental de investigação nos mais diversos campos e pode-se afirmar que parte importante do desenvolvimento das ciências sociais nas últimas décadas foi obtida graças à sua aplicação.

Gil (2006) ainda considera as vantagens e desvantagens da entrevista. Os pontos apontados como favoráveis da entrevista é que ela possibilita alcançar informações de diversos segmentos da vida social; é também um meio de conseguir elementos em profundidade sobre o comportamento humano e ainda o que for alcançado por meio da entrevista pode ser classificado e quantificado. O autor ainda a compara com outras técnicas, e apresenta como desvantagens da entrevista o fato de que o entrevistado pode se interessar ou não em responder às perguntas, pode dar respostas falsas, e apresentar incapacidade para algumas respostas, sofrer influências do pesquisador em suas respostas, e considera também os custos para realizar as entrevistas.

Na fase de coleta de dados, após conversar e solicitar autorização da diretora do CEIM foi feito uma conversa prévia com as professoras solicitando a colaboração de cada uma delas e justificando a razão de ter escolhido aquela instituição para efetivar a pesquisa. A partir daí, foi agendado, nos horários de planejamentos das professoras, as entrevistas individualmente. Em alguns dias foi possível concluir as entrevistas que foram gravadas em áudio e vídeo, o que proporcionou, durante a transcrição, maior riqueza de detalhes observando gestos e expressões.

Foram entrevistadas seis professoras que trabalham com crianças de três a cinco anos nos turnos matutino e vespertino. Todas possuem formação em pedagogia e atuam há mais de dez anos na educação, não necessariamente na educação infantil.

Após a transcrição e leitura das entrevistas, o material foi separado por categorias, identificados e divididos por tema a fim de analisar cada um. Nesse sentido Ludke e André (2014, p. 57) orienta que “é preciso que a análise não se restrinja ao que está explicito no material, mas procure ir mais a fundo, desvelando mensagens implícitas, dimensões contraditórias e temas sistematicamente ‘silenciados’.

Na sequência separei os temas que mais se repetiam na fala das professoras e procurei me ater ao máximo às discussões de cada uma. Para Gil (2006, p. 168), haverá sempre uma relação entre a análise e a interpretação dos dados de uma pesquisa, pois

a análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos.

Assim, durante a análise dediquei fidelidade às falas das professoras, procurando identificar a concepção e conhecimento das mesmas sobre o tema, nas interpretações recorri a contraposições baseadas nas bibliografias utilizadas a fim de buscar sustentação para as discussões.