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6. UNIDADES GEOECOLÓGICAS DA PAISAGEM COMO BASE PARA O

6.3 Planície litorânea

6.3.3 Campo de dunas

Essa unidade é definida por Silva (1987), como aquela formada por depósitos eólicos sedimentares recentes, composta por areias quartzosas de cor esbranquiçada, com granulometria variando de média a fina. Caracteriza-se como a principal área acumuladora de sedimentos arenosos que alimenta e dinamiza o sistema estudado. Em específico para o campo de dunas de Paracuru, as feições que ocupam maior parte apresentam formas transversais (barcanas) assimétricas e se dispõem de forma perpendicular em relação ao deslocamento dos ventos dominantes (CEARÁ, 2005). Por seu tamanho e volume, existe uma UC que protege esse ambiente, a APA das Dunas de Paracuru, criada em 1999.

São encontradas dunas dos tipos móveis e fixas. As dunas móveis (ativas) – não apresentam cobertura vegetal ou ocorrem em sua superfície apenas espécies pioneiras e de pequeno porte, são instáveis e migratórias. Essas dunas de formação mais recente avançam sobre as outras unidades da paisagem.

As dunas fixas (inativas) – equivalem a depósitos eólicos recobertos por vegetação de porte arbóreo/arbustivo, por essas características são bioestabilizadas e imobilizadas, favorecendo à estabilização do relevo e um maior desenvolvimento pedogenético.

Ainda se devem destacar as paleodunas que também estão presentes na região de Paracuru. Correspondem a depósitos eólicos mais antigos sem forma definida, apresentando na sua porção superior o desenvolvimento de solos de cor avermelhada em função da oxidação do ferro. Os eolianitos ou cascudos como são chamados, são depósitos cimentados por carbonato de cálcio em ambiente continental (MORAIS, 2005).

As feições de erosão (blowouts) devem ser consideradas por sua importância em relação à transferência de matéria (sedimentos). Essas feições ocorrem nas extremidades dos campos de dunas, onde a vegetação foi temporariamente recoberta pela areia ou inexiste. Com o corte de suprimento de areias, a erosão dá origem às feições de blowout. Morfologicamente, caracterizam- se por serem feições de deflação, presentes na superfície das dunas móveis.

Blowout é um termo empregado para descrever a depressão produzida pelo vento em uma duna ou complexo dunar. Essa unidade geoecológica divide-se em dunas móveis, dunas fixas com vegetação arbórea e arbustivas e dunas fixas com ocupação residencial.

6.3.3.1 Dunas móveis

Essa unidade compreende dois campos de dunas identificados um a oeste e outro na extremidade leste da área de estudo , conforme FIGURA 21. O primeiro diz respeito ao pacote de dunas que se distribuem, em sua grande maioria, do lado esquerdo do rio Curu, movimentando-se em direção E-SE sobre o manguezal e as dunas fixas que se dispõem em faixa quase contínua sobre a planície fluvial. Esta unidade forma um sistema em que a entrada de matéria – sedimentos, ocorre por diversos caminhos, sendo a via fluvial o principal deles, através dos sedimentos arenosos mobilizados e transportados pela corrente fluvial até a desembocadura no rio Curu. Os sedimentos entram em contato direto com o oceano e interagem com os sedimentos transportados pela deriva litorânea e na sequência, tem-se a saída de sedimentos, onde parte desses vão depositar-se na linha da costa sob forma de acumulações dunares.

Figura 21- Representação do campo de dunas móveis da área de estudo.

O outro campo de dunas móveis está localizado na porção leste da área delimitada. Tem altura superior a 25 metros, em função dos ventos com direção E- SE. Sua característica singular é o contorno do Promontório, onde as areias avançam em direção à cidade, conferindo riscos. Esses sedimentos tendem a realizar o curso normal sobre o promontório de Paracuru.

As intervenções humanas trataram de interromper o transporte de areias associado ao promontório, pela instalação da cidade de Paracuru. As areias migram também em direção ao Riacho Poço Doce e a Lagoa Grande.

O avanço das areias sobre a cidade tem desencadeado tentativas, por parte das autoridades e população loca,l de contenção desses sedimentos, através da instalação de barreiras de contenção com palhas, retirada de areias das estradas que dão acesso às praias da Pedra do Meio e Piriquara.

Estudos realizados por (CASTRO, 2004) sobre a média de deslocamento das dunas do promontório de Paracuru evidenciam que as dunas próximas à Lagoa Grande (que abastecem a cidade), apresentavam em 2004 um deslocamento na ordem de 10,72m/ano, já os sedimentos localizados na parte central do campo de dunas evidenciaram uma média de migração de 6,95m/ano.

O desequilíbrio no balanço sedimentar e a perda do atrativo paisagístico constituem os impactos ambientais mais significativos dessa subunidade que em função de seus usos tem seu estado ambiental medianamente estável.

6.3.3.2 Dunas fixas com vegetação arbórea/arbustiva

Ocorrem a sotavento das dunas móveis, se espacializam em direção ao interior, ao longo da planície fluvial em contado com o tabuleiro litorâneo. São recobertas por uma vegetação herbáceo-arbustiva estando, portanto, estabilizadas. Essa subunidade tem níveis altimétricos entre 4 e 18 metros. Apresentam áreas sem ocupações definidas, com pequenas hortas e atividades pontuais de agricultura. A utilização se dá pela população local através da agricultura (batatas, feijão, milho) e o cultivo de coqueiros nas áreas rebaixadas. O estado ambiental é definido como medianamente estável.

6.3.3.3 Dunas fixas com ocupação residencial

Essa subunidade compreende uma pequena faixa paralela entre o pós- praia e as falésias com grau de ocupação variada, com concentração maior de casas de veraneios e casas da população local em menor número.

Os impactos ambientais dessa subunidade estão fortemente ligados ao desmatamento em função das edificações, ocasionando a desestabilização das areias e, em consequência disso, provocando processos erosivos e assoreamentos nas áreas mais rebaixadas. A perda do valor paisagístico dessa subunidade também constitui um impacto negativo, sendo sua maior expressividade o barramento dos

fluxos de sedimentos, provocado pelos muros de alvenarias. Toda extensão dessa subunidade tem seu estado ambiental instável, em função das interferências antrópicas.

6.3.3.4 Depressão Interdunar

De forma geral resulta do barramento do fluxo hídrico superficial pelo campo de dunas, o afloramento do lençol freático e a perenidade são resultados da recarga advinda das dunas que margeiam essa unidade. Embora existam outras lagoas interduranes na área (de pequenas extensões), o olhar dessa pesquisa volta- se para a lagoa que abastece a zona urbana do município de Paracuru. Sua proximidade com o mar dista, aproximadamente, 8km em linha reta. A depressão interdunar situa-se entre o campo de dunas, pertencente à APA das dunas do Paracuru, conforme FIGURA 22.

Figura 22 – Depressão interdunar e a Lagoa Grande, principal reservatório de abastecimento de água da cidade de Paracuru.

Caracterizada como uma lagoa peridunar, tem seu manancial abastecido pelo regime fluvial e também através do lençol freático, que abastece nos períodos de estiagem, percolando pela base das dunas. Com características de água doce, é

utilizada para abastecimento de água da cidade de Paracuru, realizado pela Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE, que capta a água bruta, realiza os tratamentos necessários e distribui para o consumo humano. A água é ainda utilizada no setor industrial da base da empresa estatal – Petrobrás26, localizada na praia da Pedra Rachada, além das práticas ainda de recreação e agricultura.

Referente à vegetação desse ecossistema, evidenciam-se espécies aquáticas como aguapés (Eichhirnia crassipes) e aninga (Montricharddia linifera) – uma planta pioneira na formação de ilhas dos rios amazônicos, formando grandes populações coloniais27. No entorno da lagoa, evidencia-se a presença de dunas fixas com vegetação de pequeno a médio porte que ocupa as encostas semiedafizadas.

O nível de água da lagoa tem, nos últimos anos, alcançado valores muito baixos, deixando a cidade frente à possibilidade de um colapso por falta d´água28. Parcerias entre a CAGECE e COGERH (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos) e Petrobrás estão sendo traçadas para a perfuração de poços artesanais que deverão suprir a demanda de falta d’água no município.

Porém, edificações localizadas às margens da lagoa ocupam áreas de APP impactando na dinâmica do ambiente, conferindo a esta unidade o estado medianamente estável.