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8. PAISAGEM: SÍNTESE E DIAGNÓSTICO

8.1 Problemas ambientais e a degradação das paisagens

Para Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2004), os problemas ambientais ou processos geoecológicos degradantes estão divididos em duas classes: naturais e de interação. Os de natureza antrópicas ou interação são listados como: contaminação do solo, água, atmosfera, alteração dos recursos hídricos, perda da qualidade visual da paisagem, degradação da vegetação dos solos e pastos. Os problemas de cunho natural são listados por: erosão, deflação, perca da biodiversidade, redução do nível de água subterrânea, laterização, inundações, salinização, etc.

Os problemas ambientais que abrangem a bacia do rio Curu foram elencados por Gorayeb em 2004. O processo de urbanização da bacia como resultante do aumento da concentração populacional e da demanda por serviços levou a uma maior utilização dos recursos naturais. Ainda de acordo com Gorayeb, (2004), essa intensificação dos usos dos recursos naturais na bacia são causadores de vários impactos ambientais, pontuados pela degradação dos recursos hídricos, desmatamento, expansão da agropecuária, disposição irregular dos resíduos sólidos e lançamento de efluentes, crescimento irregular da atividade de aquicultura e a instalação e operação de indústrias em APPs.

Dez anos após o estudo de Gorayeb (2004; 2006), similaridades no tocante aos problemas ambientais são encontradas no recorte da APA e no seu entorno. A espacialização dos processos geoecológicos degradantes com problemas/impactos na área em estudo foram identificados no MAPA 8.

As alterações advindas dos impactos levam ao desequilíbrio do sistema e, consequentemente, decrescem as funções da autorregulação. As condições da autorregulação dirigem-se fundamentalmente a garantir o equilíbrio do sistema. O restabelecimento do sistema frente aos impactos depende da capacidade do sistema em absorver esses impactos ou se ajustarem a eles.

Para Sotchava (1978), os geossistemas com estrutura alterada se dividem em duas categorias:

 Geossistemas que conservam de forma relativa seu potencial natural, sendo capazes de restabelecer sua estrutura inicial através da função de autorregulação;

 Geossistemas que são modificados e transformam radicalmente sua estrutura, no qual seu restabelecimento só é possível através de uma longa escala de tempo;

Mesmo que se tenha conhecimento da recorrência dos impactos ambientais, o geossistema em estudo mostra uma tendência à primeira definição de Sotchava para geossistema com estrutura alterada, com evidências de autorregulação, restabelecendo sua estrutura inicial.

Os problemas ambientais na área em estudo foram agrupados em quatro classes principais, distribuídos em:

 Problemas hidro ambientais: relacionam-se com a problemática da qualidade, usos e acessos aos recursos hídricos;

 Problemas edáficos-ambientais diretamente relacionados com as formas de usos e ocupação do solo, mediante as práticas desenvolvidas pela agricultura e pecuária e o crescimento da cidade;

 Problemas urbano-ambientais: onde o crescimento urbano e as demandas por moradias, o turismo e os serviços levam a pressões sobre os recursos;

 Problemas litorâneos ambientais: pontuados, sobretudo, pelas interferências antrópicas na dinâmica de fluxos do geossistema.

 Problemas hidroambientais:

As causas desses problemas se dão em função da falta de controle, conservação e proteção das fontes, nascentes e dos recursos hídricos em geral.

Como consequências tem-se um conjunto de fatores que afetam diretamente esses recursos, como: desmatamento das margens do rio; extração desordenada das areias do rio Curu, que ocasionam erosão das suas margens; as descargas de efluentes das fazendas de carcinicultura e esgotos domésticos que afetam a capacidade de depuração dos corpos hídricos e levam a mudanças físico-químicas da água; e ainda a construção de barragens que impedem os fluxos hídricos, sedimentológicos e de nutrientes de circularem, conforme FIGURA 39.

Figura 39 – Passagem molhada e barragens: regulação para a atividade de carcinicultura.

Fonte: Prefeitura de Paracuru, 2010.

A figura 39 mostra um típico problema socioambiental, o rompimento das barragens, que a cada rompimento pelas chuvas fortes o governo municipal libera uma obra emergencial, que servirá como moeda política no próximo período eleitoral. Do ponto de vista sistêmico, as barragens constituem a transferência de zonas ativas de trânsito para zonas de acumulação, concentrando energias a tal

ponto que elas rompem e os processos de desequilíbrios ocorrem de forma intensa e rápida.

Outro problema a ser pontuado diz respeito ao lixão da cidade de Paracuru. Disposto sobre o tabuleiro, tem implicações diretas sobre os recursos hídricos, com a infiltração do chorume, ocasionando a contaminação das águas subterrâneas. As descargas de efluentes domésticos afetam também as lagoas, a poluição que se encontra na principal lagoa de Paracuru “Lagoa Grande” é proveniente dos esgotos das casas que a margeiam, levando à eutrofização das águas. O desmatamento das margens dos cursos d’água para construções e plantio de lavouras (batatas, milho, feijão) possibilitam o avanço intenso das dunas, ocasionando o assoreamento e colocando em colapso hídrico as lagoas.

 Problemas edáfico-ambientais

Problemas ocasionados, sobretudo, pelo desmatamento que remove a camada fértil do solo, promove a erosão e a compactação do mesmo. Para os argissolos (Tabuleiro) a exposição pela retirada da vegetação representa quase sempre o excesso de água e problemas em sua drenagem.

A distribuição dos problemas dispõe-se principalmente sobre o tabuleiro, com o desenvolvimento da agricultura e pecuária. Pontos de erosão foram verificados através de trabalho de campo, ocasionados certamente pelo plantio do capim para o gado que toma vastas áreas do tabuleiro. O aproveitamento racional desse solo necessita de corretivos e fertilizantes (calagem e adubação).

 Problemas urbano-ambientais

Com padrões de moradias diferentes, Paracuru tem áreas urbanas voltadas para o turismo e veraneio, além de áreas afastadas do núcleo urbano com infraestrutura deficiente, falta de arborização e saneamento. Também há a falta de estradas adequadas e transportes.

A exploração de petróleo na plataforma continental pela PETROBRAS levou à construção de diferentes equipamentos urbanos portuários e industriais no litoral desse município. A configuração dessas atividades socioeconômicas resultou em modificações paisagísticas.

As construções de muros têm presença marcante na APA e seu entorno e é certamente um fator de maior desequilíbrio para o sistema, impedindo a dinâmica dos fluxos e levando à fragmentação entre as unidades geoecológicas existentes.

O turismo e o veraneio, aliados ao desmatamento das áreas para construção de barracas, hotéis e pousadas, junto com o aumento crescente de estabelecimentos comerciais localizados próximos à praia geram pressões de toda ordem, observadas na extensão da APA.

 Problemas litorâneo-ambientais

A construção de estruturas artificiais na faixa de praia e pós-praia vem modificando as condições naturais da paisagem e redirecionando os fluxos de matéria e energia. Assim, há um acúmulo nos fluxos de sedimentos eólicos pelos barramentos (construções, muros e barracas) e diminuição dos fluxos eólicos e brisas marinhas para a cidade.

A ocupação das falésias por segundas residências associada à ação pluvial atuam nos processos erosivos subaéreos, provocando erosões nas encostas. O assoreamento que se processa na foz do rio não favorece o desenvolvimento do manguezal, pois diminui a penetração do fluxo marinho e dificulta uma maior ocupação de espécies do mangue.

Para chegar ao estado ambiental das paisagens preparou-se o QUADRO 10, apontando para os principais efeitos e consequências dos problemas ambientais identificados nas unidades geoecológicas da APA.

Estável 20% Mediamente Estável 40% Instável 40% Estado Ambiental