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Campo de Paru no mar de Alagoas

Fonte: Elaborado por Arthur Henrique Barreto, no aplicativo Qgis a partir dos dados vetoriais da ANP, EPE e IMA.

5.3 As primeiras atividades exploratórias

A busca por petróleo em Alagoas antecede o período de constituição do monopólio estatal sobre as riquezas minerais. Em 1837, foram encontrados xistos betuminosos e folhetos (óleo asfáltico) naquele Estado, embora não foram encontrados registros sobre a quantidade destas acumulações, provavelmente, se tratavam de afloramentos. Os primeiros estudos foram realizados por Frederick Hartt na região do rio São Francisco, em 1870. Em 1891, a Companhia inglesa coleta 166 litros de óleo para análise. Em 1914 se inicia os primeiros estudos técnicos em busca do petróleo em Alagoas realizada pelo geólogo José Bach, no qual dedicou 15 anos de pesquisa no bairro de Graça Torta (Maceió-AL). (PETROBRAS, 2009, p. 28).

Pereira (2004, p. 159) argumenta que estudos geofísicos anteriores ao de José Bach foram realizados na bacia sedimentar alagoana, F. Hartt iniciou estudos geofísicos em 1870, em seguida foi a vez de Braner em 1900. Naquele mesmo período, o xisto betuminoso era utilizado como combustível para a iluminação doméstica (ROCHA; TENÓRIO, 1956, p. 9).

José Bach, geólogo alemão, naturalizado brasileiro, realizou estudos geológicos em Riacho Doce (Maceió-AL), numa área conhecida por Graça Torta. Bach era diretor e presidente da empresa Minas Petrolíferas e estava a 15 anos realizando pesquisas naquela área, sendo alvo

de ameaças de grupos contrários a atividade do geólogo, foi assassinado em condições misteriosas, até hoje não solucionadas. Pinto Martins, recolhe os estudos de Bach e dá continuidade a suas pesquisas, em viaje ao Rio de Janeiro para obter financiamento para o início das perfurações, porém, foi encontrado morto dentro do seu apartamento e todos os documentos relativos aos estudos de ‘Graça Torta’ foram roubados. (PETROBRAS, 2009, p. 28-29; ROCHA; TENÓRIO, 1956, p. 9-10).

O SGMB, executou perfurações em Alagoas em 1920 e 1927, nos bairros de Graça Torta (poços de nº 12, 18 e 27) e em Riacho Doce (poços de nº 38, 42 e 50). Em 1936, a firma alemã Elbof foi contratada pelo governo de Alagoas (Osman Loureiro) para realizar estudos de Riacho Doce (Maceió) por métodos sísmicos, geoelétricos e magnéticos, chegando à conclusão, contrária ao relatório oficial do DNPM, de que aquela área era promissora para acumulação de hidrocarbonetos. (PEREIRA, 2004, p. 159).

O DNPM, que veio a substituir o SGMB em 1934, deu continuidade as explorações de petróleo e gás em Graça Torta, encontrando xisto betuminoso com muito óleo a cerca de 273 metros de profundidade (ROCHA; TENÓRIO, 1956, p. 10). Segundo observa Pereira (2004, p. 159) aquele departamento perfurou o poço de nº 159, a 500 metros de profundidade, no bairro da Ponta Verde (Maceió), próximo do antigo Gogó da Ema (coqueiro), mas apenas encontraram vestígios de petróleo. Baseando-se nessas explorações anteriores, Edson de Carvalho e outros criam a empresa de exploração de petróleo Companhia de Petróleo Nacional que passou a funcionar após a autorização do Governo Federal, em 29 de fevereiro de 1936. A empresa retomou as perfurações em Riacho Doce em 08 de junho do mesmo ano, onde descobriram, no poço denominado São João, a 22 metros de profundidade e depois a 255 metros, gás natural216, produzindo cerca de 9 mil litros de gás durante 9 meses. (ROCHA; TENÓRIO, 1956, p. 9-10). Ao todo foram 51 perfurações realizadas pelo antigo SGMB no Brasil entre 1919 e 1930, distribuídas regionalmente da seguinte forma: 30 na região Centro-Sul, com destaque a São Paulo (18 perfurações) e 21 no Nordeste, por sua vez, distribuídas entre Alagoas (6), Bahia (6) e Pará (9) (DIAS; QUAGLINO, 1993, p. 13). As perfurações em Alagoas iniciaram em 1920, em Graça Torta, onde foi encontrado indícios de óleo no furo nº 50 (1924), apesar disto as operações no estado foram desativas em 1927, pois, o órgão do governo enfrentou dificuldades

216 Segundo Dias e Quaglino (1993, p. 18), o motivo pelo qual o DNPM ter solicitado a sonda emprestada ao governo de Alagoas pode ter sido embasado no relatório do engenheiro Bourdot Dutra, enviado para avaliar a descoberta de gás natural em Riacho Doce, no qual conclui que é improvável a existência de grande acumulação de hidrocarbonetos em Graça Torta.

técnicas, principalmente a defasagem dos equipamentos utilizados, que prolongou a perfuração por três anos (Ibid., p. 12).

Após a descoberta de gás natural, com possibilidade de encontrar petróleo, o DNPM exige a devolução da sonda emprestada ao Estado de Alagoas, que foi cedida pelo governo federal em 1932, que estava sendo usada pela empresa de Edson de Carvalho217 (DIAS; QUAGLINO, 1993, p. 17).

As atividades de exploração na bacia Sergipe-Alagoas iniciaram em 1935 com levantamentos geofísicos e perfurações de poços em Alagoas. Somente na década de 1960 que foram iniciadas as explorações em mar, onde foi descoberto o campo de Guaricema, localizado no mar de Sergipe. (ANP, 2015).

5.3.1 Período de atuação do CNP em Alagoas

O CNP realizou 7 perfurações entre 1939 e 1943, o primeiro e sexto poço foram perfurados no bairro da Ponta Verde, o primeiro próximo ao coqueiro Gogó da Ema (cartão postal da cidade), e o outro a 400 m de distância daquele, mas somente o primeiro produziu petróleo a 1500 m. Entretanto a produção não era comercial, o mesmo ocorreu com os demais poços perfurados naquele local218, alguns apresentaram apenas vestígios de petróleo. Sobre o segundo poço perfurado, também naquele bairro, foi construído o Farol de Ponta Verde (Figura 29, próxima página). O sétimo, e último poço (A1-6), foi perfurado em Riacho Doce e, também, não produziu petróleo, o que levou o CNP a intensificar as atividades exploratórias na Bahia. (PEREIRA, 2004, p. 88-89).

217 Os fundadores da empresa Companhia de Petróleo Nacional, dentre eles o próprio Edson de Carvalho e Monteiro Lobato, contrataram um suspeito técnico de petróleo, o senhor Romero, mexicano, por ele possuir um equipamento que descobre petróleo (Indicador de Óleo e Gás) (DIAS; QUAGLINO, 1993, p. 17; ONIPEGEO, 2003, p. 22). Segundo ONIPGEO (2003, p. 22) o sr. Romero “apresentava uma maleta interligada a tubos que acoplava ao solo dotada de um mostrador que indicava imediatamente a quantidade de petróleo que lá existia em termos de barris de produção diária por poço. O farsante que iludiu muita gente no estado de Alagoas em função da antiga lenda da existência de petróleo em Riacho Doce também serviu para ajudar Edson de Carvalho e Monteiro Lobato a enganar os acionistas da Companhia de Petróleo Nacional.” Acreditamos ser este motivo do descrédito do governo federal, assim como dos técnicos do SGMB, com a referida empresa.

218 Outros quatro poços (A1-2, A1-2. A, A1-3 E A1-4), perfurados no entorno da Levada, localizado no bairro de Bebedouro, em Maceió.

Figura 29 - Farol da Ponta Verde, construído sobre o poço A1-5 do CNP

Fonte: Google Mapas, localização do Farol da Ponta Verde; História de Alagoas, Farol da Ponta Verde. Disponível em: https://www.historiadealagoas.com.br/farol-da-ponta-verde.html.

Somente em 1955, após a criação da Petrobras, que são retomadas as atividades exploratórias em Alagoas. Naquele mesmo ano foram criados os quatro distritos regionais de exploração, localizados nas cidades de Salvador (BA), Manaus (AM), Ponta Grossa (PR), e Maceió (AL). A sede do Depex em Maceió passou a receber uma equipe de pesquisadores coordenada por Lindonor Mota219.

As primeiras perfurações são realizadas em convenio com a empresa estrangeira United Geophysical Company S.A, contratada pela Petrobras para realizar estudos sísmicos e batimétricos em Maceió (no Tabuleiro dos Martins e em Fernão Velho) e São Miguel dos Campos. Mas somente em 1957, que outra firma, a norte-americana Williams Drilling Co, descobre indícios de petróleo em Jequiá da Praia (poço pioneiro JA-1) e no Tabuleiro dos Martins (1-TM-1-AL em Maceió, ver no Mapa 11)220. Sendo este penúltimo de boa qualidade e empregado na indústria química fina. Novos poços são perfurados além daqueles lugares, em Piaçabuçu e Coqueiro Seco, que ampliou o número de poços produtivos: 8 poços no Tabuleiro do Martins em 1962; 1 em Piaçabuçu, entre outros. A produção alcançou cerca de 700bpd.221 (PETROBRAS, 2009, p. 35 et sec.).

219 Engenheiro civil e de minas, atuou como geólogo no CNP e depois na Petrobras, onde cegou a ocupar o cargo de Superintendente do Depex do Nordeste. Foi um dos maiores defensores do monopólio estatal sobre as atividades petrolíferas e, principalmente, defendia a existência de petróleo no Brasil e em Alagoas – cuja luta foi reconhecida pela Petrobras que o concedeu um diploma de honra pelos serviços prestados a estatal. Lindonor também chamou a atenção dos funcionários da Petrobras, ao contrariar a recomendação da empresa de não explorar a região do Tabuleiro dos Martins, pois ele defendia, baseado em suas pesquisas, na existência de petróleo em Alagoas (PEREIRA, 2004, p. 48).

220 A fotografia do primeiro poço perfurado pode ser vista no Anexo F. 221 Petrobras (2009, p. 43-44).

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