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5. RESULTADOS

5.2 Canais fluviais atuais: morfologia e aspectos deposicionais de leito

Os cursos d’água estudados apresentam, predominantemente, padrão meandrante. Por vezes, trechos dos vales possuem controle estrutural e, nestes, o canal torna-se retilíneo, inclusive com alternância de poços e corredeiras. Controle estrutural sobre o padrão de drenagem acontece, por exemplo, no Trecho A do Rio Pomba e Trecho B do Rio dos Bagres.

Sequências de corredeiras ocorrem, entretanto, não apenas em função de controle estrutural, mas também nas porções dos cursos d’água de elevado gradiente, associadas à escarpa da Serra da Mantiqueira, que individualizam os Trechos A e B do Ribeirão Espírito Santo, Rio São Manuel e Rio dos Bagres; ou concentradas nos trechos D dos rios Xopotó e Pomba. A localização de trechos de corredeira nos vales estudados é apresentada na Figura 95. Foram considerados ambientes de corredeira aqueles de relativa alta energia e caráter erosivo, gerados em calhas rochosas, ou, algumas vezes, em calhas detríticas (seixos e matacões).

É importante ressaltar que, no caso do Rio São Manuel e Rio dos Bagres, o trecho de elevado gradiente no qual o curso d’água drena a escarpa da serra apresenta controle estrutural. Já no Ribeirão Espírito Santo, não é identificado controle estrutural em nenhuma porção do vale e o trecho de elevado gradiente se associa somente ao processo de captura fluvial, conforme será discutido no capítulo seguinte.

Nos trechos D dos rios Xopotó e Pomba ocorrem corredeiras em diferentes litologias, não associadas àquelas mais resistentes, o que denotaria um controle litológico. A maior parte das corredeiras não está associada às estruturas mapeadas e se dispõem, inclusive, em trechos das calhas tanto paralelos (Rio Pomba à montante de Astolfo Dutra) como perpendiculares (Rio Pomba à jusante de Astolfo Dutra) e oblíquos (Trecho D do Rio Xopotó) à direção principal das estruturas (NE-SW). O represamento do Rio Pomba em seu Trecho C, entre Guarani e Astolfo Dutra, provavelmente recobre trechos de corredeira, uma vez que o gradiente do curso d’água é elevado nessa porção do canal (Figura 77). No restante da área, as corredeiras são raras, sobretudo nos trechos B do Rio Paraopeba, Ribeirão Ubá e Rio Xopotó.

Em função de interferências antrópicas, o Ribeirão Ubá apresenta, em todo o Trecho A, fluxo rápido. Segundo depoimentos de moradores da zona rural do município homônimo, houve alteração na velocidade do fluxo nesse trecho após a canalização do curso d’água no centro da cidade. Os moradores relatam a diminuição da profundidade do canal e a homogeneização da velocidade do fluxo. Segundo um dos relatos, há cerca de 50 anos, afogamentos no Trecho A do Ribeirão Ubá eram frequentes. Atualmente, a profundidade do curso d’água não excede 1 m em períodos de vazão normal.

Os segmentos meandrantes da rede de drenagem são caracterizados, sobretudo nos trechos A dos canais estudados, pela deposição de areia e seixos em barras de pontal. Sobretudo no Rio São Manuel e Ribeirão Ubá, essas feições, bem como as barras de canal, são frequentes e bem desenvolvidas, indicando um intenso fornecimento de areia e seixos para esses cursos d’água. As feições deposicionais de calha desses dois cursos d’água serão descritas com maior detalhe, uma vez que a dinâmica deposicional de ambos apresenta diferenças com relação aos demais canais estudados.

Em diversos setores do Trecho A do Ribeirão Ubá ocorrem barras arenosas (sobretudo de pontal) e barras de seixos (Figura 96). No alto curso, as barras são compostas por seixos de 10 a 30 cm (os maiores) e de 3 a 5 cm (os menores), de quartzo (predominantemente), gnaisse, granito e rochas ígneas máficas, subarredondados a subangulosos. Os clastos de gnaisse,

sobretudo os matacões, apresentam-se bem arredondados e bastante intemperizados (friáveis, por vezes). Cabe ressaltar que esse clastos não são originados somente do desmanche de níveis fluviais antigos, uma vez que estes apresentam clastos unicamente de quartzo. Os seixos e matacões de granito, gnaisse e rochas ígneas máficas refletem a dinâmica atual do ribeirão. Na porção de jusante do Trecho A, os seixos tornam-se unicamente de quartzo, melhor selecionados, com comprimentos inferiores aos identificados à montante. No Trecho B, não foram identificadas barras arenosas e de seixos.

No Trecho A, o Ribeirão Ubá apresenta predominantemente calha aluvial, composta por 1 m ou mais de material arenoso, sendo pontuais os trechos nos quais o canal drena o substrato rochoso. Já no Trecho B, afloramentos rochosos às margens do canal tornam-se mais comuns.

Figura 96: Feições de leito do Trecho A do Ribeirão Ubá. Em A, barra arenosa de pontal. Em B, barra arenosa

com estratificação planar e fácies de grânulos e pequenos seixos. Em C, barra de canal. Em D, barra de seixos, com ocorrência de clastos de quartzo, gnaisse e granito.

No Trecho B do Rio São Manuel, poucos episódios de inundação depositam barras arenosas de mais de 1 m de espessura. Nestas, observa-se estratificações e discordâncias erosivas

(Figura 97). A ocorrência de seixos de comprimentos superiores a 5 cm em meio às fácies arenosas denotam alta competência do canal.

Figura 97: Feições de leito do Rio São Manuel. Em A, barra arenosa estratificada (estratificações planares de

areia e seixos) e discordância erosiva. Em B, destaque estratificações cruzadas. Em C, estratificações planares. Em D, barra de canal à montante de pequena corredeira sobre rocha.

Os rios dos Bagres e Paraopeba apresentam barras arenosas, de pontal e de seixos menos expressivas e concentradas, sobretudo, próximas ao sopé da Serra da Mantiqueira. Nos rios Xopotó e Pomba, embora haja barras arenosas ao longo dos trechos A, B e C e elas sejam, por vezes, espessas, essa feição não é recorrente ao longo do canal como acontece no Rio São Manuel e no Ribeirão Ubá.

Os trechos A do Ribeirão Espírito Santo, Rio São Manuel e Rio dos Bagres apresentam interferências antrópicas em suas calhas. Por isso, não foram identificadas feições deposicionais de leito nesses trechos.