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6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.2 Influências tectônicas sobre a dinâmica fluvial regional

Nos trechos dos vales situados à jusante da escarpa da Serra da Mantiqueira, é possível correlacionar níveis deposicionais dos diferentes vales, conforme já discutido. Essa correlação

é possível graças às suas tipologias, às características dos depósitos e à distribuição espacial dos mesmos, não obstante os níveis possam ter recebidos nomes diferentes devido a especificidades locais, conforme já apresentado. A ocorrência de níveis relacionáveis entre os vales, a semelhança na morfologia de trechos de vales distintos e a evolução proposta para os mesmos indicam a propagação regional de eventos erosivos e deposicionais.

Nos vales dos rios Paraopeba, Ubá e dos Bagres, os depósitos mais antigos permaneceram preservados apenas nas proximidades da escarpa da Serra da Mantiqueira. As características das sequências deposicionais, a altura da base dos depósitos em relação à lâmina d’água (entre 20 e 25 m) e a distribuição dos mesmos em relação aos demais níveis identificados nos vales possibilitam correlacioná-los. É possível que depósitos com características semelhantes ocorram também no Rio Xopotó. Entretanto, neste vale foi mais rara a identificação de depósitos aluviais em contexto de vertente, o que possivelmente deve-se à escassez de acessos ou ao elevado grau de coluvionamento das vertentes. Portanto, é possível que os eventos deposicionais que geraram o N5 do Ribeirão Ubá e o N4 dos Rios Paraopeba e dos Bagres ocorreram em toda a porção central e nordeste da área de estudo, não tendo sido identificados no vale do Rio Xopotó pelos motivos mencionados. A remoção dos depósitos nos médios e baixos cursos dos canais indica que também os eventos erosivos posteriores tiveram magnitude semelhante em toda a mencionada porção da área.

No Ribeirão Espírito Santo e no Rio São Manuel não são identificados perfis correlacionáveis a esse evento deposicional, o que pode ser explicado pela incorporação destes vales à bacia do alto Rio Pomba após a formação desse nível mais antigo. Entretanto, uma vez que no Rio Pomba também não foram identificados depósitos relativos a esse evento, existe ainda a possibilidade de que toda a porção sudoeste da área de estudo tenha se conectado à porção central e nordeste após esse evento deposicional. O elevado gradiente do Trecho C do Rio Pomba, à jusante do ponto de inflexão da drenagem, parece estar associado ao processo de captura fluvial responsável por esse rearranjo da drenagem, conforme será discutido posteriormente.

Níveis deposicionais cujas bases estão até 20 m acima da lâmina d’água e cujos depósitos são frequentes nos trechos B do Ribeirão Espírito Santo e Rio São Manuel, trechos A do Rio Paraopeba e Ribeirão Ubá, e trechos B do Rio Xopotó e Rio dos Bagres parecem corresponder, igualmente, a um evento deposicional de alcance regional, correlativo ao N4 do

Rio Pomba. Neste, o N4 é encontrado, no Trecho B, com base cerca de 30 m acima da lâmina d’água.

A formação regional desses depósitos com características semelhantes (fácies basal de seixos de quartzo com espessura média de 40 cm, presença de matacões esparsos frequentemente subarredondados com fácies superior podendo apresentar contribuições coluviais), bem como a propagação, também regional, de evento erosivo posterior (por meio do qual a drenagem encaixou cerca de 20 m), indicam a ausência de fatores locais relevantes o suficiente para comandar a dinâmica erosiva e deposicional da área durante o período. A ocorrência de soleiras em alguns vales, por exemplo, poderia diferenciar a evolução dos mesmos, o que não se observa. Ou seja: entre o evento deposicional mais antigo do qual ainda se tem remanescentes na área de estudo e o evento seguinte, houve, portanto, uma alteração na rede de drenagem que permitiu ao último o alcance da porção oeste da área, não influenciada pelo evento deposicional mais antigo. Essa alteração corresponde à captura fluvial dos trechos A e B do Rio Pomba por seu Trecho C. A maior vazão do Rio Pomba pode justificar um maior encaixamento da drenagem posterior à deposição do N4, processo que também pode ter ocorrido como resposta da drenagem à captura fluvial dos trechos A e B pelo Trecho C do curso d’água.

Em todos os vales (exceto o do Rio dos Bagres) é possível observar ou inferir a existência de um nível formado a partir de agradação da calha. Os depósitos são espessos (entre 10 e 20 m de espessura) e correspondem ao N2 do Ribeirão Espírito Santo e rios São Manuel, Paraopeba e Xopotó, e ao N3 do Ribeirão Ubá. A espessura dos depósitos indica gênese a partir de agradação da calha, uma vez que os cursos d’água não teriam vazão suficiente para formar pacotes com essa espessura, especialmente em um período mais seco que o atual. As sequências deposicionais observadas em todos esses vales corroboram essa afirmação, dada a alternância entre fácies tipicamente geradas por acresção lateral e as geradas por acresção vertical. A figura 100, embora expressivamente sintética (uma vez que apresenta perfis estratigráficos síntese de cada vale nos trechos à jusante da escarpa da Serra da Mantiqueira, não discriminando por trecho do vale), ilustra a semelhança entre os depósitos gerados por acresção lateral e vertical nos diversos vales, bem como a expressiva diferença entre estes e as planícies. No Rio Xopotó, os depósitos do N2 ainda são recobertos em episódios esporádicos de inundação, o que pode se dever à vazão do canal, superior à dos demais cursos d’água mencionados e à menor espessura dos depósitos do N2: cerca de 5 m, em média. A exceção do Rio dos Bagres pode ser decorrente do controle estrutural e da orientação do curso d’água,

paralela às principais estruturas regionais. No Rio Pomba, é possível que os depósitos do N2 do Trecho B se assemelhem aos demais já descritos, embora no Trecho A, onde é possível visualizar sua sequência deposicional, trate-se de pacote pouco espesso e sem indícios de gênese a partir de processos de agradação da calha. O controle estrutural do Trecho A, associado aos pequenos processos de capturas fluviais que ocorreram nessa porção do vale, pode ser responsável pelo constante encaixamento da drenagem no mesmo.