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1. BREVE SÍNTESE DA REALIDADE EDITORIAL E LIVREIRA EM

1.1. D OS ANOS DE 1970 À PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI

1.1.3. Canais de vendas

Os canais de vendas do produto livro em Portugal são diversos e podem estar ao alcance do leitor, nos mais diferentes lugares, desde um quiosque, máquinas automáticas Self- Service de livros, tabacarias e livrarias, a grandes e médias superfícies que são consideradas como ponto forte para a venda do produto livro.

Figura 5: Ponto de venda A – o livro no retalho de pouca expressão.

Fontes: Venda do livro nas grandes superfícies: sites FNAC, Auchan, Pingo doce, Continente, Almedina, Bertrand/Círculo, El Corte Inglés, Worten (Dionísio, 2012:34)35 − Informação adaptada36.

Figura 6: Ponto de venda B – o livro nas grandes/médias superfícies.

35

Vd. “Estudo do setor de edição e livrarias e dimensão de mercado da cópia ilegal”– APEL <www.apel.pt/> (Consultado em 09/10/2012).

36FNAC –< http://www2.fnac.pt/Magazine/fnac_shops/> ; Auchan – <http://www.auchan.pt/ > Pingo Doce –< http://www.jeronimomartins.pt/>; Continente - <http://www.continente.pt/> Grupo Almedina – <http://www.grupoalmedina.net>; Grupo Bertrand/Círculo

<http://www.grupobertrandcirculo.com/livrarias/livrarias-bertrand/>; El Corte Inglés <http://www.elcorteingles.pt/informacao/localizacao_horarios.asp>, Worten

<http://institucional.worten.pt/index.php?option=com_content&view=Article&id=50&Itemid=56> (Todas as informações foram consultadas 04/05/2011)

A venda do livro no retalho de pouca expressão

Essa facilidade de encontrar um livro é fruto do trabalho da distribuição, que é “um mundo fascinante onde tudo pode acontecer e quase nada é impossível” (Rousseau, 2002: 11). Sendo a distribuição “uma atividade global, dinâmica e multifacetada que se manifesta das mais diferentes formas no dia-a-dia de todas as pessoas” (Rousseau, 2002: 11), vem facilitar o acesso ao livro, levando-o a diversificados pontos de venda dentro do mercado português onde a logística da distribuição não encontra os percalços geográficos como encontrados no Brasil.

A venda de livros no retalho é naturalmente fragmentada, dada a multiplicidade de pontos de vendas, de livrarias tradicionais/independentes a hipermercados a grandes e médios espaços livreiros, como a FNACou, a Bertrand. Segundo a Análise do Mercado Livreiro, realizada em Dezembro de 2011 pelo Portugal Start-Up:37 “O mercado retalhista livreiro em Portugal está bastante concentrado, 70% das vendas são realizadas entre as cadeias de hipermercados, as lojas Bertrand e FNAC”. Semanalmente chegam em média 200 novos livros, às livrarias e, como é vantajoso para o livreiro trabalhar sob o regime de venda por consignação, “estima-se que mais de 80% destas edições não permanecem no comércio livreiro”38

.

Esta avalanche de livros novos reduz muito “o prazo de validade do livro” de que falam muitos editores e dá origem a um alto stock remanescente nas editoras. É certo que, como faz notar André Schiffrin, a“ história editorial é muito mais de que uma relação de números de vendas” (Schiffrin, 2006:21). Contudo, o mundo editorial move-se através do lucro das vendas dos livros e, se a cadeia de produção se modifica, o mercado livreiro é sempre afetado. Nestes últimos anos, a metamorfose de aglutinação e formação de grupos e o aparecimento de grandes superfícies no setor da edição tem ocasionado uma enorme baixa de vendas nas livrarias independentes. O editor da Ulisséia, Hugo Xavier, ilustra esta realidade com a sua própria experiência: “Os meus clientes repartem‑ se entre os grandes grupos livreiros, que representam cerca de 60% a 70% do mercado; os livreiros

37 Portugal Start-Up é o Blog da Consultora Up to Start - Consultoria e Projetos de Investimento, Lda. Empreendedorismo, apoio a Start-Up, Estudos de Mercado, Estudos de Viabilidade e Planos de Negócios. <http://start-upportugal.blogspot.pt/2011/12/analise-do-mercado-livreiro.html> (Consultado em

09/09/2012).

38Vd. “Análise do Mercado Livreiro” (28/12/2011).

<http://startupportugal.blogspot.pt/2011/12/analise-do-mercado-livreiro.html> (Consultado em 09/09/2012).

independentes, que representam, quase por inteiro, a percentagem remanescente” (Xavier, 2011:34)39.

Trata-se de uma nova realidade à qual as livrarias tradicionais e independentes têm que se adaptar para sobreviver. E,como já foi referidoacima pelo editor Hugo Xavier, o retalhista independente fica com uma fatia bem pequena desse mercado, enquanto a grande superfície fica com uma fatia bem maior. Isto tem consequências, como o encerramento de algumas livrarias independentes, como aconteceu com a histórica livraria Portugal que abriu suas portas em 1940, na Rua do Carmo (Chiado) em Lisboa, e as encerrou a 29 de Fevereiro de 2013, devido à falta de recursos financeiros para honrar os compromissos. Hoje os livros vendem-se em todo lado, muitas vezes a preços que o livreiro tradicional não pode acompanhar, o que causa essa instabilidade no mercado livreiro40.

Outro exemplo vem da mais emblemática livraria das Caldas da Rainha, Loja 107, fundada em 1976, que encerrou as portas em 30 de Setembro de 2011, por dificuldades financeiras, devido as mudanças ocorridas no mercado editorial e livreiro nos últimos anos.41A sobrevivência do livreiro independente perante a competição desleal das grandes superfícies pode passar pela associação de livreiros independentes, como faz notar Hugo Xavier:

Quanto aos livreiros independentes, na minha opinião, ou se dá, efetivamente, a criação de uma associação de livreiros independentes que lhes permita concorrer enquanto grupo de grande dimensão, ou acabarão esmagados pelos grandes grupos, reduzidos ao número das livrarias alternativas essenciais — aquelas que fazem, de facto, um trabalho de exceção ou são salvas por fatores específicos (localização, decoração, enfoque especial dos títulos apresentados, etc.) —, e prevejo para um futuro breve esta calamidade (Xavier, 2011)42.

39

XAVIER, Hugo (2011), “Da distribuição nos tempos da concentração — considerações” (p. 34), in

Booktailors Publishinh Magazine <http://www.booktailors.com/files/bmag_03.pdf> (Consultado em

09/10/2012). 40

Cf. LUSA (2012), “Histórica Livraria Portugal fecha portas perante a tristeza de clientes e funcionários”, (29/02/2012), in Público <http://www.publico.pt/local/noticia/historica-livraria-portugal-fecha-portas- perante-a-tristeza-de-clientes-e-funcionarios--1535885> (Consultado em 10/09/2013).

41 LUSA (2011), “Livraria emblemática em risco de fechar” (22/07/2011), <http://www.publico.pt/> (consultado em 08/10/2012); Cf. Gazetas das Caldas, “Livraria 107 encerra e dá lugar a loja de vestuário”, in

Cultura Painel (14/10/2011), <http://www.gazetacaldas.com/?tag=livraria-107> (Consultado em 10/09/2013).

42 XAVIER, Hugo (2011), “Da distribuição nos tempos da concentração — considerações” in Booktailors

A crise no retalho livreiro provem, contudo, deste e outros fatores, entre eles, o desinvestimento na compra de livros nos últimos anos, sobretudo a partir de 2011, numa altura em que a grande crise da economia se fazia já claramente sentir. Relativamente a 2010, de acordo com Isabel Coutinho, os portugueses compraram menos livros que em 2009: “A descida no consumo foi de 3% e é bem menor do que aconteceu em outras áreas como a eletrónica de consumo (menos 13%), o entretenimento (menos 13%), ou a informática (menos 8%) ” (Coutinho, 2011). Outros entraves para adquirir livros provêm da cópia ilegal – principalmente no meio dos estudantes do ensino superior – e dos livros digitais – os e-books – uma revolução de grande magnitude na indústria editorial/livreira exposta ao longo de sua cadeia de valor (cf. Dionísio, 2012: 87 e 101). Neste contexto acrescenta Jason Epstein que “as novas tecnologias modificarão de forma radical o modo como os livros são distribuídos, mas não eliminarão o trabalho essencial da edição e divulgação” (Epstein,2002:46). Epstein ainda acrescenta que “tão pouco desaparecerão as livrarias. Mas doravante passarão a coexistir com um vasto catálogo multilíngue de textos digitalizados, compilados de uma profusão de fontes, talvez “etiquetados” para uma fácil referência e distribuídos eletronicamente (2002:13).

As novas tecnologias – a distribuição e vendas de livros impressos pela internet – e os livros digitais podem provocar um desconforto na venda tradicional do livro. Todavia, ainda não está claro como essas novas tecnologias transformarão a venda no retalho do livro. As novas tecnologias podem desencorajar alguns retalhistas, mas o foco é pensar que uma sociedade sem o mercado livreiro retalhista é inconcebível (cf. Epstein, 2002:47).

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