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4. LOGÍSTICA NA CADEIA DE SUPRIMENTOS DE FLV

5.1. Estrutura das cadeias de suprimentos de FLVs

5.1.3. Canal de fornecimento

Compõem o canal de fornecimento: agentes intermediários (ACAR, empresa de representações e produtor intermediário) e agricultores familiares (AF).

a) Intermediários

A cadeia de suprimentos do PAA não possui agentes intermediários, sendo a comercialização feita diretamente entre o agricultor familiar e o agente focal.

A associação de desenvolvimento rural e comunitário do campo de aviação de Ubá e região (ACAR) é o único intermediário da cadeia de suprimentos do PNAE, fazendo a conexão entre os agricultores familiares e as escolas municipais. A ACAR foi fundada em 2009 iniciando suas atividades com somente sete produtores rurais. Desde a sua criação, ela passou por reformas e aprimoramentos, e nos dias atuais, ela já conta com todo o aparato físico, equipamentos e pessoal para o desenvolvimento das atividades de comercialização de alimentos.

No setor administrativo da ACAR são realizadas as tarefas burocráticas da associação e na expedição as atividades de recepção dos alimentos, triagem, separação das cestas. A associação conta com caixas plásticas para a transposição dos produtos dos agricultores para a associação, pallets para acomodação de alimentos que são

125 comercializados em sacarias (batata, cebola, abóbora, etc), balança para a pesagem das FLVs, refrigeradores para armazenagem de alimentos congelados (polpa de fruta) e sacos plásticos para a montagem das cestas de produtos. Na ACAR, o conferencista tem um papel muito importante, uma vez que ele quem faz o elo entre o setor administrativo e a distribuição. A associação dispõe de dois veículos (caminhonetes), que são de propriedade dos motoristas (que também são produtores rurais), que por prestarem esses serviços recebem um valor fixo por frete.

Por fim, na cadeia de suprimentos da agroindústria, existem dois intermediários, a empresa de representações e produtor intermediário. A empresa de representações fica localizada no município de Visconde do Rio Branco. Ela foi fundada em 2009 por um ex-funcionário da agroindústria, que era responsável por coordenar e executar as atividades de compras de frutas. Ao se aposentar, ele resolveu criar sua própria empresa para atuar no ramo de agropecuário. A agroindústria por meio de um contrato firmou parceria com a empresa de representações, deixando a ela a responsabilidade de realizar as compras de frutas e polpas para abastecimento de seu processo produtivo.

A empresa de representações recebe frutas de um intermediário, que é um grande produtor de frutas do município de Piraúba-MG, que dista 50 km da agroindústria. Ele tem grande experiência na produção de frutas e possui todo o aparato tecnológico e estrutural para plantio, manutenção de seus pomares e aptidões no gerenciamento da sua propriedade. O conhecimento adquirido pelo intermediário é replicado aos outros produtores familiares, que o vêem como um líder seguindo suas instruções tanto de produção quanto comercialização, como afirmado por Lemeiller e Codron (2011).

As inexistências de intermediários no PAA, de uma associação que conecta a distribuição de alimentos no PNAE e produtor intermediário em cadeias agroindustriais corroboram com a literatura e pode ser evidenciada na Figura 3. Entretanto o diferencial nas informações apresentadas aparece no caso da agroindústria, que terceirizou as compras de frutas a uma empresa do ramo. Essa pode ser uma tendência de empresas de grande e médio porte, uma vez que elas se focam no seu core competence, no caso da agroindústria, de produção de sucos e néctares, deixando as atividades secundárias para empresas especializadas.

126 b) Agricultores familiares de FLV

Todos os entrevistados nas três cadeias de suprimentos são do sexo masculino e as suas idades médias não apresentam grandes diferenças. As idades médias dos produtores do PAA e do PNAE corroboram o estudo de Oliveira et al., (2017), em que agricultores familiares que comercializam com o mercado institucional de Ubá tem idade média de 48 anos, entretanto, a literatura não apresentou a idade média de agricultores familiares que comercializam com agroindústrias para uma análise comparativa entre estudos.

A escolaridade dos produtores rurais é diferente nas três cadeias de suprimentos, sendo que os agricultores da agroindústria possuem mais tempo de estudos. Esses agricultores além de comercializarem com a agroindústria participam de diferentes cadeias de suprimentos, como CEASA de Juiz de Fora, Belo Horizonte e supermercados de cidades vizinhas e eles trabalham com distintos nichos de mercados, tendo sido investido no segmento de “frutas para mesa”, onde além do sabor e doçura da fruta a aparência da casca é fator preponderante para o consumidor final. Dessa forma, o nível de escolaridade dos produtores o tornam mais inovadores, buscando mercados cada vez mais diversificados, como afirmado por Rao e Qaim (2011) e Sahara et al., (2015).

A participação em ações coletivas nos casos analisados mostra que elas são importantes mecanismos para produtores do mercado institucional (PAA e PNAE), não tendo relevância para os produtores da agroindústria. No PNAE a comercialização só ocorre se os produtores estiverem vinculados a uma forma de associativismo, como a ACAR, conforme afirmado por Marques et al., (2014). No PAA, ser membro de uma associação para comercializar com o programa é facultativo, sendo as vendas feitas individualizadas pelos agricultores. Mas como visto, 80% dos agricultores participa da Associação dos produtores rurais de Ubá Pequeno e adjacentes que é uma organização voltada para a comercialização de FLVs a mercados que exigem maiores quantidades, como supermercados, o que corrobora com Roy e Thorat (2008). Por fim, os produtores de frutas da agroindústria não são vinculados a nenhuma associação, pois de acordo com eles a gestão, inserção tecnológica empreendida pelo intermediário supre as suas necessidades.

O tamanho das propriedades dos agricultores familiares do mercado institucional é bastante similar e na agroindústria, os estabelecimentos rurais possuem dimensões

127 maiores que nos programas (PAA e PNAE). No PAA, o tamanho das propriedades varia entre 2 e 12 hectares e no PNAE, entre 3 e 13 hectares, corroborando com os trabalhos de Mendonça e Rocha (2015) e Gomes Silva et al., (2015). Já os produtores da agroindústria possuem propriedades entre 15 e 35 hectares, uma vez que o plantio de manga e goiaba requer uma área muito maior. Além dessas frutas, os agricultores também produzem acerola, graviola, verduras (couve, alface, cebolinha, rúcula), legumes (abóbora, cenoura, batata, beterraba, jiló). A literatura não apresentou informações sobre o tamanho de propriedades de produtores rurais que comercializam com agroindústrias.

A situação dos agricultores familiares em relação à titularidade da propriedade nas três cadeias de suprimentos é semelhante e equivalente a literatura apresentada pelo IBGE (2006), com todos os produtores donatários de suas propriedades. Além disso, produtores do PAA e do PNAE arrendam terrenos de terceiros para empreenderem atividades agropecuárias, por causa da insuficiência de espaço para o cultivo de todas as culturas que comercializa. As formas de arrendamentos na região são a gratuito e por contrato assinado, na primeira o produtor tem somente que limpar e cuidar a propriedade e em troca pode utilizar terreno e na segunda o agricultor paga um valor fixo pelo uso da terra.

Por fim, o capital físico dos agricultores familiares é muito semelhante nas três cadeias. Todos possuem equipamentos de irrigação (aspersor ou gotejamento) e telefones celulares que são essenciais para produção de FLV e para a troca de informações entre os agentes da cadeia de suprimentos, respectivamente. A diferença encontra-se na propriedade de veículos, sendo que produtores do PAA e do PNAE têm automóveis próprios para entregar as FLVs e agroindústria utiliza caminhões fretados. Isso acontece porque nos dois primeiros casos, os produtores apresentam uma quantidade de comercialização pequena e seus estabelecimentos rurais encontram-se em diferentes localidades e nos produtores da agroindústria a quantidade entregue é grande, os produtores são vizinhos e a relação custo/benefício do fretamento de um caminhão é melhor que a aquisição de um veículo novo.

5.2. Critérios de inserção de agricultores familiares nas cadeias de suprimentos

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