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1 . Obj e t iv os, qu e st õe s de pe sq u isa e h ipót e se s de t r a ba lh o

Desde 1998, vem sendo im plant ada na Rede Est adual de Ensino a

pr opost a de Pr ogr essão Cont inuada nas escolas de Ensino Fundam ent al do

Est ado de São Paulo. Tal com o const at am os em pesquisa ant er ior

( RAVAGNANI , 2000) , os pr ofessor es vêem essa pr opost a com o um

obst áculo ao exer cício de aut or idade diant e dos alunos. Afinal, é um a

pr opost a que foi im post a aos pr ofessor es, que não t iver am t em po

suficient e par a se prepar ar em .

Com o é r ecent e essa im plant ação e pelos depoim ent os que

escut am os de pr ofessor es em nossa pesquisa de Mest r ado, int er essam o-

nos em pesquisar com o pr ofessor es e alunos r epr esent am a aut or idade,

aut or it ar ism o e aut onom ia docent e. Diant e das pist as daquele t rabalho,

sur gir am as quest ões:

Quais as concepções de aut or idade e aut onom ia que os pr ofessor es

m anifest am hoj e? Ser á que os pr ofessor es confundem aut or idade com

aut or it ar ism o? As duas at it udes são concebidas igualm ent e por eles? E

com o per cebem a r elação ent r e aut or idade e aut onom ia e a m edida de

pr ogr essão cont inuada?

I m aginam os que os pr ofessor es t am bém associem est r eit am ent e

aut or idade com aut onom ia. Nesse caso, per gunt am os: as noções de

aut or idade e aut onom ia t am bém não ser iam t r at adas de m odo confuso

pelos pr ofessor es? Com o concebem a pr ópr ia aut onom ia? Essas noções

sofr er iam var iação com a idade? Quais ser iam as noções de aut or idade,

aut or it ar ism o e aut onom ia ent r e alunos de difer ent es idades? Ser iam as

Desse m odo, t em os com o ob j e t iv os:

1. I nvest igar com o se apr esent am a aut or idade e a aut onom ia docent e na r epr esent ação de professor es, t endo em vist a a

im plant ação da pr opost a de pr ogr essão cont inuada.

2. I nvest igar com o se desenvolvem as noções de aut or idade e aut onom ia docent e em alunos desses pr ofessor es;

3. Com par ar r epr esent ações de aut or idade e aut onom ia de pr ofessor es e alunos.

4. Ident ificar com o os pr ofessor es per cebem a r elação ent r e aut or idade e aut onom ia e a m edida de pr ogr essão cont inuada.

Os obj et ivos e as quest ões dest a pesquisa nos levam à s h ipót e se s

se gu in t e s:

1. As r epr esent ações de aut or idade e aut onom ia docent e por par t e dos alunos se difer enciam em função da idade e ocor r em em

níveis dist int os de desenvolvim ent o.

2. As r epr esent ações de aut or idade e aut onom ia docent e que os

alunos m anifest am se difer enciam daquelas encont r adas ent r e pr ofessor es.

3. Os pr ofessor es não dispõem de r epr esent ações bem definidas e

delim it adas de aut or idade e aut onom ia docent e e est as noções se apr esent am t am bém em difer ent es níveis.

4. Os pr ofessor es concebem inadequadam ent e a r elação ent r e aut or idade e aut onom ia docent e e a m edida de progr essão cont inuada.

2 .

M é t odo

2 .1 . O m é t odo clín ico n a pe squ isa qu a lit a t iv a

Na ent r evist a com alunos e pr ofessor es, ut ilizam os o m ét odo clínico

em sua for m a psicogenét ica.

Piaget r efer e- se ao seu pr ocedim ent o exper im ent al com o m ét odo

clínico, diz Flavell ( 1975, p. 28) , e cham a a at enção par a as suas

sem elhanças com os pr ocedim ent os psiquiát r icos.

Esse não é o único m eio que pode ser ut ilizado par a est udar o com por t am ent o das cr ianças, m as Piaget acr edit ava que som ent e a par t ir

desse m ét odo se pode chegar ao cer ne das est r ut ur as cognit ivas da

cr iança e descr evê- las de m odo realist a. É necessár io adot ar um

pr ocedim ent o, m esm o que com r iscos e dificuldades, e que per m it a à

cr iança at uar int elect ualm ent e por si só e m anifest ar a or ient ação

cognit iva que lhe é nat ur al no per íodo de desenvolvim ent o em que se

encont r a. Um exper im ent o piaget iano t em or igem num a cuidadosa

obser vação do com por t am ent o espont âneo da cr iança ( FLAVELL, 1975) .

De acor do com Dom ahidy- Dam i & Banks Leit e ( 1997, p. 116- 117) , o

m ét odo clínico apr esent a algum as car act er íst icas fundam ent ais, que são:

a) A ut ilização de um m a t e r ia l a da p t á v e l que é colocado à disposição da cr iança. Ela é solicit ada a obser v á- lo, m anipulá- lo e m uit as vezes em it ir j ulgam ent os em r elação às t r ansfor m ações r ealizadas. Em out r as ocasiões, ela deve or ganizar esse m at er ial, t endo em vist a a r esolução de pr oblem as pr opost os pelo exam inador .

par t ir de algum as quest ões básicas, pr ocur a- se desenvolver um diálogo dir igido por hipót eses for m uladas pelo exam inador no decor r er da ent r evist a. Cada r espost a dada pela cr iança lev a à for m ulação de um a hipót ese que engendr a um a nov a quest ão do exam inador . É est e encadeam ent o e sucessão de per gunt as, r espost a, nova hipót ese, nova per gunt a que dá coer ência e unidade ao int er r ogat ór io.

c) An á lise qu a lit a t iv a da s con du t a s do suj eit o na t ent at iva de apr eender os pr ocessos psicológicos em j ogo em difer ent es sit uações de exam e, ao invés de se cont ent ar apenas com o r esult ado final, o r endim ent o, as

per for m ances for necidas.

Do pont o de vist a in t e r pr e t a t iv o, as aut or as suger em que, em

t odos os níveis m encionados, do int er r ogat ór io à análise qualit at iva, a

r efer ência a um m odelo int er pr et at ivo é const ant e. Esse é um dos t r aços

que dist ingue o m ét odo clínico dos out r os, pois per m it e ir além da

obser vação pur a e, ao m esm o t em po, super ar os inconvenient es dos

t est es e alcançar as vant agens da exper im ent ação.

As aut or as afir m am , ainda, que o m ét odo clínico não se j ust ifica

sim plesm ent e pela única r azão de que, sendo clínico, im pede os er r os

sist em át icos das sit uações padr onizadas. Just ifica- se pela r efer ência a um

m odelo que per m it e ger ar hipót eses for m uladas pelo ex per im ent ador de

acor do com o desenr olar da ent r evist a; é esse m esm o m odelo t eór ico que

per m it e r elacionar difer ent es r espost as que r epr esent am indícios da for m a

de or ganização do pensam ent o, t or nando possível não apenas um a

m as t am bém um a análise das difer ent es fases de t r ansição de um nível

par a out r o.

Assim sendo, podem os infer ir que o m ét odo clínico pode ser

ut ilizado com êx it o quando se t r at a de ent r ev ist a com adult os e sua

aplicação não é exclusiva com cr ianças ( CHAKUR, 2001) .

Desse m odo, em um a adapt ação livr e, podem os dizer que a

explor ação clínica do pensam ent o de pr ofessor es e alunos foi o

pr ocedim ent o que elegem os com o o m ais adequado par a que os

par t icipant es de nossa pesquisa pudessem expr essar à vont ade suas

opiniões a r espeit o dos t em as est udados.

Est e t ipo de int er venção foi m uit o ut ilizado nas pesquisas de Piaget

com cr ianças e dele nos apr opr iam os por int er m édio, principalm ent e, dos

t r abalhos de Chakur ( 2000; 2001) , que o aplicou em sit uações de sala de

aula com pr ofessor es, conseguindo um r esult ado bast ant e posit ivo.

2 .2 . Os p a r t icipa n t e s da pe squ isa

Par a dar início à colet a de dados, escolhem os um a cidade de por t e

pequeno do int er ior do Est ado de São Paulo e dem os pr ior idade às duas

únicas escolas que ainda não haviam sido m unicipalizadas, par a que não

houvesse int er fer ência de cur r ículo ou r egr as na pesquisa, devido ao fat o

de ser em de sist em as de ensino difer ent es. Tais escolas, por t ant o, são

est aduais e seus pr ofessor es são cont r at ados pela Secr et ar ia Est adual de

Cont at am os, inicialm ent e, os dir et or es das escolas, que se

m ost r ar am solícit os e disponibilizaram t odas as condições par a que a

pesquisa fosse desenvolvida com sucesso, m esm o est ando finalizando o

ano let ivo. Tom am os com o suj eit os 10 pr ofessor es do Ensino Fundam ent al

e 16 alunos desses m esm os pr ofessor es, com idades que var iavam ent r e

7 e 14 anos. Um a escola possui alunos de 7 a 11 anos ( 1ª a 5ª sér ies) e a

out r a at ende alunos com idades que var iam de 12 a 17/ 18 anos ( 6ª sér ie

at é o 3º ano do Ensino Médio) , não sendo, por t ant o, separ adas por ciclos

conform e as Diret rizes do Sist em a de Ensino do Est ado de São Paulo, e

sim por sér ies, com o ver ificado. I nvest igam os som ent e alunos at é 8ª

sér ie.

As duas escolas sit uam - se em bair r os pr óxim os e os alunos vão se

deslocando confor m e o seu avanço escolar , passando pela Educação

I nfant il ( m unicipal) , Ensino Fundam ent al e Ensino Médio, ofer ecidos em

escolas sit uadas nas pr oxim idades. Um a das nossas exigências foi quant o

às idades das cr ianças par a analisar as suas r epr esent ações. Quant o aos

pr ofessor es, t ivem os o cuidado de cont at ar aqueles que davam aulas par a

Qu a dr o 1 . D a dos de ide n t ifica çã o de pr ofe ssor e sPr of. I da de Sé r ie a t u a çã o Te m po se r v iço Pr of. I da de Ár e a Te m po se r v iço Ana 52 2ª 19 Fát im a 31 Mat em . 5 Bet ânia 48 3ª / 4ª 19 Gr aça 32 Ciências 2 Cláudia 50 1ª 20 Helena 34 Hist . 10 Dulce 51 3ª 25 I van 49 Ed. Fís. 16

Elza 56 1ª 30 Jane 52 Geog. 26

Qu a dr o 2 . D a dos de ide n t ifica çã o dos a lu n os∗∗

Alu n o I da de Sé r ie Alu n o I da de Sé r ie Alu n o I da de Sé r ie

Ar t ur 7 1ª Flavia 10 4ª Mar celo 13 6ª Beat r iz 7 1ª Gisela 10 4ª Nar a 13 7ª Car los 8 2ª Hugo 10 4ª Ot ávio 13 7ª Débor a 8 2ª I gor 11 5ª Paula 13 7ª Eduar do 8 2ª João 11 5ª Rober t o 13

Luisa 11 4ª

2 .3 . I n st r u m e n t os e M a t e r ia l

Com o inst r um ent os da pesquisa, ut ilizam os dois r ot eir os: um de

ent r evist a sem i- est r ut ur ada ( Lüdke & Andr é, 1986) const r uído, t est ado e,

post er ior m ent e, em pr egado com professor es e alunos. Tal r ot eir o

apr esent ava quest ões em for m a de hist ór ias fict ícias de fat os ocor r idos em

salas de aulas, com pr oblem as r elacionados a aut onom ia, aut or idade e

aut or it ar ism o do pr ofessor diant e da im plant ação da pr opost a de

pr ogr essão cont inuada; esse r ot eir o foi adapt ado par a ser em pr egado em

Os nomes dos professores são fictícios.

∗∗

ent r evist a com os alunos, cont endo hist ór ias iguais às que r elat am os aos

pr ofessor es, m as t endo o cuidado de r espeit ar as idades e o ent endim ent o

das hist ór ias pelos alunos. Out r o r ot eir o cont inha per gunt as ger ais sobr e

aut or idade e aut onom ia docent e e er a difer ent e confor m e o gr upo a que

se dest inava ( pr ofessor es ou alunos) . Com o m at er ial, ut ilizam os um

gr avador e lápis e papel par a r egist r o.

Os r ot eir os de ent r evist a for am pr eviam ent e t est ados par a

poder m os sanar alguns pr oblem as que poder iam ocor r er ao longo da

pesquisa. Tivem os o cuidado de selecionar , t am bém , algum as per gunt as

r elacionadas com as quest ões de pesquisa e difer enciadas confor m e o

gr upo ( pr ofessor es ou alunos) .

Resum im os aqui as hist ór ias ut ilizadas com os dois gr upos ( a ínt egr a

de cada um a se encont r a no final, em anexo) . A h ist ór ia 1 pr et ende

ver ificar a a u t or ida de do pr ofessor . Apr esent am os um a sit uação de sala

de aula onde t r ês alunos não querem fazer nada, com o ar gum ent o de

que ir ão passar de ano assim m esm o. Na h ist ór ia 2 , pr et endem os

m ost r ar um a sit uação onde a a u t on om ia do pr ofessor est á sendo

desr espeit ada. Relat am os o conflit o ent r e um pr ofessor que desej a

r epr ov ar um aluno que não t em condições de dar cont inuidade aos

est udos na sér ie seguint e e o Conselho de Escola que insist e em apr ová-

lo. Na h ist ór ia 3 , pr ocur am os m ost r ar um conflit o que vai cont r a a

a u t on om ia do pr ofessor em desenvolver seu t r abalho e r elat am os um a hist ór ia em que um pr ofessor dá um a at ividade em sala de aula que

exige que sej a int er r om pida a at ividade por at r apalhar as salas ao lado.

Na h ist ór ia 4 , t ent am os m ost r ar um a sit uação em que a a u t or ida de do

pr ofessor foi desr espeit ada diant e da classe. A sit uação é de um aluno que

at r apalha a aula, a pr ofessor a pede que saia da sala e o dir et or m anda

que est e volt e par a a sala de aula. Par a t ent ar ent ender a r epr esent ação

dos suj eit os sobr e a u t or it a r ism o a h ist ór ia 5 cont a sobr e um a

pr ofessor a que ent r a na sala de aula e encont r a t udo fechado, vai abr indo

vidr os e ligando o vent ilador sem consult ar os alunos. Na h ist ór ia 6 ,

pr ocur am os um a sit uação bem pr esent e nas salas de aula par a salient ar o

a u t or it a r ism o do professor: um aluno dorm e na sala de aula e isso incom oda a pr ofessor a, que dá um cast igo sever o e o m anda par a a

dir eção. Na últ im a h ist ór ia , a 7 , ocor r e um a sit uação de desafio da

a u t or ida de docent e por um aluno, que cor r ige a pr ofessor a que est á dando um assunt o novo na sala de aula. Em t odas as hist ór ias,

per gunt am os o que o suj eit o achava da sit uação, o que achava da at it ude

da pessoa envolvida e o que dever ia ser feit o no caso, sem pr e pedindo

j ust ificat iva e, às vezes, cont r a- ar gum ent ando.

2 .4 . Pr oce dim e n t o de cole t a e a n á lise de da dos

A colet a de dados ocor r eu nas escolas de or igem dos pr ofessor es e

dos alunos ent r evist ados, poupando- lhes t em po e t r abalho, pois j á

sabem os que os pr im eir os são pr ofissionais que acum ulam t ar efas e o seu

t em po é m uit o valioso, e t am bém par a evit ar o deslocam ent o dos alunos.

seguiu os pr incípios do m ét odo clínico, t al com o car act er izado

ant er ior m ent e. Os r ot eir os for am aplicados individualm ent e e as

per gunt as er am r epet idas, ou m elhor, explicadas, confor m e sinais de

incom pr eensão por par t e do ent r evist ado.

A análise dos dados de pr ofessor es e de alunos foi sem elhant e.

I nicialm ent e, pr ocur am os ler t odas as r espost as do gr upo analisado

( pr ofessor es ou alunos) em cada quest ão de cada hist ór ia, t ent ando

avaliar a pr oxim idade dos depoim ent os com r elação a alguns cr it ér ios

t om ados da bibliogr afia consult ada. Par a t ant o, r ecor r em os pr incipalm ent e

aos est udos de Delval ( 1989) , Piaget ( 1994) e Chakur ( 2001) . Em

seguida, cat egor izam os os depoim ent os e buscam os est abelecer um a

hier ar quia de níveis evolut ivos das noções em j ogo em cada hist ór ia. No

caso das cr ianças, t ent am os ident ificar um a possív el evolução nas

r epr esent ações em função da idade.

Os cr it ér ios ut ilizados na análise ser ão m elhor esclar ecidos

j unt am ent e com a apr esent ação dos r esult ados, que ver em os em seguida.

De um m odo ger al, par a o est abelecim ent o de níveis de r epr esent ação,

r ecor r em os a car act er íst icas pr esent es nos depoim ent os, t ais com o

cent r ação em elem ent os apar ent es/ não apar ent es da sit uação ou em

aspect os m ais im ediat os/ apenas infer idos, foco nas conseqüências

im ediat as r et ir adas da sit uação/ em conseqüências fut ur as, avaliação

global/ análise int egr ada da sit uação, assim ilação ou não do conflit o, t ipo

de solução dada, t raços de het er onom ia/ aut onom ia e com pr eensão da

exem plo) .

Far em os a apr esent ação pr im eir am ent e dos dados obt idos com o

gr upo de alunos e depois com o gr upo de pr ofessor es. Em am bos os

gr upos, focalizar em os cada noção – aut or idade, aut or it ar ism o e

aut onom ia – separ adam ent e.

Os depoim ent os ser ão apr esent ados int egr alm ent e. Devido à for m a

de expr essão r egional, far em os cor r eções em algum as palavr as, o que

não acar r et ar á nenhum a alt er ação no sent ido dos depoim ent os, t ant o de

pr ofessor es com o de alunos. Nossas int er fer ências est ar ão em let r a

nor m al e ent r e par ênt eses e as r espost as dos suj eit os ser ão r egist r adas

em it álico par a m elhor visualização. Salient am os que os nom es dos

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