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CAPÍTULO 3 – Cultivo de camarão Litopenaeus vannamei em face da

Cultivo de camarão Litopenaeus vannamei em face da atual problemática ambiental global

Vinícius Gabriel da Silva Santana13, Karina Ribeiro24, Cibele Soares Pontes125

1Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Centro

de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil.

2Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias, Escola Agrícola de Jundiaí/UFRN 3santana.vgs@hotmail.com 4ribeiro_k@hotmail.com 5cibelepontes.ufrn@yahoo.com.br

ESTE ARTIGO SERÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO Journal of the World Aquaculture Society DE QUALIS (2013-2016) B1 PARA CIÊNCIAS AMBIENTAIS E QUALIS (2019)

A2. PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESSA REVISTA (acessar

Cultivo de camarão Litopenaeus vannamei em face da atual problemática ambiental global

SANTANA, Vinícius Gabriel da Silva¹; RIBEIRO, Karina²; PONTES, Cibele Soares² ¹Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

²Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

Correspondência: Vinícius Gabriel da Silva Santana, Programa de Pós-Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil

Email: santana.vgs@hotmail.com

Informação sobre financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior – Capes.

Resumo

Na carcinicultura, diversas metodologias são adotadas em função da busca da sustentabilidade. Na América Latina os produtores têm buscado a otimização do tempo de cultivo, através da adoção de sistemas denominados bifásicos. Tomando-se os cultivos no Brasil como semelhantes aos dos demais países latinos, avaliou-se as características das densidades de estocagem dos cultivos e uso de terra, através da análise de 116 ciclos de criação de camarão, ocorridos de 2016 a 2019 em cinco fazendas. Foram comparadas as áreas dos viveiros, a duração da fase de engorda e o peso médio dos camarões despescados em relação à densidade de estocagem adotada (6 e 10 camarões/m²). Em seguida, comparou-se a duração da fase de

engorda e o peso médio dos camarões despescados em relação a área dos viveiros (2,6 e 4,9 hectares). Por fim, foram comparados a densidade de estocagem, área dos viveiros, quantidade total de ração fornecida em todo o ciclo, duração da fase de engorda, Taxa de Conversão Alimentar e peso médio dos camarões despescados em relação ao sistema de cultivo (mono e bifásicos). Os dados demonstram que os cultivos com densidade de 10 camarões/m² ocupam maiores áreas (4,17 hectares) e duram mais (79 dias) que os de 6 camarões/m² (3,5 hectares, 68 dias; p = 0,003). Em relação a área, os viveiros de 2,6 hectares propiciaram cultivos de menor duração (63 dias) que os de 4,9 hectares (83 dias; p < 0,001). Na análise do sistema produtivo, os cultivos bifásicos resultaram em maior adensamento (9 camarões/m²), ocupação de área (4,1 hectares) e utilização de ração (1690 kg) que os monofásicos (8 camarões/m², 3,6 hectares, 1017 kg; p < 0,03). A Taxa de Conversão Alimentar e a duração da fase de engorda não diferiram entre cultivos mono e bifásicos e o peso médio dos camarões despescados não diferiu em nenhuma análise. Entretanto, nos cultivos bifásicos há um aumento da quantidade de ciclos de cultivo (engorda) ao ano, refletindo numa maior produtividade de camarão para essas áreas, interferindo indiretamente na diminuição do uso de terra, promovendo aumento na produção sem aumentar o uso de áreas de manguezais.

Palavras-chave: camarão; densidade de estocagem; manguezal; produtividade; viveiros-

berçário.

1. INTRODUÇÃO

O rápido aumento da produção da aquicultura tem sido considerado a Revolução Azul, uma abordagem para contribuir com a nutrição humana e a segurança alimentar (Ahmed & Thompson, 2019). Essa revolução não exclusiva da Ásia, berço da atividade, uma vez que países não-asiáticos são cada vez mais importantes e indica o sistema de produção de frutos do mar ser uma tecnologia de produção mais ambientalmente sustentável para a proteína animal

(Garlock et al., 2019). Apesar dos benefícios e da perspectiva de prosperidade sobre o futuro, a aquicultura é historicamente o fator mais importante para a perda de manguezais, em especial a aqüicultura extensiva de camarão, que geralmente está relacionada a práticas insustentáveis sobretudo em países populosos e em desenvolvimento (López-Angarita et al., 2016).

Nesse sentido, a produção asiática vem adotando a Intensificação Sustentável da densidade de estocagem dos seus cultivos como estratégia para buscar maior produtividade, diminuir o uso de áreas de manguezais e consequentemente do custo ambiental, mesmo que para isso haja o aumento de seus custos financeiros (Garnett et al., 2013; Edwards, 2015; Kumar et al., 2018). Na América Latina, essas condições são buscadas através da adoção de diferentes fases ao longo do ciclo de cultivo. De acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC, 2016), os cultivos podem ocorrer em fases, sendo considerados monofásicos aqueles em que as pós-larvas são povoadas diretamente nos viveiros, onde permanecem até a despesca, e bifásicos, caracterizados pela utilização prévia de viveiros-berçário, no qual as pós- larvas são inicialmente mantidas em altas densidades de estocagem e, só depois, transferidas para viveiros da fase de engorda. Este último, apresenta vantagens na produção como o fortalecimento das pós-larvas, refletido em melhor nutrição, crescimento e sobrevivência dos camarões, diminuindo o tempo de engorda nos viveiros de terminação, otimizando o uso da área de engorda.

O Brasil está situado em 11º lugar no ranking dos produtores mundiais de crustáceos, sendo o terceiro maior produtor desses animais no ocidente (FAO, 2018). A sua região nordeste produz cerca de 99% do camarão cultivado do país, sendo o estado do Rio Grande do Norte líder dessa atividade em 2018 (IBGE, 2019). A degradação dos manguezais do território brasileiro ocorreu durante as décadas de 80 e 90, estimando-se cerca de 20 a 50% em função da produção de camarões (FAO, 2007a). De acordo com Giri et al. (2011), o Brasil possui 7% da área global dessas florestas. Aparentemente a degradação desses manguezais cessou no começo dos anos 2000 em função de esforços governamentais (FAO, 2007a). A construção de viveiros

de camarão no solo dos manguezais pode levar ao desmatamento nessas áreas. O desmatamento de manguezais deve ser incluído nas estratégias de mitigação das mudanças climáticas, dentre tantas razões, porque possui solos profundos e ricos em matéria orgânica, com armazenamento de carbono excepcionalmente alto, e suas emissões resultam em emissões potencialmente grandes de gases do efeito estufa (Kauffman et al., 2014).

No Brasil, a problemática sobre o desmatamento de manguezais voltou à tona em 2012, após a atualização de leis ambientais, onde as áreas de apicuns e salgados foram desconsideradas do ecossistema manguezal e autorizadas para as atividades de carcinicultura com área ocupada em cada Estado de até 35% (CONAMA, 2012). De acordo com Ribeiro et al. (2014), a comunidade acadêmica e ambientalistas criticaram a eficácia dessa nova regulamentação por atingir também Áreas de Preservação Permanente das margens de rios e lagos. Paralelo a isso, in 2019, o recente aumento dos incêndios florestais brasileiros elevou o nível de alerta e urgência sobre o desmatamento, uma vez que a fraca governança ambiental pode levar a mais incêndios e prejudicar o monitoramento e a conservação dos ecossistemas desse país. (Barlow et al., 2019).

O estudo visa avaliar, dentro do contexto da criação de camarão na América Latina, a busca da sustentabilidade dos cultivos em função da intensificação da densidade de estocagem e da otimização temporal do uso da terra. Deste modo, com base nos principais parâmetros, analisamos o uso de área dos cultivos, o número de fases na produção, sua potencial emissão de CO2 pela área ocupada, assim como a influência do manejo técnico adotado.

2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Método de amostragem e coleta dos dados

Foram analisados 116 ciclos de criação do camarão Litopenaeus vannamei, durante sua fase de engorda, ocorridos de 2016 a 2019 em cinco fazendas situadas na mesorregião Leste do Rio Grande do Norte, estado responsável por quase metade da produção brasileira de camarões

cultivados (IBGE, 2019). Foram coletados os dados de planilhas de organização das fazendas cedidas pelos micros, pequenos e médios produtores pertencentes a Cooperativa dos Produtores de Camarão Marinho do Estado do Rio Grande do Norte (COOPERCAM).

Foram utilizados os seguintes dados de produção: densidade de estocagem (camarão/m²), área dos viveiros (ha), a duração do cultivo na fase de engorda (dias), peso médio dos camarões despescados (g), quantidade de fases (mono ou bifásicos), quantidade total de ração fornecida (kg) e a Taxa de Conversão Alimentar (kg de ração total / kg da produção total de camarão).

Para estimar a potencial emissão de CO2 ocorrida na conversão de áreas de manguezal

em cultivos, utilizamos a média de 1371 Mg CO2e/ha dos cultivos ocorridos no estado do Ceará,

também no nordeste do Brasil, seguindo o estudo de Kauffman et al. (2018) para o cálculo: 𝑡𝑎𝑚𝑎𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑎 á𝑟𝑒𝑎 (𝑚²)

10.000 𝑥 1371

2.2 Análise estatística

Os dados acerca da densidade de estocagem e do tamanho de área foram transformados em variáveis qualitativas através da Cluster Analysis sob o método de centroides e a Distância Euclidiana Quadrada (CORRAR et al., 2009). Foram criados dois grupos estatisticamente diferentes acerca da área dos viveiros: Menor Tamanho de Área (2,614±0,36 hectares, n = 50) e Maior Tamanho de Área (4,931±0,12 hectares, n = 66), sendo t (114) = -42,650; p < 0,001. E também criados para a densidade de estocagem: Maior Densidade (10,2±1,53 camarões/m², n = 42) e Menor Densidade (6,1±1,26 camarões/m², n = 74), sendo t (114) = -14,95; p < 0,001.

Foram comparadas as médias da área dos viveiros, da duração e do peso médio dos camarões despescados entre os grupos de Maior e Menor densidade. Também comparamos a duração e o peso médio dos camarões despescados de acordo com os grupos de Maior e Menor Tamanho de Área. Por fim, foram comparados a densidade de estocagem, área dos viveiros, duração, peso médio dos camarões despescados, Taxa de Conversão Alimentar e quantidade total de ração fornecida entre os cultivos com quantidade de fases distintas.

Todas as comparações foram realizadas através do teste T independente, após avaliadas sua normalidade e homocedasticidade (Komolgorov-Smirnov e Levene, respectivamente). Para os dados sobre a quantidade total de ração fornecida, utilizou-se o método bootstrap (1000

bootstraps samples) por não atenderem os pressupostos de parametricidade. Para isto, realizou-

se a reamostragem das próprias amostras, havendo assim a redefinição do intervalo de confiança. Nosso N amostral mostrou-se adequado às análises estatísticas realizadas (α = 0,05; β ≥ 0,75; d = 0,5) (DANCEY; REIDY, 2006; FILHO, 2010). Os testes estatísticos desse estudo foram realizados utilizando o software Past (Paleontological Statistics, versão 3.26).

3. RESULTADOS 3.1 Densidade de estocagem

Existe diferença no tamanho de área utilizado pelos dois grupos de densidade (t (114) = -3,043; p = 0,003) (gráfico A) e nas durações de seus cultivos (t (114) = -2,141; p = 0,035) (gráfico B). Porém, o peso médio individual dos camarões despescados não diferiu estatisticamente (t (114) = 0,682; p = 0,496) (gráfico C).

Figura 1: (a) Uso de área, (b) duração da fase de engorda e (c) peso médio dos camarões cultivados de acordo com a densidade de estocagem (6 camarões/m²; 10 camarões/m²).

3.2 Área

Os cultivos de Maior Tamanho de Área duraram mais que os de Menor Tamanho de Área (t (105) = -4,125; p < 0,001) (gráfico D). O peso médio individual dos camarões despescados também não diferiu quando comparado entre os cultivos de Maior e Menor Tamanho de Área (t (114) = -1,857; p = 0,67) (gráfico E).

Figura 2: (d) Duração da fase de engorda e (e) peso médio dos camarões cultivados de acordo com o tamanho da área utilizada (menor, 2,6 hectares; maior, 4,9 hectares).

3.3 Berçários

A densidade de estocagem é maior nos cultivos que adotaram o sistema bifásico (t (114) = 2,223; p = 0,028) (gráfico F), assim como o tamanho de área é maior nesse sistema (t (114)

= 2,392; p = 0,018) (gráfico G). A quantidade total de ração fornecida no ciclo foi maior no sistema bifásico (t (88) = 3,144; p = 0,002) (gráfico H).

Figura 3: (f) Densidade de estocagem, (g) uso de área e (h) quantidade total de ração fornecida em cultivos de acordo com o sistema (bifásico e monofásico).

Contudo, a duração da fase de engorda não diferiu entre os cultivos do sistema mono e bifásicos (t (105) = -0,989; p = 0,325) (gráfico I). O mesmo ocorreu sobre a Taxa de Conversão Alimentar (t (88) = -0,449; p = 0,665) (gráfico J). Não foram encontradas diferenças entre o peso médio dos camarões despescados entre os cultivos do sistema bifásico e monofásico (t (114) = -0,101; p = 0,92) (gráfico K).

Figura 4: (i) Duração da fase de engorda, (j) Taxa de Conversão Alimentar e (k) peso médio dos camarões despescados em cultivos de acordo com o sistema (bifásico e monofásico).

4. DISCUSSÃO 4.1 Densidade de estocagem

A carcinicultura brasileira, à exemplo dos demais países produtores de camarão na América Latina, apresenta dificuldades para intensificar a densidade de estocagem de seus cultivos e diminuir o uso de área de terra. Os dados não apontam a ocorrência da Intensificação Sustentável no Brasil, pois os cultivos com maiores densidades de estocagem são responsáveis pela ocupação de maiores tamanhos de área (gráfico A). Esses resultados podem ser reflexo do aumento, entre 2003 e 2014, de 252,9% do número de produtores e 108,7% da área ocupada pelos viveiros no país, como também da redução da produtividade brasileira em 64,1% (6.084 para 2.182 kg/ha/ano) de 2003 para 2016 (ABCC, 2003; ABCC, 2015; ABCC, 2018). No Vietnã e na Tailândia, os sistemas de produção mais intensivos (> 70 camarões / m²) eram mais

economicamente sustentáveis. Os resultados econômicos melhoraram com o aumento da intensificação da produção, o que resultou em maiores rendimentos, porque distribuiu custos fixos anuais em volumes maiores. Como cenário oposto ao brasileiro, no Vietnam, o sistema de produção menos intensivo (26 camarão/m²) não era lucrativo (Engle et al., 2017).

Enquanto nenhum cultivo foi realizado sob altas densidades de estocagem, o peso do camarão cultivado no Brasil demonstrou não corresponder primordialmente a esse parâmetro (gráfico C). O seu peso é inferior ao de camarões cultivados na Indonésia, onde alcançaram cerca de 22g em densidades elevadas de 49-56 camarões/m², e no México onde pesavam 25g em densidade de 22 camarões/m². A duração dos cultivos brasileiros também se manteve menor que a de cultivos indonésios onde variaram entre 105-112 dias (Trejo-Igueravide, 2017; Junda, 2018), contudo os cultivos menos populosos duraram menos tempo (gráfico B). Nossos dados sobre densidade de estocagem se assemelham a utilizada entre 2000-2007 no Equador variando entre 8 e 11,5 camarões/m² em razão dos baixos valores de sobrevivência (Stern & Sonnenholzner, 2010).

Bessa-Júnior & Henry-Silva (2018) apontam que a redução na densidade de estocagem dos cultivos brasileiros possui intenção de inibir manifestações de doenças, como a Síndrome do Vírus da Mancha Branca (WSSV), reduzir seu tempo de duração e proporcionar o retorno do capital investido, porém requer o aumento do preço do camarão vendido. Quanto ao controle de enfermidades, de acordo com Flegel (2019), o futuro controle de doenças na aquicultura dependerá dos avanços da engenharia e da biotecnologia e, para garantir a biossegurança, a produção otimizada e o mínimo impacto negativo no meio ambiente, a tendência será de cultivo em locais relativamente fechados.

Vale salientar que no Brasil, apesar de 94,5% dos produtores serem de micro, pequeno e médio porte, sua produção representa 41,6% da produção nacional, denotando uma grave desigualdade de capacidade tecnológica e produtiva para lidar com enfermidades (ABCC, 2015; Tahim et al., 2019). Podemos considerar que os cultivos brasileiros não atendem por

completo as quatro premissas da Intensificação Sustentável: aumentar a produção e tornar os alimentos acessíveis para todos, diminuir o uso de terra mitigando os custos ambientais, aumentar a eficiência produtiva para o desenvolvimento sustentável e desenvolver técnicas pelas ciências sociais e naturais que atendam as demandas locais (Garnett et al., 2013; Little et al., 2018).

4.2 Área

A extensão da área de manguezais convertidas em viveiros de camarões pode ser um bom indicativo da emissão de carbono, por sua vez um agravante das mudanças climáticas (Ahmed & Thompson, 2019). Enquanto os viveiros brasileiros do nosso estudo usam em média 2,6 a 4,9 hectares de terra, os de estudos tailandeses variaram entre 0,4 e 1,25 ha, os viveiros vietnamitas entre 0,1 e 0,68 ha e os indonésios entre 0,2 e 0,4 ha (Boyd et al., 2017; Junda, 2018). A redução da área de manguezal na Tailândia e Vietnã entre 1980 e 2005, em função do cultivo de camarão e arroz, foi de 14,2 e 41,6%, respectivamente. Na Indonésia, país com maior área de extensão de manguezal no mundo, a redução foi de 30,9% e, na América do Sul, o Equador detém a redução relativa de área de 70% entre 1980-2013 (FAO, 2007b; Uzcátegui et al., 2016).

No Brasil, estima-se que a emissão média de dióxido de carbono pela conversão de manguezais em viveiros equivale a 1371 megagramas de CO2e/ha (Kauffman et al., 2018). Ou

seja, com base nos dados avaliados, a construção dos viveiros de 4,9 hectares (Maior Tamanho de Área) emitiu cerca de 6.306,6 Mg CO2e enquanto a emissão nos viveiros de 2,6 hectares

(Menor Tamanho de Área) foi de aproximadamente 3.975,9 Mg CO2e. Kauffman et al. (2017)

também determinaram essa conversão em viveiros da República Dominicana, Costa Rica, Honduras, México e Indonésia resultando em emissões entre 1067 e 3003 Mg CO2e por hectare.

Como visto na Arábia Saudita, os solos das fazendas de camarão são mais densos e pobres em carbono orgânico quando comparado ao solo de manguezais vizinhos (Eid et al., 2019).

Além da emissão de gases potencialmente críticos ao aquecimento global através do uso da terra, pode ocorrer emissão durante a fase de engorda dos camarões nos cultivos. Soares & Henry-Silva (2019) demonstraram que cultivos também do estado do Rio Grande do Norte, no Brasil, sob densidades de 14 camarões/m² tendem a emitir maior quantidade de gases do efeito estufa (CO2, CH4 e N2O) enquanto os cultivos intensivos de 92 camarões/m² tendem a absorvê-

los com auxílio do uso de fertilizantes orgânicos, como o melaço. Considerando o serviço ecossistêmico prestado pelos manguezais de aumentar a eficiência do sequestro de carbono e, também que todos os cultivos analisados em nosso estudo possuem baixa densidade de estocagem, fica evidente a necessidade de redução do tamanho da área dos viveiros no Brasil, implementando-se a intensificação de seus cultivos com uso de tecnologias avançadas para aumento da produtividade.

4.3 Berçários

Os produtores brasileiros consideram o sistema de berçários como um importante investimento financeiro e tecnológico em virtude de destinarem os viveiros de engorda com maior tamanho de área, cultivar sob maiores densidades de estocagem e fornecerem maior quantidade de ração total. Os cultivos monofásicos aparentam o papel secundário de suplementar os lucros das fazendas. Bessa-Júnior & Henry-Silva (2018) observaram que o custo da produção brasileira do camarão em viveiros-berçários é maior que a produção em cultivos monofásicos, desde que se mantenha menos adensada a estocagem dos camarões nos viveiros de engorda.

A adoção dos viveiros-berçários na América do Sul se popularizou a partir do seu uso no Equador, onde contribuiu para elevação da produtividade. Nesse país, os cultivos em sistema extensivo (2-3 camarões/m²) geraram 225-450 kg/ha/ano na década de 70. Nos anos 80, com a adoção de viveiros-berçários, permitiu-se aumentar a densidade para 5-7 camarões/m² e a produção para 975-1100 kg/ha/ano; em seguida, para 8-12 camarão/m² e produzir 1400-3200 kg/ha/ano e, por fim, 20 camarões/m² e 4500 kg/ha/ano no início dos anos 90 (Stern &

Sonnenholzner, 2010). Como vantagem, a utilização de berçários é capaz de aumentar a eficiência alimentar durante as fases iniciais da vida do camarão, promover a capacidade de crescimento das pós-larvas, reduzir a mortalidade inicial e permitir a obtenção de juvenis maiores, mais resistentes a doenças e reduzir o tempo de cultivo em lagoas de crescimento, resultando na otimização do uso de terra (Cozer et al., 2020).

Com a utilização do sistema berçário, fazendo com que a criação seja desenvolvida em duas fases, todo o ciclo de cultivo, desde pós-larva até a despesca, tem a mesma duração que quando os camarões são colocados diretamente nos viveiros ainda na fase de pós-larva em cultivo monofásico, além disso, em ambos os sistemas os camarões são despescados com peso semelhante. A Taxa de Conversão Alimentar observada em nosso estudo (monofásico = 1,15 e bifásico = 1,09) foi menor que aquela relatada por pesquisadores para a Indonésia (1,28-1,4), Vietnã (1,33), Tailândia (1,49) e México (1,67) (Boyd et al., 2017; Trejo-Igueravide, 2017; Junda, 2018). No estudo de Bessa-Júnior e Henry-Silva (2018), a TCA de cultivos de carcinicultura realizados no Brasil divergiu entre os monofásicos os bifásicos (1,44 e 0,22, respectivamente). Cozer et al. (2020) apontam que, devido aos altos valores de custo na produção, o uso de ração equilibrada e a adoção de um manejo de alimentação eficiente é fundamental para minimizar a perda de alimentos, diminuir a Taxa de Conversão Alimentar e gerar lucratividade às fazendas.

5. CONCLUSÃO

Concluímos que não há demonstrações que a tendência asiática da Intensificação Sustentável tenha sido aderida pelos micros, pequenos e médios produtores do setor carcinícola no Brasil. Os cultivos ocidentais possuem alto potencial de emissão de gases do efeito estufa, como o CO2, devido as grandes áreas de terras ocupadas e agravado pela baixa densidade de

Contudo, a divisão da produção em fases com diferentes níveis de densidade de estocagem demonstrou-se uma tecnologia paliativa eficaz à produtividade, capaz de otimizar o uso de terra e gerar melhor retorno econômico diante da impossibilidade de cultivar sob altas densidades. O manejo técnico praticado no Brasil se assemelha aos demais países da América Latina, pois decorre para minimizar os efeitos negativos causados pelas enfermidades, como o Vírus da Síndrome da Mancha Branca. Além disso, a baixa densidade de estocagem, a estabilidade no peso médio individual dos camarões, o curto tempo de duração dos cultivos e a baixa Taxa de Conversão Alimentar se diferenciam do manejo praticado na Ásia.

É importante chamar atenção para a necessidade de articulações governamentais e de políticas sociais mais eficazes para que haja uma melhor distribuição de recursos tecnológicos e capacitação técnico-científica. Deste modo, dentro das premissas da Revolução Azul e da Intensificação Sustentável, será possível aumentar a produção de camarões nos países

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