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filósofos que estudavam as obras da Antiguidade Clássica, desenvolvendo suas pesquisas nos mosteiros com base no estudo da teologia, filosofia, li- teratura e eventos naturais, no contexto de uma visão religiosa do mundo, balizada pela leitura da Bíblia. O estudo da herança dos filósofos clássicos contrabalançou em alguma medida o misticismo excessivo da sociedade medieval, ensejando a discussão sobre as formas de ordenar o conheci- mento e organizar o pensamento lógico.

As poucas escolas medievais eram instaladas e geridas pelas paró- quias e mosteiros. A expansão do comércio a partir do século xii trouxe a necessidade de que mais pessoas soubessem ler, escrever e realizar ope- rações numéricas básicas, o que favoreceu a valorização social dessas competências. Pouco a pouco, com a maior importância e necessidade da socialização do conhecimento, começam a surgir mais escolas, nem todas completamente controladas pela Igreja Católica.

No ano 1088, estudantes de Direito — provenientes de diferentes cidades e países europeus — se organizaram em grupos ou escolas na cidade de Bolonha, na Itália, para aprofundar seus conhecimentos (a Universidade de Bolonha é considerada, por muitos estudiosos, a primeira universidade). A Universidade de Paris, fundada em 1208, foi organizada com base na associação de professores e estudantes de diversas disciplinas em uma corporação com alguma autonomia em relação à Igreja e ao Estado, guardando similaridades com o que hoje se considera uma universidade.

Os estudos universitários, inicialmente, tinham por objetivo a for- mação para os ofícios, dos profissionais que poderiam prestar os ser- viços de que a sociedade precisava. Os docentes dessas novas corpora- ções eram contratados para ensinar seus ofícios, e muitos deles eram considerados sábios e atuavam também como o que hoje chamamos de cientistas, cujos interesses eram vistos como exóticos, em um contexto marcado por constantes guerras, epidemias e crises econômicas.

Somente a partir do século xvi, com a Reforma Protestante e a efer- vescência do pensamento cético com o Renascimento, ganhou maior impulso uma cultura de reflexão e investigação com mais liberdade de crítica frente aos dogmas da doutrina da Igreja e ao poder político, ainda que isso não tenha ocorrido sem retrocessos e dificuldades.

A retomada do estudo sobre o ceticismo, presente em diversos pen- sadores da Antiguidade Clássica com base em questionamentos sobre a verdade e o conhecimento colocados pelos líderes da Reforma Pro- testante no século xvi, amplificou o debate público sobre a ciência. A divulgação desses debates em língua vernácula, apoiada na difusão da recente invenção do tipo mecânico móvel para impressão, que permitiu a produção em massa de livros impressos, foi outro fator fundamental no desenvolvimento do que muitos chamam de Revolução Científica.

COMENTÁRIO

Visão religiosa do mundo

O controle eclesiástico sobre a atividade científica naquele período limitou a maior parte do esforço de pesquisa às tentati- vas de explicar o universo sem contradi- ções com o que estava descrito nas Sa- gradas Escrituras. Todas as explicações que não corroborassem isso eram consi- deradas heresias e passíveis de punição com perseguição e até morte.

CONCEITO

Universidade

A denominação universidade parece ter origem no termo universitas, que era usado como sinônimo de conjunto de artesãos de determinado ofício: no caso da universitas docens et discens, era a corporação de docentes e discentes.

COMENTÁRIO

Reforma Protestante

Movimento de caráter religioso iniciado no século XVI que se opôs à diversas práticas e crenças da Igreja Católica. Do ponto de vista da contextualização his- tórica do desenvolvimento da ciência a partir do Renascimento, o aspecto mais importante foi a defesa da perspectiva teológica de que Cristo vive no coração de cada pessoa, portanto não são neces- sários intermediários (como o clero e a hierarquia da Igreja Católica) para a inter- pretação da palavra de Deus registrada nas Sagradas Escrituras.

capítulo 2• 47

ATENÇÃO

Vale lembrar que as demandas de soluções tecnológicas para o desenvolvimento mercantil europeu em direção à Ásia, à África e às Américas, também propiciaram um terreno fértil para o desenvolvimento científico posterior.

Por outro lado, cabe assinalar que a ciência empírica não era va- lorizada no ambiente universitário até o século xvii. Assim, alguns cientistas formavam sociedades ou associações, nas quais se reuniam periodicamente para discutir pesquisa empírica. Muitas vezes essas as- sociações e seus membros contavam com o apoio dos governantes para o desenvolvimento de conhecimentos práticos, o que hoje chamaría- mos de tecnologia ou ciência aplicada (navegação, guerra, controle ou cura de doenças etc.).

ATENÇÃO

Para muitos desses pesquisadores, a atividade científica era concebida como expressão de uma nova visão sobre o mundo, na qual a investigação racional e a observação empírica se combinavam no esforço de compreender o ser humano e a natureza.

O ambiente cultural mais plural dos países da Europa do Norte pos- sibilitou a expansão e a consolidação institucionalizada da atividade de pesquisa científica nas universidades. Particularmente nos séculos xviii e xix, floresceram estudos e pesquisas em todas as áreas de conhe- cimento, com notáveis aplicações tecnológicas, que apoiaram a expan- são e a consolidação do domínio europeu nas Américas e na Ásia, bem como possibilitaram a instauração da Revolução Industrial.

A crescente demanda de novas tecnologias para a indústria e o comér- cio, equacionando problemas do setor produtivo e aumentando sua efi- ciência, favoreceu o desenvolvimento do conhecimento científico e sua progressiva institucionalização a partir do século xix. Foi um processo longo e diferenciado, tanto entre países como do ponto de vista temporal. O estreitamento da relação da pesquisa científica com o desenvol- vimento de tecnologia para a produção e a sociedade em geral con- solidou-se mais profunda e amplamente nos Estados Unidos, após a Segunda Guerra Mundial.

Grande parte das mais tradicionais universidades americanas se or- ganizou para formar intelectuais e profissionais para um mercado de trabalho que demandava cada vez mais pessoas com formação em pes- quisa. Pouco a pouco elas criaram também institutos ou centros de pes- quisa e desenvolvimento vinculados aos departamentos acadêmicos.

CONCEITO

Ceticismo

O ceticismo moderno surgiu no século XVI com o renascimento do conheci- mento e do interesse pelo antigo ceti- cismo pirrônico grego, numa época em que uma questão fundamental a respei- to do conhecimento religioso fora levan- tada pela Reforma e Contrarreforma: como distinguir o verdadeiro conheci- mento religioso de perspectivas falsas ou duvidosas?

COMENTÁRIO

Progressiva institucionalização

A fundação da Universidade de Berlim, na Alemanha, em 1810, estabeleceu um marco neste sentido, ao acolher inú- meros cientistas e instituir a atividade de pesquisa como qualificação necessária para a carreira docente. Esse modelo institucional, posteriormente replicado no restante da Europa e nos Estados Unidos (séculos XIX e XX), viabilizou a organização da atividade científica nas universidades, promovendo sua profis- sionalização e crescente especialização (VELHO, 1996).

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