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Capacitação (A SEE divulgou o convênio com Universidades Públicas e Fundações, enquanto agências capacitadoras, com

2 2 As transformações do paradigma da avaliação

POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO: AS DIRETRIZES DO GOVERNO DE MARIO COVAS.

8. Capacitação (A SEE divulgou o convênio com Universidades Públicas e Fundações, enquanto agências capacitadoras, com

recursos da ordem de US$ 1.325,000 em 1996 e US$ 15.000,000, em 1997).

Entre os argumentos levantados para as classes de aceleração e recuperação nas férias foi citada a reprovação de 1,5 milhão de alunos na rede estadual, a um custo aluno de R$ 570,00, o que geraria um desperdício anual de R$ 855 milhões. As taxas ascendentes de aprovação e descendentes de reprovação e evasão foram largamente utilizadas pela administração, do quadriênio em exame, para marcar aspectos positivos da administração

Assim, podemos, mais uma vez, afirmar que, se os dados e levantamentos da situação da escola pública paulista estiveram à disposição ou embasaram estudos e propostas, aqueles produzidos pela equipe que formulou o programa educacional do Governo Covas têm corpo e "alma" próprios; é um projeto de intervenção no ensino público, na área educacional que se insere num programa político, num projeto político para o estado e o país. Ou seja, as diretrizes educacionais estão assentados em pressupostos políticos que delineiam a revisão do papel do Estado e atingem diretamente as políticas sociais.

Os conceitos chaves das propostas referem-se à racionalização, otimização de recursos materiais e humanos, eficiência, eficácia e qualidade. Conceitos que são elencados como componentes de um processo modernizador.

A que conceito qualidade de qualidade refere-se este governo? Já que tal principio perpassa todo o projeto político do mesmo, pois como nos esclarece Casassusus (1995), “desenhar uma estratégia para a melhoria da qualidade da educação, supõe ter claro o que se entende por ela.” (p.15)

Através das medidas referenciadas para este governo, e pela reflexão que desenvolvemos até o presente momento, podemos concluir que a idéia de qualidade desta gestão se pauta numa articulação dos princípios de redução dos gastos públicos com a implementação de ações que visam extinguir a repetência e diminuir os índices de evasão, a chamada correção de fluxo, juntamente com a formulação de mecanismos de prestação de contas a sociedade.

O conceito de qualidade educacional é aqui atrelado ao universo do trabalho e o que deve ser avaliado na educação é seu efeito prático produzido para concretização e benefício dos dogmas do capitalismo que não admiti uma sociedade igualitariamente beneficiada, induzindo a competição em seu bojo onde cabe apenas a uma pequena parcela da população a apropriação propriamente dita, da educação que deve ser entendida como uma condição e não como um direito.

Desta forma o SARESP, presta-se a tais objetivos, sob o discurso simplista de fornecer a população, a possibilidade de ter acesso ao real desempenho das escolas, criando condições para que a população possa acompanhar e fiscalizar os investimentos e resultados das escolas públicas estaduais.

Destacaremos agora o processo de organização das ações e medidas que esta administração propôs com a finalidade de atingir sua grande meta, a de revolucionar a produtividade e melhorar a qualidade do ensino. Para isso voltamos ao Comunicado publicado no Diário Oficial do Estado de 23.03.95, retomando precisamente a sua 2ª diretriz, na qual se insere a instituição de

SARESP. Por ser nosso objeto de estudo destacamos a justificativa que é dada para a adoção desta medida:

A administração, buscando a integração das ações escolares, deverá estabelecer um sistema criterioso de avaliação dos resultados da aprendizagem dos alunos e criar condições para que as escolas respondam por eles,

Vejamos qual o objetivo, para esta gestão, do sistema de avaliação, diz o texto:

A avaliação, portanto, é condição 'sine qua non' para que o Estado possa cumprir seu papel equalizador, na medida em que ela lhe fornece dados para atuar na superação das desigualdades existentes entre as escolas paulistas. Além disso, os resultados do desempenho das escolas deverão ser amplamente divulgados, de forma que tanto a equipe escolar como a comunidade usuária seja capaz de identificar a posição da sua escola no conjunto das escolas de sua Delegacia, de seu bairro e de seu município. Isto possibilitará à escola a busca de formas diversificadas de atuação, com o objetivo de implementar a melhoria dos resultados escolares. Por outro lado, permitirá também à população acesso às informações, de modo que possa fiscalizar, participar e cobrara qualidade do serviço que lhe deve ser prestado.

O governo esperava, através deste programa possibilitar as DEs o diagnóstico de seus educandos, com a finalidade de estabelecer metas para a superação dos problemas detectados. Quanta a população, esta teria em mãos um documento de fiscalização e controle do serviço prestado. No que cabe ao Estado, o programa traria dados que possibilitariam ao governo atuações mais precisas no sistema educativo de sua rede.

Ao estabelecer a avaliação como ponto chave para a política educacional nos lembramos de Afonso (1998), ao analisar as reformas educacionais e a função da avaliação neste contexto. Nas palavras do autor:

nos países que adotaram políticas de descentralização, a avaliação apareceu como forma de restabelecer algum controle central por parte do Estado. Noutras situações, como aconteceu com a explosão das ideologias neoliberais, a avaliação foi utilizada como meio de racionalização e como instrumento para a diminuição dos compromissos e da responsabilidade do Estado. (p.76).

Fazendo uso de tal argumentação o autor se utiliza da expressão "Estado- avaliador" para ilustrar a função recentemente atribuída ao aparelho estatal neste movimento de reformas educativas e do Estado. Para ele esta nova concepção de Estado assume a lógica mercantil colocando sua tônica nos produtos do sistema educativo (p. 74)

Logo, as diretrizes apresentadas neste governo contém diversos temas polêmicos que parecem contemplar a agenda de inovações preconizadas pelo pensamento neoliberal através de instituições internacionais. Senão, vejamos quais são as principais características do processo modernizador proposto em nível internacional tal como o define Casassus (1995): utilização do critério de qualidade, identificando responsabilidades e implementando inovações para produzir melhorias e reduzir o desperdício; desconcentração e descentralização; informatização ampla na gestão do sistema; medidas de redistribuição de gastos entre os níveis educacionais; tendência à privatização e abertura institucional para atender demanda dos usuários.

Ao que tudo indica estamos diante de uma agenda neoliberal que defende o emprego de mecanismos de mercado para o setor educacional, a substituição dos valores democráticos por uma racionalidade administrativa e econômica centrada na qualidade de ensino, a difusão da crença de que o setor privado possui uma gestão

mais eficiente e dinâmica, e um entendimento de que a modernização do sistema escolar passa pela discussão da desconcentração do ensino, num sentido muito específico, e da busca de parcerias para a prestação dos serviços educacionais.

É o desmantelamento da educação que produz o esvaziamento prático de uma instituição que deveria atuar democraticamente em beneficio do público. A política descentralizadora do governo Covas, realizada através de uma reforma gerencial – administrativa e cultural em suma nega o direito a educação pública implementando ações políticas mercantilizantes pelo consenso da população que é lubridiada com a mais antiga das estratégias: o uso da retórica.

Tomaz Tadeu da Siva explicita este problema de forma sugestiva:

A presente ofensiva neoliberal precisa ser vista não apenas como uma luta em torno da distribuição de recursos materiais e econômicos (que é), nem como uma luta entre visões a alternativa da sociedade ( que também é), mas sobretudo como uma luta pra criar as próprias categorias, noções e termos através dos quais se pode definir a sociedade e o mundo. Nesta perspectiva, não se trata somente de denunciar as distorções e falsidades do pensamento neoliberal, tarefa de uma crítica tradicional da ideologia (anda que válida necessária), mas de identificar e tornar visível o processo pelo qual o discurso neoliberal produz e cria uma “realidade” que acaba por tornar impossível a possibilidade de pensar outra. ( Silva, 1994, p.9)

Concluímos, assim, que o neoliberalismo, pautado pela lógica do mercado, atuou neste modelo de governo (ainda vigente), como regulador da riqueza, da eficiência e da justiça, não possuindo interesses e nem instrumentos capazes de garantir os direitos sociais como educação, saúde, emprego, habitação, saneamento básico, lazer, entre outros, para a maioria da população. Além disso, constatamos que o Governo Covas pautado no neoliberalismo ampliou, ainda mais, os poderes

das classes dominantes, agravando as desigualdades sociais já vigentes na sociedade.

CAPÍTULO V

O SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE RENDIMENTO ESCOLAR DO ESTADO DE SÃO