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Capítulo 3. As Igrejas Setecentistas de Minas Gerais

3.2 As Igrejas Selecionadas

3.2.7 Capela de Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto

A constituição da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi realizada em 1715, e teve como local inicial de funcionamento a Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Logo no ano seguinte, adquiriu capela própria no Bairro do Caquende. Por ocasião da procissão conhecida como "Triunfo Eucarístico", realizada em Vila Rica no ano de 1733, em que se procedeu ao traslado da imagem do Santíssimo Sacramento da primitiva capela do Rosário para a Matriz do Pilar, construíram os Irmãos do Rosário à rua que tomou posteriormente o nome de rua do Sacramento para a passagem desta procissão. Em troca desse benefício, em 1761 a Irmandade obteve da Câmara da época, concessão de um amplo terreno, próximo à capela primitiva, onde foi construída a atual Igreja do Rosário, também chamada de Santa Ifigênia, situada no alto de extensa e íngreme ladeira, conhecida como Vira Saia, cujo projeto é de autoria do artista Antônio Pereira Sousa Calheiros. Tendo em vista a falta de documentos, não se pode datar com precisão a época de início das obras. Pode-se, entretanto, com base no testamento do mestre de obras José Pereira dos Santos, concluir que as obras da Igreja do Rosário já se encontravam bastante adiantadas em meados de 1762, uma vez que no referido documento já se fala em ajuste de novos portais em lugar de óculos. Sua história é também obscura com relação ao período que compreende os anos de 1762 e 1781, visto que o mais antigo livro de Receita e Despesa da Irmandade do Rosário, tem como data inicial o ano de 1781. Em 1784, foi contratado para desenvolver o projeto da fachada Manuel Francisco de Araújo, obras estas arrematadas no ano seguinte por José Ribeiro de Carvalhais, já incluindo também as torres. As obras foram executadas no período compreendido entre os anos de 1784 e 1793 (IPHAN 2004d; BAZIN, 1956).

Mourão (1986) afirma que a primeira referência à segunda fase da construção desta igreja, isto é, do período de reformas, consertos, ampliação, pintura e douramento é de 1762 quando foi realizada a compra de um relógio, levando-se a conclusão que o templo estava praticamente pronto, naturalmente não faltando as torres, ou pelo menos uma delas, onde deveria ser colocado este aparelho. O fato é que há um período de

quase vinte anos em que não se têm notícias, constando apenas, a compra e a colocação do sino.

Em 1793, houve reforma do assoalho e, no ano seguinte, a do telhado e o douramento do altar-mor. Sendo que a última obra realizada no século XVIII foi à pintura externa no ano de 1799, de onde se pode concluir que a obra foi totalmente concluída neste ano.

A planta desta igreja é bastante peculiar, como mostra a figura 3.2.22, uma vez que sua forma elíptica só é encontrada na Igreja de São Pedro de Mariana o que se leva concluir que o autor tenha sido o mesmo. Apesar desta forma diferenciada, esta igreja foi estruturada e construída como as demais: nave, capela-mor, os corredores laterais, o arco cruzeiro, e duas torres.

Figura 3.2.22 – Planta Baixa da Capela de Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto. Fonte: SANTOS, 1951.

Da mesma forma que sua planta, a sua parte externa é muito peculiar pelo modelo adotado em sua concepção, possuindo um frontispício com guarnições de pedra, com cunhais e pilastras do mesmo material, terminando em uma cimalha que, na

frente se arqueia no local do óculo onde fica um nicho sobre a portada principal que é encimada por um tímpano triangular interrompido. Para dar acesso a igreja foi construída uma escadaria larga e extensa (MOURÃO, 1986).

O frontão é movimentado e emoldurado por curvas barrocas e, a sua parte superior, se transforma na base de uma cruz com resplendores. As torres são pouco elevadas em relação ao frontão e terminam superiormente por cúpulas de cujo centro surge um ornamento em forma de pirâmide, como mostra a figura 3.2.23.

Em sua parte Interna a sua grandiosidade é conferida pelos elementos arquitetônicos, como as pilastras toscanas que delimitam o espaço interno da nave. Já os altares, executados entre 1784 e 1792 por Manuel Velasco e José Rodrigues da Silva, são de uma simplicidade extrema, predominado as suas pinturas.

De qualquer maneira, pode-se dizer que a capela é bastante rica, sendo o retábulo do altar complexo e com grande quantidade de esculturas, constituído por dossel estilizado, com muitos ornatos e grandes anjos em diversas posições, terminando a parte superior em uma grande coroa.

Há também na parte inferior do retábulo uma grande profusão e variedade de anjos, sendo que sua talha complexa se espalha por todas paredes da capela-mor cercando tribunas de balaustrada torneada.

O arco cruzeiro é simples, sendo ladeado por pilastras com capteis de ordem compósita, apoiando sobre uma larga arquitrave em sua parte superior, como mostra a figura 3.2.24. (MOURÃO, 1986).

Figura 3.2.24 – Capela-mor da Capela de Nossa Senhora do Rosário.

Os altares laterais são do mesmo estilo do altar-mor, sendo que em um deles, o arco interrompido se enrola em volutas apoiando-se sobre colunas torsas e em outro, há escultura e coroa sobre arquitrave superior. O púlpito é muito trabalhado e se apóia sobre um consolo ornamentado em volutas como mostra a figura 3.2.25.

Figura 3.2.25 – Púlpito da Capela de Nossa Senhora do Rosário.

A tabela 3.2.7 apresenta parâmetros métricos, como comprimentos, larguras, alturas e áreas relativas à Capela de Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto, para posterior análise.

Tabela 3.2.7 – Medidas da Capela de Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto. Fonte: PAIVA, 1979b. LOCAL COMPRIMENTO (m) LARGURA (m) ALTURA (m) ÁREA (m²) Nave 18,52 13,69 17,15 205,60 Coro 9,21 6,44 6,32 74,41 Capela-mor + arco 8,05 9,15 11,90 76,60 TOTAL 356,61