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Capítulo 3. As Igrejas Setecentistas de Minas Gerais

3.2 As Igrejas Selecionadas

3.2.8 Capela de São Francisco de Assis de Ouro Preto

Foi por iniciativa da Ordem Terceira da Penitência de São Francisco de Assis, fundada em 1765, que se construiu a capela de São Francisco, mediante licença régia concedida provisoriamente pelo ouvidor, para construção do templo obtida no ano de 1771. Porém, mesmo antes de ser expedida a licença, em 1765 foram iniciadas as obras de terraplanagem e em 27 de dezembro de 1766 foi arrematada a obra de alvenaria pelo mestre pedreiro Domingos Moreira de Oliveira, que trabalhou por 28 anos na obra, obedecendo ao projeto de Antônio Francisco Lisboa.

As informações relativas às técnicas e materiais que deveriam ser empregados na construção foram minuciosamente detalhadas no ato da arrematação. Como ocorreu com quase a maioria das igrejas deste período, sua construção iniciou-se pela capela- mor, estando a mesma praticamente concluída em 1771. A abóbada foi construída entre 1772 e 1774, época em que foi também realizada sua ornamentação em talha e estuque, sob a direção de Aleijadinho. No mesmo período o artista concluiu os púlpitos em pedra-sabão inseridos no arco-cruzeiro. O retábulo do altar-mor, em função do qual foi organizada toda a decoração da capela, só seria executado entre 1790 e 1794.

Concluída a capela-mor, os administradores da obra optaram em seguida pela execução de sua fachada, cuja portada, arrematada em 1744, teve seu projeto

executado pelo próprio Aleijadinho. Em 1787, as torres sofreram um acréscimo e no ano seguinte foram feitos os telhados do templo. Finalmente, em 1794, Domingos Moreira de Oliveira conclui a obra de alvenaria. Entretanto, quase toda parte de douramento e pintura, assim como a execução da talha dos altares da nave ainda estava por fazer. A tarefa de pintura e douramento da capela-mor coube a Manuel da Costa Athaíde, bem como a pintura do forro da nave e dos painéis a óleo da nave e capela-mor, as quais se realizaram entre 1801 e 1812. A construção dos altares da nave, também projetados por Aleijadinho, se estendeu de 1829 a 1890, tendo Lourenço Petrício concluído o douramento do último da série (BAZIN, 1956; IPHAN, 2004g; TIRAPELI, 1952).

A Igreja de São Francisco de Assis é considerada pelos especialistas como a obra-prima da arte colonial brasileira. A singularidade da planta reside na supressão dos corredores da nave, fato que a diferencia das demais e pode se visto na figura 3.2.26, e maior integração dos corredores da capela-mor ao conjunto, como também na posição das torres, que se fecham para trás no corpo da igreja, projetando e destacando a fachada.

Figura 3.2.26 – Planta Baixa da Capela de São Francisco de Assis de Ouro Preto. Fonte: Adaptado de: Grillo (1988).

A novidade se manifesta ainda nas formas circulares das torres, até então sem precedentes, coroadas por flechas de proporções audaciosas. O frontispício, de grande efeito arquitetural, concentra o efeito ornamental na portada e no medalhão superior.

A parte posterior da planta desta igreja é curva, denotando aí, a característica da terceira fase do barroco mineiro surgido como um paradoxo, quando o estilo se simplifica e seus ornamentos mais sóbrios.

A fachada apresenta três faces separadas por duas colunas de pedra que sustentam a cornija superior em que se apóia um arco interrompido. Essa cornija torna- se arqueada, na parte da frente, para dar espaço a um medalhão esculpido em pedra sabão. Acima da cornija, surge a curva do frontão terminando no pedestal da cruz patriarcal que se ergue no meio, ladeada de duas piras, também em pedra sabão.

Ocupando uma grande área da superfície da fachada fica a portada de ombreiras geminadas, e riscadas de caneluras simétricas e vergas recortada, com a presença de um querubim de cada lado e festões dependurados. No alto da fachada, em um grande painel circular guarnecido de molduras e ornamentos, aparece a figura de São Francisco de Assis de joelhos recebendo as chagas no Monte Alverne.

Acima do pórtico, de cada lado, fica uma sacada simples, com vidraças, devidamente guarnecida de pedra e cimalha do mesmo material. De um lado e de outro nas faces inclinadas da fachada, há também uma sacada, na parte superior, e uma falsa porta na inferior como mostra a figura 3.2.27, (MOURÃO, 1986).

Figura 3.2.27 – Fachada da Capela de São Francisco de Assis de Ouro Preto.

Vista de perfil, a igreja mostra a disposição distinta de cada corpo do edifício, verificando-se que a concepção do projeto arquitetônico beneficia o monumento como um todo. Da mesma forma, todo o interior é composto para um efeito de conjunto. Na nave, contornada por cornija de pedra, os seis altares laterais, executados em meados do século XIX, funcionam apenas como complemento da decoração das paredes laterais. As imagens que guarnecem os nichos dos altares são quase todas de roca. O arco-cruzeiro assume função monumental, constituindo-se no ponto de junção do edifício. Nele foram incorporados os púlpitos de pedra, enquadrados por duas pilastras com arquitraves altas e de perfil, dispostas obliquamente (IPHAN, 2004g).

O retábulo é simples e harmônico, sem excesso de ornamentos. É desprovido de dossel, substituído aqui por esculturas. No alto fica o alto relevo representando a Santíssima Trindade e a Virgem da Conceição. As colunas têm seu terço inferior torso. Entre as colunas e os consolos que limitam a abertura do trono, ficam os nichos constituídos, na parte inferior, por um embasamento saliente e ornamentado e, na parte superior, por arco arrematado em ornatos com formato de conchas, figura 3.2.28.

Figura 3.2.28 – Interior da capela-mor da Capela de São Francisco de Assis, Ouro Preto. Fonte: MOURÃO, 1986.

A nave com seu forro em formato abobadado, é toda decorada com pinturas do Mestre Manoel da Costa Athaíde.

A tabela 3.2.8 apresenta parâmetros métricos, como comprimentos, larguras, alturas e áreas relativas à Capela de São Francisco de Assis de Ouro Preto, para posterior análise.

Tabela 3.2.8 – Medidas da Capela de São Francisco de Assis de Ouro Preto. Fonte: GRILLO, 1988. LOCAL COMPRIMENTO (m) LARGURA (m) ALTURA (m) ÁREA (m²) Nave 19,40 11,15 15,83 206,47 Coro 4,96 9,76 6,47 43,20 Capela-mor + arco 11,00 7,14 11,37 88,33 TOTAL 338,00