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CAPÍTULO 2 Origem e destino dos formadores: dos habitus escolares às razões

2.3 Origem social, trajetória e destino construído dos professores de licenciatura

2.3.1 Capital familiar

Do conjunto de participantes, 67,5% são naturais do Piauí e, dentre estes, 51,9%, originários da Capital e 48,1% de cidades do interior do Estado. A grande maioria (85,2%) desses professores nascidos no Piauí é oriunda de áreas urbanas. Os oriundos de outro estado representam 30% do total de participantes, sendo a maioria (91,7%) de área urbana. Uma exígua minoria é nascida em outro país (2,5%). É possível encontrar nessa situação, que mostra a maioria dos professores habitantes de áreas urbanas, portanto, pertencendo a uma população com acesso a alguns serviços, públicos ou privados, como educação básica e serviços básicos de saúde, as condições de acumulação de um capital cultural favorável à escolarização de crianças e adolescentes, na idade adequada. Segundo Hasenbalg, referindo-se

ao Brasil das últimas décadas do século XX, “[...] a distribuição do capital cultural está

intimamente vinculada à urbanização e à expansão do sistema educacional do país” (2003, p. 55), expansão essa que permitiu às famílias realizar sua função de socialização das novas gerações, produzindo um aumento significativo daquele tipo de capital.

Discriminando os dados de naturalidade dos sujeitos, segundo o subgrupo a que pertencem, observamos que 80% dos sujeitos da Dimensão Pedagógica e 60% dos da Dimensão Específica são naturais do Piauí. São originários da Capital do Estado, Teresina, 36,7% da Dimensão Pedagógica e 34 % da Dimensão Específica. A menor parte é oriunda de áreas rurais do Piauí ou de outro estado, sendo 16,6% da Dimensão Pedagógica e 10% da Dimensão Específica.

Indagamos aos 52 sujeitos provenientes do interior do Estado, de outros estados e de outros países, o principal motivo que os trouxe à Teresina e em que década vieram: 32,6% dos docentes responderam que vieram estudar; 32,6% vieram trabalhar; o terceiro motivo mais citado foi a mudança de domicílio dos pais (23%) e a quarta razão declarada foi a busca de melhores condições de vida (5,7%). Essa migração para Teresina se acentua na década de 60, do século XX (13,4%), coincidindo com a intensificação do processo de urbanização do Piauí104 e continua nas décadas de 70 (23%), 80 (21,1%), 90 (15,3%) e nos anos 2000 (25%), correspondendo a década de 70 ao momento de instalação da Ufpi, na Capital, e os anos 2000, a um momento de forte expansão quantitativa dessa Instituição, que atraiu professores de fora do Estado, portadores dos títulos exigidos nos concursos.

Considerando as informações por subgrupo, o principal motivo de terem migrado para Teresina dos formadores da Dimensão Pedagógica foi estudar (44,4%); o segundo foi

mudança de domicílio dos pais (22,2%). Para os formadores da Dimensão Específica, a

principal causa da mudança para a Capital foi trabalhar (44,1%); a segunda foi estudar (26,4%).

Procuramos caracterizar de que tipo de estrutura familiar provêm os professores, tendo em vista percebermos com que espécies e medidas de capital social, econômico e cultural contaram para chegar à condição de professor universitário. Segundo Bourdieu, a família “[...]

é o „sujeito‟ principal das estratégias de reprodução”, sendo condição de acumulação e de

transmissão de diversos tipos de capitais, determinante, pela reprodução biológica e social, da

“reprodução da estrutura do espaço social e das relações sociais”: “Ela é um dos lugares por

excelência de acumulação de capital sob seus diferentes tipos e de sua transmissão entre as gerações, ela resguarda sua unidade pela transmissão e para a transmissão [...]”, diz esse pensador (2007a, p. 131). A família transmite, conforme regras sociais preexistentes, o capital simbólico hereditário, como o nome, o patrimônio material, e, quando estão em jogo decisões

econômicas, costuma agir como “[...] uma espécie de „sujeito‟ coletivo [...] e não como um simples agregado de indivíduos” (2007a, p.131)105

.

104Conforme Medeiros (1996, p. 95): “No Piauí, a urbanização que permanecera estagnada na década de 40 (15%

em 1940 e 16% em 1950) se acelera (24% em 1960 e 32% em 1970).” Adiante, afirma o autor: “[...] a partir da

década de 70, cria-se uma periferia urbana na capital, com uma massa de sub-empregados e desempregados” (p.117).

105Mas essa disposição não significa que não haja lutas concorrenciais na família. Na verdade, Bourdieu trata-a como um espaço social, um campo que está sujeito às mesmas regras e limites dos outros campos, em que atuam

“forças de fusão” e “forças de fissão”, isto é, onde há concorrência, capitais e posições em disputa, dominantes e

Tendo em vista essas considerações em torno da relevância do papel da família na definição do destino social dos filhos, buscamos entre os sujeitos informações a respeito das ocupações principais e profissões dos membros de suas famílias, mormente, os ascendentes, pais e avós, e dos irmãos, com quem são divididos os recursos, ou seja, os capitais de várias espécies da família. Buscamos também levantar dados sobre a escolaridade desses membros da família, com vistas a perceber com que capital social contaram os sujeitos no seu trajeto de mobilidade social.

Na Tabela 2.6, a seguir, apresentamos o quadro das profissões ou ocupações principais dos avós paternos e maternos dos participantes da pesquisa.

Tabela 2.6 - Participantes do Questionário e do PCM: profissão ou ocupação principal dos ascendentes - avô e avó

Profissão/ocupação principal Avô (%) Avó (%)

Paterno Materno Paterna Materna

Agricultor/Agropecuarista/Fazendeiro 27,5 33,7 7,5 6,2

Lavrador/Vaqueiro/Trabalhador rural/Pequeno produtor 18,8 18,8 5.0 3,7 Autônomo (açougueiro/barbeiro/ferreiro/pedreiro/ tecelão/

sapateiro/costureira) 8,8 7,5 2,5 6,2

Comerciante/Empresário/industrial/Construtor civil 18,8 17,5 3,7 1,3

Operário/Estivador 2,5 2,5 0,0 0,0

Profissional liberal (contabilista/ advogado/ dentista/ farmacêutico/

médico) 2,5 5,0 0,0 0,0

Servidor público 6,2 2,5 1,3 0,0

Professor 0,0 0,0 1,3 1,3

Doméstica/dona de casa 0,0 0,0 71,2 73,8

Outros (mestre de embarcação/militar/coletor/oficial de cartório/tipógrafo/

mecânico/mestre de obra/músico/ missionário/auxiliar de enfermagem/ servente) 6,2 7,5 1,3 2,5

Não sabe ou não respondeu 8,7 5,0 6,2 5,0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Questionário

Com relação às ocupações principais ou profissões dos avós paternos e maternos, encontramos, no questionário aplicado aos sujeitos, os seguintes dados. Os avós têm ocupações principais ou profissões comuns entre eles, denotando principalmente suas raízes interioranas, seu vínculo com o meio rural, onde uma parte significativa pertence à camada tradicional de proprietários rurais, como agricultores, agropecuaristas e fazendeiros; em menor proporção, encontramos avós paternos e maternos na posição de trabalhadores exercendo ocupações sem qualificação, como lavradores, vaqueiros, pequenos produtores e trabalhadores rurais. Ocupações principais ou profissões dos avós ligados aos meios urbanos são: comerciantes, empresários, industriais, construtores civis e trabalhadores autônomos como açougueiro, barbeiro, ferreiro, pedreiro, tecelão e operário estivador. Há poucos servidores públicos e menos ainda avós paternos e maternos que exercem profissões liberais. Praticamente não há professores entre esses ascendentes.

Outras atividades ou profissões declaradas dos avós paternos e maternos foram: contabilista, mestre de embarcação, militar, coletor, policial militar, trabalhador de serviços gerais, mecânico, micro-empresário, mestre de obras, músico, oficial de cartório e tipógrafo, com um representante de cada ocupação. Alguns professores não souberam informar sobre as ocupações dos seus avós.

As ocupações principais e profissões das avós paternas e maternas dos sujeitos apresentaram o seguinte quadro. A grande maioria das avós é de donas de casa; algumas são proprietárias rurais; um pequeno número é de comerciantes; lavradoras e trabalhadoras rurais; costureiras; lavadeiras e passadeiras. Há 2,6% de avós professoras. As demais ocupações e profissões das avós paternas e maternas dos docentes foram: autônoma, missionária, sapateira, servidora pública, auxiliar de enfermagem, servente, todas com apenas 1,3% do total de avós. Não há avós com profissão liberal ou ocupação que exija educação de nível superior. Observamos que o leque de ocupações e profissões das avós é bem mais restrito do que o dos avós, estando concentradas majoritariamente no exercício de sua condição de dominadas, no espaço doméstico.

Outro elemento fundamental que entra na composição da herança familiar transmitida aos professores por suas famílias, como capital cultural, provém do nível de instrução dos avós, lembrando, com Bourdieu, que a antiguidade do acesso à cultura pode determinar diferenças entre indivíduos aparentemente iguais. A Tabela 2.7, a seguir, permite apreender a situação de instrução dos avós dos sujeitos pesquisados:

Tabela 2.7 - Participantes do Questionário e do PCM: nível de instrução dos ascendentes - avô e avó

Nível de instrução Avô (%) Avó (%)

Paterno Materno Paterna Materna

Não alfabetizado 17,5 20,0 23,7 25,0

Alfabetizado, sem frequência à escola 23,7 22,5 20,0 26,2

EF séries iniciais incompleto 23,7 22,5 28,7 21,2

EF séries iniciais completo 10,0 10,0 8,7 10,0

EF séries finais incompleto 2,5 3,8 2,5 2,5

EF séries finais completo 5,0 3,8 3,8 3,8

EM incompleto 1,3 1,3 1,3 1,3

EM completo 5,0 8,7 2,5 3,8

ES incompleto 1,3 0,0 0,0 0,0

ES completo 1,3 1,3 1,3 0,0

Não sabe/não respondeu 8,7 6,2 7,5 6,2

Total 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: Questionário

Legenda: EF (Ensino fundamental), EM (Ensino médio), ES (Ensino superior)

De acordo com as informações prestadas, parte significativa dos avós paternos e maternos é de não-alfabetizados, havendo maior analfabetismo entre as avós. Considerando os

não-alfabetizados somados aos alfabetizados sem frequência à escola e aos que não haviam concluído as séries iniciais do ensino fundamental, são 65% dos avós paternos (pai do pai) e 65% dos avós maternos (pai da mãe) e 72,5% das avós tanto paternas quanto maternas. Em contrapartida, uma minoria concluiu o ensino médio; 3,9% dos avós concluíram o ensino superior.

Discriminando os dados segundo os sujeitos da Dimensão Específica e da Dimensão Pedagógica, em relação aos avós paternos (pai do pai), há diferenças na sua instrução: 46,7% dos sujeitos da Dimensão Pedagógica declaram que seus avós paternos eram analfabetos ou alfabetizados, sem frequência à escola, enquanto 38% dos sujeitos da Dimensão Específica declaram que seus avós paternos estavam nessa condição, portanto há mais avós paternos sem nenhum capital escolar entre os sujeitos da Dimensão Pedagógica.

A escolaridade dos avós maternos (pai da mãe) apresenta índices muito próximos dos índices dos avós paternos (pai do pai) com relação à condição de não-alfabetizados e de alfabetizados sem frequência à escola. Notamos, entretanto, que apenas 6,7% dos avós maternos (pai da mãe) dos sujeitos da Dimensão Pedagógica ultrapassaram o ensino fundamental, mas 14% dos avós maternos (pai da mãe) dos sujeitos da Dimensão Específica ultrapassaram esse marco.

Em relação às avós paternas, os dados discriminados, segundo as Dimensões a que pertencem os sujeitos, mostram semelhanças entre as avós paternas dos dois subgrupos, mas, também, diferenças que aparecem nos detalhes. Entre não alfabetizadas e alfabetizadas sem frequência à escola são 46,7% das avós paternas dos docentes da Dimensão Pedagógica e 42% dos da Dimensão Específica. Dentre as avós paternas dos sujeitos da Dimensão Pedagógica, somente 3,3% ultrapassam o ensino fundamental. Já entre as avós paternas dos sujeitos da Dimensão Específica, 6% ultrapassam o ensino fundamental, destacando-se que uma avó (2%) concluiu o ensino superior.

Entre as avós maternas dos sujeitos da Dimensão Pedagógica, são 46,7% não- alfabetizadas ou alfabetizadas, sem frequência à escola; dos sujeitos da Dimensão Específica, são 54% nessa mesma condição. Ultrapassando o ensino fundamental, são 3,3% das avós maternas dos sujeitos da primeira Dimensão e 6% das avós maternas dos da segunda Dimensão.

Prosseguindo no propósito de mapear os capitais recebidos pelos formadores de professores de suas famílias, detalhamos, na Tabela 2.8, as ocupações principais e profissões dos pais e mães dos professores:

Tabela 2.8 - Participantes do Questionário e do PCM: profissão ou ocupação principal dos pais

Profissão/Ocupação principal Pai (%) Mãe (%)

Agricultor/agropecuarista/fazendeiro 8,8 1,3

Lavrador/trabalhador rural/pequeno produtor 2,5 0,0

Comerciante/empresário/industriário 13,8 3,7

Militar 12,5 0,0

Juiz de direito 3,7 0,0

Profissional liberal (advogado, administrador de empresa, contabilista, economista,

dentista, médico, agrônomo, engenheiro, químico, físico) 10,0 0,0

Autônomo (alfaiate, bordadeira, costureira, artesã, eletricista, pedreiro) 6,3 13,8

Caminhoneiro/motorista 3,7 0,0 Operário 2,5 0,0 Bancário 3,7 0,0 Pastor 2,5 1,3 Professor 1,3 23,7 Servidor público 22,5 15,0 Doméstica/dona de casa 0,0 36,2

Outros (mecânico, metalúrgico, serviços gerais, micro-empresário, técnico em

enfermagem, músico, secretário, jornalista, aposentado) 6,2 5,0

Total 100,0 100,0

Fonte: Questionário

Notamos a concentração de pais como servidores públicos (22,5%), comerciantes (13,8%) e militares (12,5%), ocupações típicas do meio urbano, que exigem alguma escolaridade. Também há, entre os pais dos professores, 10% de profissionais liberais. Entre as mães dos docentes, a concentração ainda está na ocupação de dona de casa (36,2%), mas há também proporções significativas de professoras (23,7%), servidoras públicas (15%) e autônomas (13,8%). As outras ocupações e profissões dos pais, que apareceram apenas uma vez, foram: industriário, mecânico, metalúrgico, micro-empresário, professor, técnico em serviços gerais e aposentado e, entre as mães, as ocupações que são mencionadas apenas uma vez são: autônoma, auxiliar de professor, enfermeira, fazendeira, música, pastora e secretária. Em relação às ocupações das mães dos docentes, atentamos para a redução da proporção de mães donas de casa, comparando com a de avós na mesma situação, certamente um reflexo do avanço das mulheres no mercado de trabalho. E, o que parece mais importante na definição do destino escolar e profissional dos sujeitos, 23,7% deles têm mães e 1,3% têm pais professores, isto é, um membro da família que tem intimidade com as práticas culturais

da escola e que detém informações mais detalhadas sobre o funcionamento do sistema escolar, o que, conforme Bourdieu, é um capital cultural importante para definir as estratégias de escolarização dos filhos106 (BOURDIEU, 1998b; 2007a).

Ao discriminarmos os dados das profissões dos pais (homens), percebemos que há quantidade bem mais significativa de pais com profissões que exigem nível superior de instrução entre os docentes da Dimensão Específica do que entre os da Dimensão Pedagógica das licenciaturas, como evidenciamos na Tabela 2.9:

Tabela 2.9 - Participantes do Questionário e do PCM: profissão ou ocupação principal do pai, por Dimensão

Profissão/Ocupação principal do pai D. Pedagógica %

D. Específica %

Agricultor/agropecuarista/fazendeiro 10,0 8,0

Lavrador/trabalhador rural/pequeno produtor 0,0 4,0

Comerciante/empresário/industriário 13,3 14,0

Militar 13,3 12,0

Juiz de direito 0,0 6,0

Profissional liberal (advogado, contabilista, economista, dentista, médico) 6,7 12,0 Autônomo (alfaiate, bordadeira, costureira, artesã, eletricista, pedreiro) 0,0 10,0

Caminhoneiro/motorista 6,7 2,0 Operário 6,7 0,0 Bancário 3,3 4,0 Pastor 0,0 4,0 Professor 3,3 0,0 Servidor público 30,0 18,0

Outros (mecânico, metalúrgico, serviços gerais, micro-empresário, técnico

em enfermagem, músico, secretário, jornalista, aposentado) 6,7 6,0

Total 100,0 100,0

Fonte: Questionário

Os dados apontam para a possibilidade de o subgrupo da Dimensão Específica ter maior capital cultural recebido da família: 18% dos professores desse subgrupo têm pais com a profissão de advogado, contabilista, dentista, economista, médico e juíz de direito; no subgrupo da Dimensão Pedagógica, essa proporção é de 6,6%. Com relação à profissão das mães, não encontramos diferenças significativas entre os dois subgrupos.

A Tabela 2.10 apresenta o nível de instrução dos pais dos professores por subgrupos:

106Segundo Bourdieu, “Os movimentos da bolsa de valores escolar são difíceis de antecipar e aqueles que podem se beneficiar, através da família, dos pais, irmãos ou irmãs etc., ou de suas relações, de uma informação sobre os circuitos de formação e seu rendimento diferenciado, atual e virtual, podem alocar melhor seus investimentos escolares e obter o melhor lucro de seu capital cultural. Essa é uma das mediações através das quais o sucesso escolar – e social – se vincula à origem social” (2007a, p. 42).

Tabela 2.10 - Participantes do Questionário e do PCM: nível de instrução dos pais

Nível de instrução Pai (%) Mãe (%)

DP DE Total DP DE Total

Não alfabetizado 6,7 2,0 3,7 0,0 0,0 0,0

Alfabetizado, sem frequência à escola 3,3 10,0 7,5 13,3 12,0 12,5

EF séries iniciais incompleto 16,7 10,0 12,5 13,3 6,0 8,7

EF séries iniciais completo 16,7 14,0 15,0 6,7 10,0 8,7

EF séries finais incompleto 3,3 6,0 5,0 10,0 16,0 13,7

EF séries finais completo 13,4 8,0 10,0 6,7 6,0 6,3

EM incompleto 3,3 4,0 3,7 10,0 10,0 10,0 EM completo 23,3 18,0 20,0 26,7 20,0 22,5 ES incompleto 3,3 0,0 1,3 3,3 2,0 2,6 ES completo 10,0 28,0 21,3 10,0 16,0 13,7 Mestrado 0,0 0,0 0,0 0,0 2,0 1,3 Doutorado 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Pós-Doutorado 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Questionário

Legenda: EF (Ensino fundamental), EM (Ensino médio), ES (Ensino superior) DP (Dimensão Pedagógica), DE (Dimensão Específica)

É visível o aumento do capital escolar dos pais em relação ao dos avós: apenas 3,7% do total dos pais não eram alfabetizados; não havia mães analfabetas; 20% dos pais e 21,2% das mães eram alfabetizados, sem ter frequentado a escola, ou frequentaram as séries iniciais do ensino fundamental, sem concluir o primeiro ciclo; 10% dos pais e 6,3% das mães cursaram todo o ensino fundamental; 20% dos pais e 22,5% das mães cursaram o ensino médio completo; 21,3% dos pais e 13,7% das mães tinham ensino superior completo; 1,3% das mães tinham pós-graduação em nível de mestrado.

Desagregando os dados de instrução dos pais, por subgrupo (Tabela 2.10), a escolaridade dos pais dos sujeitos da Dimensão Pedagógica é menor que a dos pais dos sujeitos da Dimensão Específica: enquanto os primeiros têm 10% de pais com nível superior, os da segunda Dimensão têm 28% de pais com esse nível de escolaridade. Fazendo o mesmo com os dados de instrução das mães, observamos que 10% das mães dos docentes da Dimensão Pedagógica concluíram o ensino superior; entre as mães daqueles da Dimensão Específica esse índice vai a 18%, incluindo nesse índice 2% de mães que chegaram ao mestrado.

É importante observar também o número de irmãos com que os docentes das licenciaturas dividiram os recursos da família. Os professores vêm de famílias numerosas: 35% tinham de seis a dez irmãos; 20%, de quatro a cinco irmãos; 26,3%, de dois a três irmãos; 15% tinham apenas um irmão; nos extremos, 2,5% docentes tinham mais de 10 irmãos e somente 1,3% não tinham irmãos. Em relação à sua posição na escala da idade dos

tem irmãos mais velhos e mais novos do que ele; 30% dos sujeitos são o irmão mais velho e 12,5% são o irmão mais novo. Sob o ponto de vista da instrução dos irmãos, 36,3% dos professores têm todos os irmãos com curso superior; em 55,1% dos docentes, nem todos os irmãos apresentam esse nível de formação e em 7,5% nenhum dos irmãos tem formação superior.

A julgar pela ocupação e pelo nível de instrução dos ascendentes dos professores – avós e pais –, podemos perceber o sentido da trajetória de mobilidade social por eles empreendida. Tomando como ponto de partida uma maioria de avós analfabetos, semi- analfabetos, de baixa escolaridade ou de escolaridade básica incompleta, e como ponto de chegada a própria situação social dos sujeitos, isto é, professor universitário, pesquisador, intelectual, membro da elite acadêmica, podemos reconhecer aí uma situação em que famílias com pequeno volume de capital econômico, social e cultural e, sobretudo, escolar desenvolveram estratégias de investimento de seus recursos na escolarização dos filhos e lograram sua inserção social naquela camada.

Entre os pontos de partida e de chegada da trajetória descrita, o perfil socioprofissional e o nível de instrução dos pais e mães dos professores parece ter se constituído em plataforma que serviu como base para o impulso em busca das posições sociais relativamente mais elevadas. Examinando a Tabela 2.10, observamos que há uma minoria de pais analfabetos e que não há mães analfabetas, ao contrário dos avós. Relativamente aos avós, aumentaram bastante as ocupações ou profissões dos pais que exigem escolaridade básica e daquelas que exigem educação superior, bem como profissões de nível médio que requerem qualificações técnicas; em contrapartida, uma minoria de pais exerce ocupações manuais.