• Nenhum resultado encontrado

5.2 ANÁLISE DA COOPERAÇÃO: O CAPITAL SOCIAL E A GOVERNANÇA

5.2.1 Capital Social

Com relação ao capital social, apenas entrevistas foram utilizadas na análise em face da inexistência de documentos que sejam reflexo de melhorias em seus níveis. O modelo de análise prevê a análise do capital social, com relação a: (1) Capital Social dos APLs envolvidos: participação nas ações coletivas empreendidas pela rede e confiança e cooperação nas relações sociais; (2) Dificuldades da política

com capital social: Dificuldade(s) na consecução de objetivos que demandem bons níveis de cooperação.

5.2.1.1 Capital Social dos APLs envolvidos

No tocante à participação dos empresários nas ações coletivas empreendidas pela rede, as entrevistas revelam que existe pouca ou nenhuma participação “Cada empresa fica no seu canto, no máximo algumas empresas estão nas redes empresariais. Não, não existe capital social, não. O nosso ainda tem um pouco, tem uma base, mas muito pouco trabalhado, é fraco, é fraco”. (Entrevistado 14)

Existem, entretanto, alguns poucos aglomerados que possuem níveis mais satisfatórios, a exemplo do APL de Confecções, assim como exemplos pontuais de APLs específicos. Apesar de os exemplos que serão apresentados, é unanime o entendimento de que o Programa poderia ter melhores resultados do que se tem hoje.

A melhoria em Rochas Ornamentais é gritante. Eles demonstram até com o financeiro o tanto que eles já melhoraram de vida. Eles demonstraram financeiramente na última reunião. Eles estão comprando outra área de terreno para expansão, já em conjunto com as outras empresas! Já não existe individualismo! Na região de cachaça, do APL de derivados de cana, já existem produtores que vendem a cachaça dele para o exterior, para outros países, e já oferecem outra marca de cachaça também para que eles experimentem aquela outra também. Tem produtor que já levou três tipos de cachaça fora a dele para colocar no exterior para tentar fazer a venda. Isso pra gente é muito importante, porque a gente vê que eles estão atendendo ao chamado do Programa, estão percebendo e trabalhando de forma cooperada. Temos o turismo também, que eles começaram a trabalhar de uma forma bem coordenada. Eles perceberam que tinham que caminhar juntos. Eles tinham que tomar conta. O restaurante tinha de dar conta de saber como é que é o hotel, se preocupar com seu hotel, se você está sendo bem atendido. A gente sente que eles melhoraram a articulação e o que oferecer ao turista na região de Ilhéus, a região do cacau, né? Eles veem que podem dizer venha para aqui, venha para o meu hotel que eu lhe garanto que tem um bom restaurante pra você comer, tem uma boa praia pra você frequentar, tem uma boa barraca de praia pra você frequentar. Ele sabe por que ele está trabalhando junto com essa cadeia toda que pode produzir uma boa estada do turista. (Entrevistado 4).

Além de o desejo de desenvolver o capital social pela Secretaria, deve existir o desejo junto aos empresários. O entrevistado 7 avalia que os beneficiados inscritos nas redes empresariais não possuíam verdadeiramente o desejo de

fortalecer o capital social. Dessa forma, visavam unicamente aos benefícios que o Programa poderia trazer como resultados por meio de uma política de beneficiamento dos próprios e de seus pares.

“O Programa construiu muito pouco em termos de desenvolvimento de capital social e acho até que as empresas de uma forma geral, e mesmos os APLs que estão mais envolvidos tem uma postura meio pragmática em participar”. (Entrevistado 7). Assim, havendo algum estímulo concreto pelo Programa, esses empresários se dizem participantes de um aglomerado e se tornam elegíveis para receber os benefícios da política. Não parece haver, junto ao empresário, uma crença da necessidade de se trabalhar de forma cooperada. Trata-se de uma relação de um para muitos com o governo. Logo, para os empresários, “Eu preciso fazer parte disso aqui apenas para que eu me torne elegível para ter uma relação preferencial com o governo”. (Entrevistado 7).

A pouca participação dos empresários ligados às redes constantes dos aglomerados se deve, essencialmente, à falta de confiança no Programa e falta de crédito dada à governança dos aglomerados. “Fica muita coisa dentro de um contexto de abstração. Não tem uma coisa concreta. Fica tudo na conversa”. (Entrevistado 3).

Torna-se perceptível, portanto, que em alguns pouquíssimos casos existe uma consideração da existência de capital social. Assim, impossível se torna a cooperação nas relações sociais, o que impede o atores de se beneficiarem dos resultados do trabalho coletivo.

5.2.1.2 Dificuldades da política com capital social

Apesar de as considerações expostas anteriormente , a maioria dos entrevistados afirma que o Programa enfrentaria dificuldades na consecução dos seus objetivos por não haver capital social suficiente. Questões como a falta de aglomerações sociais definidas (redes), normas e regras que facilitem ações coordenadas ou qualquer outra característica significativa do capital social simplesmente não existe nos aglomerados beneficiados.

Alguns consideram este um grande problema, havendo casos, entretanto, que acreditam não ser essa uma dificuldade tão acentuada do Programa. O entrevistado 2 ressalta que a falta ou o baixo nível de capital social de determinada aglomeração não seria tão representativo quanto outros problemas que, segundo ele, são considerados maiores. Essa visão é ainda compartilhada por algumas das pessoas responsáveis pelo Programa, a exemplo do entrevistado 13. Na visão desses entrevistados, existem problemas maiores que precisam ser solucionados primeiro.

Mas, o impacto disso na execução é menor do que as dificuldades internas que o Programa tem que gerir, como prazo para assinatura de convênio. Nós tivemos um intervalo grande de não execução. Não porque a governança estava desarticulada, porque as redes estavam sem a devida mobilização ou por baixo capital social, mas por conta da ausência de assinatura de um contrato para o início da execução junto ao Parceiro. (Entrevistado 2).

A respeito do desenvolvimento do capital social pela política, visando minimizar certos entraves provocados pela ausência do mesmo, o entrevistado 1 acredita que houve um interesse em seu desenvolvimento, entretanto, além de não ser fácil de desenvolver, é necessário tempo para sua promoção.

Eu penso que esse Programa não tem um fim, ele é parte de um processo. Acho que, por exemplo, quando acabar o Programa não vai deixar esses segmentos representados pelos APLS todos organizados como se pensa, mas eles vão estar bem melhor. Aí outras ações no futuro já vão encontrar esses segmentos muito mais organizados, com muito mais conhecimento da atividade deles. E isso eu vejo como um processo, isso não vai terminar. Isso é uma contribuição.

As entrevistas revelam ainda que mesmo incipiente, houve iniciativas importantes no desenvolvimento do capital social. Algumas delas se deram de forma direta, entretanto a maioria de forma indireta nas fases posteriores a primeira, considerando que esta foi a fase responsável por esta ação.

A Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação do Estado buscou realizar ações nesse sentido, entretanto estas ações necessitariam ser desenvolvidas de forma continuada, não havendo paralisações durante períodos críticos do Programa. “Não falta esforço da Secretaria do Estado. Eles tentam, fazem. O que eu acredito e eu acho que deveria ser uma coisa que deve ser tocada”. (Entrevistado 3).

Entretanto esses esforços da Secretaria foram insuficientes. As iniciativas apenas se referem ao trabalho dos Coordenadores Locais de Programa que

buscavam reunir os empresários em reuniões da governança. Igualmente , a Secretaria buscou convidar as diversas instituições passíveis de participação dessa governança. Esses esforços, todavia, não resultaram em uma melhoria do capital social, pois à medida que a política atrasava em sua execução, havia desistências por parte dos empresários. A falta de estímulo desses e de uma articulação devida entre instituições e empresas participantes não resultou em melhoria nos níveis de capital social.