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5.1 A ESCOLHA DOS AGLOMERADOS BENEFICIADOS PELA POLÍTICA

5.1.2 Cooperação e Articulação Empresarial

O modelo desta análise prevê a avaliação do capital social e da governança quando da escolha dos aglomerados, quanto à sua cooperação e articulação empresarial.

A intenção em desenvolver o capital social dos aglomerados se dá na tentativa de que as ações coletivas sejam executadas de forma coordenada, havendo normas e procedimentos que regulem suas ações e facilitem a cooperação, diminuindo o oportunismo e aumentando as chances de ganhos coletivos entre as empresas.

Com relação à cooperação empresarial que havia à época da escolha dos aglomerados, alguns indícios foram considerados, a exemplo do associativismo. Esse denota que o aglomerado possui uma intenção de operar de forma coletiva, sendo este um reflexo de níveis de capital social mais elevado. As entidades associativas representam organizações que auxiliam no embate a entraves nos segmentos produtivos de cada aglomerado e promovem beneficiamentos grupais que, obviamente, alcançam a individualidade dos empresários.

Considerando os aglomerados escolhidos, alguns deles já possuíam uma estrutura associativa, enquanto outros não. Entretanto, cita o entrevistado 7, as próprias entidades, os grupos que trabalhavam com associações e cooperativas tinham grandes deficiências em relação ao seu modus operandi.

Eles são assim: criam a cooperativas, mas essas cooperativas, apesar de terem em torno de 20 pessoas/empresas interessadas, você tem uma dependência muito grande de 2 ou 3, as vezes até de um só, ou só do presidente para a tomada de decisões, para uma visão estratégica, articulação, então assim... existe uma acomodação natural da grande maioria das pessoas que fazem parte dessas cooperativas porque na verdade elas não tem ainda a maturidade e a consciência da importância de trabalhar em grupo, trabalhar em equipe, trabalhar de forma cooperada. E associações a mesma coisa...

Outras indicações da falta de cooperação são o individualismo e oportunismo que impera nas relações. Os empresários ligados às redes ainda encaram aquele que deveria ser seu parceiro como seu concorrente ou adversário. “E tem redes que o outro é concorrente, então nem internalizar o conceito de redes eles internalizaram. Então eu acho que atrapalha bastante. Se tivesse fortalecido as associações, a gente teria um outro resultado”. (Entrevistado 14).

Nota-se claramente que a cooperação existente entre os empresários dos aglomerados não existia ou era insuficiente quando se deu a escolha, inclusive nas governanças consideradas mais estruturadas. Com relação ao capital social do APL de Confecções, o entrevistado 14 avalia que “Não existe capital social. O nosso ainda tem um pouco, tem uma base, mas muito pouco trabalhado, é fraco, é fraco”.

Ainda relacionado ao capital social, avaliando as entrevistas feitas em fase de imersão e também fora dela, é possível afirmar que a percepção dos entrevistados, em sua maioria, é a de que houve uma preocupação com esta questão, como também com a governança, entretanto, nem todos os aglomerados escolhidos apresentavam essas qualificações.

O juízo predominante nas entrevistas é a de que questões como o capital social e governança foram consideradas, porém não cruciais para que o Programa identificasse e os escolhesse como beneficiado da Política. Esses requisitos foram ponderados de maneira classificatória e não, eliminatória. Assim algum aglomerado poderia não atender a algum dos requisitos e assim mesmo ser beneficiado pela política em tela. “Era muito incipiente, a maioria dos aglomerados não tinham praticamente nenhum vestígio de capital social. Aí dentro daqueles que tinham algum nível de organização, mesmo que incipiente, se escolheu”. (Entrevistado 7).

Desse modo, questões como o capital social teriam sido consideradas no processo de escolha, entretanto nenhuma delas apresentava níveis satisfatórios. “Eu acredito que houve uma percepção muito interessante no que se relaciona ao capital

social. Mas, é lógico que em alguns APLs isso era muito mais forte e em outros não. E isso se perdurou em quase todos eles essa formatação inicial”. (Entrevistado 6).

Igualmente, a totalidade dos entrevistados afirma que o Programa não avançou ou pouco avançou no auxílio a bons níveis de capital social, associativismo e governança. A respeito desses requisitos, o entrevistado 14 afirma que a maioria dos aglomerados que seriam beneficiados pela política,não possuía.

A maioria não. Tanto é que o resultado você vê hoje. Poucos arranjos conseguiram deslanchar. Na verdade o arranjo não se cria, não se cria um APL, se promove um arranjo. Para isso já deve haver alguns indícios característicos para que sejam feitas as ações de fortalecimento, de associativismo, de capacitação.

Considerando os dados da tabela do Banco Interamericano de Desenvolvimento- BID, no que se refere a alguns aspectos relativos ao capital social e à cooperação (relação com instituições científicas e conhecimento; capacidade associativa; governança local), denota-se que os critérios foram relaxados. Alguns aglomerados obtiveram avaliação não satisfatória, conforme quadro 04), todavia esses aglomerados foram classificados e recebem o apoio da política estadual.

Quadro nº 10 - Aglomerados e critérios relativos ao capital social e à governança

APLs Relação com instituições científicas e conhecimento Capacidade associativa Governança Local

Fruticultura Médio Médio Médio baixo

Rochas Ornamentais Médio Médio Médio

Sisal* - - -

Cadeia Automobilística

Médio Médio baixo Médio

Tecnologia da Informação

Médio alto Médio Médio

Turismo Médio Médio Médio baixo

Transformação do plástico

Médio Médio Médio baixo

Confecções Médio baixo Médio alto Muito alto

Piscicultura Médio Médio alto Médio

Derivados da cana- de Açúcar

Médio baixo Muito alto Muito alto

Caprinovinocultura Médio baixo Médio alto Médio baixo

*O APL de Sisal passou a ser beneficiado após o início do Programa, não sendo objeto de análise do BID.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do BID (2005)

O quadro ratifica a ideia de que os aglomerados, à época da escolha, não possuíam bons níveis de capital social, por meio dos critérios citados pelo Banco

Interamericano de Desenvolvimento. Na junção dos três critérios associados ao capital social, apenas os aglomerados de Tecnologia da Informação, Confecções, Piscicultura e Derivados da Cana-de-açúcar teriam uma consideração acima de médio. Portanto, quando escolhidos, poucos foram os aglomerados que apresentaram capital social desenvolvido.