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Capital Social, desenvolvimento local e inclusão social

1.4 Desenvolvimento Local e Políticas Públicas de Inclusão Social

1.4.3 Capital Social, desenvolvimento local e inclusão social

Dentre os conceitos a serem discutidos no escopo deste trabalho, entende-se que é importante apresentar, também, o que é e qual a importância do capital social nos processos de desenvolvimento de uma região e na fundamentação de políticas em que se tenha como objetivo o desenvolvimento socioeconômico e a promoção da inclusão social da parcela da população local que vive em situação de vulnerabilidade e risco social.

De acordo com Putnam (2002), “Capital Social” pode ser compreendido como o conjunto das características da organização social, envolvendo redes de relações, normas de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação, que tornam possível à uma região a tomada de ações colaborativas em benefício de toda comunidade. Tais formas de capital social possuem um efeito multiplicador com seu uso, sendo a confiança mútua um componente básico (essencial) para o capital social, assim como a regra da reciprocidade

generalizada para coibir ações oportunistas e, assim, resolver questões e dilemas coletivos. Uma característica do capital social é o fato dele ser, geralmente, um bem público, enquanto o capital convencional, normalmente, é um bem privado, ou seja, ele não é propriedade de nenhum dos indivíduos que dele se beneficia.

A presença do conceito “capital social” nas discussões de analistas e agências de fomento vem crescendo, com o intuito, conforme explica Kon (2004), de fornecer subsídios às políticas públicas para desenvolvimento e superação da pobreza em países menos avançados, incluindo o fornecimento de serviços que ampliem os elementos que constituem esse capital (como a reciprocidade, solidariedade, intercâmbio e controle social). Propõe-se que, em se potencializando os elementos (concretos e abstratos) do capital social, torna-se possível ampliar a participação dos agentes (econômicos e sociais) na superação dos obstáculos ao desenvolvimento.

Putnam (2002) toma por base de sua análise a teoria dos jogos e observa que serão as comunidades cooperativas que permitirão aos indivíduos racionais superarem os dilemas coletivos. A cooperação se faz mais visível em comunidades que possuem um bom estoque de capital social, sob a forma de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. As tradições cívicas, o capital social e práticas colaborativas, em si, não promovem o progresso

econômico, contudo, constituem uma base para as regiões enfrentarem e se adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura

Segundo Kon (2004), para a criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento econômico, incorporam-se às análises dos economistas as relações sociais, os tipos de intercâmbios sociais e o comportamento solidário, ambos preponderantes para a consecução de estímulos econômicos ao desenvolvimento, valendo-se de um paradigma interdisciplinar.

Uma estratégia política de desenvolvimento regional, além das ações de cunho ortodoxo, como as que incentivam a criação de linhas de crédito, os incentivos fiscais ou os investimentos na formação bruta de capital fixo, também deve manter e ampliar o estoque de capital social na comunidade, de modo a fortalecer a auto-organização social e estimular a prática de soluções colaborativas para problemas comuns, promovendo a participação e a abertura ao diálogo com os diversos integrantes das comunidades regionais, de modo a remover obstáculos a dinâmica do desenvolvimento (SOUZA FILHO1999; KON, 2004).

Carneiro & Costa (2003), por sua vez, ressaltam que uma política de combate à exclusão deve ter como diretriz a consolidação do capital social nos grupos beneficiários, mas, Kon (2004) reforça que a funcionalidade e a instrumentalização do capital social em programas que visem combater a pobreza deve promover uma articulação com os elementos políticos da sociedade, para que se consiga superar conflitos e interesses individuais.

A concepção de pobreza exclusivamente baseada na falta ou carência desviam a atenção para as possibilidades existentes nesse contexto, pois, dentro das relações sociais vividas por grupos pobres é possível identificar experiências, iniciativas, ou, ainda, potencializar alguns recursos não aproveitados por esses grupos como os equipamentos locais, recursos naturais, agências públicas ou ONG’s que operam na comunidade, ou ainda alguns recursos não materiais como a organização social, a capacidade de mobilização, idéias, experiências prévias ou mesmo a própria cultura local (CARNEIRO & COSTA, 2003: p.18). Nazzari, Reule & Lazzarotto (2003), observam que o capital social pode desenvolver mecanismos que ampliem a capacidade de participação e cooperação da sociedade, de modo a reduzir índices de exclusão social. As diferenças entre os estoques de capital social das comunidades indicam o desenvolvimento econômico desta.É o que também conclui Putnam (2002), ou seja, o declínio ou o desenvolvimento do potencial socioeconômico de uma sociedade pode ser explicado a partir do capital social ali existente.

Os autores apontam para alguns pontos comuns aos diferentes conceitos para capital social, como, por exemplo, o fato de todos integrarem as esferas política, econômica e social, num pressuposto de que as relações sociais influenciam a forma como os estados e mercados

operam, ao mesmo tempo em que são influenciados um pelo outro; há um entendimento comum de que há como as relações entre os atores serem estáveis e confiáveis, de maneira a ampliar a eficiência individual e coletiva, além de ser possível fortalecer esse capital social, o que exige, porém, uma gama recursos.

(...) Na medida em que os bens, derivados de instituições públicas, não podem ser apropriados privativamente, as pessoas tendem a apoiar as relações sociais e as instituições. Sendo assim, o traço que distingue capital social de outros tipos de capital (econômico, cultural, político e organizacional) é a ênfase nas vantagens que resultam para as classes historicamente excluídas (BARQUEIRO apud NAZZARI, REULE & LAZZAROTTO, 2003: p.2).

Alguns exemplos de capital social são de acordo com os autores acima, as congregações baseadas na organização comunitária relacionada à participação cívica em questões de meio ambiente, educação e problemas da comunidade local, assim como as cooperativas de auxílio mútuo, entre outros. Putnam (2002) acrescenta que quanto mais desenvolvidos forem os sistemas de participação cívica, dos quais fazem parte as associações comunitárias, as cooperativas, os clubes desportivos e os partidos de massa (entre outros), maior será a probabilidade dos cidadãos cooperarem em benefício mútuo. Eles representam uma significativa interação horizontal.

São as relações sociais continuadas existentes que fomentam a confiança, pois estas encerram fortes expectativas de confiabilidade e se distanciam de ações oportunistas. Entende-se que as redes de engajamento cívico, ou seja, a interação recíproca da comunidade e a confiança mútua teriam eficazes impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico e a democracia, em três dimensões, individual, social e institucional, levando ao surgimento de pessoas mais críticas, que fiscalizem a utilização e gestão dos bens públicos.

Além disso, Putnam (2002) aponta para alguns outros benefícios de um sistema de participação cívica desenvolvido, tais como o aumento dos custos para um eventual transgressor ao realizar alguma transação individual (oportunista); estes sistemas promovem regras sólidas de reciprocidade reforçadas pela cadeia de relacionamentos; facilitam a comunicação, melhorando o fluxo de informações sobre a confiabilidade das pessoas e experiências anteriores que tenham obtido êxito são tomadas por modelo para a busca de soluções para problemas no presente. Quanto maior for a comunicação entre os participantes, maior será a confiança mútua e mais facilidade haverá no sentido da cooperação.

Segundo Boschi (1999), o fator mais importante para o sucesso de uma experiência de implantação de política para o desenvolvimento econômico e social de uma comunidade e que assegura a continuidade e institucionalização desse processo é a formação de estruturas de mediação ou representação, horizontalizando as relações entre os atores envolvidos.

Isso é possível por meio da criação de um núcleo representativo (um espaço de representação, como, por exemplo, os Fóruns Regionais) e “quanto maior a qualidade e a densidade dessa representação, tanto maiores as chances de sucesso da experiência (...)” (BOSCHI, 1999; p. 13). O que pode dificultar esse processo é a presença de interesses específicos distorcendo e, conseqüentemente, enfraquecendo essa representação.

Outra questão relevante é a importância da provisão de serviços governamentais e de mercado (serviços privados) num contexto de “capital social”, com a finalidade de fornecer infra-estrutura, educação e saúde, de modo a preparar a comunidade para a modernização econômica, materializando o capital social, além de se tornar uma importante fonte de geração de empregos. Nesse sentido, está se tratando de capital humano.