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O MERCADO DE TRABALHO DOS JOVENS EM SITUAÇÃO DE RISCO E VULNERABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO DE CASO NA

3.4 As Tentativas de Reabilitação e Inclusão Social na Região

3.4.2 Programa Inclusão Social Urbana “NÓS DO CENTRO”

3.4.2.1 O Trabalho dos EIS com a Capacitação Profissional

Sete escritórios são atualmente administrados pelo Projeto, Inclusão Social Urbana Nós do Centro: os EIS Santa Cecília, Mooca, Sé, Bom Retiro, Pari, Bela Vista e Glicério. Em cada escritório são desenvolvidas diversas atividades sociais, fóruns de desenvolvimento local e são oferecidos alguns cursos e oficinas de capacitação profissional e geração de renda. As pessoas atendidas nos EIS pertencem aos bairros onde cada escritório foi instalado e, quanto aos jovens, em sua maioria, são residentes em cortiços e vivem em situação de risco social.

Na estrutura do escritório, um profissional se encarrega de planejar a grade de cursos a ser oferecida, a qual é definida a partir de parâmetros, diagnósticos e experiências vividas em cada comunidade, além de levar em conta, principalmente, a demanda local as oportunidades existentes e buscar estabelecer estratégias para conciliar essa demanda com o perfil da mão de obra existente. Esse profissional é o Agente de Desenvolvimento Econômico do EIS.

Cada escritório oferece seus cursos conforme a vocação econômica da região. Por exemplo, o EIS–Sé oferece oficinas de brindes aromáticos, customização, móveis elaborados com garrafas pet, manicure, chocolates e Técnicas de espetáculos (com sonoplastia, iluminação, cenotécnica e montagem de exposições); o EIS-Bom Retiro tem cursos de entrelaçamento afro, cestaria e bordado; no EIS-Glicério há oficinas de pinturas em tela, bordados em pedraria, tricô, crochê, xilogravura, e corte-costura; por sua vez, o EIS-Bela Vista oferece além dos cursos também oferecidos pelo EIS-Glicério, mosaico e artes plásticas.

Observa-se, portanto, que as escolhas mais recorrentes para a capacitação relacionam- se ao trabalho criativo (artes e artesanato) para apoio à produções culturais e para variadas possibilidades de design gráfico e digital, diferentemente do que era previsto no Plano Operacional Global, que reforçava e acreditava nos setores da construção civil e restauro.

De acordo com Machado (2008), 70% dos jovens que concluíram os cursos de “técnicas de espetáculos”, “zeladoria urbana” e “jardinagem paisagismo” estavam empregados. Kon (2009) reforça, entretanto, que, grande parte dos cursos e oficinas é escolhida por razões pouco sistematizadas, não se relacionando com teorias econômicas que poderiam apoiar o aprendizado desses alunos, fazendo-os compreender, por exemplo, a dinâmica do setor em que estão se inserindo (o setor da criatividade, nesses casos), suas facilidades e dificuldades já estudadas e sistematizadas por outros autores.12

Em junho de 2009, a PUC-SP realizou o Seminário “O Mundo do Trabalho e o Desafio da Inclusão Social”, contando com a participação dos responsáveis pelo Projeto Nós do Centro e da SMADS e, como convidados, especialistas nas áreas de Orientação Profissional, Capacitação Profissional e Economia Solidária (os três eixos de trabalho da Instituição para com o programa da União Européia e da PMSP).

Rodrigues & Santos (2009) relatam as experiências compartilhadas na Oficina do Eixo de Capacitação Profissional, realizada durante o seminário, que teve como objetivo buscar caminhos para elaborar a metodologia de ação no caminho de orientar e capacitar os jovens em situação de vulnerabilidade social da região central de São Paulo e identificar alguns recursos que já estejam disponíveis na localidade ou podem vir a contribuir com esse projeto. Nela foram apontadas as principais dificuldades enfrentadas pelas pessoas que participam de trabalhos sociais, em especial, quando estes se destinam a lidar com jovens e adolescentes.

Compareceram à oficina representantes da Prefeitura do Município de Embu das Artes e dos grupos de orientação e capacitação profissional da Secretaria do Trabalho e Renda do Embu, uma representante do Instituto Rogacionista, ligado à Igreja Católica, uma representante da Prefeitura de Lins, além de uma representante da Unidade Gestora do Projeto Nós do Centro e dos coordenadores do EIS-Santa Cecília e do EIS-Mooca, todos envolvidos em projetos sociais ligados à crianças, jovens e adolescentes em situação de risco.

Durante os trabalhos, os coordenadores do EIS–Mooca relataram que o escritório conseguiu, em pouco tempo, realizar o maior cadastro de famílias dentre os sete escritórios já implantados pelo “Programa Nós do Centro” e conta hoje com 2000 famílias e 155 moradias coletivas (cortiços). Nesse processo, eles se depararam com uma realidade muito dura: saúde precaríssima, abusos sexuais, bandidagem, drogas, dificuldades de inserção na escola, insuficiência de vagas em creches ou escolas, necessidades de alimentação, entre outras. As condições sanitárias das moradias também são significativamente precárias.

Segundo eles, a Mooca é uma região com grande potencial e vários recursos. Um local que tende a se tornar um centro, tendo em vista que a região central se estende para lá. Entretanto, para as famílias cadastradas falta de tudo (saúde, educação, comida, trabalho, entre outras carências observadas). A região onde vivem essas famílias é uma espécie de “Faixa de Gaza” por se localizar na fronteira entre os distritos da Sé e da Mooca, por essa razão, eles acabam não recebendo muita atenção nem de uma subprefeitura, nem da outra.

Os coordenadores ressaltam que, antes de se pensar em capacitação é preciso tratar a base, pois, ao perguntarem para crianças com idades entre 9 e 10 anos sobre o que eles querem ser quando crescerem, eles respondem coisas como carreteiro ou empregada

doméstica, isso porque essa é a realidade que eles vivem. Outras meninas dizem querer ser modelo ou atriz e justificam esta opção como uma forma de ganharem dinheiro.

Eles perceberam que, há a necessidade de se trazer a participação das famílias aos EIS, e, para isso, contaram com o trabalho de 10 agentes que começaram por atrair as crianças por meio da brinquedoteca e do curso de capoeira (curso que já atende a cerca de 120 jovens, trabalhando inclusive noções de cidadania e respeito). Agora, a equipe do escritório está para iniciar um curso de atividades circenses no local.

Ao adentrarem nos cortiços da região da Mooca, os coordenadores do EIS observaram lá há muitas famílias em que só existe a mãe e os filhos. Umas, com grande número de crianças que, muitas vezes, não sabem nem quem são seus pais. Em muitas, o filho mais velho é o “arrimo de família” e a questão é como fazer com que ele freqüente a escola e vá aos cursos de capacitação, tendo em vista que ele tem que garantir o sustento de sua família.

Algumas crianças vão para os faróis pedir dinheiro. “Se eles não têm como comer e, muitas vezes, vem ao escritório para pedir bolachas, como vão arrumar dinheiro para condução? Na Mooca, tudo é longe para aquelas pessoas. Também tem que ser algo que não lhes ocupe muito tempo”– reforça a coordenadora do EIS-Mooca.

Outra dificuldade apresentada por esses coordenadores é o fato de, apesar de eles terem um cadastro dos possíveis candidatos para as vagas abertas na região, os potenciais empregadores não querem contratar, acima de tudo, por preconceito, o que foi reforçado, também, pela coordenadora do EIS–Santa Cecília.

Uma das alegações, por exemplo, é que “é preciso ter boa aparência”. Outro significativo preconceito é o fato desses jovens morarem em cortiços ou favelas. Sendo esse um local onde se tem muita pobreza, isso já é motivo para ele descartar o candidato, pois essa situação é freqüentemente relacionada com violência, gerando receio por parte dos empregadores com a possível contratação. Por isso e por outras dificuldades com as quais se deparam quando buscam por algum serviço público, essas pessoas estão descrentes do poder público e, cansadas de “fazer cadastro para nada”. Em conseqüência, eles observam que, muitas vezes, não há interesse dos jovens em participar de projetos como esse.

As observações feitas pela coordenadora do EIS-Santa Cecília serão acrescentadas à etapa seguinte, tendo em vista que este foi o escritório modelo utilizado para os trabalhos de elaboração da metodologia de inclusão com capacitação dos jovens da região central e, para o estudo de caso do presente trabalho, necessita de maior destaque e atenção.