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O capitalismo flexível do final do século XX ao limiar do XXI: reestruturação da

1. TEORIA CRÍTICA SOBRE O TRABALHO: as implicações de suas categorias

1.5 O capitalismo flexível do final do século XX ao limiar do XXI: reestruturação da

Do fim do século XX para o início do XXI, o capitalismo lançou-se as bases para um intenso processo de reestruturação e integração econômica, o qual, segundo Castells (1999), levou “a uma nova forma de capitalismo” em que suas características essenciais “são a globalização das principais atividades econômicas, flexibilidade organizacional e maior poder para o patronato em suas relações com os trabalhadores” (CASTELLS, 1999, p. 412).

Nesse novo prospecto do capitalismo ocorrem “pressões competitivas, flexibilidade de trabalho e enfraquecimento de mão de obra sindicalizada levaram à redução de despesas com o Estado do bem-estar social”, no qual o Estado alicerçou a garantia de contrato social e econômico, por meio de ‘acordo trabalhistas’ e do ‘pleno emprego’ em uma parceria entre sindicatos e empresas capitalista, ‘na era industrial’, observada especificamente em países europeus, durante os sucessivos anos do Pós-Guerra13 (CASTELLS, 1999, p. 412).

Com a crise dos modelos de desenvolvimento econômico tanto do ‘capitalismo industrial’ como do ‘Estado do bem-estar social’, motivou-se a reestruturação e integração do capitalismo, a partir de meados dos anos 1970 e início dos anos de 1980, a qual compreendeu em “privatização de amplos setores de bens e serviços produzidos pelo Estado, a busca de eficiência e de competitividade”, “desregulamentação do comércio entre países”, provocando a “destruição de fronteiras nacionais” e a busca pela “completa liberdade de trânsito para pessoas, mercadorias e capitais”, em uma espécie mercado global universal.

Desse modo, denomina-se ainda para esse mercado como sendo um “processo de aceleração, integração e reestruturação capitalista”, que, também, vai ser chamado de “globalização, ou melhor, de mundialização”, entendida aqui como a “constituição de nova ordem econômica mundial”, através do “progresso técnico-científico em áreas como telecomunicações e informática” (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 84-85).

13 O pós-guerra refere-se ao período entre 1945 e 1955, após a Segunda Guerra Mundial, que foi marcado inicialmente pelo confronto militar entre países da Europa, estendendo-se esses confrontos para os países localizados no Sudeste Asiático, Oriente Médio, Mediterrâneo, Norte da África e nas Américas do Norte e do Sul. Ver: JUDT, Tony. Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2008.

Na ‘nova ordem econômica mundial’, para Castells (1999), as novas tecnologias da informação têm um papel decisivo ao facilitar ‘o surgimento do capitalismo flexível’ e “rejuvenescido, proporcionando ferramentas para a formação de redes, comunicação à distância, armazenamento/processamento de informação, individualização coordenada do trabalho e concentração e descentralização simultâneas do processo decisório” (CASTELLS, 1999, p. 412- 413).

No entanto, ao compreender a ‘reestruturação da relação capital-trabalho e seu processo flexibilização’, via tecnologia de informação, como salienta Castells (1999), teríamos então de fazer seus contrapontos com o argumento formulado por Mészáros (2011a) sobre “a crise estrutural do capital”, pelo qual este autor argumenta que:

o que hoje estamos vivenciando não é apenas uma crescente polarização – inerente à

crise estrutural global do capitalismo atual – mas, igualmente o que multiplica os riscos

de explosão, o colapso de uma série de válvulas de segurança que cumpriam um papel vital na perpetuação da sociedade de mercado Mészáros (2011a, p. 48)

Ainda, sobre essa crise, Mészáros (2011a) diz que “foi bastante dramática a mudança que solapou o poder da política de consenso, da limitada institucionalização e integração do processo social”, por meio “de sua transferência ao plano dos conflitos internacionais” (p. 48).

Mészáros (2011a) conclui, ao afirmar que:

à medida que os sintomas de crise se multiplicam e sua severidade é agravada, parece muito mais plausível que o conjunto do sistema esteja se aproximando de certos limites estruturais do capital, ainda que seja excessivamente otimista sugerir que o modo de produção capitalista já atingiu seu ponto de não retorno a caminho do colapso

Assim sendo, depreenderíamos sobre essa interpretação de colapso, dentro dessa perspectiva de Mészáros (2011a), para os momentos atuais como ‘internacionalização’ da “bancarrota do capital” ‘global e/ou mundial’ na relação entre trabalho e as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), pois, nessa relação marcada pelo antagonismo político e econômico, se vislumbra o fato do ente maior, o Estado, não assegurar direitos trabalhistas e sociais no processo flexibilização dessas relações estabelecidas nas mediações sem barreiras da mundialização do capital. Há, portanto, nesse entendimento, uma crise de Estado pela sua falta de capacidade em atuar no campo de regulação político-social e/ou financeiro-jurídica nessas interações ‘fluídas’ e ‘frouxas’ da ‘nova ordem econômica mundial’, através das TDIC.

Carnoy (2004) afirma que “a nova economia da informação” se sustenta no (a) ‘conhecimento’; (b) nos ‘sistemas de planejamento e desenvolvimento’ [P&D]; e, no ‘papel do

Estado’ no capitalismo moderno. Desse modo, o autor salienta que “as fontes maior de produtividade dependem crescentemente do conhecimento e da informação aplicados à atividade produtiva, e esse conhecimento se baseia, cada vez mais, na ciência” (p. 15).

E, finalmente, Carnoy (2004; 1999) diz então que essa “nova economia é global” e ela vai se desenvolver através de “meios”, como seus pilares de sustentação: “o capital, a produção, o gerenciamento, os mercados, a mão de obra, a informação e a tecnologia” que se “organizam por meio de fronteiras nacionais”, articuladas em nível mundial. Nesse aspecto, a ‘nova economia da informação’, através das tecnologias da informação – informática, microeletrônica e telecomunicações: [‘núcleo central’ do desenvolvimento], vai ser incrementada pelas inovações ‘da pesquisa científica’ em setores estratégicos, nos quais o Estado vem assegurado a mediação das relações entre sua base e superestrutura nesse desenvolvimento, como, por exemplo, as ‘condições materiais do trabalho altamente qualificado’, mediante a formação de mão de obra para lidar em contextos de “flexibilidade e descentralização no processo produtivo”. Diante disso, suscita-se o seguinte problema, conforme Carnoy (2004), nesse cenário: será que ‘a educação está preparando sua força de trabalho para o mercado flexível’ e/ou ‘para as economias do século XXI’ na América Latina e Brasil, ‘desregulamentadas de obrigações trabalhistas’? (CARNOY, 2004, p. 15-17); (CARNOY, 1990, p.14).

A seguir, faremos uma discussão da ‘educação e trabalho’, permeada pelo debate sobre o fenômeno das novas tecnologias.