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INSTITUIÇÃO DOCUMENTOS ANALISADOS

3 POLÍTICAS DE TIC E EDUCAÇÃO: CONTEXTUALIZAÇÕES

3.1 CAPITALISMO, NEOLIBERALISMO E GLOBALIZAÇÃO: O MACROCONTEXTO

As políticas públicas contemporâneas na área de TIC e Educação estão inseridas num determinado contexto histórico mais amplo, que tem características que condicionam seus direcionamentos. As especificidades de tais políticas não devem levar a uma investigação que subestime esse macrocontexto. A análise proposta nesta pesquisa sobre as atuais políticas públicas na área de TIC e Educação e suas ações na formação de professores apresenta, como pressuposto, que as suas diretrizes são condicionadas por um contexto histórico-social marcado por reformas que reconfiguraram o papel do Estado nas políticas sociais nas últimas décadas. Esse contexto necessitava de adequação e adesão política, social e cultural da sociedade ao projeto neoliberal e suas políticas de ajuste econômico, o que não se efetivaria sem resistência da sociedade civil organizada em diversos países se não houvesse um trabalho ideológico articulado em diferentes esferas, a exemplo dos meios de comunicação e das políticas educacionais. Esse trabalho de difusão e consolidação de suas bases ideológicas vem, gradativamente, desde a década de 40, quando foi fundada a Sociedade de Mont Pèlerin. Criada em 1947, a Sociedade fazia crítica ao modelo de Estado intervencionista que caracterizou a atuação dos governos logo após a Segunda Guerra Mundial, o chamado Estado

de Bem-Estar social; faziam parte desse grupo intelectual Milton Friedman, Karl Popper, Michael Polanyi, Friedrich Hayek, entre outros

Os princípios do neoliberalismo começaram a ser pensados ainda na década de 40, no pós-guerra, na chamada “Época de ouro” do capitalismo, quando havia uma maior participação do Estado nas políticas sociais e na regulação da economia na Europa e Estados Unidos (o New Deal). Tais pensadores, ao contrário do modelo de Estado de Bem-estar, definiam como modelo ideal para o capitalismo a diminuição do papel do Estado nas políticas sociais, que passavam a ser apenas políticas compensatórias para amenizar as tensões sociais e manter o equilíbrio do próprio sistema, ao passo que a desregulamentação da economia visava impedir qualquer limitação aos mecanismos de mercado: o livre mercado e a livre- inciativa. Segundo Anderson (1995, p.11), a receita neoliberal para superação da crise implicaria a reconfiguração do Estado, ou seja, “[...] manter um Estado forte, sim, em sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle do dinheiro, mas parco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas”. Esses princípios neoliberais seriam retomados com a crise nos principais países capitalistas, na década de 70, quando a recessão combinava baixas taxas de crescimento e altas taxas de inflação (ANDERSON, 1995). O neoliberalismo, então, foi sendo adotado como modelo hegemônico e global e, na década de 90, a maioria dos países implantou reformas para superar as crises econômicas e para adequação a esse modelo de capitalismo.

Ao longo do século XX, o capitalismo passou por várias fases, diferencialmente em cada país, mas sem perder as suas características estruturantes e seu objetivo fundamental de promover a acumulação de capitais através da apropriação privada dos meios de produção sociais. Genericamente, podemos concordar com Wallerstein (2001, p.14) que ressalta: “onde a acumulação de capital tenha tido prioridade sobre objetivos alternativos ao longo do tempo, podemos dizer que estamos em presença de um sistema capitalista em operação”. Mas, para os objetivos da pesquisa, o foco não é a busca pelos primórdios da estruturação do capitalismo na sociedade ocidental, mas as configurações e reconfigurações que impactaram nos diversos setores sociais nos séculos XX e XXI. Nesse recorte, a década de 90 foi fundamental para implementação das reformas de Estado que iriam consolidar o neoliberalismo como único modelo para superação da crise estrutural do capitalismo, que avançava desde a década de 70 em muitos países. As reformas educacionais vão também servir de estratégia para adequação dos países ao neoliberalismo pois “dentro deste projeto global, a política educativa desempenha um papel crucial para afiançar e legitimar o papel subsidiário do Estado” (RODRIGUEZ, 2009, p.220).

Ao mesmo tempo, as configurações que reestruturaram o capitalismo mundialmente, impondo um novo papel de subordinação para as nações ditas ‘em desenvolvimento’, encontram, nas formações históricas de cada país, os traços de sua trajetória específica que, no caso dos países da América Latina, representa todos os desdobramentos de seu passado colonial. No Brasil, essas permanências vão marcar presença tanto na elaboração das políticas públicas educacionais como na sua concretização nos diversos espaços institucionais. Por aqui, o neoliberalismo também teve seus desdobramentos para tais políticas, principalmente através da diminuição dos recursos para as políticas públicas e nos processos de privatização de setores estratégicos, como os setores de energia e telecomunicações. Assim, as reestruturações do capitalismo se dão em nível global, mas articuladas com os diversos contextos nacionais, o que representa um dos traços do próprio processo denominado de globalização.

A globalização, embora se apresente como um fenômeno contemporâneo, tem suas raízes no processo de mundialização das relações econômicas que se estabeleceram em fins do século XV e início do XVI. Autores como Hobsbawn (1995) e Santos (2011), embora não neguem esse primórdio, analisam a globalização como um fenômeno contemporâneo que se consolida no século XX enquanto perspectiva hegemônica de reconfiguração das sociedades numa lógica planetária. Hobsbawn (1995) situa as bases da globalização no século XX, a partir das Décadas de Crise que se sucederam à Era de Ouro do capitalismo:

A crise afetou várias partes do mundo de maneiras e graus diferentes, mas afetou a todas elas, fossem quais fossem suas configurações políticas, sociais e econômicas, porque pela primeira vez na história a Era de Ouro criara uma economia mundial única, cada vez mais integrada e universal, operando em grande medida por sobre as fronteiras de Estado (“transnacionalmente”) e, portanto, também, cada vez mais, por sobre as barreiras da ideologia de Estado. Em decorrência, as ideias consagradas das instituições de todos os regimes e sistemas ficaram solapadas. (HOBSBAWM, 1995, p. 19)

Dessas análises, fica marcada a relação intrínseca entre a expansão e o desenvolvimento do capitalismo e seu processo de mundialização da economia, desde seus primórdios no século XV, na fase mercantilista, quando a expansão do comércio segue um padrão de exploração colonial e conexão intercontinental entre os mercados. Essa relação intrínseca torna artificial uma separação entre globalização e capitalismo, mesmo que para fins de

análise teórica; assim, ao longo do texto, as duas categorias aparecem imbricadas na análise do século XX29.

Milton Santos (2011)30 afirma que, para entender a globalização, é necessário analisar dois elementos fundamentais: o estado das técnicas e o estado da política. Esse autor ajuda a pensar criticamente a globalização como um processo histórico em que fluxos hegemônicos afirmam a soberania do mercado: “a globalização é, de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista” (SANTOS, 2011, p. 15). O autor aponta fatores que podem explicar a globalização: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história (a mais-valia globalizada). Assim, as noções de tempo-mundo e espaço-mundo devem ser pensadas enquanto convenções que legitimam temporalidades e territorialidades hegemônicas. São marcas da globalização hegemônica: a racionalidade, a fluidez e a competitividade que visam à eliminação dos obstáculos para a realização plena do mercado mundial.

Para esse autor, as condições históricas em que se realiza essa globalização apropriada pelo grande capital, apontam também as potencialidades de uma nova configuração social, “uma outra globalização”. O sistema técnico atual, presidido pelas técnicas da informação, permite o conhecimento do mundo numa dimensão que antes não era possível, uma consciência universal pautada na heterogeneidade, na afirmação da diversidade das culturas e não no domínio de um pensamento único eurocêntrico. A grande mutação tecnológica em curso, segundo o autor, diferencia-se dos sistemas técnicos das máquinas, base material do industrialismo e do imperialismo, que exigia grandes investimentos e, consequentemente, a concentração de capitais e do próprio sistema técnico; as técnicas da informação, ao contrário, exigem baixos investimentos, o que possibilita sua disseminação na sociedade e a descentralidade tecnológica, pois “os novos instrumentos, pela sua própria natureza, abrem possibilidades para sua disseminação no corpo social, superando as clivagens socioeconômicas preexistentes” (SANTOS, 2011, p.134). Dessa forma, para Santos (2011), a materialidade das condições técnicas já aponta para uma nova globalização, mas as opções políticas ainda legitimam a lógica do capital, que se apropria de tais condições para seus objetivos.

29 Em relação aos países do bloco socialista, a análise de Hobsbawn (1995) afirma que a estatização da

economia serviu para industrializar e modernizar nações que ainda se encontravam num modelo agrário; esses países, capitaneados pela URSS, também criaram relações econômicas de interdependência transnacionais.

30 O livro Por uma outra globalização foi publicado, originalmente, no ano 2000; nesta pesquisa, foi

Nesse sentido, se analisarmos o contexto atual globalizado a partir desses dois eixos (estado da técnica e estado da política), é possível afirmar que as condições históricas para configuração de um modelo de sociedade mais igualitário, democrático e justo já existem do ponto de vista técnico; existem virtualmente, em potência, mas as opções políticas ainda direcionam para um modelo de sociedade regido pela lógica de mercado, que gera desigualdades sociais. Nesse sentido, há concordância com Santos (2011) de que outra globalização é possível, mas que a globalização atual ainda está condicionada pela lógica mercantilista que se estabeleceu junto com a sociedade capitalista. Mas quais são essas condições técnicas e políticas que, embora cerceadas pela lógica capitalista, já apontam possibilidades de uma nova configuração social cujos contornos ainda não são claros?31 Faz- se necessário descrever e analisar tais condições para melhor entendimento do que temos e do porvir, do que poderíamos ter em termos de organização social, conforme abordado mais adiante.

Na dimensão técnica, Santos (2011) também afirma que o desenvolvimento da história vai de par com o desenvolvimento das técnicas, mas que uma técnica não aparece isolada, mas em conjunto ou num sistema de técnicas. No mesmo sentido, Castells (1999) pontua que uma inovação tecnológica não ocorre isolada, mas em agrupamentos, interagindo entre si, e representa determinado estágio do conhecimento social. Para Santos (2011, p.16):

Essas famílias de técnicas transportam uma história, cada sistema técnico representa uma época. Em nossa época, o que é representativo do sistema de técnicas atual é a chegada da técnica da informação, por meio da cibernética, da informática, da eletrônica. Ela vai permitir duas grandes coisas: a primeira é que as diversas técnicas existentes passam a se comunicar entre elas. A técnica da informação assegura esse comércio, que antes não era possível. Por outro lado, ela tem um papel determinante sobre o uso do tempo, permitindo, em todos os lugares, a convergência dos momentos, assegurando a simultaneidade das ações e, por conseguinte, acelerando o processo histórico.

Tomando as condições técnicas como primeiro fator de análise, em suas estruturas, vivemos atualmente numa sociedade altamente industrializada e com amplo desenvolvimento dos sistemas de comunicação que permitem uma conexão planetária. Esses dois processos têm no desenvolvimento tecnológico, especialmente da microeletrônica e da informática, uma

31 Embora não caiba, numa análise histórica, a previsão do futuro, concordo com autores como

Wallerstein (2008) que a crise do capitalismo nas últimas décadas é estrutural e sinaliza para o esgotamento desse sistema, e que os próximos 30-40 anos constituirão um período de transição para um sistema ou sistemas novos. Hobsbawm (1995) caracterizava o fim do século XX como o ‘Desmoronamento’ e sinalizava que a década de 90 já apontava o início de uma nova era histórica, ainda, sim, moldada pelas transformações do século XX, mas com a perspectiva de novos padrões societários.

base fundamental. Schaff (1995) argumenta que vivemos em uma sociedade informática, que é resultante da disseminação das tecnologias microeletrônicas nas diversas atividades sociais, desde a indústria de base até os serviços, representando para o autor a segunda revolução tecnoindustrial, sendo a primeira revolução aquela iniciada na Inglaterra no século XVIII e propagada até o século XIX, que substituiu a força física dos homens pela energia das máquinas: “a segunda revolução, que estamos assistindo agora, consiste em que as capacidades intelectuais do homem são ampliadas e inclusive substituídas por autômatos, que eliminam com êxito crescente o trabalho humano na produção e nos serviços” (SCHAFF, 1995, p. 22). Esse autor ainda afirma que são três os elementos principais da atual revolução tecnocientífica: a microeletrônica, a microbiologia e a energia nuclear. Ele analisa cada elemento e pondera as consequências sociais positivas e os perigos de cada um deles para a humanidade:

Essa tríade revolucionária – microeletrônica, microbiologia e energia nuclear – assinala os amplos caminhos do nosso conhecimento a respeito do mundo e também do desenvolvimento da humanidade. Como vimos, as possibilidades de desenvolvimento são enormes, como são também enormes os perigos inerentes a elas, especialmente na esfera social. (SCHAFF, 1995, p.25).

Schaff (1995) já apontava, há cerca de 20 anos, preocupações com as consequências potencialmente perigosas para cada elemento citado: 1– o avanço da microeletrônica nos processos de automação e robotização nos diversos setores produtivos poderia levar à substituição total do trabalho humano, gerando desemprego estrutural; 2 – os usos indevidos dos conhecimentos da engenharia genética para clonagem e produção artificial de seres humanos padronizados; 3 – os riscos de uso militar dos conhecimentos sobre a fissão e a fusão controladas de átomos para produção de energia nuclear e de armas. Para o autor, no entanto, tais riscos não deveriam impedir o avanço do conhecimento humano, pois tudo depende da utilização social de tais conhecimentos, fazendo-se necessário “[...] estabelecer medidas sociais profiláticas que se oponham às consequências sociais negativas” (SCHAFF, 1995, p. 24). Passadas mais de duas décadas, as preocupações expostas por Schaff (1995) sobre os riscos da clonagem humana e do uso militar da energia nuclear, ainda causam polêmicas e mobilizam a sociedade na busca por mecanismos de controle social, garantidos por instituições intranacionais e internacionais, mas sem grandes impactos no cotidiano da

maioria das pessoas32. Entretanto, as questões que envolvem automação e desemprego na reestruturação do capitalismo nas últimas décadas afetaram grande parte da população e envolvem a análise de outras dimensões além da técnica.

No tocante ao desemprego estrutural, diferentemente desse autor, Castells (1999) contradiz essa relação de causa-efeito entre o desemprego e o avanço das TIC nos setores produtivos e de fluxos de capitais. Para ele, há mais emprego que em qualquer época da história, porém existe também uma transformação na relação capital-trabalho com novas configurações como: atuação em rede, trabalho em equipe, terceirização, subcontratação para adequação às necessidades do capital global: “a mão-de-obra está desagregada em seu desempenho, fragmentada em sua organização, diversificada em sua existência, dividida em sua ação coletiva” (CASTELLS, 1999, p.571). Para o autor, o trabalho torna-se cada vez mais individualizado, sendo mais difícil identificar uma classe trabalhadora homogênea:

[...] nas condições da sociedade em rede, o capital é coordenado globalmente, o trabalho é individualizado. A luta entre diferentes capitalistas e classes trabalhadoras heterogêneas está incluída na oposição mais fundamental entre a lógica pura e simples dos fluxos de capital e os valores culturais da experiência humana. (CASTELLS, 1995, p. 572).

Entendo que a relação tecnologia-desemprego não pode ser simplificada a uma relação de causa-efeito do tipo quanto maior o uso de tecnologia, maior o desemprego, pois a relação capital-trabalho envolve outros aspectos relacionados à própria configuração do capitalismo histórico em cada sociedade. A reestruturação produtiva do capitalismo, com a flexibilização das relações de trabalho, novas formas de gerenciamento pós-fordista, em diversos países da América Latina, convive com formas arcaicas de exploração que foram marcantes no período colonial como trabalho análogo à escravidão, a servidão por dívidas e mesmo o trabalho infantil, que permanecem mesmo na contramão da legislação trabalhista33. Nesses países, para

32 Sobre esses aspectos, as polêmicas mais recentes envolveram o programa de energia nuclear do Irã, o

que resultou em acordo assinado entre esse país e as grandes potências, mediado pela ONU (COM APOIO..., 11 fev. 2014. Disponível em: < http://www.onu.org.br/com-apoio-de-agencia-da-onu-ira-se-prepara-para- implementacao -de-medidas-sobre-energia-atomica/ >. Acesso em: 17 mar. 2014). Sobre a clonagem humana, as últimas descobertas foram publicadas por um grupo de cientistas da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon (EUA), que conseguiram produzir células-tronco humanas através da clonagem, descoberta que poderá ser usada para tratamento de diversas doenças futuramente.

33 Levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), publicado em 2013, aponta crescimento

de empresas que exploram trabalho escravo ou servil na área urbana (CRESCE número..., Brasil de fato, 2 jan.2014., Disponível em: < http://www.brasildefato.com.br/node/26987 >. Acesso em: 2 jan. 2014). Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam a diminuição da incidência do trabalho infantil no Brasil, mas ainda há registros, em 2011, de cerca 3,5 milhões de crianças em situação de trabalho infantil (DESAFIOS... Disponível em: < http://www.oitbrasil.org.br/ content/desafios-para-erradicar-o-trabalho-infantil>. Acesso em: 18 mar. 2014).

alguns setores produtivos rurais e urbanos, a exploração intensiva e extensiva do trabalho humano, dentro da lógica do capital, apresenta-se como mais lucrativa do que o investimento na mecanização dos processos produtivos, em virtude dos baixos salários e carga horária de trabalho excessiva, como vemos nas carvoarias, na indústria têxtil e na construção civil. E mesmo as empresas da área de TIC, especialmente aquelas ligadas à produção de infraestrutura tecnológica e hardware, seguem a mesma lógica capitalista de buscar a diminuição dos custos de produção através de mão de obra mais barata34.

As análises de Schaff (1995) acerca do que denominou Sociedade Informática e os desdobramentos nos setores econômico, social, político e cultural são importantes para entendermos o desenvolvimento tecnológico de forma processual, percebendo a base estrutural do contexto tecnológico em que vivemos atualmente. Se no setor industrial a inserção das tecnologias faz-se perceptível, principalmente através da automação dos processos de produção com a utilização intensiva da microeletrônica e da robótica, especialmente a partir da segunda metade do século XX, nos outros setores sociais essa inserção tornou-se mais visível a partir da disseminação das Tecnologias da Informação e Comunicação de base digital a partir da década de 70. Essa disseminação avançou a ponto de colocar essas tecnologias como estruturantes dos processos sociais contemporâneos, visivelmente nos processos de informatização e comunicação que servem de base para interconexão entre os diversos setores sociais e entre os diversos países:

[...] no fim do século XX e graças aos avanços da ciência produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. (SANTOS, 2011, p. 15).

Em termos de desenvolvimento técnico-científico, foi o avanço da microeletrônica que proporcionou a miniaturização dos equipamentos e viabilizou sua utilização em outros espaços além das indústrias e grandes empresas, o que tornou os equipamentos menores e mais portáteis. Rádios, televisões e telefones fixos e outras tecnologias de comunicação em massa, mesmo de base analógica, já tomavam conta da sociedade ainda na primeira metade do século XX, e, a partir da década de 50, com a substituição das válvulas pelos transistores, esses equipamentos tornam-se menores e de baixo custo, propiciando uma maior

34 Há denúncias da Anistia Internacional contra grandes empresas do setor de tecnologia como a

Samsung, Sony e Apple quanto ao uso de mão de obra infantil na cadeia produtiva. (TRABALHO infantil. Disponível em < http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160119_trabalho infantil_anistia_rp >. Acesso em: 23 abr. 2016).

popularização, além da criação de outros equipamentos eletrônicos mais sofisticados (gravadores, videocassetes, rádios portáteis). Um novo processo tecnológico iria promover outra revolução: a digitalização de dados e informações, que transformou tudo em bits. A 'revolução dos bits' trouxe uma maior plasticidade aos dados, que passaram a ser