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Capitalismo: uma tendência transformadora

2. Ética e Democracia

2.3. A formação do carácter democrático da actualidade: política, economia e sociedade

2.3.2. Capitalismo: uma tendência transformadora

Se na modernidade, a actividade económica esteve fortemente ligada à ordem institucional tradicional, com o capitalismo tudo se altera. A economia passa a desempenhar a sua superior influência perante a totalidade das relações sociais determinando o âmbito da sua autonomia. Deve-se ao capitalismo e à sua força transformadora a alteração da tradicional organização do mundo. O capitalismo tornou-se progressivamente numa forma de organização da economia, exercendo a sua influência impulsionadora nos diferentes contextos de modernização e racionalização social, assumindo como meio para a sua própria afirmação a defesa da liberdade enquanto elemento preponderante pelo qual a sociedade haveria de projectar a sua orientação. Em causa estaria a necessidade de conquistar um “espaço” que, sendo livre, favorecia as actividades económicas.

O capitalismo, ao colocar o focus da sua acção na convergência de todos os meios que proporcionassem crescimento económico, favoreceu o desenvolvimento social, causando alterações definitivas nas estruturas de relacionamento social do passado. A par da liberdade, a justiça tornou-se um elemento fundamental para a construção de uma relação que

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Lo que legitima una decisión no es simplesmente que tome por mayoría, porque una decisión mayoritaria puede defender interesses particulares tanto como una decisión minotaria. Idem. Pp.270-271.

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combinaria o económico e o social. Considerando esta perspectiva, o capitalismo terá sido, porventura, um dos maiores desafios que a humanidade criou a si própria. Trata-se de uma cultura e de uma civilização que emergem de desafios económicos, assumindo-os como razão da sua existência.

Ao intervir na campo social, o capitalismo altera profundamente o relacionamento humano. Surgem outras formas de relacionamento ético baseadas num princípio de autonomia que haveriam de contrariar o princípio da regulamentação social do passado inspirado em Deus e na religião. A sociedade que emerge com o capitalismo autodetermina-se na sua vontade e não se submete a nenhuma lei que não seja a sua, sempre tendo como orientação o mercado, local de interacção económica e social.

Constituindo-se como parte integrante do contexto cultural próprio da modernidade, o capitalismo incorpora no seu seio a capacidade de ser bem-sucedido em diferentes sociedades. A sua orientação para um fim que é o mercado dita-lhe o sucesso, e todas as barreiras culturais e mesmo civilizacionais não resistem à força impulsionadora do capitalismo, que alarga o processo de racionalização aos mais diferentes sectores da sociedade. Mesmo em estruturas sociais onde predomina um sistema cultural tradicional, pode observar-se a sua coexistência com a estrutura capitalista. A mais destacável referência a esta simultaneidade regista-se nos países asiáticos.

Refere a este propósito A. Cortina que, “seja qual for a resposta a dar ao problema das relações entre o pluralismo cultural e a economia moderna, uma teoria da modernidade tem de incorporar uma teoria do capitalismo e da empresa, e a partir daí (…) vincular a ética do capitalismo e da empresa com a da modernidade”.83

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Sea cual fuera la resposta que haya que dar al problema de las relaciones entre el pluralismo cultural y la economia moderna, una teoria de la modernidad ha de contar com una teoria del capitalismo y de empresa, y desde ahí (…) vincular la ética del capitalismo y de la empresa com la de la modernidade. A. Cortina. Ética de la Empresa. P.53.

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(…) que impulse y oriente diseños operativos que vayan corrigiendo los mecanismos que producen injusticia y dominación en las diversas esferas de la cada vez más compleja vida económica y empresarial. A. Cortina. Ética de la Empresa. P.55.la empresa, y desde ahí (…) vincular la ética del capitalismo y de la empresa com la de la modernidade. A. Cortina. Ética de la Empresa. P.53.

O capitalismo e a empresa, enquanto estruturas integrantes do processo de modernização com forte impacto nos diferentes contextos de relacionamento social, são por excelência os meios necessários para empreender compromissos éticos de relacionamento. A transformação social desencadeada pelo capitalismo é de tal ordem profunda que aniquilou as contradições relacionais geradas no seu interior, tornando o modo de produção capitalista um sistema sem alternativas. Quando as relações de conflitualidade entre trabalho e capital perdem dimensão, a empresa deixa de ser o lugar da luta de classes, tornando-se imprescindível o seu reenquadramento no novo contexto social de que faz parte. Objectivamente, o grande desafio social que se coloca actualmente ao capitalismo empresarial consistirá na resposta à questão: perante a ausência de interesses divergentes entre capital e trabalho, o que esperar do capitalismo empresarial?

Durante um largo período, as instituições privilegiaram diferentes aspectos de racionalidade em relação aos quais a moral foi desvalorizada. A expansão do capitalismo empresarial e a sua penetração em sociedades alicerçadas numa forte cultura tradicional terá constituído um facto relevante capaz de gerar no sistema capitalista diferentes níveis de interacção. A continuidade do sucesso do capitalismo e da empresa depende de uma dimensão ética (…) que impulsione e oriente desenhos operativos que possam corrigir os mecanismos que produzem injustiça e dominam as diversas esferas da cada vez mais complexa vida económica e empresarial”,84 salienta A. Cortina.

Falar em ética do capitalismo poderá parecer uma contradição, já que ao longo da sua formação, o capitalismo revelou por diversas vezes uma acção contrária a essa prática, fazendo da moral capitalista um meio para alcançar os seus próprios fins. Todavia na actualidade, as novas éticas que promovem a justiça económica objectivam a tendência transformadora do capitalismo, consolidando a ética como um dos seus pilares fundamentais.

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(…) que impulse y oriente diseños operativos que vayan corrigiendo los mecanismos que producen injusticia y dominación en las diversas esferas de la cada vez más compleja vida económica y empresarial. A. Cortina. Ética de la Empresa. P.55.