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3.1.1 Hipóteses da Pesquisa

Com base na literatura estudada sobre fraude contábil, conforme exposto no capítulo anterior, são levantadas algumas hipóteses sobre fatores que podem estar relacionados ao risco de fraude contábil em instituições financeiras bancárias.

Quanto à influência da Contabilidade, percebeu-se que as contas do Ativo Circulante, Receitas, Despesas, Reservas e Ativo não Circulante (especialmente, Investimentos) são as contas geralmente manipuladas em uma possível fraude contábil (NELSON; ELLIOTT; TARPLEY, 2003; SÁ; HOOG, 2005; SÁ, 2011; BARALDI, 2012). Assim, lança-se mão da primeira hipótese de pesquisa:

H1: Há risco de fraude contábil nas instituições financeiras bancárias analisadas devido à natureza da conta contábil.

Quanto aos indicadores econômicos e financeiros, foi possível perceber que a situação financeira ruim, a alta alavancagem e os altos indicadores de rentabilidade apresentam associação positiva com o risco de fraude (ALBRECHT et al., 2003). Desse modo, formula- se a segunda hipótese:

H2: Há risco de fraude contábil nas instituições financeiras bancárias analisadas devido à situação econômico-financeira do banco quanto à liquidez, estrutura de capital e rentabilidade.

Beasley et al. (2000) destacam a importância de se considerar o setor para a análise do risco de fraudes contábeis. Sendo assim, este estudo também identifica a existência de

diferenças entre os indicadores econômico-financeiros de três instituições financeiras envolvidas em processos administrativos punitivos contábeis e em processos de intervenção do Banco Central e os indicadores econômico-financeiros do setor bancário. Logo, tem-se a seguinte hipótese:

H3: Existe diferença entre os indicadores econômico-financeiros das instituições financeiras bancárias analisadas e os indicadores econômico-financeiros do setor bancário.

Quanto à auditoria, Kamarudin, Ismail e Mustapha (2012) e Condé, Almeida e Quintal (2015) abordam a relação do risco de fraude contábil com o tamanho da empresa de auditora, ou seja, se ela é uma big four ou não. Já Summers e Sweeney (1998) e Carcello e Nagy (2004) mostram a relação do risco de fraude contábil com a mudança da empresa de auditoria e a inexistência de um comitê de auditoria.

Hasnan, Abdul Rahman e Mahenthiran (2013) mostram a relação do risco de fraude contábil com a existência de infrações contábeis. Conforme Sá e Hoog (2005), Palmrose e Scholz (2004) e Hasnan, Abdul Rahman e Mahenthiran (2013), a existência de poucas transações com partes relacionadas aumentam o risco de ocorrerem fraudes.

Kasanen, Kinnunen e Niskanen (1996) apontam a relação de ocorrência de fraude contábil com o pagamento de altos dividendos aos acionistas. Já de acordo com Fich e Shivdasani (2007) e Yu, Zhen e Zhang (2010), a existência de poucos mecanismos de controle da fraude e uma fraca governança corporativa aumentam os riscos de ocorrência de uma fraude contábil.

De acordo com Erickson, Hanlon e Maydew (2004), o pagamento de remuneração variável aos gestores tem relação com o risco de ocorrência de uma fraude contábil. Para Beasley (1996) e Hasnan, Abdul Rahman e Mahenthiran (2013), a existência de uma baixa proporção de diretores externos no Conselho de Administração tem relação com um maior risco de ocorrência de fraudes contábeis. Dessa forma, desenvolvem-se a seguinte hipótese com indicadores não contábeis:

H4: Na opinião de especialistas e nos casos analisados, há risco de fraude contábil em instituições financeiras bancárias devido à existência de indicadores não contábeis.

3.1.2 Desenho da Pesquisa

Este estudo centrou-se em todas as instituições financeiras bancárias brasileiras, públicas e privadas, de capital aberto e fechado, envolvidas em processos administrativos punitivos contábeis e em processos de intervenção do Banco Central. Os casos foram selecionados, considerando-se o período de 2000 a 2016 a partir da consulta dos acórdãos5 emitidos pelo Banco Central e o CRSFN. Na fase de coleta de dados, buscaram-se todos os bancos que sofreram algum tipo de intervenção e processo sancionador pelo Banco Central, seja por liquidação ou irregularidades.

Após serem os casos selecionados, foram levantadas as demonstrações financeiras de todas as instituições financeiras bancárias encontradas, bem como outros documentos relacionados a irregularidades, como os processos sancionadores administrativos na CVM6. Todos os processos e demonstrações financeiras foram analisados por meio dos procedimentos contidos no protocolo referente ao estudo de caso, conforme propõe Yin (2005). A análise de conteúdo foi empregada para a análise das demonstrações e processos com base nas categorias das variáveis relacionadas ao risco de fraude contábil apresentadas no item 2.4. Posteriormente, foram utilizados testes estatísticos para o teste das hipóteses H1, H2

e H3, que estão dispostas no item 3.1.1, sem o intuito de fazer generalizações dos resultados.

A última etapa da pesquisa envolveu a aplicação da técnica Delphi, por meio de questionários com auditores, professores e analistas financeiros para o levantamento de suas respectivas opiniões quanto às variáveis relacionadas ao risco de fraude contábil em instituições financeiras bancárias. As respostas e as análises obtidas foram trianguladas com as observações encontradas nas demonstrações financeiras dos bancos analisados, bem como com os achados da literatura, buscando confirmar as hipóteses H1 a H4 da pesquisa.

A Figura 6 apresenta o desenho da pesquisa.

5

O acórdão envolve um resumo sobre a decisão do órgão colegiado. 6

A Lei nº 6.385 concede à CVM a autonomia de apurar, julgar e punir as irregularidades que são cometidas no mercado por meio dos chamados processos sancionadores administrativos (BRASIL, 1976).

Figura 6: Fluxograma das etapas de desenvolvimento da pesquisa

Fonte: Elaboração Própria (2017).

3.1.3 Construtos e Definições Operacionais das Variáveis

A pesquisa analisou 16 variáveis (conforme Quadro 5). Essas variáveis, a partir das quais se buscou delinear as possíveis características dos riscos de fraudes contábeis em instituições financeiras bancárias, são de natureza quantitativa e qualitativa. As variáveis quantitativas abrangem a situação econômico-financeira dos bancos e as suas operações contábeis. Já as variáveis qualitativas estão relacionadas ao ambiente externo e ao ambiente interno.

O Quadro 9 apresenta a métrica utilizada para as variáveis da pesquisa, as quais foram reagrupadas em 3. A definição teórica dessas variáveis e seus respectivos autores foram apresentados no Quadro 5, na seção 2.4.

Variável Métrica

Natureza da conta contábil Análise Horizontal e Vertical e testes estatísticos das contas patrimoniais e de resultado.

Situação econômico-financeira Indicadores econômico-financeiros de liquidez, estrutura de capital e rentabilidade (Quadro 6); comparações entre períodos e com indicadores setoriais.

Indicadores não contábeis (1) Ambiente interno: existência ou não de um Comitê de Auditoria, estrutura e nível de Governança pela Bovespa; presença de planos de ações para gestores, proporção de diretores externos no Conselho de Administração (número de conselheiros independentes divididos pelo tamanho do conselho, conforme Anderson, Mansi e Reeb (2004)); Levantamento de instituições financeiras bancárias envolvidas em processos administrativos punitivos e de intervenção do BACEN.

Seleção dos casos conforme disponibilidade dos dados e

envolvimento com irregularidades contábeis. Definição das variáveis e suas principais métricas com base na literatura. Definição das hipóteses do estudo. Criação e organização da

base de dados, cálculo dos indicadores econômico-

financeiros e análise horizontal e vertical. Análise de Conteúdo e

Análise Estatística.

Técnica Delphi. Triangulação dos

dados. Análise de Conteúdo e

Indicadores não contábeis (2) Ambiente externo: empresa auditada ou não por Big Four; mudança ou não da empresa de auditoria, valor de mercado e crescimento (calculado pelo book to market, conforme Carcello e Nagy (2004)), pagamento de dividendos e existência ou não de pedidos de refazimento das demonstrações contábeis pela CVM e processos sancionadores administrativos, envolvendo os seguintes aspectos, conforme Kamarudim, Ismail e Mustapha (2012): anúncio não imediato sobre fatos relevantes em tempo hábil, não apresentação de relatório anual / apresentação tardia de relatórios anuais/trimestrais, falha ao levar em conta os ajustes contábeis, quantidade inconsistente de lucro/perda reportada com valor auditado, envio de declaração falsa à CVM, manipulação de mercado/insider trading e exercícios corporativos questionáveis.

Quadro 9 - Métrica das variáveis analisadas Fonte: Elaboração Própria (2017).